quinta-feira, junho 30

Nuhu Ayuba

CARTA ABAIXO-ASSINADO

Nós, estudantes do curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Maranhão/UFMA, matriculados na disciplina Cálculo Vetorial, informamos que o professor Cloves Saraiva vem sistematicamente agredindo nosso colega de turma Nuhu Ayuba humilhando-o na frente de todos os alunos da turma.

Na entrega da primeira nota o professor não anunciou a nota de nenhum outro aluno, apenas a de Nuhu, bradando em voz alta que “tirou uma péssima nota”; por mais de uma vez o professor interpelou nosso colega dizendo que deveria “voltar à África” e que deveria “clarear a sua cor”; em um outro trabalho de sala o professor não corrigiu se limitando a rasurar com a inscrição “está tudo errado” e ainda faz chacota com a pronúncia do nome do colega relacionando com o palavrão “no cu”; disse que o colega é péssimo aluno por que “somos de mundos diferentes” e que “aqui diferente da África somos civilizados” inclusive perguntando “com quantas onças já brigou na África?”.

Nuhu não retruca nenhuma das agressões e está psicologicamente abalado, motivo pelo qual solicitamos que esta instituição tome as providências que a lei requer para o caso.

Favor divulgar em todas as redes, pois o que está acontecendo aqui é comum em outras Instituições.

Cristina Miranda
Coordenadora do CEN/MA

quarta-feira, junho 29

quarto em chamas

O coaxar rítmico dos sapos noturnos se esvai dando lugar aos gracejos empolgados dos galos, tudo por causa dos oeste feixes luminosos que se projetam no horizonte de campos verdes alagados advindos de uma crescente vermelha circunferência dando luzes ao dia, enquanto a menina esquia, pálida de tanto forçar a vista e perder sono está com olheiras para ler num quartinho escuro iluminado por lamparina de querosene, no livro de ciências desgastado do governo. A menina esquia, pálida com olheiras descobre que a terra gira em torno do sol, através de movimentos de rotação e translação. E que a terra surgiu de uma grande explosão: o Big Bang.
A amiguinha vizinha banguela e feia foi quem emprestou o livro de ciências desgastado do governo com a obrigação da menina esquia, pálida com olheiras responder o dever de casa por que a amiguinha banguela e feia não gosta do livro de ciências desgastado do governo e nem de ir à única escolinha de nome Castro Alves, num raio de 10 quilômetros do povoado onde moram, para a inveja e satisfação da menina esquia, pálida e olheiras. Inveja por que a menina esquia, pálida com olheiras não pode ir à escolinha de nome Castro Alves e a amiguinha vizinha banguela e feia pode. Satisfação por que a menina esquia, pálida com olheiras pode estudar no livro emprestado de ciências desgastado do governo da amiguinha vizinha banguela e feia.
O pai da menina esquia, pálida com olheiras plantador de mandioca tem orgulho de ter sua própria casa de forno feita por suas mãos calejadas, onde o pai plantador de mandioca e mãos calejadas fabrica farinha d’água vendendo a um real o quilo na pequena rodoviária na cidade a 20 quilômetros da sua casa de telha de palha de coco e paredes de barro duro com troiras passeando. O pai plantador de mandioca e mãos calejadas viaja devagar no sacolejo constante sobre sua carroça antiga puxado pelo o jumento acinzentado, triste e sempre faminto, uma vez por semana pra pequena rodoviária. O plantador de mandioca e mãos calejadas trás sempre um litro líquido gaseificado preto: seu único luxo bebendo aos pouquinhos no retorno a casa de telha de palha de coco, paredes de barro duro e troiras passeando.
O pai plantador de mandiocas e mãos calejadas não permite de jeito nenhum sua filha esguia, pálida com olheiras ir à escolinha de nome Castro Alves. Sua mãe obesa e cega de um olho devido a uma doença venérea não questiona mais a autoridade do marido plantador de mandiocas e mãos calejadas. Pois a única vez que a mãe obesa e cega de olho questionou a autoridade do marido plantador de mandiocas e mãos calejadas. O marido plantador de mandiocas e mãos calejadas bateu na esposa obesa e cega de um olho com folhas de urtiga deixando uma semana a esposa obesa e cega de um olho dormindo sobre folhas de bananeiras para atenuar as dores das feridas que deixou cicatrizes na mãe obesa e cega de um olho.
O pai plantador de Mandiocas justifica que na escolinha de nome Castro Alves sua filha esquia, pálida com olheiras se vier a estudar poderá escrever cartas de namoricos e logo aparecer de “bucho”. E que o futuro da menina esquia e pálida com olheiras é criar pintinhos sujos no quintal úmido e com mangueiras e goiabeiras como à mãe obesa, cega de um olho e cicatrizes cria há anos.

Então por isso a filha esquia, pálida com olheiras, que descobre no livro de ciências desgastado do governo, que os sapos são anfíbios, os galos são aves e as troiaras são répteis, não pode estudar na escolinha de nome Castro Alves.
A menina esquia, pálida com olheiras insiste em ler toda a madrugada num quartinho escuro iluminado por lamparina de querosene, junto ao pio de pintinhos sujos que virarão galos ou galinhas amanhã, criados por sua mãe obesa, cega de um olho e cicatrizes, mas a menina esquia, pálida com olheiras descobre que ninguém vai saber daquilo, por que apesar de os pintinhos sujos terem olhos, os pintinhos sujos são irracionais, portanto não podem lhe denunciar para seu pai plantador de mandiocas e mãos calejadas ou sua mãe obesa e cega de um olho e cicatrizes.
A menina esquia, pálida com olheiras descobre no livro emprestado desgastado de ciências do governo que respira oxigênio que vão para seus pulmões e depois expiram gás carbônico. Descobre na mesma página que água é feita de duas moléculas de oxigênio e uma de hidrogênio e o fogo só queima por causa do oxigênio. Na outra página descobre que a nuvem é feito da água que se evapora, condensa e depois fica líquida e chove: um simples fenômeno da natureza.
A menina esquia, pálida com olheiras está com os olhos semicerrados de sono. Descobre em outra página no livro desgastado do governo que o sono serve para repor as energias para o dia seguinte. Então a menina esquia, pálida com olheiras dorme feliz de já saber tanta coisa e que vai descobrir mais coisas no dia seguinte.

