domingo, novembro 20

Aventuras na madrugada fria de São Paulo

 

Entrada do Estádio do Morumbi. Foto: Cris Lima.

Saí de casa, de casa não porque estava há milhares de quilômetros de casa, mas chamei casa porque estava morando ali, por um curto período, ás 15.00 rumo ao Estádio do Morumbi. Eu estava toda arrumada, vestindo uma leg, quem diria, eu usando leg, que usei no máximo nas sessões de fisioterapia, uma bata indiana, uma olha só! Uma bota! Sim, eu calçava uma bota, cano meio longo. Como diriam na minha terra: Toda estilosa! O cabelo impecável tinha feito uma escova aproximadamente quatro dias e já durava que era uma beleza. Pois desde que cheguei não havia derramado nenhuma gota de suor, nenhumazinha. Que maravilha! Por isso também, caprichei na maquiagem, leve é claro, não queria ficar com cara de drag queen. Levava comigo minha mochila, companheira de inúmeras aventuras.
Percorri alguns quilômetros pela aquela cidade fria, agitada, como, todos dizem: “cosmopolita”. Observando o comportamento de algumas pessoas na rua, nos ônibus, nas paradas, nos carros. Aquilo tudo era novo para mim. Mas, o Estádio do Morumbi, parecia não chegar nunca. A cada cinco minutos perguntava para o motorista, se já estava perto. Ele dizia pacientemente: Cinco minutos! Poxa, este cinco minutos duravam uma vida toda! Estava ansiosa para chegar e olha que faltavam 5 horas para o show do Pearl Jam começar.
Quando desci do ônibus, notei aquela multidão de jovens, usando blusas pretas com o nome: PEARL JAM, alguns bebiam, outros fumavam, aliás, como aquele povo fuma. Procurei meu lugar de entrada no estádio era o de número 6. Fui logo tirando da mochila minha máquina fotográfica. Tirei algumas fotos da entrada. Estava me sentindo uma fotografa profissional e acho que por isso, uma policial queria encrencar comigo. Ei! Ei! Venha cá, pode já apagar estas fotos, minha foto não, moça apague logo. Nossa me senti oprimida, pela atitude aquela policial. Eu não estava tirando foto dela. Ora bolas, tinha mais coisas interessantes para fotografar do que aquela policial, mas tudo bem. Fiz o que ela pediu, pediu não, ordenou. Encrencas finalizadas. Tratei de procurar o melhor ângulo para assistir ao show, as arquibancadas já estavam quase cheias. Sentei quase, timidamente, ao lado de um rapaz aparentemente com cara de metido, um tipo playboy. Pedi licença para sentar e perguntei se havia alguém lá ele disse que não. Puxei logo conversa, ele era bem bonitinho, louro, olhos verdes, cheiroso, e usava um ósculo  Ray Ban. Eita, maroquei tudo! Conversamos sobre inúmeras coisas, e o tempo parecia não passar ainda faltava muito para o show começar. Ele era carioca e logo percebi pelo sotaque e porque não possuía aquele ar frio dos paulistas, trancados em seus livros, em seus phones, em seus casacos. Era bem simpático. E eu que pensei que ele era metido. O carioca foi uma boa companhia, até demais. Ele era meio assim atirado, peguei algumas vezes ele admirando meus seios que vamos dizer assim: são fartinhos! Mas também ele não deixava escapar nenhuma “mina”. Olhava para todas.
Enfim, no meio de tanto falatório, foi anunciado à entrada do Pearl Jam. Nesta hora meu coração acelerou eu ia ver Ed de perto, ou melhor, não tão perto assim, mas já estava valendo. Quando eles entraram foi aquela loucura; não sabia se pulava, se tirava foto, se gritava, se chorava, se dava uns beijos no meu mais recente amigo carioca. Estava extasiada. Pelo meio do show comecei a chorar muito, não acreditava que eu estava ali. Uma maranhense, professora, filha de gente humilde, no meio aquele povo todo com cara de gente bem rica e bem metida. Lembrei de papai que diz: “gente rica agente conhece pela pele”. E por falar em pele, a minha estava toda detonada de tanto frio e poluição paulista. Aff! E eu que pensei que ia chegar em São Luís com a pele de pêssego, cheguei mesmo foi parecendo uma cobra toda despelando.
O show foi ótimo, maravilhoso, emocionante, sei lá mais que adjetivo usar. Mas tudo que é bom dura pouco. O espetáculo já ia findando e era hora de voltar. Meu mais novo amigo carioca. Digo amigo, porque em São Paulo é difícil se fazer amizade, as pessoas são muito na delas, sem aproximação, é como o clima frio, é diferente do Maranhão que, agente faz amizade que parece que conhecemos a pessoa há séculos, coisa de vidas passadas. Ele me convidou para sair devagarzinho do estádio. Estávamos meio indolentes, inebriados, como na saída de uma sessão de cinema. O frio parecia muito mais forte lá fora. Tirei mais que depressa meu casaco da mochila. Conversamos mais um pouco e foi a hora da despedida. Ele me laçou aquele abraço bem quente, um beijo na bochecha e foi ai que lembrei do clima lá de casa, do calor, do sorriso das pessoas. Tive vontade de chorar, mas não chorei. Trocamos e-mails e ele sumiu no meio da multidão. E eu voltei a realidade, tinha que achar um táxi para voltar para “casa”. Não havia nenhum, comecei a ficar desesperada. Eu ali sozinha como diz Zeca Baleiro: “ eu tava só sozinho mas sem graça do que top model magrela na passarela...”Andando no meio aquele povo todo em busca de um táxi no maior frio do mundo, completamente só, com minha mochila, com fome, com minhas botas meio cano longo. Andei no meio da multidão sozinha por pelos menos uns 30 minutos e o desespero batia em meu peito E nenhum taxi! Nenhum! Lembrei do meu carrinho estacionado lá no terraço de casa, poxa que falta senti dele. Lembrei de papai e mamãe, uma hora daquela já estavam dormindo tranquilos e sua única filha perdida na madrugada fria de São Paulo.

