quarta-feira, fevereiro 27

Livre Como um Pirata - Cap.5


Eu estou escrevendo essas coisas por que se você vier a falecer, talvez eu não tenha ânimos para escrever nada... E eu também não sei se você vai estar vivo quando eu chegar em casa, então eu preciso terminar logo esse negócio. O que fode é essa incerteza. Ela assusta. E como...
Você adoeceu outra vez assim que começou o inverno. O papai notou que você não estava mais engatinhando normalmente. As pernas estavam pouco flexíveis. Chamamos o doutor:

- Infelizmente não tem cura.
- Como assim, não tem cura?
- É uma doença crônica... Ele sente muitas dores nos ossos. As pernas vão atrofiando com o passar do tempo.

E o infeliz só receitou uns analgésicos, pra amenizar a dor e acabar com as esperanças. Também não me vem à memória a porra do nome impronunciável da doença que te acometeu.

Eu estou muito preocupado, e não sei o que fazer para te tirar dessa, meu amigo. Eu só posso escrever... E esperar. O maldito pessimismo veio quando você negou o pãozinho que eu te dei hoje, coisa que nunca faria. Eu te olhava deitado e triste, mal abrindo os olhos, resolvi te fazer um carinho nas costas e você gemeu de dor. Então fiz só um cafuné, e você parecia estar sentindo um alívio imensurável, como quando alguém chora de sofreguidão, mas possui um colo para se debruçar. Levantava um pouco o olhar, com o mínimo de disposição que te restava, e me fitava com olhos moribundos, sem proferir uma palavra, mas já dizendo tudo.

- Dessa vez eu não escapo, meu amigo.

Eu senti que você já respirava com dificuldade e até dava para ouvir um chiado no teu peito, mas o choque veio quando na já costumeira baba, percebi tons de vermelho. Era sangue...

Tammys