sexta-feira, agosto 16

O jazz do coração

Por Maria Ligia Ueno 

E as batidas do meu coração ressoam como sinos na madrugada gelada, causando calafrios nos ouvintes solitários, causando balbúrdia nas ondas sonoras com as quais cruza. Ouvem-se com perfeição cada toque de hora, mas não é uma hora comum. A minha hora não se reúne em minutos, nem em segundos, mas em risos. E cada hora passa mais rápida ou mais lentamente, a depender da distância entre a tua presença e os meus sentidos.
E como um trem a vapor, segue quase descarrilando, deixando-se torrar pela caldeira quente em que minha linfa se transformou. Apitando próximo às aldeias, chamando teu nome com um assobio forte, quem sabe em qual delas estará?

Segue, Maquinista, segue avante, diz-lhe meu som. Ponha lenha na minha caldeira, deixe-me queimar, deixe o fogo consumir o que restou de mim.


Mera ferrovia, esta é a definição da minha esperança, e as batidas do meu coração seguem soando, trilhos afora, o que espero do futuro. Expectativas devidamente demarcadas entre duas paralelas de ferro, e estas dão a volta ao mundo.
E meus trilhos dourados, assim como os tijolos de Dorothy, levam-me ao destino, levam-se ao acaso, levam-te junto. Seguindo pelos belos campos, subindo montanhas, descendo penhascos, em alta velocidade, e apreciando a paisagem que construímos pingo a pingo, numa linda pintura pontilhista.
E meu coração direciona o som de seu tamborilar, per-seguindo outro trem, que emite outro som, outras batidas de outro coração.


quinta-feira, agosto 8

Z de Vingança, Marcos Magah




Por Natan Castro

Escutando (Z de Vingança) de Marcos Magah, podemos perceber que algumas coisas ali não eram pra ser, alguns arranjos repetitivos, resumindo, algumas coisas não ficaram legais nesse trabalho. Mas o que nos chama atenção no final da audição, é que querendo ou não tem uma cara a bater ali, um cara disponibilizando tudo, uma doação, uma entrega, com a sua voz ora tristonha ora lancinante. Marcos Magah canta em alto e bom som, as dores de uma caminhada que nem sempre é feliz. Acompanhado por arranjos setentistas que revisitam uma época onde a dor de cotovelo de verdade estava em alta, o teclado minimoog que eternizou as canções e Roberto e Eramos, e a postura seca dos versos que salpicam lamentos em todas as oito canções do álbum. Servem de pano de fundo da mensagem.


Existiria um paralelo entre o Punk e o Brega? Sim claro que sim, podemos imaginar que um é o extremo do outro, Marcos Magah possui um passado de militância punk em uma banda chamada Amnezia, e nos dias atuais foi acolhido nos braços das influências bregas, por que os extremos nele parecem cair bem melhor que os meios termos. Como ele mesmo fala na letra de (Dedos e Anéis) “Eu tive que me perder, para me achar”. Marcos Magah no final das contas, contando os mortos e feridos, fica no saldo porque se o Z tinha que ter um sentido, a marca da vingança chegou para explicar.