A lamparina de querosene cai sobre o livro emprestado de ciências desgastado do governo e pega fogo. O coaxar rítmico dos sapos noturnos se esvai bem mais cedo dando lugar aos gracejos empolgados dos galos e um inédito ronco estridente do jumento acinzentado, triste e sempre faminto por que uma casa de palha de coco e paredes de barro duro e troiras passeando está em chamas dando luzes ao dia bem antes dos oeste feixes luminosos que se projetam no horizonte de campos verdes alagados advindos de uma crescente vermelha circunferência.
05/02/2007

diego pires

terça-feira, junho 28

Gesto Derradeiro



Depois que partiu
E no mundo se danou a sumir
A dor se tornou irreversível.
Ficando o vazio
A despedida sem porvir,
O aceno sem mãos,
A presença inacessível;

E longe, inevitavelmente,
O passado se sujeita à lembrança.
E a memória, alagada no presente,
É um castigo intermitente,
Pena que os olhos, desavisados,
Não suportam sem dobrarem os joelhos...

Daí, o futuro vira sentença previsível,
A projeção da perda e, na garganta, o indizível.
Saberei por aí, notícias de segunda mão...
E na rua afora,
Sua presença na boca de terceiros
Dão, ao ouvido, o tiro derradeiro:
O teu nome distante como o badalar de um sino
E o impulso de dar a minha cabeça
Ao teu salto mais fino...

Igor Nascimento

domingo, junho 26

crazis

                                                                                                 

Uma confissão

Sinto que sou um iconoclasta. Na falta de uma palavra comum uso iconoclasta. Rejeito minhas próprias referências. E ainda digo mais ou menos como o Camus; que nunca me sigas, pois posso te deixar. Ou que nunca fique na minha frente, pois não vou te seguir, mas se caminharmos ao mesmo lado seremos talvez amigos e um aperto de mão.
Diego

A afogada

A deriva, tu te vais
No rio da lembrança
E na margem, logo atrás,
Grito através da distância.

Mas te afastas, lentamente,
E em meu curso desesperado
Te recupero brevemente
No espaço por mim deixado

Te afundas por instantes
Na correnteza severa
Tocando os galhos flutuantes
 Tu hesita e me espera

E com a face escondida
No vestido sem vaidade
Temendo que seja percebida
E a vergonha e a saudade

Não passas de um barco em pedaços
Cadela jogada ao longo das águas
Mas permaneço teu escravo
E mergulho em tuas mágoas
Quando se finda a memória
E o oceano do esquecer
Despedaça nossa vida e história
Sem que possamos nos reaver

Livre adaptação de La Noyée, de Serge Gainsbourg
Por Igor Nascimento


sábado, junho 25

Um flâneur no Rio


Por Cris Lima
Era perambulando pela cidade que o flâneur tornava-se livre. Livre para compor seu leque de desejos. Era vagando pelas ruas dantes sem luz, que ele tentava enxergar por entres os paralelepípedos, pelo lixo, pelas vitrines a inspiração para a melancolia e o tédio que adornavam a vida moderna. “A rua se torna moradia para o flâneur que entre fachadas dos prédios, sente-se em casa tanto quanto o burguês entre suas quatro paredes. Para ele, os letreiros esmaltados e brilhantes das firmas são um adorno de parede tão bom ou melhor que a pintura a óleo no salão do burguês.”(BENJAMIN, 2003 p. 35).
O flâneur que passeava, nos bulevares, “comum”, como todos, parecia misturar-se a multidão para dela extrair o que mais de frívolo existisse. Além de fazer sua observarão patológica do seres que habitavam as ruas, o flâneur almejava, também, buscar um certo distanciamento dos acontecimentos observados por ele.
O Rio de Janeiro do início do século XX ofereceu condições, por assim dizer, patológicas, para o surgimento desta figura que passeava de modo inteligente pelas ruas. João do Rio foi o nosso flâneur. Apesar do calor, da aparente mestiçagem da população do Brasil, tão diferente da cidade-modelo, Paris. A arte de flanar instaurava-se na capital da recente república brasileira. O olhar lançado por João do Rio à cidade era o mesmo de Baudelaire sobre sua Paris. Afinal, ambas, foram banhadas pela onda da Modernidade, da Velocidade, da Artificialidade.
O ato de vagar, ou melhor, de divagar pela cidade recém modernizada, fazia com que João do Rio encontrasse nos redutos mais longínquos, por entre becos, botequins, vielas, aqueles seres marginalizados pelo progresso, que nos salões da “Belle Époque“ carioca não cabiam. Contudo, em seus contos e crônicas, tipos como prostitutas, cafetões, ladrões, assassinos, jogadores, alcoólatras, suicidas, homossexuais tinham lugar privilegiado no teatro da realidade da cidade moderna. Era nas ruas cariocas que nosso flâneur defrontava-se como os homens mecanizados pelo progresso dos seus automóveis a enfeitarem, com fumaça a paisagem urbana do início do século XX. “O automóvel é o símbolo do novo tempo, avassalador e vertiginoso, trazendo consigo alterações radicais na fisionomia urbana”. (RODRIGUES. 2003, p.130)
Era através da distração de forma inteligente que o flâneur brasileiro captava para si a crônica da vida cotidiana. O sujeito passeava quase que vertiginosamente, sentia o tédio e a melancolia de ser envolto pela uniformidade que a modernidade trazia. Era congestionando-se pelas pessoas na Rua do Ouvidor, frequentando o Teatro Municipal que, João do Rio desenhava as figuras mais excêntricas de seus contos, buscando assim, mostrar o que hoje parecemos viver a frivolidade da cidade moderna, o simulacro da vida urbana, o corre-corre em busca do capital, a crise de valores, a depressão, o sentimento de niilismo diante das coisas.
A urgência da vida parecia criar parasitas, vermes, tal como, já descrevia Kafka em seu livro A metamorfose. A degradação psicológica e física do homem moderno que se encontrava perdido em sua vida de consumo e que achava refúgio no suicídio.
A modernidade fazia da rua um labirinto de possibilidades ao “homem das multidões” perde-se ou encontra-se diante de uma vitrine, ou dentro de uma galeria, ou num café a contemplar por cima a vida miserável da metrópole burguesa.
Coube a João do Rio, nosso flâneur, descortinar a falsidade vivida pela sociedade carioca, desvendar a vida de aparência que importava tudo; gestos, falas, andares, costumes europeus. O mundo visto por João do Rio era a representação do riso falso da moça no bulevar a flertar com o janota de cartola, o cumprimento “cortês’’ do banqueiro, feliz por acertar mais um negócio.
O Rio de Janeiro no início do século apresentava ares de uma grande feira, onde tudo era possível de ser negociado, e o flâneur ávido por observação vislumbrava paciente, quase indolente, talvez inebriado pela fumaça dos automóveis a vida agitada da cidade.

