domingo, março 31

Por causa da chuva



Por Natan Castro
                                                                                                                                   The Rain Song by Led Zeppelin on Grooveshark

Hoje acordei cedo e fui tomar café na padaria, tive que pegar um guarda-chuva, pois estava chovendo, chuva fina daquelas que molha bem mais que uma tempestade e segundo minha mãe pode causar um resfriado fortíssimo. Depois que estava no meio do caminho fiquei me perguntando por que havia tomado essa decisão de ir tomar café na padaria, ainda que lá fora estivesse chovendo, eu até podia ouvir a chuva batendo no plástico do guarda-chuva, podia além do som que saia do fone de ouvido. Pensando bem era pra eu ter colocado uma música que falasse da chuva, são diversas trilhas voltadas para a chuva, a chuva parece a mim um carma, um momento onde a força suprema obriga todos os seres deste planeta a refletir, mas pensando bem antigamente, falo há uns séculos atrás era bem certo isso, porém com a industrialização as pessoas meio que foram perdendo o medo da chuva, olha só “medo da chuva” é uma letra do nosso maluco beleza predileto, mas é isso com a invenção do carro esse tal receio foi meio que desaparecendo, mas não totalmente ainda existem pessoas que se lembram de fazer um café para aguardar a chuva passar, é um ato que além de reflexivo é também por parte da natureza de purificação. Eu antes acreditava de fato que quando chovia, era porque a cidade já não sustentava seus sacrilégios, pecados e toda a sorte de coisas ruins. Eu hoje acordei cedo e fui tomar café na padaria, mas de fato ainda não sei por que, talvez tenha sido por causa da chuva.

"o olho roxo até que nos acentua a beleza da face…” (Mirtes Rodrigues)



Eu amava as literaturas pornográficas de pouco sucesso e com ortografia problemática, que ao mesmo tempo possuíam um ar de dor e desespero honestos e sinceros, inocentes insanos melancólicos contemporâneos - mas que devem ser atemporais e sempre devem ter existido. De vez em quando atravessava crises existenciais e me recusava a escrever, não havia um comportamento padrão para essas crises e nem um tempo certo para durarem. Quando acontecia as vezes eu saía fazer algo que raramente fazia, quebrar a rotina, caminhar por becos escuros (pode-se dizer que isso não passa de uma vontade de morrer, impulso religioso, que um cão raivoso me encontre) mas não era isso que queria. Mergulhava de bico na dor sem sentido que sentia e esses mergulhos quase me matavam realmente de dor. Ainda lembro de deitar olhando para o teto sem saída e sem poder fazer muito mais do que arranhar as paredes, sentir a respiração ficando falha. Nosso espírito é mesmo poderoso. Pensar no amanhã é terrível. A morte trazendo champagne numa bandeja cintilante, por que não? É só uma jogada criativa, tornando os bares mais coloridos para poder continuar frequentando-os. O mijo nas paredes das esquinas, à meia luz porta adentro, corpos curvados sobre mesas e garrafas, copos plásticos, música ruim, piadas ruins, garotinhas sem cérebro com uma vontadezinha dionisíaca de dar o cu e contar pras amigas, sem mais. A invontade de admitir que estamos perdidos, a literatura underground, os poetas do ceticismo orgulhoso de mula empacada. Os que não escrevem e também não vivem. Os que nunca mudaram de cidade. Os caipiras de Soledade. Os animais selvagens. A vontade de me perder em estradas de chão. A Kombi estacionada na garagem do meu avô antes assassinado por um motorista bêbado. Eu não vejo e nem quero ver nada. Não ouso adentrar no bar. Não suportaria um olhar de qualquer um lá dentro. Sou fraco. Covarde. Vou comprar a Kombi do meu avô e viajar por aí. Ainda não fui. Continuo aqui, sem mais me esquivar da vontade de chorar. As pessoas tentam conversar comigo e escuto a sua voz baixinha como se estivessem distantes demais. Tento gritar mas parece que o som se distorce no caminho. Estamos todos perdidos uns dos outros num deserto infinito, meus caros. Estamos sós nessa. A solidão é algo com o que já nascemos e passamos o resto da vida tentando maquiar como uma cicatriz horrível no rosto. Só que está por dentro. Estamos por dentro, por trás, por baixo. Nunca sobre a pele. Mas que beleza, isso tudo. Bukowski sorri para mim ao lado do teclado virando uma taça de vinho. Seus olhos quase não existem, mas são de uma tranquilidade organizada, como se soubesse a verdade do universo. E talvez seja assim mesmo. A vida é um tigre que te devora. Mas que beleza possuem os tigres correndo pelos campos e dormindo nas árvores! Nada mais bonito que um felino sob a sombra de um coqueiro lambendo o sangue das patas. 

sábado, março 30

O Canto dos Malditos - Sergio Sampaio


                                                            O Bloco do Sampaio 

Por Natan Castro


Na dita Academia Brasileira dos Malditos, Sergio Sampaio é sem dúvidas um caso especial. Nascido em Cachoeira do Itapemirim (ES), dizem que foi amigo de Roberto Carlos na infância, esse artista diferente dos demais teve somente um grande sucesso nacional, a canção “Eu vou botar meu bloco na rua” lançada em 1972, foi um sucesso estrondoso. Teve seu primeiro disco produzido por Raul Seixas que é considerado seu padrinho musical, haja vista o convite que fez a Sergio Sampaio para participar do projeto do álbum “Sociedade da Ordem Kavernista, Apresenta Sessão das Dez” que de fato foi o seu ponta pé na vida artística. Diz à lenda que Raul Seixas à época produtor da CBS foi procurado por dois artistas, um deles o próprio Sergio e o outro Paulo Diniz. Raul Seixas teria gostado muito e o aceitado para seu cast.

