segunda-feira, janeiro 30

Estado, Poder, Criminalidade e Pobreza

Esses dias estava assistindo inúmeras vezes ao filme “Tropa de Elite 2”, fiz uma análise da trama com os dias atuais que não são muito diferentes.

Não vou entrar no óbvio porque é conhecimento de todos que este filme é patrocinado por grandes empresas privadas como a Claro, Ambev (Fusão da Brahma e Antárctica) e muitos outros e nem no personagem Capitão Nascimento no papel do Wagner Moura, o protagonista do longa-metragem.

Mas o filme traz uma dura realidade no nosso país, que a ausência do poder público nas camadas mais baixas dá o livre arbítrio a criminalidade e pessoas vulneráveis a esse mundo. A formação das favelas na cidade do Rio de Janeiro se deu dessa forma, que as pessoas durante anos foram esquecidas e ignoradas pelo estado e o crime tomou de conta, e pessoas que vivem nessas localidades sem perspectivas foram facilmente entregue a marginalidade.

Com o passar dos anos, surgiram grandes facções como o Comando Vermelho que dominam os morros cariocas através do tráfico de drogas e vive em constante conflito com outras facções como A.D.A (Amigos dos Amigos) que fizeram vítimas inclusive inocentes para ter o completo poderio na maioria dos morros e favelas e também no tráfico de drogas.

O estado tem a grande parcela de culpa, a começar pela própria polícia que sempre foi conivente com a criminalidade, havendo um grande contingente de policiais corruptos e até mesmo envolvidos diretamente com a criminalidade.

Que os verdadeiros chefões do tráfico quase nunca são presos, apenas os “ralés” que vivem nos morros são presos. Mas os principais chefões do morro como o Fernandinho Beira Mar e as sucessivas rebeliões em presídios que resultou na morte dos principais liderem enfraqueceu o tráfico de drogas nos morros, facilitando as operações policiais até em localidades onde a polícia nunca colocaste os pés, prendendo e matando no que se pode dizer os últimos líderes nos morros. As UPP`s (Unidade de Polícia Pacificadora) implementada pelo governador Sérgio Cabral é reafirmação da ocupação do estado, mas não o fim das mazelas que sofrem a população e nem o tráfico de drogas.

As imagens que a Rede Globo faz questão de exibir ao mundo uma ocupação policial que fizeram os traficantes fugirem em massa numa mata pra não serem capturados por policiais, havendo uma festa midiática feita pela emissora da família Marinho pode ser considerado o “fim” das facções criminosas que comandavam o tráfico. Isso consolida o fim definitivo da criminalidade? Não.

O Sistema Criminoso no Rio de Janeiro renovou e os traficantes aos poucos estão saindo em cena e dando lugar as outras facções criminosas chamadas de milícias, que é bem mais articulada e não sobrevive somente no tráfico de drogas como aponta o filme.

Os integrantes não vivem no morro, estão inseridos no meio da sociedade e muitos são agentes do estado (policiais na maioria, funcionários públicos inclusive de alto escalão) e políticos que estão em mandato ou cargos públicos.

As comunidades que antes eram dominadas por traficantes estão sendo ocupadas por milícias que diretamente participam no cotidiano, interferem em atividades econômicas, políticas, sociais e culturais em troca do lucro e da dita segurança que fazem nessas áreas.

O estado está diretamente envolvido, a pobreza é usada como instrumento de dominação as populações mais carentes desprovidas das necessidades mais básicas como a alimentação, por exemplo, como retrata o filme “Tropa de Elite 2”, essas áreas são bem valiosos para os criminosos que podem gerar poder e lucro.

Que para a classe política é interessante, como todos sabem, a eleição é o grande negócio e o voto é o produto muito valioso para os mesmos, portanto, a criminalidade e o estado estão juntos e de mãos dadas nessas comunidades.

O grande exemplo é o assassinato da juíza Patrícia Aciolly que estava investigando as ações criminosas das milícias e agindo com rigor de acordo com a lei, mas teve a sua vida ceifada por milicianos, sendo o próprio estado responsável porque a maioria são policiais envolvidos.
A pobreza é essencial para manter a criminalidade, corrupção e todos os atos repugnantes, eis a razão da classe política brasileira em não acabar em definitivo com a pobreza, quanta mais ignorância, menos conhecimento e educação, melhor para as classes dominantes incluindo os criminosos.

No Maranhão que em séculos desde a colonização é governado por grupos políticos oligárquicos, com o estado patrimonialista, a pobreza e a miséria são importante para manterem esses grupos no poder, regado a bastante corrupção.

O sistema dos traficantes pode estar chegando ao fim no Rio de Janeiro, mas o sistema criminoso não, pelo contrário, está inovando e da forma mais organizada e articulada com a presença maior do estado que está diretamente envolvido.

A tão sonhada paz nas comunidades pobres está efetivamente longe de acabar, e os moradores continuarão sendo reféns do crime, vítimas de descaso do estado que continuará ausente e excluídos na sociedade desumana e desigual.