REFERÊNCIAS:

BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade.Org: Teixeira Coelho Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas III: Charles Baudelaire: Um Lírico no Auge do Capitalismo. 3 ed. – São Paulo Editora brasiliense,2000.
CUNHA, Helena Parente. Melhores contos de João do Rio. São Paulo: Global, 2001.
BROCA, Brito. Naturalistas, Parnasianos e decadentistas: vida literária do Realismo ao Pré-Modernismo. Campinas, SP. Unicamp. 1991.

Noite de outubro


Chovia. Uma chuva fina, porém constante. Ela acordou no meio da noite com o barulho da chuva batendo na janela do quarto. Olhou para o lado. Ele não estava lá. Ele nunca mais estaria lá. Pensou em como a cama parecia grande e espaçosa sem ele. Em como as noites pareciam mais longas sem as conversas antes de irem dormir. Pensou que nunca mais ouviria a sua voz ou sentiria o seu cheiro. Nunca mais o abraçaria, o beijaria nem faria amor com ele. Nunca mais ririam das mesmas piadas e se divertiriam juntos ou brigariam sobre de quem é a vez de lavar a louça. Pensou que nunca mais o ouviria sentar-se ao piano e tocar Chopin. Ele morreu. Ele morreu e ela não pôde fazer nada para impedir que isso acontecesse. Sentiu raiva. Raiva dele. Por que ele saiu de casa mais cedo justamente naquele dia? Por que ele não saiu no horário de sempre. Ele não devia ter partido. Ele não podia ter partido. Ter partido sem ela. Como pôde tê-la deixado sozinha?
Um choro. Um choro agudo. Não. Ela não estava sozinha. Forçou-se a sair da cama e caminhou em direção ao berço. Afastou o mosquiteiro e pegou aquela pequena criaturinha nos braços. Aquele pequeno pedaço de gente. Pedaço dele. Dela. Deles. Sentou-se na cadeira de balanço e deu-lhe de mamar. Ela estava afoita sugava o leite de maneira aflita, quase desesperada. Era apressada como o pai. Gostaria que ele a tivesse conhecido, pensou. Ele seria extremamente ciumento, a protegeria de tudo e de todos. O pensamento a fez sorrir. Lembrou-se que a única coisa a qual a sua sanidade se ateve foi a esse pedacinho dele que ela carregava em seu ventre. Um fruto do amor de ambos.
Ela levou a mão ao pescoço e acariciou as alianças que levava penduradas ali. Sim, ele havia morrido, mas não estava morto. Pelo menos não completamente. Uma parte dele ainda vivia em cada canto daquela casa, em cada canto daquele quarto. Uma parte dele ainda vivia naquela doce menina que agora dormia em seus braços. Ele ainda vivia em seu coração e viveria ali para sempre. Lá ele nunca morreria.
Começou a embalar-se na cadeira e deixar as lágrimas cairem. Pegou o controle do som e apertou o play. Deixou que a música de Chopin invadisse e inundasse o quarto. Ele não havia conhecido a filha, mas a filha o conheceria. Ela garantiria isso.

Vanessa Soeiro Carneiro

Bailarina

Ontem ela esteve aqui, trouxe vinho antigo e ficou por horas deitada no chão, relatando suas andanças, reclamando de minhas mazelas, das coisas que escrevo e deixo amiúde pelo chão, sua preocupação me alimenta quando ela esta ausente. no meio da madrugada sua lembrança vacila na escuridão, é quando aceito o sono sem repulsa. Ela possui trejeitos de maldade, aquele olhar que ultrapassa as coisas, mas como já a conheço há tempos sei que não é por toda assim.
Muitas vezes discutimos sobre diversos assuntos, quando contrariada vem à tona aquele castelhano lá das terras da Andaluzia e depois se pôs a chorar ouvindo alguns fados e outras epifanias. Nunca a deixo perceber minha parcela de satisfação com suas visitas, nossas vidas se entrelaçam por conta do seu viés trágico, não escolhemos esse oficio, precisamos compartilhar a primazia desta condição.
Como de praxe cantamos a capela - A canção da mais alta torre - no abraço minha lágrima manchou sua fantasia de bailarina, porém ela sorriu dizendo ter mais um motivo para lembrar-se de mim, sempre que estiver bailando por ai. Antes costumava me visitar, durante o inverno, porém ontem o sol clareava os quatro cantos do quarto e também o dorso do meu corpo inteiro, para ela não sei por que tudo isso importa; verificar as plantas colocando-as ao sol, dobrar as camisetas naquela posição anterior, apalpar minha barba por fazer, lá pras tantas ela pediu que cantássemos outra canção, no meio da manhã dei a ela de presente o vigésimo nono girassol. Isso foi ontem, hoje tudo continua como ela deixou e por ela assim tudo deverá continuar.

Natan Castro.

sexta-feira, junho 24

O sentimento de mudança e dias melhores chegaram ao país?