Depois do sucesso com seu primeiro álbum e seu hit nacional, a mídia musical tratou de selar na imagem de Sergio Sampaio o estigma de o mais maldito de todos os malditos da MPB. Um espetacular compositor com canções intimistas recheadas de imagens poéticas, canções essas interpretadas em forma de blues, rock, samba. Dono de uma refinada técnica de violão, Sergio Sampaio sempre foi um compositor prolífico, porém dono de uma personalidade forte e teimosa, boêmio contumaz adepto do álcool e da cocaína. Sergio Sampaio viu seu parceiro Raul Seixas estourar nacionalmente com ótimas vendagens e discos geniais, enquanto ele amargava apresentações para públicos mínimos de bares do baixo Leblon. Tendo lançado mais dois discos com belíssimas canções mais com pífias divulgações por parte das gravadoras, somente depois de sua morte um fã de longas datas o cantor Zeca Baleiro junto com outro parceiro Sergio Natureza produziram um álbum em sua homenagem chamado “O Balaio do Sérgio” com suas canções sendo interpretadas por grandes nomes da MPB. Para logo depois ser lançado seu álbum póstumo chamado “Cruel”, Sergio Sampaio é sem dúvidas um artista para gerações vindouras e de fato cada vez mais suas canções são conhecidas em âmbito nacional, o que infelizmente não aconteceu com ele em vida.



quarta-feira, março 27

LEVANTA A CABEÇA


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domingo, março 24

Mirtes


a fumaça subia para a luz dos postes e ganhava o mesmo tom laranja das lâmpadas. era só fumaça, reflexo, química. tentei escrever. escrever é inútil para quem não possui certezas — as palavras apenas substituem as coisas — como a verdade que destrói a esperança toma o seu lugar com a mesma energia, a mesma vitalidade. queimei a ponta do papel com o cigarro e fiquei olhando ele pegar fogo. é a vida. o fim da escrita. o fim da literatura. e não é de hoje que se fala nisso; no quão miserável e inútil é todo pensamento, toda arte, toda a verdade. bem, que se dane tudo isso. levantei da calçada e subi para o meu quarto. lixo atômico espalhado no chão. coloco o pen-drive no som e começa a tocar um estilo eletrônico que conheci conversando com um cara num bar. não lembro bem de como ele definiu esse estilo, só que se chamava Vaporwave e era foda. comecei a ouvir e ele tinha razão mesmo, parecia música feita dum quartinho por um maluco que nunca saía de casa. abri a geladeira, peguei uma cerveja e não acendi as luzes. liguei a televisão no mute e fiquei olhando as imagens, ouvindo aquela música. parecia fora de mim. me via iluminado pela luz do monitor com a latinha na mão. me surgiu na cabeça um pensamento único, perfeito, sozinho, como um tiro no deserto: “Mirtes”. Bukowski dizia que existem tantas mulheres legais no mundo que ele até tinha conhecido uma ou 2. a Mirtes era a única que eu conhecia. de tantas outras. “Mirtes, Mirtes, Mirtes, Mirtes”. a luz cintilante da televisão. a janela atrás de mim. mitch murder tocando. eu nunca fui dos escritores malditos e nem dos benditos. Mirtes. a única que sabia sobre o amor. a única com quem eu ainda tinha paciência de conversar. peguei o telefone e pensei em ligar. mas não liguei. ela vai chegar às 11 da noite. eu espero. a minha garota. que não é minha. porque não posso ter nada. de repente a tevê e o som desligam. a luz acabou. eu fico sentado no escuro com essas batidas na cabeça. eis o nada que sou. o nada que nem sempre fui. espero que ninguém se importe com a minha mania de escrever sempre sobre mim. mas o que eu teria que saber dos outros? a luz volta. o som fica piscando. a tevê acende. e a Mirtes entra pela porta. “Oi” ela diz. o meu sorriso daria um final feliz para um livro qualquer. eu ligo o som e a gente fica ouvindo mitch murder juntos. sei que ela tem medo de relacionamentos e dias calmos demais, por isso segurou a minha mão com força até pegar no sono.

Um filho


Saiba que iria pra puta que pariu com você. Íamos fazer um filho, na rede, no coqueiro, cozinha, sala ou no banho. Nunca saberíamos, ao certo, o dia do encontro do esperma com o óvulo fértil. Dava o nome se fosse menino. Menina, você escolhia ou pode ser o inverso, com certeza, rolaria uma discussão sobre isso. Mas mais certeza ainda ia torcer pelo Sampaio Correa. O time do meu coração e do Maranhão. O do Rio ou de São Paulo ele escolhia. Plantaríamos batatas, joão gomes, manjericão e marijuana no quintal e trabalhar o mínimo possível e ter tempo pra irrigar as plantas e cuidar do bebe até ele criar asas.  Ou mesmo se ele não criasse asas no sentido de um dia sair de casa. Ia ficar com a gente até o fim diferente das plantas que tem outro tempo de vida. Se nos separamos, sem querer ser negativo, ainda vou te ligar e falar qualquer bobagem ou se ainda gosta de ouvir aquela banda de rock. Porque no fundo as bobagens não são só um alívio e algumas bandas de rocks são legais. 

