terça-feira, julho 3

Refúgio




 Ilustração de Klyssya Martins

Hoje eu decidi visitar aquele nosso refúgio. Aquele quartinho dos fundos carregado com tralhas e lembranças...

    Estou nesse exato momento acomodado num canto daquela cama ortopédica desconfortabilíssima, mas você parece não se importar e dorme como um anjo bêbado, enquanto eu reclamo de dor nas costas e ameaço ir dormir no chão, pra variar.

         Quando entrei, fiz questão de deixar a porta entreaberta e a luz apagada. Notei que, muito curiosamente, o ventilador apontava para o teto, como se detectasse algo suspeito. Agora ele está no local de onde nunca deveria ter saído: sob a tábua de passar roupas. Ligado sempre na velocidade dois, já que a três é forte demais e me irrita profundamente ao jogar as folhas de papel à mercê da gravidade. A velocidade um me irrita também porque é tão ridiculamente fraca que me faz desejar um leque de senhora.

        Falando no ventilador, o café fica acomodado fora do seu ângulo de alcance, para que sua temperatura se mantenha alta e agradável por mais tempo. Lembra do cheiro do hálito impregnado com o café? É exatamente esse o que toma as dimensões do quarto a cada exercício de respiração que eu faço. O aroma forte e marcante, exatamente como o gosto.  Assim como tudo deveria ser: forte e marcante. Como em DayTripper.