Por William Washington de Jesus*
Desde 1500, o Brasil sempre foi governado pelas elites que sempre estiveram no poder, gozando das regalias e privilégios fazendo-os imunes a quaisquer penalidades as leis vigentes, em detrimento da maioria do povo que sempre foi e é massacrado para manter os interesses pessoais. Vários intelectuais retratam essa realidade como o Caio Prado Jr., Lima Barreto, Raymundo Faoro e muitíssimos outros.
Um país com a forte doutrina cristã, influenciado especialmente pelo catolicismo que prega ideologicamente a preservação da família e da propriedade privada, conjugado com a moral e os valores, transpassando a uma sociedade fortemente patriarcal e conservadora que ainda nos dias de hoje é fortemente propagado.
A polícia e as demais forças armadas que foram usaram a força para reprimir todas e quaisquer manifestações que atente a lei e a moral vigente, sempre aplicou aos mais necessitados, oprimidos e marginalizados na sociedade e defendendo os interesses das classes dominantes.
Este é o Brasil que predomina nos dias de hoje no século XXI do ano de 2011, entretanto, este ano corrente entrou para a história no nosso país em virtude das decisões mais polêmicas tomadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal), que causou a ira de alguns segmentos da sociedade.
Numa delas foi a união civil dos homossexuais, que causou revolta de católicos e protestantes, como foi citado anteriormente, a sociedade brasileira carrega conceitos e doutrinas cristã, a outra foi a liberdade ao militante-guerrilheiro de esquerda Cesare Battisti, acusado pelo governo da Itália pelo suposto assassinato de quatro indivíduos no país na década de 70.
Sendo que o governo italiano pediu a extradição do comunista, que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva negou o pedido do governo e o STF legitimou a decisão do ex-presidente da república, que havia sido pedido em 2007 e foi protelado até o último dia de governo, no dia 31 de dezembro de 2010, causando revolta da Itália e dos militantes de partidos de direita de ambos os países, afetando as relações bilaterais, sendo que o governo italiano entrou com o recurso no Tribunal de Haia (a Corte Jurídica Internacional) na Holanda para processar o Brasil pela decisão.
E a última foi a decisão da mesma suprema corte brasileira em legitimar a marcha da maconha, essas três decisões foram inéditas, parafraseando a frase do Lula “Nunca na história deste país”, a suprema corte tomou decisões que vão contra os princípios das classes dominante, isso pode ser considerado uma derrota para os grupos políticos conservadores direita, a igreja católica e protestante e todos os seguimentos que condenam essas decisões.
Mas a pergunta é que não quer calar. Quais as razões o STF tomou essas decisões? Historicamente nunca tomou decisões favoráveis a essas questões. Mas uma coisa é certa, mesmo com todo o aparato repressor policial do estado e indivíduos aos homossexuais, o movimento GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais eTransexuais) durante anos carregou essa bandeira de luta para obter os mesmos direitos que os heteros.
A não extradição do Cesare Battisti para o governo da Itália foi uma demarcação política e ideológica pra ressaltar que o Brasil é governado por esquerdistas com a doutrina marxista, sendo a raiz ideológica do Partido dos Trabalhadores (PT), enquanto os italianos são governados por Silvio Bellusconi que representa a direita mais conservadora no país, ignorando as relações bilaterais de vários anos, considerada nações amigas com a relação diplomática bastante amistosa.
A legalização da marcha da maconha que sempre foi reprimida pela grande imprensa neste país e igrejas, sempre foi tratado como caso de polícia (vide o fato recente em São Paulo), foi legitimada pela suprema corte brasileira.
Todas essas decisões foi o fruto de anos e anos de luta a custa de muito sangue derramada e vidas ceifadas que defenderam a causa, mas isso tem a contribuição do atual governo e do antecessor (Dilma Roussef e Lula respectivamente)?
O PT desde a sua fundação e os demais partidos de esquerda junto com os movimentos sociais de vários segmentos, sempre defenderam os direitos dos homossexuais, aborto, legalização da maconha (ou no mínimo leva o debate dentro e fora da academia), liberdade aos presos, torturados dos regimes ditatoriais e de governos de direita, refugiados e muitos outros.
Apesar das contradições que é o governo do PT, mas ficando bem claro que eu não defendo o governo petista, mas deve reconhecer ou no mínimo levar em consideração algumas ações deste governo que deve ser bastante debatida, como no caso, essas decisões tomadas pelo STF, porque de forma ou outra, o governo teve grande influencia nas decisões, apesar do Poder Executivo e Judiciário são independentes em determinadas questões, garantindo assim o regime republicano e democrático (a principio).
É de grande importância levar isso ao debate, tentar compreender no que está por trás dessas decisões, e ressaltar que os movimentos sociais têm sim forma política, mesmo sendo uma sociedade extremamente conservadora que é controlado por aqueles que sempre estiveram no poder e usavam o aparato estatal pra defenderem os seus interesses.

*Bacharel em História (Historiador) pela Universidade Federal do Maranhão

PAI NOSSO, PROTEGEI-NOS DE NÓS MESMOS

Nenhum pecado dito no confessionário será perdoado através de orações.  Em pires do rio, goiânia, o padre pede apenas que plantem árvores, árvores, e árvores...e quando os brotinhos estiverem prontos todos os penitentes, em procissão, irão para uma área desmatada da cidade plantá-los. algum dia quando suas folhas, troncos e raízes estiverem grandes,  ouvirão das estrelas um segredo que jamais contarão aos homens, que o céu é verde, cheio de plantas e animais.


eliseu cardoso

quinta-feira, junho 23

Vida em uma lauda - A porteira

Pensou na vida, mas não olhou pra trás. As lembranças já não faziam parte dos seus planos, não havia o que recordar, nem infância tivera. Na mala praticamente vazia, o futuro: um espaço a ser preenchido. Vestida de coragem, calçada de garra, deu o primeiro passo: encarar o mundo. No bolso, identidade para lembrar quem era; sobrenome para jamais esquecer suas origens, mesmo com todo o sofrimento, afinal cada um carrega consigo uma história difícil de ser apagada, e, além de algum dinheiro entregue por seus irmãos da venda de carvão, não levou mais nada, nem fotos; a da identidade era mera formalidade, já não se reconhecia ali.

