terça-feira, outubro 16

O mendigo




Certo dia enquanto esperava pra resolver um probleminha meu no centro, fui abordado por um certo mendigo me pedindo algumas moedas, dei alguns trocados pra ele (sempre que posso, dou umas moedas para mendigos, não resolve, mas alivia – e falo isso por mim, não por eles.) Ele pegou o dinheiro e se afastou um pouco, eu então, fiquei observando aquela pessoa... Apesar de todas as mazelas que a vida lhe impôs, ele tinha algo de diferente... Algo que me pareceu como uma sobriedade, uma resignação... Ele do alto de sua mendicância parecia ter uma certa nobreza de espírito. Observei mais um pouco e senti uma inquietação por dentro do peito ao ver a maneira com que ele olhava as vitrines, as pessoas bem vestidas entrando e saindo das lojas, ele quase não era notado, como se fosse um ser invisível. E quando o notavam a reação era de receio, esquiva ou quase sempre de indiferença. Notei que ele não pedia nada a ninguém, estava absorto, parado olhando alguma coisa, segui seus olhos e vi que ele admirava uma pequena caixa de musica ricamente decorada, com uma bailarina a rodopiar ao sabor da melodia que de lá saía. Os olhos dele então passearam pela vitrine cheia de todo os tipos de coisas belas e caras... Ele ficou um tempo ali, parado, olhando, e depois algo mudou. Dos seus olhos brilhantes rolaram duas grossas lágrimas, escorrendo pelo rosto, ele as limpou com as costas das mãos sujas, e lentamente virou-se, ao fazê-lo, percebeu que eu o observava de longe. Olhou pra mim e fez um sinal de “joinha” com o polegar levantado, deu um sorriso que até hoje eu não consigo explicar, pegou a trouxa que carregava e seguiu seu rumo, desaparecendo na multidão de gente que lotava a rua.


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