domingo, dezembro 18

VASCO DA GAMA - 2011: Ano da Ressurreição


                                        
Símbolo do Clube de Regatas Vasco da Gama.
Esse ano foi marcado pela superação e ressurgimento de um dos melhores e tradicionais clubes do Brasil, o Clube de Regatas Vasco da Gama, fundado no dia 21 de agosto de 1898 em homenagem ao grande navegante português do mesmo nome, com uma história lindíssima podendo causa inveja a qualquer grande clube, a começar foi o 1º do país a ter os jogadores negros no seleto de jogadores, causando a ira dos outros clubes que eram dirigidas pelas elites do futebol carioca, no caso o Botafogo, Fluminense e Flamengo e outros, sendo assim boicotado do campeonato com a criação da nova entidade, a AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Atléticos) pelos mesmos clubes adversários citados anteriormente.



O primeiro uniforme do clube e alguns jogadores negros na foto.
Devido a esse gesto de nobreza em combater o racismo no futebol na 1º metade do século XX em que a modalidade era praticamente exclusiva a elite do Rio de Janeiro com os seus clubes, o clube não se intimidou e assim com o passar dos anos construiu o seu próprio estádio com recursos próprios, donativos e ajuda de seus torcedores o São Januário, sendo o único entre os quatros grandes do Rio a ter o próprio mando de campo.



O estádio de São Januário como palco de eventos políticos, principalmente no Governo Vargas (1930-1945).

Após esse feito, o time forma um elenco imbatível conhecido como “Expresso da Vitória” na década de 40 que ganhou de forma invicta o campeonato carioca em 1945, 1947 e 1949, e campeão do Campeonato Sul-Americano em 1948 (embrião da Taça Libertadores da América) que anos mais tarde foi reconhecida pela CONMEBOL (Confederação Sul-Americana de Futebol), sendo o primeiro clube do Brasil a ser campeão continental, e com a grande campanha com o time praticamente imbatível, foi a base da seleção brasileira na Copa de 1950 no Brasil que ficou com o vice-campeonato e de forma injusta penalizou o goleiro Barbosa (que era negro) pela derrota na final por ser acusado de falhar num dos gols da equipe adversária (Uruguai). Mas o primeiro capitão a levantar a taça pelo Brasil de campeão do mundo na Copa da Suécia (1958) era jogador do Vasco (Bellini).


O time que ficou conhecido como “Expresso da Vitória” na década de 1940.

Os jogadores que fizeram o primeiro clube do Brasil a ser campeão continental (Copa Sul-Americana – embrião da Taça Libertadores nos dias atuais).