O sol estarrecido acompanhava-a de perto sem deixar que nenhuma nuvem lhe tampasse a visão. Colocou a mala no chão e abriu a porteira retirando a corrente que se agarrava a cerca impedindo sua passagem. Parou. Contemplou por alguns instantes aquele céu tão azul que seria capaz de respingar sua cor em qualquer coisa. O calor intenso ultrapassava sua pele e alcançava o sangue que corria por suas veias. Era chegada a hora de partir o cordão umbilical com os dentes antes que a parteira do vilarejo cortasse os seus sonhos de ir embora daquele chão, pois antes dos dezoito anos, as barrigas das meninas já despontavam, enquanto os pais dos rebentos embrenhavam-se na roça, isso quando não eram vendidas aos fazendeiros por punhado de terra ou de dinheiro, como ocorrera com duas de suas irmãs. Quanto valeria? Desviou o pensamento e seguiu em frente. Nenhuma lágrima. Ninguém a levara até a saída do vilarejo. Iria ser mulher da vida, sua mãe dizia. O pai reforçava a ladainha chegando a ameaçá-la com o cipó, como o fizera em toda sua infância. Não se intimidou. Apressou o passo e chegou ao pequizeiro, local onde o pau de arara passava para recolher os desistentes, como o povo chamava quem ia embora. Para ela, os libertados.

Ao longe a nuvem de poeira avisava: é chegada a hora de partir! Respirou fundo. Engoliu a saliva forçosamente como se um nó na garganta impedisse o acesso... Pisou firme no primeiro degrau. Jamais teria o destino que lhe traçaram. Fechada a porteira, renascera.

Alice Nascimento


E se...

Imagine querida, se nós pudéssemos andar pelos tetos, de cabeça para baixo, tendo que tomar cuidado para não tropeçar nas ripas do telhado, tendo que pular o espaço que fica entre a porta e o finalzinho da parede para passar de cômodo em cômodo... Não, talvez fosse má idéia, sem contar que todos os móveis imediatamente cairiam sobre nossas cabeças, e você, ingênua, ao sair de casa, seria sugada junto com as telhas e os carros; daí seria aquele inferno, pessoas gritando, sendo praticamente abduzidas por não sei o quê, e lá teria eu que procurar uma corda para amarrar em torno da cintura e buscar você na atmosfera, e então, querida, como o ar ficaria rarefeito e a temperatura diminuiria drasticamente, eu não te alcançaria, por mais desesperado que estivesse. Ficaria no ar, ali, que nem pipa, imaginando que àquela hora você nem seria mais o que era, tendo se desintegrado de vez, restando comigo apenas a latência do que um dia foi... Não, imaginar é perigoso, é melhor que apenas fique exatamente onde está,  que as coisas permaneçam nos seus devidos lugares, ao raio dos olhos, e que a gravidade, calada no seu canto, não cuspa a gente como quem, de repente, ao comer o doce, achasse na língua o amargo.

Igor Nascimento

quarta-feira, junho 22

sataney (bem cômico se não fosse trágico, né?)


vi essa foto no blog do O PUTAQUEPARIU! ,
segundo o Bruno Azevedo foi vista pelas bandas do cohafuma.
(espero que não tenha sido uma montagem.)
Me manda a arte quem fez pra por nos muros no cohatrac.
tenho certeza que alguns dos donos dos muros não aceitariam propina ou não necessitaria de tráfico de influências. 


Vigília

Acho que era mais de uma e meia da manhã quando levantei sem sono depois de ter rolado por mais de duas horas na cama. Meus olhos custaram para se acostumarem com a luz. Lembrei da frase que me disse horas atrás:
- Isso é só sono?
- Não, meu amor é falta dele.
Teclo por um bom tempo a letra “I” do computador, espero talvez a inspiração que não chega nunca. Parece até loucura, apertar insistentemente, uma única letra por segundos e segundos.
- Cadê a inspiração? Cadê você? Me pergunto, quando o som que ouço é o ruído da tecla I. Largo de vez essa droga de máquina. Olho para o lixeiro ao lado, remexo o lixo, como um rato a procura de uma migalha de comida e enfim, encontro a carteira de cigarro “Hollywood”, que deixei por lá, num esforço inútil de largar o vício. Inútil mesmo, pois tomo os dois últimos que restaram e os trago suavemente, como se eles pudessem me transportar desta angústia que agora sinto.
Antes de incendiar meus pulmões com eles, lembro do meu isqueiro que deixei com você. Você que me disse num tom de pai:
“Não vou devolver o isqueiro, não faço a mínima questão de procurá-lo e te devolver.”
Quanta preocupação comigo!. Eu que nem me preocupo com nada, nem comigo mesma. No momento me preocupo em ascender estes dois cigarros e só. Divago pela casa toda fumando e vendo os livros na estante e questionando, por que não sou um deles na minha estante. Por quê? O sono não chega, nem a idéia de escrever algo. Pergunto-me, aliás, vivo me indagando a todo o momento, penso demais, penso demais, penso demais! E me pediu tanto para não pensar. Não pude evitar esta minha imaginação fértil, talvez seja por isso que adoro escrever. Escrever? Agora me encontro sem assunto algum para o próximo livro que quero escrever. Nunca publico, sempre engaveto meus escritos, acho que na espera de alguém encontrar, e achar genial. Talvez eu vire um Van Gogh da Literatura e ganhe muito dinheiro depois de morta. Volto para frente do computador meio sem esperança de que me chegue a inspiração. Um poema talvez:

Basta-me dançar amor, sob teus pés de louça
Para sentir a magia de tua existência....