sábado, março 23

O Canto dos Malditos - Itamar Assumpção


Por Natan Castro



Itamar Assumpção é um bisneto de Angolanos que saiu do Paraná no inicio dos anos setenta, rumo a capital paulista. Desde muito pequeno mostrou certo fascínio por ritmos, a principio da batucada do candomblé nos quintais de sua casa.  Diversas foram as sonoridades que forjaram sua música, algumas advindas de múltiplas influências, dentre elas Hendrix, Miles Davis e Milton Nascimento para citar alguns somente. Tais informações ajudaram a formar a cabeça multifacetada de um artista que misturou a influencia da poesia de Paulo Leminski com o que de melhor tinha na música negra mundial. Pioneiro na formação de um movimento depois chamado de Vanguarda Paulista, junto de Arrigo Barnabé e outros. A concepção de música no modo de ver do alquimista Itamar Assumpção, de certa forma estava e esta em alguns casos muito longe da aceitação geral. Talvez por isso seja constantemente taxado de maldito, ainda que nunca tenha aceitado esse rótulo, pois sempre deixou claro que era um artista popular.
 
Itamar Assumpção faz parte de uma linhagem de artistas conceituais, que ousaram se fazer independentes por natureza, muito antes da onda cyber-independente iniciada pela internet. Hoje aclamado por diversos artistas de renome e por um público minúsculo, porém cativo, como um dos grandes nomes da verdadeira MPB. Tendo lançado em sua carreira oito álbuns, todos fortemente marcados por sua genialidade e ousadia musical. Itamar Assumpção morreu em 2003 vitimado por um câncer de estomago, deixando uma lacuna enorme na dita musica brasileira feita de verdade para arte, longe dos nocivos interesses comerciais.

Garoto Lithium (7)


Livre Como Um Pirata


quarta-feira, março 20

Livre Como um Pirata - Final



Pirata, meu amigo, nada pode descrever o medo que eu estou tendo agora de voltar pra casa e não te ver mais. Há uns meses atrás, você sempre corria ao portão com o ímpeto ou de nos receber ou de expulsar as visitas. Você não possui mais forças para isso agora... Mal consegue se manter de pé. E eu nem consigo imaginar que tipo de dor você sente. Se pudesse, a compartilharia contigo, velho amigo. E eu fico pedindo para Deus que tenha me enganado quanto ao sangue na sua saliva, afinal estou mesmo precisando trocar os meus óculos. Mas você está tão fraquinho... Mal abre os olhos. Eu só queria que você se sentisse amado por mim, então, se puder, por favor, me envie algum sinal, mesmo que seja do além, para dizer que me perdoa e que eu não te magoei tanto assim... Eu não quero ter que te enterrar, mas assim o farei se for preciso.
Disseram que seria melhor recorrer a eutanásia. Que você estava sofrendo demais, que você não merece isso. Ponha-se no meu lugar, meu amigo. Num peito amigo sempre há esperança. Se o pior acontecer, eu não poderei estar ao seu lado nos seus últimos momentos, e muito menos registrá-los por escrito. E nesse exato momento os meus fones tocam “To Wish Impossible Things” do The Cure. Isso não é nada animador, eu sei. Mas mesmo que seja impossível, eu desejei te ver bem antes de tudo. Eu nem me importaria mais com a sua baba, nem com o seu mau cheiro, se você simplesmente se curasse e suas forças retornassem e com certeza seria uma festa lá em casa. Eu te abraçaria como nunca te abracei e choraria nos seus ombros e você ficaria com cara de besta sem entender nada, mas também não iria se incomodar com a situação. Mas eu tenho aquele pressentimento terrível de que quando eu chegar no teu quarto eu não vou mais sentir a tua presença e vai ficar um vazio só, não apenas no quarto, mas na casa, na rua, no bairro e na minha triste vida.


Tammys

segunda-feira, março 18

E agora, Josué? ( Entrevista)



Entrevista cedida por Josué Brandão via email pra Diego Pires

Josué é compositor, poeta, blogueiro, cinéfilo e formado em Filosofia pela UFMA. Atualmente exilado na metrópole São Paulo com um curta-metragem a ser rodado em Sampa, chamado “Música é uma coisa da sua cabeça” em fase de pré-produção.

O Samba Rock te pegou de jeito e por que não o Tambor de Crioula?

Boa pergunta. Só sou músico por uma questão de predisposição genética. Por parte de mãe todos faziam arte de alguma forma: se divertiam tocando e compondo baiões, sambas, choros, modinhas, jingles e o que mais que desse na telha; também tenho 2 irmãos que me influenciaram diretamente a desenvolver essa parte. Mas decidi tarde e sozinho entrar esse negócio de aprender a tocar um instrumento.

Bom, gosto de passear por vários ritmos que estão ao meu alcance, mas o lance do samba rock é uma questão de munheca, de pulso... e dá pra treinar sozinho, fazer festa pros próprios ouvidos, pelo menos. Daí eu não ter ido direto, explicitamente, para um Tambor de Crioula, por exemplo, que é uma energia essencialmente coletiva e tal. Nessas horas me faz falta não ter ido mais pra rua... faço música solitariamente, apesar de vampirizar tudo que encontro pelo caminho, como inspiração.

