quarta-feira, fevereiro 13

3 cigarros no 4º degrau


Me masturbo, às vezes, ejaculo no chão do corredor de pisos retangulares do setor de emergência. É fecundo. Fetos crescem e caminham e são esmagados por pés de psiquiatras, terapeutas ocupacionais e enfermeiros e pacientes em crise, mas o ruim é que sempre me amarram na cama e injetam um coquetel de Diazepan com Haldol e fico impregnado durante dias como um Zumbi e meus punhos ficam arranhados. Louco, não? – Falei isso dagora pra meu irmão. Estávamos sentados na arquibancada da quadra de esportes. Vocês tinham que ver a cara dele de nojo. Era dia de visitas e ele já queria ir embora. Eu disse: - Espera mais um pouco pra conhecer a Zica, a minha namorada. Ela chegou meio dopada e super calada e sentou ao meu lado, devia estar naqueles dias no submundo dos pensamentos e tão fedorenta quanto eu. A Zica teve três tentativas de suicídio e quando vê cacos de vidros quer engoli-los e tenho que persuadi-la a viver mais um pouco. Também não quero ver seu esôfago degolado e ela cuspindo sangue até a morte. Seria terrível ver meu amor morrer assim na minha frente.  Eu lhe dou esperança. Falo que a gente ainda pode transar ainda que escondido dos enfermeiros e guardas de plantão, dançar nosso ritmo, fazer artesanato & pintar na sessão de terapia e fumar muitos cigarros. Ninguém lá liga pra essas coisas inofensivas, estamos dentro do jogo deles. E, além disso, estamos protegidos por paredes e drogas pesadas. – Falei essas coisa dela e sua cara tava tapada pela mão. Mudei de assunto e perguntei se ele trouxe a carteira de cigarros que pedi. Tava cansadão de fumar US. Me passou um pacote de Free. Abri. Tirei uma carteira e 2 cigarros. Dei um pra Zica. Acendi o meu e o dela. Ofereci pra meu irmão. Ele aceitou. Tirei mais 1 da carteira. Acendi e lhe dei. Queria me dividir em dois e o outro ficar no centro da quadra de esportes pra vê aqueles três sentadinhos no quarto degrau fumando um do lado do outro e a fumaça se espalhando por ser mais leve que o ar em busca do céu. O segurança apareceu e fez sinal que a visita estava encerrada. Ele me deu um abraço meia boca. Mandou eu rezar, tomar um banho e outras coisas que esqueci. Ele mal se despediu da Zica. A Zica com certeza ia falar que ele não gostou dela. 

Livre Como Um Pirata - Cap. 3


Então chegou o inverno. Você quase bateu as botas, meu amigo. Todos ficaram preocupados, achando que sucumbiria. Foi aí que os seus problemas começaram de vez... Até então, lembro de você perfeitamente saudável. Com o frio, veio aquela infecção, você mal rastejava e eu tentava te cobrir pra te proteger do frio, mas a febre te fazia delirar e recordo bem que várias vezes você tentou me agredir. Eu entendo que você não regula muito bem da cuca, essas coisas eu relevo. Chamei o doutor. Ele te aplicou um monte de injeção e, com o tempo, você foi se recuperando, mas acho que a doença deixou muitas marcas. Foi daí que você começou a babar e a cheirar mal, e as pessoas passaram a te evitar e etc. Aí você foi ficando magro e também perdeu a maioria dos dentes, de forma que demorava muito a comer, e mal. De visitas você nunca gostou. Até um tempo atrás colocava todo mundo pra correr lá de casa. Demorou muito pra você se acostumar com a menina que ajuda a mamãe nas tarefas do lar. Pirata, pra ser sincero, acho que fui um desnaturado contigo.


Tammys