O clube que teve grandes jogadores como Roberto Dinamite, Ademir Menezes, Vavá, Romário, Giovani, Ramon, Mauro Galvão, Odvan, Juninho Pernambucano, Juninho Paulista, Felipe, Edmundo, Bebeto e muitíssimos outros. Conquistou importantes títulos como o Brasileiro (4 vezes), Libertadores e Copa Mercosul em 2000 numa virada histórica sobre o Palmeiras (3 X 4, perdendo no placar de 3 a 0 no 1º tempo) em pleno Parque Antarctica.
Após essas conquistas, o clube mergulhou num abismo que pareceu sem fim, mas durou uma década (anos 2000, a pior década) sob o comandado de Eurico Miranda, falta de grandes patrocinadores, recusa de jogadores em jogar no clube, boicote da Globo em determinados jogos, da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) com a tabela de jogos e inclusive marcar a data da final dos jogos da Copa do Brasil após a Copa do Mundo do mesmo ano podendo ser realizado antes do torneio se houvesse melhor planejamento da entidade,  jogadores que saíram com a ação na Justiça do Trabalho contra o clube e em campo os sucessivos roubos dos árbitros. E o Eurico dirigia a equipe com mãos de ferro e atacava tudo e todos (principalmente a Globo e a CBF), em virtude disso o seu desgaste e antipatia acabaram prejudicando o Vasco, que sofreu boicote e prejuízos em todas as esferas, perdendo assim a credibilidade e a o discurso dos adversários principalmente dos flamenguistas de ser “vice” por causa das sucessivas derrotas em finais, principalmente ao time citado anteriormente.
Essa crise dentro e fora do campo acabou tirando o Eurico da direção do clube e assumindo o ídolo de todos os tempos, Roberto Dinamite, mas não evitou o rebaixamento para a Série B em 2008, sendo o fruto da administração do antecessor que teve de ser reestruturado no ano seguinte para o clube voltar ao seu devido lugar.
E como de costume pelo seus torcedores, o Vasco inicia o ano perdendo para os pequenos e menos tradicionais clubes do Rio e ameaçado de rebaixamento, resultando na dispensa de um dos principais jogadores (Carlos Alberto) devido a má fase e o ato de indisciplina do mesmo, ficando em sexto lugar no Campeonato Carioca.
Mas na Copa do Brasil de forma aguerrida dos seus jogadores o clube foi à final contra o Coritiba que no momento era o mais badalado devido a sua campanha pelo estadual, a goleada aplicada sobre o Palmeiras (6 X 0) em seu mando de campo e de forma invicta foi a final. Quem não lembra o enjoado do Milton Neves da Rede Bandeirantes falando que o Coritiba era o favorito e que seria campeão, todas as emissores de rádio e TV e comentaristas praticamente apostavam no clube paranaense, desdenhando o time cruzmaltino.
Flamenguistas apostavam mais um “vice” do seu arqui-rival e torcendo pelo Coritiba, mas na decisão em dois jogos e principalmente no último o Vasco mostrou o seu verdadeiro valor com a conquista da Copa do Brasil, calando todos aqueles que não acreditavam e torciam contra.
Após o título o clube teve um grande abalo, o AVC (Acidente Vascular Cerebral) do Ricardo Gomes (treinador) durante o jogo Flamengo X Vasco no Engenhão no dia 28 de agosto, afetando o time nos jogos seguintes, e pra ressaltar, durante o atendimento médico a técnico do Vasco, o árbitro Péricles Bassols não interrompeu a partida (que está no regulamento numa situação dessas).
A recuperação inesperado do treinador por causa da gravidade do problema que levou risco de morte, deu animo ao grupo que disputou até o fim a luta pelo título do Brasileiro e a Copa Sulamericana, calando a boca daqueles que acham que os clubes não podem disputar simultaneamente os campeonatos que estiverem disputando.
Daí o clube o sentiu a força dos esquemas espúrios no futebol, não tirando o mérito dos jogadores do Sport Club Corinthians Paulista nesse ano que conquistaram o campeonato brasileiro, porque em campo a equipe demonstrou capacidade, eficiência e qualidade técnica para legitimar o favoritismo. Mas em contrapartida, o Vasco da Gama foi a equipe mais prejudicada nesse campeonato, se contarmos os pênaltis não validados que foram legítimos, gols anulados ilegitimamente, distribuição excessiva de cartões punindo os principais jogadores, enquanto isso assistimos passivamente o poderoso chefão do Ricardo Teixeira nomear o Andrés Sanches (Presidente do Corinthians) e o Ronaldo Fenômeno (sócio da Globo, do Corinthians e empresário de principais jogadores como o Neymar) para coordenarem a entidade até a Copa de 2014 em que o primeiro é pretenso sucessor do atual da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Sem falar que o futuro estádio do atual campeão brasileiro neste ano é escandalosamente financiado com o dinheiro público através do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) de quase 1 Bilhão de reais que irá sediar e fazer a abertura do primeiro da próxima copa do mundo na capital paulista.
Não há dúvidas que nos bastidores neste ano, o Flamengo e Corinthians mais uma vez foram beneficiados, a começar pela tabela que nos dois últimos jogos o Vasco, Palmeiras, São Paulo e Fluminense disputaram os clássicos, enquanto “as duas maiores torcidas” (para a Globo e Bandeirantes) enfrentaram apenas um.
O ano de 2011 foi o ano da ressurreição para o Vasco da Gama, voltamos ao nosso devido lugar, impondo o respeito a todos os adversários, e não há arbitragem (como aconteceu no jogo com o Fluminense e Flamengo) e os esquemas repugnantes que irá tirar o Gigante da Colina na disputa, isso foi demonstrado muito bem em campo por cada jogador. E tenho a certeza que em 2012 dias melhores ainda virão a São Januário. 