Av. Paulista. Foto de Cris Lima.

Caminhei por mais alguns minutos quando avisto um taxi descendo pelas ruas arborizadas do Morumbi, fiquei tão alegre que saltitei, como uma gazela nas savanas africanas. Me aproximei do taxista. Nossa! Como ele era lindo e cheiroso, seu perfume agente conseguia sentir há quilômetros. Logo eu pensei: Hum! Acho que devem está fazendo alguma filmagem de novela por aqui. Este cara tá mais para ator do que para taxista. Olhei para um lado e para o outro para ver se enxergava alguma câmera, mas não vi nada. De repente eu estava atrapalhando alguma cena da novela das oito, ou algum comercial. Não queria, só queria chegar logo no hotel e sair daquele frio todo, mas se bem que não seria mau eu passar na televisão inda mais ao lado aquele lindíssimo taxista. Hum! Gostei da ideia! Eu sempre quis ser atriz e aquela poderia ser minha oportunidade. Mas para meu azar ou sorte mesmo, ele era apenas um taxista bonitão e cheiroso que me salvou. Ele estava livre e perguntou para onde eu iria. Além de lindo, cheiroso era muito educado. Ai, me apaixonei! Será que ele era casado, noivo? Não vi aliança nenhuma, depois de minhas últimas desventuras amorosas, a primeira coisa que reparo num homem é suas mãos se tiver um bambolê, tô fora! Não tinha nada, mas ele deveria ter uma namorada, uma ficante ou um FGTS, (aprendi esta gíria em Sampa), não posso dizer o que significa por causa da censura, mas aviso que não tem nada haver com Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
Fomos conversando o caminho todo, eu já estava pensando em nossos filhos, como seriam nossos filhos. Meu Deus! Minha imaginação é tão fértil! Ele me contou de uma namorada que ele teve, que era maranhense, fiquei toda animada. Pensei: ele gosta de nordestina. Aliás, temos fama lá no Sudeste. Quando contou este fato seu sorriso de malícia saltou dos lábios e que boca e que dentes! Ai! Ai! Falou que era formado em Direito, mas não exercia a profissão que ganhava mais como taxista do que como advogado. Contou que pretendia um dia conhecer o Maranhão. E eu pensei comigo mesma: seria ótimo! Eu poderia mostrar os lençóis maranhenses para ele. Ai meu deus, com ele era lindo, cheiroso e educado! O genro que mamãe pediu! Nesta hora minha imaginação já beirava, nós dois, velhinhos contemplando nossos netos e bisnetos como na música de Nando Reis.

Show do Pearl Jam. Foto de Cris Lima.
Ele foi bem gentil me mostrou a marginal Tietê e Pinheiros e me explicou o significado de marginal, mostrou a Rede Globo, o parque Ibirapuera e outros pontos de São Paulo e eu nem ligava se o taxímetro marcava já uma pequena fortuna que ia ter que pagar. Eu estava embriagada pelo perfume que vinha daquele taxista bonitão. Ele me chamava de moça: Moça chegamos! O quê? Não! Não me acorda, não! Moça chegamos no seu hotel! Ah tá! Poxa o sonho estava tão bom, mas como eu disse tudo que é bom, dura pouco e à vezes caro. A corrida me custou 150,00 reais e um coração partido. E nem o MSN, ele me deu.