domingo, setembro 25

herbário

Estagiava no hospício Nina Rodrigues e fiz amizade com um “esquizofrênico”, com mais ou mesmo minha idade, na época: uns vinte três anos.
Ele cuidava do herbário e eu gostava de ir pra lá, pois era o lugar mais calmo, talvez por causa das plantas e flores e curtia ficar cheirando as folhas de vick (expande os pulmões). Conversávamos até certo ponto “normalmente”, no sentido em havia compreensão de ambas as partes e sem fragmentação da conversa apesar de que truncada se é que me entendem. Ele sabia o nome de todas as plantas e parecia ter  uma relação problemática com sua mãe e que curtia rock anos 80 e até cantava num inglês tão parecido quanto o meu e tocávamos guitarras imaginárias. Éramos crazys stars.
Lembro-me uma vez que levei um artigo sobre “loucura”, pois estava numa fase de entender o que era aquilo e fui para o herbário. Conversamos e perguntei pra ele se ele era louco. Ele me respondeu com raiva e indignado que não era louco (obviamente não retruquei). Ele vendo as folhas do artigo em minha mão identificou um nome Michel Foucault. Que havia escrito - História da Loucura - e ainda me explicou como era a capa do livro e tentou desenhar na parte em branco do artigo com uma caneta que tinha nas mãos. Claro, que fiquei surpreso.
Noutro dia fui pra lá e sentei ao lado dele e fiquei calado, estava triste pela situação dele (o cara podia esta fora daqueles muros curtindo outra vida se não fosse a tal da loucura). Ele me olhou e me perguntou o que eu tinha e olhei pra ele e disse que não tinha nada.