sexta-feira, julho 20

Seja como os cavalos...


Depois de caminhar por dias e noites sem parar, sem dar sinal de cansaço, o camelo subitamente se ajoelha e morre. E deixa o viajante desavisado também morrer no deserto. Caminhar lento, orgulhoso e suicida.
 “Camelo de tróia”, que carrega o mal dentro de suas concorvas, e faz do oásis prometido o seu al’manak. Como uma amante insatisfeita que finge ter prazer faz da cama um altar de sacrifício. Os gemidos “ensaiados” limitam as descobertas. O silêncio estraga as relações.
Sempre que cansado, o cavalo se acoa, relincha e dá coice. Carrega em uma cela leve o seu altivo cavaleiro, mas na sua garupa, se for uma princesa. Caminhar ágil, de cavalo refeito, só carrega o peso que pode confortavelmente suportar. Vai para onde guia o cavaleiro, mas no seu tempo e na sua marcha natural. Cavalo obediente, mas nem por isso submisso. Sobreviveu ao deserto, e levou seu general pra casa.
Existem pessoas que se comportam com os camelos, e pessoas que são cavalos. As “pessoas camelos” encerram tudo em segredo. Não falam de seus problemas com ninguém, mesmo tendo toda liberdade e acolhimento. São orgulhosas demais, vivem a ilusão de serem auto-suficientes. Nunca aliviam o peso. Carregam uma mochila de culpa, por que o orgulho não as deixam pedir perdão. Guardam mágoa e rancor, e “envenenam suas almas, esperando que os outros morram”. Escondem no porão da consciência suas aflições. Ruminam pensamentos absurdos, mas não regurgitam, pra não perder a elegância.
Camelos que choram pra dentro, entranhas que gritam de dor. Mas por fora existe um sorriso amarelo que tenta convencer de sua força, um sorriso leporino. E assim vão caminhando rumo a um deserto sem fim, para lugar nenhum. Não pedem abrigo, quando a tempestade chega se perdem no caminho. E quando toda a gordura foi queimada, se ajoelham e morrem no deserto, não alcançam o oásis. Al’manak no jardim. O amor morreu na cama!
As pessoas do tipo cavalo galopeiam livres, na sua marcha. Carregam apenas o que suportam. Falam o que pensam, não encenam. Entendem que se abrir e pedir ajuda não é sinal de fraqueza, é uma forma de recompor a força. O orgulho não é um cabresto que amarra, nem a rédea que determina pra sempre o rumo dos seus passos. Não fazem chantagem emocional, mas também não tem vergonha de deixar as lágrimas rolar. Não negam suas fraquezas, assumem e trabalham para serem fortes.
Seja um cavalo quando estiver atravessando sues desertos, e continue marchando como um cavalo sempre. Certamente chegará ao manancial, de “água pura e fresca”. Talvez o seu cavalo encilhado só passe uma vez!