Que isso! Poemas, não, um conto seria melhor, não um romance, uma novela, um ensaio sobre a insônia na contemporaneidade. Bom assunto, insônia! Conheço bem esta palavra INSÔNIA. Vamos ver o que diz o dicionário sobre tal palavra. Abro o dicionário ;o Aurélio Buarque de Holanda. Insônia: Privação do sono; vigília. Vigília?Vigília? Daria um bom nome para minha filha. Ela carregaria um pouco do que a mãe parece fazer a todo o momento vigília...Vigília... Do que? Não sei. Miro o meu ventre e vejo Vigília crescer. Será que você vai gostar deste nome, Vigília?
“Você havia decidido por Helena. Lembra?”
Eu achei meio clichê. Você disse que eu sempre falo que tudo é clichê. Talvez tenha razão. Vou tentar me corrigir quanto a isto. Passeio mais uma vez, pela casa adentra e me perco no retrato de mamãe na parede da sala de estar. Tão linda era mamãe! Cabelos cacheados, negros, a pele do rosto era tão branca que parecia açúcar. Nossa!, E como ela adorava açúcar!-Eis a razão do seu rosto tão cristalino. Mamãe era uma dessas mulheres encantadoras de abalar as estruturas de qualquer homem, vai ver que por isso, papai nunca tenha se casado mais. Uma mulher como mamãe era difícil de encontrar. Recordo de um episódio em que ela discutia sobre cinema francês com papai e mais alguns outros amigos na sala de casa. Eu era bem pequena, mas lembro - me perfeitamente quando ela pegou um cigarro, da mão de papai e se pôs a fumar, como, uma atriz francesa em um bulevar de um filme qualquer. Ela olhou para mim, com aqueles olhos tão negros e disse:
- Querida, se eu pudesse interferir no teu destino, queria que fosse uma atriz.
Ela adorava filmes europeus. Escreviam tão bem, críticas sobre eles no jornal mais famoso da cidade em que morávamos. Eu não me tornei uma atriz como ela queria e nem uma boa escritora como ela era. Que saudade mamãe! Helena, esse era o nome da minha mãe, Helena. Era por isso que queria tanto que nossa filha se chamasse assim. Por que não? O nome da minha mãe. Mas, ainda prefiro Vigília.
Sinto você remexer em minha barriga, crescendo e crescendo. Será o que vai querer ser? As mães sempre têm essa mania boba de predestinar o futuro dos filhos. Se eu pudesse, queria que você fosse o que quisesse ser e que fosse feliz com sua escolha, Vigília. Falo já como minha filha!. Será que me escuta? Os médicos dizem que sim. Fico feliz por me fazer companhia nesta noite tão chuvosa e fria, Vigília. Teu pai não vai gostar deste nome, estou sentindo. Mas minha filha o que eu posso fazer, você sempre morou em mim Vigília. Seu pai vai ter que entender. Mal vejo a hora de ver teu rosto, teus traços, teu formato, teu cheiro...
 A chuva começa a cessar bem devagarzinho e o sono parece querer me agarrar, levantou-me da cadeira com dificuldades, enfim largo de tentar escrever alguma coisa, desligo o computador e vejo a besteira que fiz no cinzeiro.
Vigília parece ter reclamado sentir algumas pontadas abaixo do ventre.
Acho que chegou o momento de Vigília nascer. Tenho que te chamar. Parece dormir tão lindo em seu pijama de seda. Sempre te achei um príncipe. Príncipe africano!
- Meu bem! Meu bem! Acorde a Vigília acabou!
- O quê? Você sem saber direito o que eu dizia me olhou assustado.
- O quê? Você só dizia:
- O quê?
- Meu amor, nossa filha quer nascer!
- O quê? E por que, disse que a Vigília acabou...?
- Porque sinto que é o fim.

Cris Lima

segunda-feira, junho 20

aquiIo não era só futebol era outra coisa

foto do andres escobar

...
Passeando pelo controle remoto na TV a cabo. Que o Zeca Baleiro diz em seus milhares de trocadilhos (já enjoados): “Comprei um TV a cabo/Acabo de entrar na solidão acabo”. Numa contra resposta vejo a TV a cabo uma revolução no sentido em que você não fica subordinado as programações dos canais abertos. Na TV a cabo você tem um menu interessante que vão desde cafés filosóficos até documentários sobre futebol. E num desses documentários o controle remoto parou. Era sobre os dois Escobar. O Andrés Escobar zagueiro da seleção da Colômbia e o Pablo Escobar que o denominaram de “O Bin Laden do narcotráfico”, pois aterrorizava com explosões nas cidades da Colômbia com uma milícia de paramilitares e além de alimentar a distribuição mundial quase total de cocaína. O Andreas era um exemplo de honestidade, de homem, de família e Deus e muito preocupado com a situação do seu país, envolvido em projetos sociais, além de ser um grande zagueiro conhecido como "el caballero de las canchas“ (o cavaleiro do futebol). Podemos ser maniqueístas e dizer: - era o bem e o mal.

sexta-feira, junho 17

Para ler sussurrando

Finalmente entraram no quarto. Penoso é o caminho que fizeram até chegarem ao motel. Barato ou não, não se sabe. O fato de ser um local escondido, numa dessas ruas sem asfalto, cobertas por uma luz espessa, era a única certeza que tirava aquele medo de ser descoberta, embora isso não importasse de forma alguma. Provia, naquele instante, mais de um direito do que um desejo propriamente dito. A vontade era apenas o corolário, apesar de querer fazer isso e de estar, indubitavelmente, decidida. Mas e agora? Entrara fatalmente naquele quarto. De certa forma, em tal decisão, havia um acordo tácito, um contrato invisível que fora assinado quando se deixou levar até lá. Não seria obrigada a fazer nada, é certo. Tinha o poder sumário do ‘não’, no entanto, ela se trairia se o dissesse, pois, quando saiu de casa, resoluta, decidiu ir até o fim, mesmo a razão permanecendo opaca, mesmo vendo o tempo e o ato se consumado a golpes de hesitação. Mas algo está errado. A luz incomodava. Deixava o jogo claro, desnudava com mais ênfase o corpo não somente nu, mas exposto, fragilizado pela evidência, suscetível, como um animal encurralado, ao olhar, do qual nada poderia passar em branco, do qual não haveria outra saída a não ser fazer parte de uma memória flagrante, indelével aos dois, que não deixaria impune o passado. Não! Definitivamente, era preciso apagar a luz... Agora sim, a escuridão trazia de volta a segurança das roupas. A pele se sentia mais a vontade longe dos olhos. A brecha da porta trazia alguma claridade e os corpos se tornavam contornos de um único desenho, embora o mundo lá fora ainda existisse e batesse na porta, insistindo em entrar, embora tal realidade fosse apenas uma impressão de que, depois dali, ainda havia trânsito entre a noite e a madrugada. No entanto, como se não bastassem à discrição e a penumbra, que davam ao proibido a condescendência de ser permitido, ela, mesmo assim, fechou as pálpebras como se fechasse venezianas do mundo, podendo, então, se entregar a compleição  dos tímidos gemidos que se fizeram escutar, finalmente. 
Igor Nascimento

segunda-feira, junho 13

nota a todos

vou pegar a estrada essa semana...

espero que continue postando todos:

eliseu
alice
cris ta off....
marcio
natam
luciene ( cade o texto da quinzena?) 
e o restante da galera que nao tem senha pode mandar pro email do blog e alice (ok?) podem postar ou natan.

abracos.

diego

email: pontocontinuando@yahoo.com.br

Não me fales de amor!

