quarta-feira, junho 26

Mais fácil que tirar doce da boca de criança: a força armada policial e suas ações incoerentes nas manifestações atuais em São Luís do Maranhão.

Ocupação é o ato de ocupar, tomar conta de um território ou lugar. Esse é o processo que vem ocorrendo na sociedade brasileira atual. A ocupação das ruas através das manifestações foi um processo que acabou se espalhando e generalizando¹.

Mas, quanto ganham os militares para bater em pessoas desarmadas? Na manifestação desta Terça-Feira, 25 de Junho de 2013 na cidade de São Luís do Maranhão, com início situado na chamada "Praça do Rodão” no bairro da Cohab, após caminhada pela Avenida Jerônimo de Albuquerque ² ("herói" que depois da Batalha de Guaxenduba adotou o sobrenome de "Maranhão" em homenagem a bela terra que acabara de conquistar, pois mal sabia ele no que a mesma viria a se tornar quatro séculos mais tarde), centenas de manifestantes, obstruíram o transito na altura do “Retorno da Forquilha” sem danificar qualquer veículo ou patrimônio público ali presentes. Pois os mesmos ali se encontravam, com o único objetivo de expressar sua insatisfação para com a gestão municipal, estadual e federal vigentes. No entanto a presença de policiais com uma postura inadequada, extremamente violenta, e segundo relatos portando armas de fogo, torna-se contraditório com o que consta na CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, texto promulgado em 05 de outubro de 1988, onde o Artigo 5º nos Incisos III e IV ³ respectivamente, dizem o seguinte: “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante” e “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Portanto, a manifestação era legitima.

No entanto, o que cabe aqui colocar é a seguinte questão: os militares certamente muito se contentam quando entram em greve e a sociedade aprova seu posicionamento, tendo em conta que também são proletários e sua reivindicação por melhores salários, e consequentemente por melhores condições de vida é legitima. Então por que cargas d’água o “cidadão comum” não pode fazer o mesmo? Será que o último reajuste salarial da classe foi suficientemente confortável para que os mesmos hajam de tal maneira? Os militares tem adotado um comportamento extremamente violento, com o foco errado. Se a priori eles deveriam exercer o papel de “guardiões” da integridade do corpo social, tem se tornado os maiores vilões desta.

O comportamento que “teoricamente” deveria ser censurado é o de saqueadores, tanto de ônibus de lotação, quanto de cofres públicos. Mas no entanto é mais fácil que tirar doce da boca de criança, lançar sprays de pimenta nos já ardentes olhos cansados dos assalariados e estudantes, e bombas de efeito “moral”, além das rotineiras pancadas de cassetete nas suas cabeças, mas é claro, tudo isso para manter a ordem e integridade da sociedade. Hoje dentre as muitas incoerências por parte dos militares, presenciamos uma jovem ser agredida por um policial, na tentativa de intervir a ação incoerente que eles tiveram ao levar um amigo que segurava uma faixa, parado e em silêncio, isso mesmo, foi preso por protestar pacificamente, ação que inclusive foi registrada em vídeo. O que mais teremos amanhã? E depois? Se esquecem senhores, que no final das contas estamos todos afundando no mesmo barco, todos suados, roucos, tensos e alguns de nós até mesmo machucados, enquanto nosso real “inimigo” está neste momento no ar-refrigerado, rindo de todos nós, de tolos que somos.

¹ VIANA, Nildo. Da ocupação das ruas à ocupação da vida: uma análise das manifestações populares no Brasil atual. In: Territorial - Caderno Eletrônico de Textos, Vol.3, n 1, 20 de junho de 2013. [ISSN 22380-5525].

² - LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. Jerônimo De Albuquerque Maranhão: Guerra e Fundação No Brasil Colonial. São Luís: Editora UEMA, 2006. 

³- CONSTITUIÇÃO, Da República Federativa do Brasil. Senado Federal – Secretaria Especial de Informática. Texto promulgado em 05 de outubro de 1988. Brasília: 2013. Disponível em < http://www.senado.gov.br/legislacao > Acesso em 25 de Junho de 2013.