quarta-feira, outubro 12

Feliz dia das Crianças, mas quais as crianças?

Hoje é o dia dos diabinhos (rsrs) que tanto dá a dor de cabeça aos adultos, mas são eles que conseguem comovem com o sorriso aberto e franco, devido o seu ar de pureza e inocência.
Hoje é especial para elas, você adulto volte a ser criança que sentirá a pureza e a inocência delas, irá ver que no mundo em que elas vivem não há maldades, impurezas e pessoas má intencionadas.
Seria bom que fosse o dia de todas as crianças no mundo, mas infelizmente essa data como muitas outras como o Natal, Ano Novo, Páscoa, Dia das Mães e muitos outros não passam de um simbolismo e manter o consumo numa sociedade em que vivemos que a regra é o indivíduo gastar, gastar e gastar.
Alguns pais que estão numa situação financeira estável e equilibrada não vêem problemas comprar a loja inteira de brinquedos para o(s) seu(s) filho(s), pais que vivem numa situação apertada, mas para agradar acabam comprando para o(s) filho(s) nem que seja o único presente, mas os pais que são pobres e vivem na extrema pobreza, que presentes darão aos seus(s) filho(s)?
Lembro a minha infância na Rua Raimundo Correia no Bairro do Monte Castelo, época que não havia asfalto e nem saneamento básico, a rua inteira era tomada por lama e esgoto a céu aberto. Que mesmo numa situação de descaso por não haver uma quadra poliesportiva e nem uma praça para poder brincar, as crianças de minha época davam o jeito de brincar e faziam a arte de fazer brinquedo.
Quem nunca viu ou ouviu falar nesses brinquedos?








Como você todos viram, essa foi a minha infância, mesmo com a pobreza e ter morado numa rua em que não havia condições dignas de moradia, as crianças davam o jeito de brincar, eu mesmo já fiz muitos barquinhos de papel ou a caixa de fósforos vazia e brincava, fiz inúmeras pipas com o papel de caderno. Sem falar de outras brincadeiras como esconde-esconde, amarelinha, pega-pega, estátua, bete, queimada e muitas outras.
Que infelizmente essas brincadeiras deixaram de ser praticada pelas crianças de hoje e substituída por jogos eletrônicos e internet. Ruas que antes eram ocupadas por crianças, pouco se vêem, os excessos de informação nos meios de comunicação fizeram as crianças se tornarem mais adultos.
Mas não devemos muito que comemorar, pois há muitas crianças nesse exato momento que estou escrevendo, passando fome e ainda nem tomaram café, não comeram ontem, dormiu na rua numa calçada e sofrem por falta de pais ou um lar.
O dia das crianças foi bom para o comercio que faturou com a venda dos brinquedos que aumentaram neste ano, aproveitando o aumento das cargas tributárias principalmente os importados. Foi bom para muitas ONG´s (Organizações Não Governamentais) que receberam verba do Estado para promover festas nos bairros de periferia somente para este dia.
No site de relacionamento Orkut e Facebook há uma campanha para que os membros utilizem a foto de algum personagem infantil que marcou a sua infância que seja colocada na foto de perfil, eu que tiver que escolher, ficaria na duvida por são infinitos, mas irei escolher do Chaves, o seriado mexicano criado por Roberto Gomez Bolaños em 1970 e foi exibido pela 1º vez no Brasil no inicio da década de 80 pelo SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), que ainda hoje faz sucesso aqui no Brasil e no mundo, principalmente na América Latina, que ainda são exibidos mesmo sendo reprises, uma parte do elenco terem falecidos e os ainda vivos não interpretam mais os personagens.
 Chaves é o retrato da criança pobre, órfã, constantemente vive com fome e mora num barril, mesmo com a situação de penúria, consegue ser uma criança pura, inocente, honesto e desprovido da malícia de adultos. O principal personagem retrata muito bem o cunho social, deixando claro que a fome deixa o indivíduo inválido, sem capacidade de pensar, estudar e concentrar, o que faz ser atrapalhado e burro, e a felicidade estão na tentativa de comer ao menos um sanduiche de presunto, e num instinto de sobrevivência ao ser comparado com o animal, comete a exceção, ao furtar qualquer comida (ou achar que seja) que apareça na sua frente para ficar saciado.
Eu gostaria de desejar feliz o dia das crianças para todas as crianças, na certeza que todos terão o futuro certo de construir uma sociedade mais humana e igualitária, mas infelizmente nem todas as crianças terão este futuro, e muitas nem sabe se ganharão presentes hoje e vivem na incerteza do seu futuro e aprendendo cada vez mais cedo à vida de adulto.

Descobri ser um anjo


Não há outra explicação: eu sou um anjo. Todos sabem, menos eu. Talvez nem saibam também, apenas sentem isso. Nada de anjinho de auréola ou com longas asas nas costas. Dizem que a auréola virou farinha e pintou alguns fios brancos nos cabelos. Cada vez mais presentes, cada vez mais atraentes. Dizem que as asas ausentes foram circuncisadas, para poder ter os pés no chão e olhar a vida como os humanos. Aprender a vida tocando o chão. Pés no chão, cabeça nas nuvens. Está na memória. Anjo com vontade de tatuar as asas na costa. Talvez seja mesmo um anjo barroco, malicioso, daqueles que sorri com gracinha, mas sem maldades. Anjo não tem maldade. Pode provocar situações, pode se embaraçar todo, mas não tem a vilania como caráter. Um anjo sem grandes ambições, com a única missão de ajudar a vida alheia, de cupido a mensageiro, no melhor papel de anjo. Dentro da legião celeste, não fui expulso do céu, apenas cedi à curiosidade de experimentar o que tem abaixo dele ou ao lado. Sou do coro de anjos, mas estou perdido. Fiz amizade com os exus. São mais divertidos, incisivos e sabem cobrar por suas tarefas e missões. Tenho aprendido com eles sobre o sentido do prazer. Eles estão mais perto dos homens e sabem de todos os prazeres mundanos, do sexo ao ócio. Mas anjo não tem sexo, surge híbrido. Anjo confunde sentidos e intenções, porque nós, anjos, temos muito amor, somos divinos, é nossa essência. E amor na terra tem valor semântico de todo jeito, de toda forma. Sou anjo porque sei falar com deus, sei encontrá-lo onde ele se manifesta. Mas a gente enche o saco também. Não estou mais no céu. Só que quando a gente se olha no espelho entende que não dá para ser diferente. Anjo não chega a ser diabo, nem deus. Anjo não amadurece, cumpre a missão, que nem sabe qual é. Agora que me dou conta da minha natureza divina, quero experimentar o humano. Quero experimentar dos prazeres como os homens, errar e aprender, ter projetos, planos, entender o que é a rotina dos dias. Quero ser ambicioso, ter família, entender o tédio como antítese. Mesmo anjo torto, safado, buarquiano, predestinado a ser errado, quero ir até o fim.




(fevereiro de 2011)