Por favor, não me fales tu de amor, não agora, nem por esses dias. Não sobre esse idealizado pela literatura e cinema decodificado em trilhas sonoras, ou engarrafado em frascos de remédios como cura para solidão culturalmente inventada. Sobre esse amor eu não quero ouvir. O amor é uma dimensão maior, difícil de ser narrado, especificado e já o vivestes em tantos momentos... esquecestes? O amor é livre... livre foram teus passos pelo mundo... livres foram as tuas formas de amar. Não podes querer viver um amor de frascos, de álbuns limitados em páginas amarelas de sorrisos emoldurados, lindos e vazios. A tua natureza de amar é muito maior! O amor não é unidade, é extensão. Vê aquele pássaro flutuando no céu lilás em perfeito ballet moderno? Tanta flexibilidade, encantamento...consegues perceber? Pois tu não és o pássaro, tu és o céu. 

O céu é o teu limite!


Alice Nascimento

domingo, junho 12

Nota aos leitores e amigos

Caminhando pela rua de pedras que dá acesso à casa de um amigo, tendo o Tempo como, companhia. O Tempo que não pertence a mim nem a ninguém, só a ele. O Tempo.
Estou temporariamente deixando de postar os textos por algum Tempo, mas voltarei em breve com outros escritos e tendo o Tempo como eterna companhia. Abraços! Cris Lima.

sábado, junho 11

O grande encontro.



Por Natan Castro.

"Cadê ele?".

"Quem?"

"Dylan!"

"Ah, ele está em Woodstock, mas eu posso trazê-lo!"

"Do it!" (Faça!), mandou John do outro lado da linha.
Foi assim que se iniciou a transa que deu origem a um negócio chamado logo depois de música pop, era dia 28 de agosto de 1964, Lennon havia sido entrevistado pelo jornalista Al Aronowitz e teria dito a esse que Dylan era seu “ego igual” após a informação o jornalista tratou de realizar o encontro, no primeiro contato no hotel em Manhattan na Park Avenue em meio à roadies, jornalistas, policiais, os Beatles ofereceram a Dylan algumas pílulas e Mr. Bob aos Fab Four um baseado recém acendido, Lennon tragou e passou a Paul que tragou e passou a Ringo que iniciante nas artes do fuminho bom, tratou de fumar todo. Até então os Beatles eram a banda mais incendiária do rockabilly inventado por Elvis, Eddie Crocanne, Fats Domino, Juck Berry e outros, cantando sobre amores e desamores, Dylan era fruto do Folk de raiz bebendo volta e meia no copo dos compositores marginais de nova York, seu nome de nascença era Robert Zimmerman mudando para Bob Dylan por conta de seu fascínio pelo genial poeta Galés Dylan Thomas. De fato as coisas mudaram depois daquele 28 de Agosto, os caras de Liverpol lançaram Rubber Soul, Revolver e Sargent Peppers, do outro Mr. Tamborine eletrificou o som influenciado talvez pelas guitarras stratocasters dos ingleses para loucura dos universitários ultra-cabeçoides, lançando entre outras coisa uma obra prima chamada Blonde in Blonde que este vos escreve irá falar um pouco sobre dentro em breve.  Thank you and good night!

Até quando?

Por William Washington de Jesus *
Desde a ocupação da reitoria em 2007 que foi encerrado num acordo na Justiça Federal com a presença do Reitor Fernando Ramos (reitor na época), que garantiu que construísse uma casa no campus e outras que foram estabelecidas nesse acordão.
Com a chegada do Natalino Salgado (sucessor), a casa que estava em fase de construção foi interrompida, sendo que havia verba destinada através do Ministério da Educação que fez o repasse para construção.
Hoje passado 4 anos, a tão sonhada casa do Campus ainda é um sonho, a obra paralisada com forte indícios que será a outra finalidade, ou seja, não ser mais a casa de estudante, o atual reitor foi releito, sem dar garantias concretas que concluirá a casa no campus.
E o mais triste é que os próprios moradores das casas de estudantes em sua grande maioria são coniventes com essa situação, pois não reivindicam e aceitaram passivamente que as casas perdessem autonomia, porque hoje quem faz o processo seletivo é a própria universidade através do NAE (Núcleo de Assuntos Estudantis) e a própria reitoria.
Sendo que antes quem fazia eram as próprias casas de estudantes, a reitoria como forma de calar a boca dos estudantes, principalmente na CEUMA (Casa de Estudante Universitário do Maranhão), está colocando ar condicionado nos quartos, bebedouro, grades de proteção pra conter assalto de ladrões e muitos outros benefícios.
Nada contra esses benefícios, mas uma pessoa esclarecida sabe bem que todos esses benefícios é em troca de seguir as determinações que a mesma impõe. Só o ingênuo acha que não seja isso. Mas teria que ser realmente dessa forma sem trocas ou benefícios, porque é o dever das universidade garantir o acesso e a permanência dos estudantes durante a graduação, principalmente com as casas de estudantes, com a moradia digna e de qualidade.
Mas isso é o sonho distante, a tão sonhada casa do campus da UFMA que o diga, que até hoje não foi concluído. E a verba destinada para esse fim o que fizeram? Até quando os moradores de casa ficarão calados? Quando o Vosso Magnífico Reitor Dr. Natalino Salgado Filho irá concluir a obra da casa e obedecendo a determinação da Justiça Federal?   
* Graduado em História na UFMA e ex-morador de casa de estudante (CEUMA)

