terça-feira, fevereiro 5

Bala!

 Diego Pires


No Stress, baby! Os tempos de vacas gordas voltaram. A vaca não era tão gorda, mas era banco de couro, injeção eletrônica e direção hidráulica. Soube pela TV que os agentes do DEIC estavam em greve por atraso de salário. O que fez relaxar meu esfíncter anal e deu espaço pra agir. Agora podia roubar sem achar que um flanelinha em um posto de gasolina era um agente disfarçado ou se não instalaram uma escuta dentro da orelha do vira-lata lá de casa.

O roubo foi fácil. Foi na verdade uma vacilada.  Alguém esqueceu um Ômega com a porta meio aberta no estacionamento do consultório do gastro onde fui consultar da cirrose.  Abri, entrei, ligação e vazei pela BR135 – BR010 e depois de 8 hrs tava em Imperatriz de frente com meu intermediador negociando aquele carrão anos 90 de playboy escutando A-HA. Voltei de avião e fui passear na praia com minha esposa e os meninos. Eu precisava de sol, mar e areia. Tava mais branco que o Drácula. Tirar a coira. Dá um mergulho profundo e não pensar em nada. E nada de cerveja e voltar a tomar os remédios pra cirrose que o medico receitou. E um sorvete de coco e maracujá pros meninos e um biquíni novo pra minha esposa que, por sinal, fazia tempo que eu não dava uma. Ia fazer isso quando voltássemos pra casa. Que lindo, não?

Mas não tão lindo. Na hora da volta no calçadão da Litorânea fomos vítimas de um assalto. Dois homens numa moto. Apareceram como uma blitz. Do nada. Gritando: - Passa tudo! A cagada dos caras eu que eu conhecia eles. Era a porra duns traficantes lá do meu bairro. Tinha até bebido outro dia com eles e tive que pagar a conta com uma foda com a dona do bar. Assaltando de faca ainda os pilantras. Um puta 157 nervoso. Eles pediram desculpa. Eu disse pra eles tomarem cuidado. Imagine se eu estivesse armado? Mataria eles sem pensar. Mas, no outro dia, matei. 

Fui à casa de cada um. Com minha pistola e botei os dois dentro do meu carro. Levei pra um terreno baldio, onde o povo joga lixo. Um disse que tinha virado evangélico e era pra eu perdoá-lo. Mandei ele abrir a bíblia que ele insistiu em trazer e ler algum versículo. O desgraçado não sabia ler. Meus deus! Bala no meio da testa. O outro já mijava pelas calças. Bala no culhão por ser medroso e pau no cú em assaltar pessoas num domingo de volta a praia. Mandei ele falar alguma coisa se tivesse a fim. 

- Eu to namorando!
- Quem?
- CARLINHA!
- Carlinha... Aquela morena gostosa da pensão do Mathias?
- É.
- Caralho! Tu é um cara de sorte rapaz. Mulher bonita. Que quer fale algo pra ela?
- É... 

Sentir inveja e pena. Mas não podia deixá-lo mais vivo. Ia dá merda. Bala.