Outra coisa: Até o momento expus, precariamente, menos de 10 músicas e venho finalizando outras tantas, diferentes entre si. Então, o samba rock é um ingrediente fundamental, mas apenas um dos...

P.s.: a 1ª música que toquei na frente de outras pessoas foi uma composição minha: uma levada de bumba-boi tocada na guitarra - em dupla com um amigo de infância, num evento em homenagem à semana de arte moderna, no Liceu Maranhense, em 2003. Foi tosco. Meu joelho esquerdo não parava de tremer.

Dores de Cotovelo são letras recorrentes em suas composições. Esse sadomasoquismo vai do Brega a Bossa-Nova na musica Brasileira - Que bicho te mordeu?

Ser arredio é uma questão de autopreservação. O lado bom é que toda história de mágoa também pode proporcionar boas risadas ou boas músicas, depois. Melhor ainda: usar as tretas alheias como inspiração, portar-se como observador e deixar o lado pessoal de lado. Ou cutucar as próprias feridas. Ambos os métodos de composição funcionam bem. E nada é mais eloqüente do que a dor.

São Luis – São Paulo. A distância é grande, sem duvidas, de pensamentos e tudo mais. Tu ta tocando teu som por aí?

Qual o melhor lugar do país para usufruir o anonimato senão em Sampa? São Luís é meu QG afetivo, meu poema sujo com riqueza de detalhes. Sinto falta de ter medo de tanta água ao meu redor... Por aqui ando respirando muito mais poluição, mas vendo, e trombando, com muita arte e oportunidades também. É uma troca temporária razoável... Nesse 1 ano e meio, tenho me concentrado em ser um maridinho 200% presente, lidando com tarefas domésticas, pagando contas, enfim, todo aquele treinamento samurai. Esteticamente tenho sido um voyeur e aqui o que não falta é coisa pra ver. Mas ainda esse mês essa estratégia vai mudar: irei autopresentear-me com equipamentos suficientes pra entrar de novo no jogo. Estou comendo São Paulo pelas beiradas.

Suas musicas são “caseiras”: É falta de grana, falta de tempo, ou tudo isso junto pra entrar num estúdio e gravar algo com “qualidade”?

(1º) Falta de grana e tempo e espaço (2º) aprendi a gostar dessa sonoridade subterrânea. Quase chorei ao ouvir pela primeira vez algumas gravações do Arnaldo Baptista! Aí depois tive acesso a um material mais homemade do Kurt Cobain, Daniel Johnston, Keziah Jones. Mas esses caras são faixa-preta (e/ou tarja preta, se preferirem).

Quando desenhei, aaaanos atrás, um possível logo pra banda que eu fazia parte na época (a famigerada Bosta Maravilha) não escolhi um caramujo por acaso... espero que lentidão seja sintoma de longevidade, pois venho andando calmamente pra chegar onde quero: fazer jus aos genes sonoros e plásticos que carrego. E, como eu disse antes, assim que botar as mãos em meu equipamento estarei de novo no jogo.

Se ninguém tem culpa/ não se tem condenação”. Rapaz, tu és um bom cristão?

Isso é lá pergunta que se faça pra alguém que deveria ser pastor? O cristianismo tem elementos muito bons pra compor artisticamente: um bocado de tortura física e psicológica, chantagens e mágoas do começo ao fim. Mas tem toda uma poética nesse desperdício de energia que vale à pena usar. E se é pra ter uma cabeça de cristão que ao menos o resto do corpo seja pagão!

EXTRA

Tu és um adicto em cinema. Quando crescer vai um ser um Cineasta?

Bom, foi o Cinema quem atirou primeiro: estava eu um belo dia em casa quando meu irmão pôs um tal de Laranja Mecânica pra assistir. Imagina o efeito que isso causa num pirralho de menos de 10 anos! E nesse mesmo ano eu ainda vi O Nome da Rosa, A Guerra do Fogo. Ver Cidadão Kane e Cinema Paradiso depois nem era mais necessário para a rendição ser completa de minha parte. Respondendo: toda vez que assisto a um filme é como se ainda estivesse naquelas sessões, ou seja, um guri fascinado por aquelas imagens em movimento. Quando eu crescer quero me mover dentro desse universo, de alguma forma... Na verdade, tenho o roteiro de uma curta pra ser feito aqui em Sampa, Só preciso me organizar pra começar o projeto. Darei notícias sobre...