Aurélio


Um casal judeu carregando um filho foge da atmosfera eugênica da Europa. Passaportes falsos. Fronteiras. Costa de Portugal. Um navio até Buenos Aires e de lá  o Van Dick a caminho de New York. O navio é abatido por um submarino alemão na costa do Maranhão e entre seus sobreviventes está o casal com a criança. Doado para uma cabocla maranhense e o destino dos pais talvez outro navio. Assim cresce um garoto alto  branco e loiro pelas bandas da região do Tibiri e tem vários filhos. E entre eles é Aurélio. Que logo se muda para a cidade. O bairro do João Paulo. Que pega caranguejo no manguezal do Bacanga pra comer e vende coisas na feira do João Paulo onde ouve numa radio a notícia do suicídio de Getúlio Vargas e o inesquecível silêncio que causou na multidão.  Morando numa casa na rua da cerâmica ao lado do vigésimo e quarto batalhão a qual ia servir com 18 anos e bater continência para a visita do general Castelo Branco. Dispensado do exército vai trabalhar numa loja de eletrodomésticos na rua grande de seu irmão. Frequentar a zona do baixo meretrício com seus amigos e comer misto quente com abacatada nos quiosques ao amanhecer em frente da Igreja do Carmo. Comprar seu fusca e um cordão de ouro e se apaixonar por uma secretária vinda da baixada maranhense que mora numa pensão feminina na rua  são pantaleão. Maria Helena. Piqueniques nas nascentes do rio anil, uma banho na ponta da areia, são marcos, cerveja Cerma, Cassino Maranhense, bailes carnavalescos, um jogo de dama, lança perfume no ar vários copos de uísque tragando cigarros Minister e  eu amo você ao som de Robertos Carlos. Casamento e uma casa construída no Filipinho um bar na ponta da areia, transas, filhos e um irmão querido acabado num poste bêbado na Cohab. O bar não dar certo e parte para o ramo dos pães franceses e no meio da inflação dos anos 80 e das boas madeiras de mangue da ilha ascende no mercado e expande seus negócios no Canto da fabril e Liberdade. Grana. Rio de janeiro. Ilha de Paquetá. Uma volta de bondinho. Um mergulho em Ipanema. Uma foto no cristo redentor com sua família. Filhos numa escola católica de freiras italianas. Sampaio Correia ganha o estadual e o plano real é implantado no governo FHC. Controle ferrenho da inflação e baixo consumo e salario mínimo demarcado. Os economistas dizem que o Brasil precisa de uma moeda forte e uma maior abertura para o capital estrangeiro. Vale do Rio Doce e Alumar privatizada e Macdonald feliz. Ninguém comprava pão como antes. Troca à padaria por um restaurante. Brigas e choros dentro de casa. Filhos nas escolas públicas. Sampaio Corrêa vence a terceira divisão do campeonato brasileiro  e vende-se a casa e logo depois o restaurante. Vamos embora ao jovem conjunto do Cohatrac. Abrimos uma loja de doces e salgados e o mercado não favorecia os pequenos empresários. Quebra. Vários empréstimos, atrasos de pagamento, Serasa e spc. Outra casa vendida. Compra de um sítio afastado da cidade no Jota Lima no município do Paço do Lumiar. Monta-se um lava-jato na estrada da Maioba. Metazil e muita água pra tirar sujeira de carros. Dores na região do fígado e nas articulações e vômitos estranhos.  Passa a frequentar todos os fins de semana uma praia isolada da ilha na baía do Arraial com pescadores nativos. O Guarapiranga. Uma, duas, três semanas por lá. Sururu, camarão graúdo, e uma cerveja Brahma, siri, xiri e uma rede pra dormir. Falência total. Mudança para baixada maranhense. Terra de Maria Helena. Arari. Novos vômitos dores na região do fígado e olhos amarelos. Raiva e impaciência. Estamos no corredor do Socorrão. Sete dias sem uma enfermaria com leitos. Uma correria entre poucos médicos e enfermeiros e muitos doentes. O que ele tem?  Raios-X, hemograma completo, uma tomografia computorizada e um diagnóstico: pancreatite aguda. Uma espera angustiante pra entrar na UTI também sem vagas. Depois de alguns dias conseguimos.  Deitado numa sala de ar condicionada fria e branca vendo um pequeno índio ao seu lado com meningite entubado. Papai me diz raivoso: eu quero ir pra casa. Eu quero morrer em casa. Seu último pedido. E no mesmo dia uma vela acesa se apaga. Um caixão comprado com dinheiro emprestado. Velório na cohab e o enterro no jardim da paz na cova de parentes. Fujo. Escondo-me aos prantos entre anos escondido numa privada qualquer.
...
E nesse retorno ao seu passado sei que tive um pai que teve uma estória e tenho uma mãe três irmãos continuando essa estória e levanto a cabeça e digo: a vida continua e ele está vivo, pois as emoções são eternas como diz a poeta clarice.
P.S: Me lembro quando ouvia toquinho e ficava com aqueles olhos contemplativos no sofá da sala e de nossa vibração nos jogos do sampaio e das longas conversas a caminho do guarapiranga e de um livro seu chamado republica dos becos que criança pegava e não entendia nada.
diego pires

sexta-feira, junho 10

apologia a mulher fatal


A dama da noite invade-me
Possui meus sonhos com seus olhos piscantes de fêmea
Torna-me fraco. Desgraçada!

Seus mamilos de vaca encobertam os meus desejos de macho
Escapo acuado diante daqueles imensos cabelos,
que me rasgam em verdadeiros pedaços
da obsessão minha de estar entre seus lábios! Gata preta!

Brutalmente, a tomo em goles de um vinho doce.
Eu, como, um canalha a fumo.
Dito palavras entorno de seu ouvido.
A minha língua frenética de mancebo,
Desliza suave no seu corpo lascivo.
    Gritas como uma cadela em cio.                                                    

Maldita! Vampira que suga meu viver.
Goza diante desse mal de querer eu sua pele pálida,
que exala a essência de me fazer assassino. Mulher diabo!

Corroí-me esta beleza inércia de vadia,
Coroada por frutos proibidos.
Seu sorriso fácil aterroriza-me.
E o meu corpo é febril
por almejar inutilmente sua vagina dentada.
Meretriz de minha dicotomia boba! Ninfa louca!

Mas, é somente a sua cabeça independente
que preciso eu decepar,
Servir-me de teu sangue podre
E morrer perante teus pés.
Medusa virgem de minha loucura patética!

Cris Lima.


                                                     gravura: Salomé de Oscar Wilde, de Aubrey Beardsley