CARTA A ARTHUR RIMBAUD.

Foi por um lapso
Eu devia ter tirado sua foto Rimbaud
Foi ontem, sim foi ontem
Quando te vi subindo a escada volante daquele shopping
Com aquele olhar de cristal iluminando os espaços ao redor
Já fazia um certo tempo desde a última vez
Lembro muito bem da primeira
Foi nos mágicos anos noventa
Eu subia a rua de ladeira do lado esquerdo do teatro Arthur Azevedo
E você descia a Rua da Paz em direção a Praça João Lisboa
Você me parou por conta da minha camisa do Kurt Cobain
Sim Rimbaud você queria entender aquele olhar
Esse mesmo olhar que você forjou na fria Ardenas no interior da França
Olha Rimbaud naqueles dias eu andava maravilhado
Maravilhado com as coisas que você me ensinava
A Liturgia das ruas, a velha postura rebelde
Todas as histórias sobre os Símbolos
Você que conheceu Marllamé, Baudelarie, os Parnasianos
Como chegou aqui na nossa Ilha rebelde
Eu prometi ajudar e entender seus filhos
Sim seus descendentes os Hippies
Me explicou que eles não tinham culpa
Você havia desgrenhado as estradas da frança do século XIX
E eles seguiam agora quase sem destino uma certa estrada
Rimbaud naquela época eu era apenas um adolescente, um aprendiz
Você já perambulava pela 28 com um príncipe Dionisíaco
As pessoas me olhavam com um certo respeito
Era uma honra aprender com você o acesso as vias
Os sabores, aromas, os versos e as experiências
O Reviver sempre foi para você um Vortex
Depois para mim representava esse portal e muito mais coisas
Você dizia que os vultos dos nossos grandes viviam por lá
Diversas vezes Rimbaud eu vi você chorando ao lado dos mendigos
Abraçados com miseráveis eu chegava a ver suas asas de anjo
Essas mesmas asas que acalentavam aquelas dores
Hoje Rimbaud sou apenas um mero escritor
Envolto no dia a dia da administração de valores, sistemas e vidas
Se você me visse ia sorrir da minha gravata
Da minha indumentária de homem de negócios
Mas é na solidão do meu quarto
Quando leio as tuas Iluminuras que me ponho a chorar
E a ter certeza que aqueles versos desvendaram a mim o mundo
E que esses mesmos versos estarão comigo para sempre.
Me lembrando que a poesia, a música, a arte eu nunca poderei abandonar.

quinta-feira, dezembro 15

braços finos e seios nasCENDO

Fim da tarde. 
Parada de ônibus. Escarcéu, céu azul sem nuvens, gente suada, chicletes na boca, secundaristas, Bel, Cacá, Marcelo, Maneco, um careta oferecido por não sei quem.  O ônibus parou. Algumas dezenas entraram. Lotado como sempre. O motorista acelerou. Cacá pegou um batom vermelho da bolsa de Bel. Marcelo e Bel ficaram no fundo em pé. Não falavam muito. Além do banal. Oi. Ficou de recuperação? Marcelo curtia seus longos cabelos loiros, a magreza de modelo e a coluna empinada. Todos na escola apaixonado por ela. E ele somente mais um. Lado a lado no fundão do ônibus. Platonismo na cabeça de Marcelo. Os peitos de Bel crescendo. Maneco soltou um peido e sorriu sozinho da cara de otário dos outros. Cacá passava batom. Um velho reclamou do desrespeito da nova geração. O ônibus cada vez mais lotado. Marcelo e Bel mais apertados. Um sinal vermelho. Amarelo. Verde. Marcelo sentiu seu braço roçando seus seios. Bel sentia seu braço fino. Marcelo pensou em tirar, tímido que era. Mas resistiu e deixou lá. Bel não falava nada. Marcelo cada vez mais excitado. O ônibus balançava e seu braço mais forte em seus seios. Já tinha se passado muitos minutos naquele transa no fundo do ônibus. Um suspiro. Braço fino e seio nascendo. Maneco agora cantava uma música pra Cacá. Bel sorria. Marcelo também. O ônibus parou. Maneco desceu e soltou outro peido e se despediu de Marcelo, Cacá e Bel. Braços finos e seis nascendo. Cacá rebolava. Bel sorria de Cacá. Marcelo também. Bel ia descer com Cacá na próxima parada. Não vai embora. Desceram os dois. Braço fino sozinho sem seios nascendo. Fim de tarde. Próxima parada.
Marcelo desce.
chega em casa
corre pra seu quarto. fecha.
som alto. pula na cama. bate uma.
ganhou o dia.