Abaixo segue os Links do seu blog e do palcomp3:
 



domingo, março 17

“não consigo dormir com esse cheiro de fumaça”



“mas foi você quem fumou”
“eu sei, espertão, mas eu não tava mais acostumada”
“mas fumou”
“eu quis” 
“você sempre faz tudo o que quer. ótimo, só que quem fica te ouvindo reclamar depois sou eu”
“eu sei… desculpa?”
“pra quê? você não vai parar”
“e deveria?”
“você acha que tá certo reclamar assim o tempo todo?”
“não… mas é que…”
“o quê?”
“você precisa encarar o mundo… mas olhar dói. sentir dói. o mundo é feio. não pela ausência de beleza, entende? mas pela ausência de tudo. até de uma falta necessária ou algo do tipo…” 
silêncio.
“o cheiro de fumaça tá foda mesmo, a gente não devia fumar esses cigarros de mal gosto” 
ela se levanta da cama e caminha até o banheiro.
ele fica deitado olhando para o teto. para a luz acesa. fica pensando nos formatos que a lâmpada vai assumindo conforme o tempo passa.

sábado, março 16

O Canto dos Malditos - Arrigo Barnabé (Clara Crocodilo 1980)

                                                         Clara Crocodilo
Por Natan Castro


Para falarmos de Arrigo Barnabé, é necessário, extremamente necessário falarmos da Dodecafonia. Que foi uma espécie de movimento surgido na música erudita nos anos 20, sendo criada pelo compositor austríaco Arnold Schoenberg. Dodecafonia compreende em uma série de 12 notas tocadas pelo músico, sendo que nunca são repetidas da mesma forma na mesma composição. Arrigo Barnabé é um músico e ator Paranaense que despontou no Primeiro Festival de Música Popular Brasileira da USP em 1979. Até aqui tudo seria normal, mas as canções tocadas e interpretadas por Arrigo não eram nada parecidas com as músicas convencionais que aqueles estudantes estavam acostumados a ouvir até então.

Vejamos bem nessas canções ele fazia a junção da Dodecafonia com a Musica Popular Brasileira, ou seja, dois extremos o erudito e o popular. Junte-se a isso a letras que não diria “cantadas”, mas “contadas”, como se fosse uma leitura de uma HQ ou um Gibi, mas em alto e bom som. Todo seu fascínio pelos quadrinhos e sua formação erudita formada em São Paulo. Representou em 1980 um tipo de bomba, com efeito, retardante e alusivo, foi mais ou menos isso que o publico daquele festival sentiu quando começou aquela sonoridade inédita até então. Um misto de vaias e aplausos levaram esse público aos poucos a se acostumarem com o que estavam ouvindo.

Arrigo Barnabé era naquela época o principal nome de um movimento interessantíssimo chamado Vanguarda Paulista, que tinha outros como Itamar Assumpção, Grupo Rumo e Língua de Trapo para citar alguns. A temática das metrópoles e suas inconstâncias eram pano de fundo para essa galera. Até hoje o disco Clara Crocodilo de Arrigo Barnabé é reconhecidamente apontado pelos críticos como a sonoridade mais autêntica no Brasil desde a Tropicália. 



quinta-feira, março 14

Garoto Lithium (3)


Magali Vaz - Alma Gêmea de Morten Harket (A-HA)




Magali Vaz é uma brasileira que afirma ser a alma gêmea do vocalista da banda Pop (A-HA). Segunda ela quando era criança começou a sonhar com um garoto, com o passar dos anos foi crescendo e o garoto também. No ano de 1989 ganhou um disco da banda (A-HA), e ao ver a capa se deparou com esse garoto que agora era um homem, no caso o vocalista da banda Morten Harket. Na passagem do cantor pelo Brasil em 1995 ela chegou a conhecê-lo pessoalmente e conversaram. Magali Vaz conta que a ligação entre os dois é bastante forte ao ponto de se acontecer dele ficar doente ela também sente os mesmos sintomas. A brasileira escreveu um livro para falar do caso chamado Eu e Minha Alma Gêmea onde conta com riqueza de detalhes seu caso. Recentemente o nome de Magali Vaz veio à tona novamente na grande mídia pelo motivo de ela dar declarações que irá processar a autora da saga Crepúsculo, que segundo ela estaria plagiando seu livro em algumas passagens. Um desses plágio seria a semelhança do ator Robert Pattinson com a sua suposta alma gêmea o cantor Morten Harket.




quarta-feira, março 13

Livre Como Um Pirata - Cap. 7


Lembranças contigo eu tenho de sobra, e desde já peço perdão por estar te matando antecipadamente. Lembro de quando você ainda era um bebê e engatinhava pela casa da vovó, e eu estava no meu quarto fazendo algum trabalho até que eu te ouvi gritar e chorar e saí correndo em desespero para ver o que havia te acontecido. Você tinha machucado o dedo mindinho na cadeira de balanço, e eu fiquei muito puto com a minha tia por que eu disse para ela tomar conta de ti. Teu dedinho sangrava e a unha tinha caído. Só me lembro de te pegar nos braços e te fazer um curativo. Então eu te levei pro meu quarto pra cuidar de você enquanto ficava fazendo alguma coisa no computador e, não sei por que, botei pra tocar umas baladinhas de rock’n’roll e você adormeceu como um bebê que era. A unha nunca mais cresceu, mas você também nunca se importou com isso.

Outra vez, você mais crescido, lembro que em São Luís já não chovia há séculos e o calor tava de matar. Já era madrugada e eu não conseguia dormir, então, de repente, começou a chover e nos levantamos meio que por instinto e fomos sentar no quintal. O Negão ficava com aquelas brincadeiras chatas de ficar esfregando o nariz na gente e você ficava só do meu lado, olhando a chuva como quem acabara de presenciar um fenômeno sobrenatural. Às vezes esses momentos se repetiam, quando o sono me faltava. Eu tentava enganar vocês dois, caminhando na ponta dos pés, mas nunca consegui passar despercebido. O que vocês não têm de juízo, compensam na audição. É tocar os pés no chão para atiçar a maldita curiosidade da dupla.

