quinta-feira, outubro 31

Caso Hugo Farias



Os últimos dias que estava ocorrendo o 7° Felis (Feira do Livro de São Luís) no bairro Praia Grande do centro histórico de São Luís, aconteceu uma cena lamentável aos olhos que estavam presente, uma agressão dos guardas municipais ao suposto hippie que estava vendendo os seus produtos de artesanatos entorno do evento que estava ocorrendo.
O pior estaria por vir, com a sensibilidade das pessoas presentes ao verem o “hippie” ser agredido de maneira covarde pelos homens da guarda municipal, entra em cena o jovem advogado que não se conteve e resolveu se manifestar contra a arbitrariedade e a detenção do “hippie”.
Está certo que alguns “hippies” incomodam muitos frequentadores do local e turistas, desde a pedir esmolas até cometer pequenos furtos, mas muitos destes são de fato moradores de rua e dependentes químicos, e isso deve ser encarado como caso social e saúde pública e não de polícia.
A reação do advogado Hugo Farias em manifestar contra a detenção do “hippie” contra os homens da guarda municipal voltou contra a si também, que os mesmos homens da guarda tratam com truculência resolveram dar voz de prisão por desacato, alguns vídeos postados nas redes sociais mostram o suposto descontrole do jovem advogado sobre os guardas.
Alguns que eu vi não consta o áudio, somente as imagens, e sem o áudio não dá pra definir de forma clara o acontecimento, uns falam que o advogado Hugo Farias humilhou os guardas ao afirmar que os seus salários não dá pra comprar a cueca que ele veste, e esse foi o motivo dos guardas darem a voz de prisão e conduzir até a delegacia da Refesa na Beira Mar.
O outro vídeo que está circulando que mostra a suposta humilhação do advogado aos guardas e o seu descontrole, é de apenas 10 segundos, muito pouco pra constatar e além do mais não mostra o Hugo Farias em discussão com os guardas, e sim ele sentado num balção da delegacia citada e falando as pessoas presentes sobre a suposta afirmação no que ele disse, a exibição do vídeo é bem curto e não dá pra constatar em nada no que disse o jovem advogado.
Não estou aqui defendendo o Hugo Farias, entretanto, não vou demonizá-lo como tem feito algumas pessoas, se ele disse ou não aos guardas que o salário que eles recebem não dá pra comprar a cueca que ele veste, não vem o caso pelo aqui neste artigo, se ele disse que provem de fato, caso ele tenha realmente afirmado, eu lamento profundamente.
A voz de prisão dada ao jovem advogado e levá-lo até a delegacia da Beira Mar, a Refesa, se deu por um único motivo, por ser negro, isso mesmo que você acabou de ler, por ser negro, não é mania de perseguição ou achar que tudo é associado ao racismo.
Isso ocorreu pelo fato dele ser negro, mas ele não é advogado William? Sim, mas não isenta devido a cor da pele, e infelizmente isso acompanhará por toda vida, eu falo isso porque sou negro e sei bem como as pessoas agem quando vê um negro numa condição social mais elevada.
Eu queria e muito que os homens da guarda municipal agissem com o advogado de pele branca, olhos azuis e cabelos loiros e/ou sendo filho de desembargador, promotor, procurador, corregedor, juiz, advogado influente ou político, principalmente este último ocupar um importante cargo do governo e ter uma forte influencia com as autoridades do poder judiciário.
Seria capaz de dar a minha cara a tapa se os homens da guarda seriam capazes de agir como agiram com o Hugo Farias, quem nunca ouviu esta frase? “Você sabe com quem está falando?” Eu mesmo sei muito bem o que isto significa e o peso que carrega esta palavra numa sociedade injusta, desigual, excludente, segregadora, machista, homofóbica e racista, e o pior, uma sociedade que persiste em manter os resquícios da escravidão que são muito presente em dias atuais.
Eu mesmo nos primeiros anos que eu trabalhei na prefeitura de São Luís, trabalhei em estacionamento na época era alugada a prefeitura que pertencia ao antigo casino maranhense, sofri muitas humilhações e desaforos de alguns donos de carros e até mesmo de alguns motoristas, e numa dessas eu sempre ouvia “Você sabe com quem está falando?”