sábado, dezembro 10

O Louco


Caminhava a longos passos pra Assembléia Legislativa exigir uma urgentíssima Reforma Manicomial, quando na Praça João Lisboa me deparei com pombos saltitando e um magro rapaz de cabeça pra baixo, listrada camisa, velhas calças, certeza que conhecia, tanto certeza que fui falar com ele.
- E ai amigo, como vai? Há quanto anos luz não te vejo.
Ele parou e reparou que falava com ele mesmo, olhou-me de barriga ao peito, digo, de pernas a cabeça.
- Seu nome não é José de Ribamar? Casado com Maria que é primo de João irmão de Pedro e vizinho de Lucas?
- Sou eu mesmo, mas não me lembro do siô não, apesar de sua cara não ser estranha.
Dei um abraço grande nele.
- É que eu sou estranho mesmo. Ele sorriu com os restos de dentes. Convidei-lhe a tomar um almoço, digo um café.
- Como vai sua rocinha no interior?
- Siô, tá dando muito agora é feijão, mandioca, joão gomes, tomate...
- E os peixes?
-... Agora da dando muito Curimatá, traira, pedra...
- E os filhos? Quantos?
Contou nove nos noves dedos (perdeu o indicador numa antiga fábrica de tecido da Camboa), Pedro, José, Juscelino, Maria... Fim de conversa, ele tava apressado atrás de um novo dedo, digo de um novo emprego. E lhe fiz uma ultima pergunta:
- Mas Ribamar me lembro muito bem que fui ao seu enterro, em 26 de fevereiro de 1984, era um chuvoso dia, lá no cemitério do Gavião.

quarta-feira, dezembro 7

MORPHINE

Um ambiente sombrio de filme noir e que cheira a adultério, nicotina e crimes carnais... Um mundo de refúgios alcóolicos para noites infernais, devassidões inundadas com complexos de culpa, jogos de bilhar em salões decadentes, desmaios de porre em noitadas solitárias, serenatas sombrias que se estendem em bares suburbanos, ascensões drogadas a outras dimensões... São as imagens que vem a minha cabeça quando escuto Morphine. formado em 1989 nos E.U.A com Mark Sandman no baixo (de duas cordas) e vocais, Dana Colley no saxofone e Billy Conway na bateria.
Aí vocês devem estarem se perguntando; falta algo? cadê a guitarra? Sim, a famosa guitarra, com certeza prezados; o Morphine não possuia esse instrumento na sua formação, quem fazia, às vezes, era o sax barítono pontuado pelo baixo de duas cordas chapadão de Mark Sandman. 
O Morphine era uma junção de Blues com Jazz transformado em uma banda Rock Alternativo única, tudo isso guiada pela voz rouca sorvida a boas doses etílicas e algumas carreiras de cocaina. Mark nunca escondeu sua predileção pela literatura Beat, retirava dos romances Beatnicks as nuances para suas letras.
Mark Sandman chegou a morar no Brasil no começo dos anos 90. a banda durou até 1999 com quatro álbuns festejados por critica e público, nesse mesmo ano em um derradeiro show na Ítalia Mark sofreu um ataque cardiaco fulminante em pleno palco, com certeza motivado pela famosa união de álcool e cocaina. O legado ficou através de um som autoral e moderno, um caminho a ser seguido pelo blues e jazz que o rock, ou mais precisamente, que a música pop desconhecia.