Também lembro de uma vez que você foi brigar com o Negão e tentou pronunciar algumas palavras. A reclamação me soou como uma piada. Eu ri tanto e tive a infeliz ideia de ficar te imitando até que você me lançou aquele olhar desapontado fazendo brotar um sentimento de culpa terrível no meu peito. Então te pedi perdão e você me perdoou.

Um tersol no olho esquerdo


Não me reconheço mais. E não adianta me olhar no espelho durante uma hora seguida ou perguntar pra alguém quem eu sou. Rio sozinho. Tenho vontade de empinar pipas e bater uma bola. Ser  o prefeito da cidade. Assaltar bancos com  amigos. Matar Sarney a queima roupa e ser manchete nacional com muito orgulho. Ontem pisei num caco de vidro e vi o sangue escorrendo e nem parecia que era meu. Nem dor tive. Foi estranho assim como meus sonhos ultimamente. Tantas pessoas que nem conheço estão neles. Coisas malucas. Vi um homem em ritmo frenético transando com uma mulher e depois o esperma branco e aquoso saindo pelo nariz e pela boca como se a mulher acabasse de ser retirada de um afogamento.  Não vejo o futuro de forma clara e nem dou palpites. O passado tento relembrar nas fotos em cima da estante na sala e nem quero saber de livros de História. O presente é esmagador assim como o calor da ilha e os pensamentos. Bebo água como se tivesse caminhando por um deserto sem cor numa eterna diáspora. Dá pavor pensar em faltar grana pra comprar água e eu morrer desidratado. Antes sentia dó pelo mendigo da esquina da minha casa. Agora não tenho mesmo tempo pra isso ou talvez seja eu o próprio o mendigo e outros é que me vêem com dó. O cabelo cresceu, as unhas, o desvio na coluna, a paranoia. Tenho um canal pra fazer no segundo molar inferior direito.  O mundo ta cada vez mais sem pé nem cabeça ou sou eu ou os dois. Não codifico os signos. Medo de parar num hospício como um personagem que criei. Sou um pouco dele. E isso aqui não é um conto, um poema, um desabafo, um vômito a la Caio Fernando Abreu ou uma espécie de diário. É uma necessidade como cagar, mijar, comer, fuder. Não há começo, meio, onde, quando, estilo, final de efeito, muito menos dor ou prazer, mas vai ter um título como quase tudo.  É isso e pronto. Faz parte. Não tem onde chegar essas palavras. Sei que tou com um tersol no olho esquerdo e ele furou e isso significa que está próximo de ficar bom. 

domingo, março 10

UTI

Me sacode 
Me esmurra 
Enfia o dedo no meu olho
Sacaneia da minha cara
Descola uma coisa boa pra mim
Pareço num coma sem aparelhos
Estirado na cama de um quarto alheio
Sem romantismo nenhum, um dois, três, quatro  
Canta uma música.

sábado, março 9

O Canto dos Malditos - Jards Macalé 1972


                                                Vai bicho desafinar o coro dos contentes
Por Natan Castro.



Muito se fala em Tropicália, MPB da virada dos sessenta para os setenta, Bossa Nova, Jovem Guarda. E vários são os artistas ovacionados nesse período no Brasil. O próprio Caetano Veloso à época do exílio em Londres produziu dois discos importantes dentre eles um clássico chamado Transa. Sem dúvida alguma um álbum genial porem toda sua genialidade pela parte musical não teria se consumado se não fosse um cara chamado Jards Macalé. Um iconoclasta da nossa cultura, um artista que passeia até hoje pelo o erudito e o popular com uma desenvoltura que poucos possuem.

Em 1972 ele lança um álbum ousado misturando rock, samba, eruditismo, jazz, bossa nova, tropicalismo. Em plena ditadura não poderia haver ousadia musical maior, um acetato minimalista, pois tinha o próprio ao violão, Lany no violão solo e Tutty na bateria. Esse disco tem a clássica “Lets Play That” que se tornou um hino da resistência por conta do refrão “Vai bicho desafinar o coro dos contentes” junto da vinheta de outra importante canção “Vapor Barato” eternizada na voz de Gal Costa de sua autoria e do poeta Wally Salomão. Esse álbum possui letras e músicas de Torquato Neto, Luiz Melodia, Gilberto Gil dentre outros.  Tamanha ousadia musical deu a Jards Macalé um lugar cativo na cadeira da Academia Brasileira dos Artistas Malditos com bastante propriedade.   



Incerteza.


Pego um ônibus qualquer. Posso descer em qualquer parada. Saca? Partir sem saber pra onde. Posso ser atropelado por um carro a 100 por hora. Posso parar na casa de alguém. Posso ver um burocrata entrando num banco e uma mulher saindo de uma academia. Posso ver o sol se pondo sobre minha cabeça se não tiver nuvens. Pode não acontecer nada disso. Mas é tudo incerto quando parte-se sem saber pra onde. Nem o vento é certo, pois o ar pode estar sem movimento. O que é certo é exatamente o não certo. A porra da incerteza é o lance. 

quarta-feira, março 6

Livre Como um Pirata - Cap.6


No primeiro dia do ano eu te vi feliz como nunca quando o Negão, com um grama de inocência e um quilo de espírito de porco arrastou a picanha dos meus pais da churrasqueira e começou a comer sozinho. Eu não consigo mais me imaginar fritando um bicho e comendo-o, você sabe. Mas era dos pais e da visita, poxa! Aí nós o pusemos de castigo e te demos aquele pedação de carne para comer sozinho. Nunca imaginaríamos que conseguiria.

