quinta-feira, agosto 18

Paulinha quer fuder


O olhar ingênuo e o corpo franzino e a pele com espinhas revelavam sua imaturidade, mas não sua libido. Tocava-se todos os dias quando ia dormir ou no chuveiro escutando rock roll, mas nunca achou satisfatório. Viu varias cenas de sexo subtendidas nas novelas e filmes da televisão antes da meia noite quando ia dormir pra ir cedo pra escola. Mas nada de fato. Apesar de que um dia chegou cedo da escola e abriu a porta do quarto de seus pais e viu um em cima do outro gemendo.
- Isso é sexo?!  - Duvidou. E fechou a porta.
...
Matou aula com as amigas também virgens e foram para a suíte de um motel e ficaram comendo chocolate, sanduiches e bebendo os refrigerantes do frigobar, enquanto olhavam closes de xoxotas e paus na TV de plasma deitadas numa cama oval. Algumas riam. Outras achavam nojento. Paula mordia os lábios até que sangrou. Estava decidida em romper seu hímen.
...
- É só uma festa de aniversário seu Carlos e dona Mariana – Mentiram suas primas.
Era uma Rave. Passou dez horas dançando Trance. Não sabe mesmo como conseguiu. Desconfiou que aquela pílula rosa com um sorriso que uma prima lhe ofereceu junto com um pirulito no meio do transe eletrônico influenciou bastante. Conheceu um cara.
- Oi
- Oi.
- Legal a festa.
- Legal.
- Vamos ali?
Era definitivamente ele. Corpo musculoso e óculos Rayban. Lembrava seu ídolo cinematográfico Brad Pitt. Suas primas a incentivaram bastante. - Vai lá! E Brad Pitt lhe guiou calado e cheio de mistério pra seu carro importado e abriu a porta chaves.
-?
- É cocaína.
-!
Enrolou uma nota de dez reais e aspirou cinco carreiras seguidas do pó. Paula nunca havia visto aquilo; Um ataque convulsivo com baba descendo pelo queixo do seu Brad Pitt. Lembra-se que a festa acabou e uma ambulância chegou. Ainda teve que prestar depoimento na delegacia. Informaram depois que foi overdose. Foi logo liberada e por sorte seus pais não souberam de nada.
...
Passou dias e dias deprimida. Isolada no seu quarto. Ouvindo no seu headphone Bebel Gilberto e Sonic Youth. Só saia pra escola. Até que recebeu uma ligação surpreendente. Era Julinha uma amiga de infância que há tempos não via. Estava numa onda hippie e lhe convidou pra ver as ondas do mar, a lua, contar as estrelas e perguntou qual era seu signo e que ia gravar uma coletânea de Reggae pra ela.
- Poxa! Saiba que isso foi um telefonema astral e não por acaso. Houve uma conspiração da natureza. Você vai sair da deprê. Tenho certeza
- Meu signo é Virgem.  Respondeu antes de ela desligar. Literalmente. Refletiu.
...
Foi à praia com a galera alternativa. Seria ali entre a areia e a luz do luar. - Que romântico! Pensou.  Julinha lhe deu as boas vindas queimando um incenso de erva doce pra atrair energias positivas e apresentou um amigo de cabelos rastafáris. Ele falava sobre astrologia, Civilização Maia, Mestre Irineu e o Universo. A galera ria e pulava no mar e gritavam: - Aí é O filho de Bob. Ele fumou várias bombas prensadas da pernambucana que tamanha foi larica que comeu praticamente todo o sanduíche de frango e latas de Coca-Cola que Paula trouxe e depois caiu na areia explicando um bando de coisas que ela se esforçava pra entender.
- Porra! Eu só quero fuder. Não importa seu cabelo fedido ou quem é Mestre Irineu! - O filho de Bob arrotou e dormiu.
No outro dia com muita raiva e sem a menor paciência arrumou suas roupas e foi embora sem se despedir do Filho de Bob que ainda dormia e de Julinha que fazia Ioga na beira da praia.
...
Desistiu das primas e de Julinha, mas não das masturbações. Ainda queria transar apesar dos insucessos e voltou a escutar suas músicas, isolada no quarto ainda mais deprê. Um dia voltando da escola foi apresentada a um primo desconhecido da baixada maranhense de acento cantado e jeito manso que ia passar uns dias na sua casa. Iria seguir a carreira de seminarista. Sua mãe e seu pai receberam lhe com o maior respeito e carinho e Paula com desdém.
- E quem sabe ainda faz o casamento da minha filha! - Exclamou o pai orgulhoso lhe abraçando.
- Deus te ouça! Olha? Eu trouxe uma boa farinha d’água seu Carlos. E eu mesmo ajudei a fazer. E Curimatá também dona Mariana. Eu mesmo pesquei.
- Que bonito! Rapaz esperto. – Disse Dona Mariana também orgulhosa.  
- Ó... – Ironizava Paula.
Ofereceram o quarto dela pra ele dormir, pois só viam bondade nos olhos singelos do futuro padre. Foi o cúmulo. Paula teve uma histeria por causa daquela invasão de privacidade, mas acabou cedendo depois de muita insistência e a promessa de pagarem o passaporte e o avião ao show do Pearl Jean no Morumbi.
- Era só uma semana. – Repetiu pra si.
...
Foram dormir e o futuro padre não conseguia cair no sono. Desabafou que não queria ser padre, pois não entrava na sua cabeça o Celibato.
- O que é Celibato? - Questionou no escuro, curiosa.
- É abstinência sexual - Respondeu encabulado.
- Abstinência? - Paula estava mais curiosa.
- Não fazer aquilo que nossos pais fazem no quarto à noite para gerar bebês - Respondeu cheio de rodeios.
- Hum.
Paula estava se interessando por aquele rapaz manso. Seria ele. Pulou na sua rede e ele correspondeu com grande experiência. Era melhor que qualquer imaginação, filme pornô, novela, ou masturbação.
...
- Você já tinha feito antes?
- Comecei com as cabritas do quintal e depois passei a ir todos os finais de semana na Clotilde.
- Clotilde?!
- Um cabaré bonzinho lá na beira da BR que corta minha cidade.
- Entendo...
- Paula?!  Ainda sobrou aquele Curimatá gostoso que sua mãe fez pro almoço?
- Sim. Fica aí. Eu vou buscar.
- E num esquece a farinha.
- Ok.