domingo, novembro 25

Encontro marcado





                                                                                           Ouça e leia.
                                                                                           Todo azul do mar by Flavio Venturini on Grooveshark


Eles haviam se conhecido no penúltimo ano da faculdade de arquitetura, ela já havia desistido de filosofia e letras, ele sempre soube o que queria ser, somente depois da terceira tentativa conseguiu entrar no curso. Ele vinha de família judia e ela de católicos praticantes, mas nos últimos tempos haviam se aproximados do Seicho-no-iê por conta de uma amiga oriental dela, que também havia iniciado eles no Feng-Shui. Haviam se casado no verão de 89 e passado a lua de mel nos Lençóis Maranhenses, pois a família dele vinha daquelas terras. Os filhos vieram três anos depois quando eles já tinham montado com muita luta seu primeiro escritório de arquitetura. Era um casal, depois desses não houve mais nenhum. A vida estava estabilizada, todos os planos traçados de uma certa forma estavam realizados, algumas coisas incomodavam a gastrite dele, causada pelos projetos de clientes nem sempre pacientes, e do lado dela uma enxaqueca crônica que ela tratava com a arte do Bonzai. Nos últimos tempos às atenções estavam voltadas para os filhos, a garota estava tentando biologia e o rapaz fazia educação física e iniciava uma carreira promissora de surfista. Somente aos domingos eles se reuniam para almoçar, mas rápido os filhos saiam e os dois passavam o resto do dia entre seriados, comedias românticas e fast-food.

Bem recentemente ela estava ausente do escritório por conta de um curso de decoração que estava ministrando para alunos de terceira idade, somente ele cuidava dos projetos, certo dia ela precisou passar no final da tarde para pegar uns livros que havia deixado no escritório e não percebeu sua presença por lá, perguntou para a secretária e soube que ele sempre saia uma hora mais cedo, em dias alternados na última semana. Depois daquele dia uma fina desconfiança não saia de sua cabeça, as perguntas eram várias, certo dia pensou em perguntar onde ele passava as horas que compreendia a saída dele do escritório e a chegada em casa, mas refletiu e achou por bem segui-lo e acabar com aquele desconforto. No final da tarde de quarta-feira ligou para o escritório e soube que ele já estava próximo de sair, ficou no inicio da rua esperando sua saída olhando de dentro do carro, logo depois o seguiu até um lugar meio afastado da cidade, era um parque meio esquecido pelo poder público, poucas eram as pessoas que frequentavam aquele local que estava fora de moda, do lado de fora observou o portão sendo aberto por um porteiro e a entrada dele no local. Depois de meia hora aguardando e observando que ele continuava lá, tomou a decisão de entrar e ver de mais perto, entrou a pé e perguntou ao porteiro dando as características dele, se aquele homem sempre estava por lá, o porteiro acenou dizendo que sim. Seu coração deu um salto ela adentrou e começou a andar pelo parque, eram poucas pessoas alguns idosos e mães com crianças pequenas, lá no fundo observou que havia um lago com alguns bancos de madeira de frente, procurou e não viu nada, o lago era limpo e refletia os últimos raios de sol do dia, caminhou até mais perto e viu um homem de costa sentado em um banco no canto afastado do parque, aproximou-se e viu que era ele, sozinho olhando fixamente para o lago, aguardou mais uns minutos e o viu saindo e cruzando o parque em direção à saída. No caminho de volta para casa o seu celular toca, era ele, trocaram algumas palavras, e depois de alguns uns instantes parada no semáforo ela acelerou e olhou para a sua aliança que naquele fim de tarde parecia brilhar mais do que nunca.