Com seus poucos dentes, mas paciência de sobra, em pouco menos de uma hora você conseguiu terminar o jantar e depois foi deitar no quintal, feliz da vida. Você nunca teve a oportunidade de comer nada em paz, já que o Negão ficava te enchendo o saco, mas dessa vez eu te vi com um sorriso grande estampado no rosto depois da refeição. Nós profetizamos:

- Eita que 2013 vai ser o ano do Pirata!

Só começou bem mesmo. Mais uma vez nos equivocamos na profecia.



Tammys

O Papa latino ou negro?




Desde o anuncio da renuncia do Papa Bento XVI (Joseph Ratzinger) no dia 11 de fevereiro de 2013 para o último dia do mesmo mês (28), especula-se que o próximo papa seja um latino, mais precisamente aqui na América do Sul, ampliando as chances dos cardeais brasileiros, entre eles o Dom Raymundo Damasceno, Dom Cláudio Hummes, João Brás de Aviz, Dom Geraldo Magela e Dom Odilo Scherer, não sendo o brasileiro, pode ser o argentino, se não for nenhum dos latinos aqui no nosso continente, pode ser o espanhol, português ou italiano.

Porque esses países citados têm raízes fortíssimo com o catolicismo, e se não for o latino, pode ser o negro africano. Porque a santa igreja pode escolher um latino ou negro? A renuncia do Papa Bento XVI deixou a mostra a crise da igreja, para se ter uma ideia da dimensão desta crise, a última renuncia do papa foi a mais de 600 anos, uma série de denuncias como o caso do Vatileaks, denuncias de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo o banco do Vaticano e envolvimento de padres com pedofilia e homossexualismo.
O Joseph Ratzinger é um conservador que não aceita as mudanças feita pela sociedade e também não aceita que a igreja católica adere, como a legalização do aborto e a união civil do mesmo sexo, por exemplo, e mesmo com o conservadorismo, não compactuava com as denuncias envolvendo padres e cardeais que maculavam a imagem da igreja.

Entretanto, o Bento XVI não queria manchar a imagem da instituição que já está desgastada há muito tempo com os escândalos, crimes praticados como a Inquisição e posicionamentos contrários as mudanças que vem ocorrendo na sociedade como eu citei anteriormente, mediante as estas circunstancias, resolveu renunciar para garantir a unidade da igreja, mas acabou mostrando ainda mais a crise que rola nos bastidores, principalmente entre os cardeais que participarão do conclave para a escolha do novo papa.

As sucessivas denuncias de corrupção e atos libidinosos das autoridades da santa igreja nos últimos anos aumentou o descredito de fieis e afastamento destes da igreja em todo o mundo, crimes praticados nos tempos da Santa Inquisição, o apoio a regimes tirânicos de militares, apoio a colonização do continente americano que resultou praticamente no extermínio de nações indígenas, apoio a colonização na África e o apoio no sistema de mão de obra escrava, especialmente de negros africanos reforçaram ainda mais o descredito da igreja com os fieis.

A prova do descrédito é na própria Europa, que aumenta e muito o número de fieis que não participam sequer em missas e não seguem a ordem religiosa, contribuindo assim para o crescimento de ateus e agnósticos, o posicionamento da igreja contra homossexuais e contra as mulheres que usam as pílulas anticoncepcionais, praticaram o aborto, divorciadas, não querem o casamento, não querem ficar dependendo de homem, seja do pai ou do marido, não querem ter filhos, ter filhos depois de obter independência financeira e ter filhos fora do casamento sem fazer questão da presença do pai, se afastaram da igreja.

Aumentando consequentemente o ódio a igreja e em especial ao papa, foi assim com o Papa João Paulo II que foi vítima de atentado, o Bento XVI que foi alvo ao longo destes 8 anos de uma fúria implacável de feministas que defendem o direito irrestrito das mulheres que a própria igreja condena e de homossexuais que tem direitos renegados mesmo quando o estado concede.

A possível escolha de um papa latino ou negro é uma forma de resgatar a credibilidade da igreja, como foi dito anteriormente, a Igreja Católica participou ativamente no processo de colonização que resultou no extermínio de muitas nações indígenas e apoio a mão de obra escrava em que muitos africanos foram arrancados na África e trazidos para cá como animais.

Que a própria igreja contribuiu para a dominação do homem branco através de jesuítas que tiveram a missão de europeizar os índios, muitos padres foram também senhores de escravos ao terem os negros como propriedades e propagavam a tese “Que os negros não tinham alma” e “Que negros são descendentes de Cam, e a cor negra na pele era uma maldição dada por Deus a estes, e a escravidão era uma forma disciplinar para adequar os mesmos ao trabalho e tirá-los do ócio” e muitas outras teorias que reforçaram o racismo no passar dos anos e os negros passaram a serem vistos de forma negativa em todos os aspectos.

A escolha de um latino e principalmente aqui no continente americano é uma forma de minimizar as atrocidades cometidas pela igreja em virtude do catolicismo ser muito forte especialmente na América do Sul, porque de forma ou outra, a igreja fez parte na formação de nossa sociedade, e tem grande parcela de responsabilidade pela concentração de renda, desigualdade social, pobreza, miséria e exclusão social nos países da América Latina, inclusive no Brasil.

