segunda-feira, março 18

E agora, Josué? ( Entrevista)



Entrevista cedida por Josué Brandão via email pra Diego Pires

Josué é compositor, poeta, blogueiro, cinéfilo e formado em Filosofia pela UFMA. Atualmente exilado na metrópole São Paulo com um curta-metragem a ser rodado em Sampa, chamado “Música é uma coisa da sua cabeça” em fase de pré-produção.

O Samba Rock te pegou de jeito e por que não o Tambor de Crioula?

Boa pergunta. Só sou músico por uma questão de predisposição genética. Por parte de mãe todos faziam arte de alguma forma: se divertiam tocando e compondo baiões, sambas, choros, modinhas, jingles e o que mais que desse na telha; também tenho 2 irmãos que me influenciaram diretamente a desenvolver essa parte. Mas decidi tarde e sozinho entrar esse negócio de aprender a tocar um instrumento.

Bom, gosto de passear por vários ritmos que estão ao meu alcance, mas o lance do samba rock é uma questão de munheca, de pulso... e dá pra treinar sozinho, fazer festa pros próprios ouvidos, pelo menos. Daí eu não ter ido direto, explicitamente, para um Tambor de Crioula, por exemplo, que é uma energia essencialmente coletiva e tal. Nessas horas me faz falta não ter ido mais pra rua... faço música solitariamente, apesar de vampirizar tudo que encontro pelo caminho, como inspiração.

Outra coisa: Até o momento expus, precariamente, menos de 10 músicas e venho finalizando outras tantas, diferentes entre si. Então, o samba rock é um ingrediente fundamental, mas apenas um dos...

P.s.: a 1ª música que toquei na frente de outras pessoas foi uma composição minha: uma levada de bumba-boi tocada na guitarra - em dupla com um amigo de infância, num evento em homenagem à semana de arte moderna, no Liceu Maranhense, em 2003. Foi tosco. Meu joelho esquerdo não parava de tremer.

Dores de Cotovelo são letras recorrentes em suas composições. Esse sadomasoquismo vai do Brega a Bossa-Nova na musica Brasileira - Que bicho te mordeu?

Ser arredio é uma questão de autopreservação. O lado bom é que toda história de mágoa também pode proporcionar boas risadas ou boas músicas, depois. Melhor ainda: usar as tretas alheias como inspiração, portar-se como observador e deixar o lado pessoal de lado. Ou cutucar as próprias feridas. Ambos os métodos de composição funcionam bem. E nada é mais eloqüente do que a dor.

São Luis – São Paulo. A distância é grande, sem duvidas, de pensamentos e tudo mais. Tu ta tocando teu som por aí?

Qual o melhor lugar do país para usufruir o anonimato senão em Sampa? São Luís é meu QG afetivo, meu poema sujo com riqueza de detalhes. Sinto falta de ter medo de tanta água ao meu redor... Por aqui ando respirando muito mais poluição, mas vendo, e trombando, com muita arte e oportunidades também. É uma troca temporária razoável... Nesse 1 ano e meio, tenho me concentrado em ser um maridinho 200% presente, lidando com tarefas domésticas, pagando contas, enfim, todo aquele treinamento samurai. Esteticamente tenho sido um voyeur e aqui o que não falta é coisa pra ver. Mas ainda esse mês essa estratégia vai mudar: irei autopresentear-me com equipamentos suficientes pra entrar de novo no jogo. Estou comendo São Paulo pelas beiradas.

Suas musicas são “caseiras”: É falta de grana, falta de tempo, ou tudo isso junto pra entrar num estúdio e gravar algo com “qualidade”?

(1º) Falta de grana e tempo e espaço (2º) aprendi a gostar dessa sonoridade subterrânea. Quase chorei ao ouvir pela primeira vez algumas gravações do Arnaldo Baptista! Aí depois tive acesso a um material mais homemade do Kurt Cobain, Daniel Johnston, Keziah Jones. Mas esses caras são faixa-preta (e/ou tarja preta, se preferirem).

Quando desenhei, aaaanos atrás, um possível logo pra banda que eu fazia parte na época (a famigerada Bosta Maravilha) não escolhi um caramujo por acaso... espero que lentidão seja sintoma de longevidade, pois venho andando calmamente pra chegar onde quero: fazer jus aos genes sonoros e plásticos que carrego. E, como eu disse antes, assim que botar as mãos em meu equipamento estarei de novo no jogo.

Se ninguém tem culpa/ não se tem condenação”. Rapaz, tu és um bom cristão?

Isso é lá pergunta que se faça pra alguém que deveria ser pastor? O cristianismo tem elementos muito bons pra compor artisticamente: um bocado de tortura física e psicológica, chantagens e mágoas do começo ao fim. Mas tem toda uma poética nesse desperdício de energia que vale à pena usar. E se é pra ter uma cabeça de cristão que ao menos o resto do corpo seja pagão!

EXTRA

Tu és um adicto em cinema. Quando crescer vai um ser um Cineasta?

Bom, foi o Cinema quem atirou primeiro: estava eu um belo dia em casa quando meu irmão pôs um tal de Laranja Mecânica pra assistir. Imagina o efeito que isso causa num pirralho de menos de 10 anos! E nesse mesmo ano eu ainda vi O Nome da Rosa, A Guerra do Fogo. Ver Cidadão Kane e Cinema Paradiso depois nem era mais necessário para a rendição ser completa de minha parte. Respondendo: toda vez que assisto a um filme é como se ainda estivesse naquelas sessões, ou seja, um guri fascinado por aquelas imagens em movimento. Quando eu crescer quero me mover dentro desse universo, de alguma forma... Na verdade, tenho o roteiro de uma curta pra ser feito aqui em Sampa, Só preciso me organizar pra começar o projeto. Darei notícias sobre...

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