terça-feira, abril 16

A visita cruel do tempo





Por Natércia Garrido


“É essa a realidade, não é? Vinte anos depois, a sua beleza já foi para o lixo, especialmente quando arrancaram fora metade das suas entranhas. O tempo é cruel, não é? Não é assim que se diz?”



A visita cruel do tempo (Ed. Intrínseca), da autora norte-americana Jennifer Egan, chegou ao mercado editorial brasileiro em 2012 com sua melhor “carta de recomendação”: a de ganhador do Prêmio Pulitzer do ano de 2011 por melhor obra de ficção. Para quem não acompanha intimamente os prêmios literários mundo afora, o Pulitzer é concedido pela Universidade de Columbia (NY) desde 1917 a trabalhos publicados nas áreas de jornalismo, literatura e música.


A história gira em torno da vida de pessoas que transitam no mundo da música – esse é o pano de fundo: a indústria fonográfica e o rock’n’roll, desde a década de 1970 até os anos atuais. Mas o que se discute aqui é a metáfora clara da passagem do tempo, principalmente para essas pessoas que achavam que, por serem jovens, a vida noturna, a juventude e os efeitos das drogas nunca cessariam; ou melhor, nunca trariam consequências.


Então, em um ritmo linguístico alucinante – por isso a leitura flui como o som das batidas das bandas dos anos 70 e 80 , Egan nos faz acompanhar os vinte anos das vidas de Bennie Salazar, um executivo egoísta da indústria musical; de sua sexy assistente Sasha; de Bosco, um guitarrista decadente da explosiva banda Conduits – grande descoberta de Salazar nos anos 80; de Lou, um produtor musical viciado em cocaína e em ninfetas; e das pessoas que rodeiam esses iconoclastas. O que resta afinal...é descobrir como o tempo pode ser cruel e implacável quando aparece tão de repente.