Diante desses fatores, a igreja quer recuperar a sua imagem, porque o analfabetismo é muito grande no continente e a igreja tem influencia enorme sobre as pessoas, principalmente no assunto sobre o aborto, homossexualismo, família e propriedade privada. Porque a sociedade da América Latina, e especialmente aqui no Brasil é fortemente conservadora, e isso é bom para a igreja.

Porque maior a pobreza, maior o analfabetismo, maior o analfabetismo, maior a dominação e manipulação, esse é o intuito da igreja em escolher o papa latino ou negro africano.

Os europeus se libertaram das garras do catolicismo, não permitindo mais o poder e influencia sobre os indivíduos, mesmo em países tradicionalmente católicos como a França, Alemanha, Itália (o estado do Vaticano fica no coração de Roma, capital do país), Espanha, Portugal, Inglaterra e muitos outros, mesmo em países como a Grécia, por exemplo, onde o catolicismo ortodoxo é muito forte, mas, contudo isso, a igreja está fortemente desgastada.
O possível papa negro africano, é uma forma de minimizar as atrocidades cometidas pela igreja, principalmente ao apoiar a colonização e a escravidão de negros do continente que serviram de propriedade a muitos brancos europeus, mas também expandir o catolicismo na região pra frear a influencia muçulmana e as religiões locais de etnias que até hoje mantém os costumes apesar da forte repressão de estados europeus durante as colonizações e da própria igreja que enviavam padres para europeizar os nativos, no mesmo processo com os indígenas.

Ao contrário de muitas nações indígenas que foram exterminadas, os africanos resistiram as colonizações e a manipulação da Igreja Católica, mantendo as suas culturas e tradições que quiseram exterminar, a escolha de um possível papa negro é para propagar a religião no continente e frear a influencia e poder muçulmano e islâmico, que é presente no Norte da África como na Argélia, Tunísia e Egito, por exemplo, mas é também presente na Nigéria, Quênia, Uganda e Etiópia, que são países onde os católicos e muçulmanos praticamente vivem em conflito.

E também as religiões locais que eu ressaltei anteriormente, como o candomblé, umbanda e vodu, por exemplo, que é muito forte e presente aqui no Brasil e Haiti, que foram trazidos por escravos africanos.

A Igreja Católica pensa em mudar os seus posicionamentos ou aderir aos poucos às mudanças? Não! A igreja é uma das instituições ou se é a mais antiga da humanidade, sempre foi avessa às mudanças com o passar dos tempos, criou a Inquisição justamente para perseguir aqueles que eram contrários as suas doutrinas e impedir as mudanças que estavam ocorrendo.

E quem mais sofreu com a Inquisição foram justamente os intelectuais como Galileu Galilei, mulheres como a Joana D´arc, homossexuais ou pessoas comuns que eram condenados injustamente e muita das vezes sem saber os motivos.

A inquisição acabou, mas as perseguições continuam até os dias atuais, para se opor as mudanças feita pela sociedade, se aliou aos tiranos como o Francisco Franco na Espanha, Antônio Salazar em Portugal, Pinochet no Chile, Mussolini na Itália, Hitler na Alemanha e em muitos países na América e na África governado por ditadores.

Foi assim aqui no Brasil ao apoiar o golpe de 1964 orquestrado pelos militares, sendo conivente e cumplice com as práticas de torturas, sequestros, assassinatos e desaparecimentos das vitimas.

A Igreja Católica reforçou a imagem negativa dos comunistas, “Que todo comunista é ateu”, “Que comunista é comedor de criancinhas”, “Que comunista não permite propriedade privada, ou seja, ter casa própria ou carro, por exemplo”, os comunistas passaram a ver visto de forma satânica, fazendo criar o imaginário popular entre as populações pobres e analfabetas a terem medo de comunistas.

A escolha do polonês Carol Wojtyla, o Papa João Paulo II em 1978, foi para combater o comunismo e incitar os católicos dos países do leste europeu a lutarem contra o regime comunista controlado pela antiga União Soviética.

A Igreja Católica fez campanha contrária a Dilma Rousseff nas eleições de 2010 para presidente da república por ser favorável ao aborto e por ter participado de uma guerrilha paramilitar com ideais comunistas e pego em armas para lutar contra a ditadura militar, na qual foi presa e torturada na década de 1970.

A Igreja Católica sempre esteve afinada com a direita, especialmente com os conservadores e reacionários, e atua desse modo em todos os países do mundo, aqui na América do Sul então... Que o diga os governos da Venezuela de Hugo Chávez, do Rafael Correa no Equador, Jose Mujica do Uruguai, Cristina Kirchner na Argentina e Evo Morales na Bolívia.
Mediante a essa realidade, praticamente não há mudanças de posicionamentos politico e ideológico da igreja, apesar de haver uns cardeais progressistas que farão parte do conclave, mas ainda são minorias, entretanto, não podemos desconsiderar a influencia destes progressistas no conclave e podem ser determinantes na escolha do novo papa que pode mudar os rumos da igreja católica.

Portanto, é extremamente necessário acompanhar o conclave da igreja para a escolha do novo papa, mas não fiquem felizes e muito menos sintam representados no fato do novo papa ser o brasileiro ou negro africano.