quarta-feira, julho 20

Segunda Feira em Chelsea, Marillion

Paciência meu anjo enfeitado, paciência minha criança perfumada, um dia eles realmente amarão você... Fish em 1979 largava sua vida de jardineiro para entrar no Silmarillion, uma homenagem ao fascinio que os integrantes tinham pelo livro do J. R Tolkien, ó nome durou pouco tempo em 1980 após serem acionados na jústiça pela familia do escritor os integrantes reduziram o nome para Marillion somente. a critica os enquadrou como neo-progressivo, o primeiro album obteve sucesso com belas canções como Marquet Square Heroes, porém foi com Chelsea Monday que todos se renderam a genialidade de Fish como letrista, de fato sua voz lembra muito a de Peter Gabriel do Genesis, ele mesmo nunca escondeu sua admiração, a métrica das letras, a indescritível presença de palco, as fantasias usadas no show, tudo lembrava o Genesis, mas com o passar do tempo o ex-jardineiro e ator, fugia da  nobre semelhança artistica e deixava sua marca no panteão dos grandes poetas do rock, em 1988 Fish sai em carreira solo, cantando e contando aos fãs suas histórias introspectivas com verdade e poesia, assim como no inicio numa Segunda Feira em Chelsea.

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Quem não era aquela nega.

Somos uma juventude que não acompanhou o aparecimento sussurrado de João Gilberto, não vimos quando Bethânia gritou carcará aos quatro cantos, não vimos na tevê Sérgio Ricardo quebrando o violão, nem apareceu no nosso jornal do café da manhã as fotos da passeata contra a guitarra elétrica. Não fomos testemunhas das pernas de Gal Costa, nem dos joelhos da Nara Leão. A cor de Milton Nascimento não tocou nosso coração africano. As vaias para Nana Caymmi não causaram nenhuma inquietação na gente. A bunda de Ney Matogrosso não provocou despudor. Não apanhamos na costela pra ver peças de teatro. Não conversamos no dia seguinte sobre a delícia que foi ver aquela cantora Marina Lima arranhando nosso tesão. Não quisemos ser tão gay quanto Cazuza ou Caio Fernando Abreu ou Ângela Rô Rô. Não corremos da polícia pela Rua do Sol para garantir um direito estudantil. Não vimos a empolgação de Gilberto Gil com as radiolas de reggae na praia da Ponta D’Areia.

Somos uma geração pós-coca-cola. Experimentamos da sensação contemporânea da música que se fragmenta e é compartilhada com a velocidade da dispersão do pensamento. Queremos saber tudo e não aprendemos nada. Apesar de tudo isso, nada me tira o prazer do agora, a lucidez de quem vê a produção criativa dos nossos artistas jovens de hoje. O brilho e a beleza de quem te dá um abraço, abre as portas da sua casa e deita na rede contigo pra depois correr e subir ao palco abrindo as penas de pavão com a exuberância de sua arte. E tudo isso no espaço de uma ilha, que tanto reclama quanto surpreende.E a surpresa aqui em São Luís tem sabor exótico, particular, com tendência ao sotaque, ao improviso e à inteligência de uma tradição própria. Tudo isso se evidencia na obra final e a gente nem se dá conta. Passa o tempo e lá vamos nós nos surpreender com gente que dividia conosco o mesmo banco da praça ou o mesmo espaço no Mercado das Tulhas. Quem não era aquele Zeca Baleiro que ninguém prestava atenção na voz rouca, grave, cantando coisas diferentes, meio desafinado, meio transgressor, feio, lá pela Faustina. Quem não era aquele Ferreira Gullar que escrevia no jornal palavras desarrumadas. Quem não era aquela piquena saliente que brincava de improvisar notas no meio da canção da banda do maestro da Escola Técnica. Quem não era aquela moça que cantava no coral de Chico Pinheiro com aquela voz aguda e que sonhava estrear no Teatro Artur Azevedo seu show Cunhã. Quem não era aquele menino que inventava um mundo de fantasias e histórias para desfilar em três dias de Carnaval. Quem não era aquela vocalista de banda de reggae cheia de atitude e olhar mystical..

E quem não era aquela nega de turbante encarnado nas noites do Bar Odeon fazendo ‘suspirar a assustança’ no corpo da gente com seu canto divino?


dicy rocha