Se supostamente o jovem advogado Hugo Farias afirmou isso aos guardas, isso é devido ao fato dele fazer um curso extremamente conservador e elitista, o direito, que apesar da existência das cotas raciais e o aumento de jovens pobres e de escolas públicas ao curso de direito na UFMA (Universidade Federal do Maranhão) e outras instituições públicas de ensino superior pelo Brasil afora, o curso mantém as tradições de pertencer a elite e com o pensamento reacionário.
É deste curso que se forma os filhos de juízes, desembargadores, políticos, advogados, procuradores, corregedores, promotores e das pessoas da alta sociedade pra se tornar futuros juízes, políticos, desembargadores, promotores e até mesmo ministro do supremo ou tribunais superiores em Brasília – DF, é deste ambiente que viveu academicamente e se formou o Hugo Farias, e nesse ambiente a famosa frase “Você sabe com quem está falando?” é regra e corriqueira ou até mesmo encarado com naturalidade nos corredores e nas salas de aula do curso de direito.
Mas eu ressalto, se o Hugo Farias afirmou ou não, isso não vem o caso deste artigo, e sim a repercussão na cidade envolvendo o jovem advogado, que reitero o ocorrido devido o fato dele ser negro. Você é contra a atitude dos guardas por terem sido ofendidos?  Não sou contra, mas eu queria ver se eles teriam coragem de fazer com outro advogado sendo este influente na sociedade ou filho de alguma autoridade.
Ele é advogado, mas infelizmente a cor da pele será o empecilho de ser visto, tratado e respeitado como ser humano, antes de saberem a sua função e condição social, ele está passível a situação vexatórias e degradantes, e sempre haverá alguém que vai querer manchar a sua imagem.
Eu falo com o conhecimento de causa, já passei por isso mesmo sendo professor (aprovado duas vezes no processo de seleção que haviam mestres e doutores concorrendo, sendo que muitos destes não foram aprovados) da UEMA (Universidade Estadual do Maranhão), muita gente duvida e questiona a minha capacidade intelectual por eu estar lecionando na instituição de ensino superior, fui vítima de abordagem policial em Loreto – MA ano passado (2012) quando estive na cidade pela 1° vez pra lecionar, mas comigo os policias apenas fizeram perguntas, quem eu era, porque eu estava na cidade, e tive que apresentar a minha carteira de identidade, mas sem armas ou cassetetes em punho e muito menos eles mandaram eu ficar de mãos pra cima, pernas abertas e encostado na parede, mas contudo, não deixou de ser o constrangimento logo de cara pra quem chega na cidade.
A nossa sociedade infelizmente ainda não está habituado a ver jovens negros, como Hugo Farias, Eu e muitos outros a estarem numa condição social mais elevada e com a função social que exige respeito, e antes de saberem quem é cada um nós, continuaremos a passar por humilhações e constrangimentos.
E cabe a nós a bater de frente contra o sistema e todo o seu preconceito e discriminação, seja contra os negros, mulheres e homossexuais, principalmente aqueles que não são satisfeitos de nos verem nos patamares elevados que pra eles deveríamos estar na senzala ou abaixo deles, como eu, por exemplo, de guardador de carros em estacionamento e office boy da prefeitura de São Luís a professor universitário da UEMA, isto é um insulto e ofensa, mas continuaremos a insultar e ofendê-los.
Eu não conheço o Hugo Farias, tenho colegas de faculdade que o conhece, e todos afirmam que ele tem uma conduta ilibada, e espero que o jovem advogado não abaixe a cabeça e encare a tudo isso que está passando, porque alguns homens da guarda municipal devem ter falado algo que o levou a revidar.

Porque apenas os negros e pobres como nós sabemos perfeitamente o que é passar por situações quem nem essa que nos coloca muita das vezes como bandido ou mau caráter perante a sociedade ou a opinião pública, especialmente aos leigos e desinformado