domingo, março 18

X+Y=A


 
Querida *****

Revendo uma carta de despedida que escrevi, rio, do rio de sentimentalismo no último parágrafo. Na qual busco uma espécie de happy end sem neuras, tudo acabado na boa (com se isso fosse possível quando algum dos lados está apaixonado ou ainda querendo o outro). Então, digo que a pessoa é linda, que a vida continua apesar de tudo, e temos que nos lembrar dos momentos bons e jogar de escanteio todas as dores que tivemos e uma série de clichês de fim de relacionamento.
....
(xxxxxxx)
No meio da carta falo que o amor não pode ser pesado na balança, tipo assim: quem amou mais, quem se doou mais, quem chorou mais, quem foi mais fiel. Cito também a Clarice Lispector, engraçado, dessa mulher li apenas uns textos, quando declamei num minicurso de teatro para pessoas que não podiam pagar. Ela, Clarice, dizia que as emoções são eternas, isso é o que vale, pois colam para sempre na cabeça, difícil se a cola for de sapateiro: pois, sem duvidas, náuseas virão junto com a emoção. É, mas, a cola pode ter cheiro bom, e até o pau endurece lembrando aquelas transas em pé no quintal com luz propositalmente desligada da nossa amiga   entre a parede sem reboque e o coqueiro ( que tinha pequenos cocos verdes- o que importa isso!), naquele espaço de menos de um metro, você tinha que levantar os pés, devido a nossa diferença de altura, sei que no fim nos encaixamos muy bien, como esquecer de seus orgasmos múltiplos, e sua ferocidade, da nossa. Nossa amiga ficava lá na janela de um quarto tentando enxergar pelas frestas nossos movimentos geométricos e ouvindo os gemidos, aquela safada voyeur e solidária em oferecer aquele espaço.
Lembro como se fosse hoje, de um orgasmo simultâneo. Depois de todo o frenesi chegamos sim; a um final a dois, sem aquelas perguntas:
- já?!
Como éramos carnais, meu bem.
Nos dávamos bem demais na cama, ou melhor, em pé.

Com carinho *****

P.S: Não éramos muito de discutir politica ou filosofia. Fazíamos acho que... Matemática.

Córtex frontal periorbital



Hoje fez muito frio, eu só saí pra almoçar. Fiquei em casa organizando fotos, respondendo e-mail, conversando em bate-papo. Fez frio, e garoava também. Fiquei em casa protegido das músicas que não gosto, do jornal do meio dia, e das coisas que as pessoas falam e eu não gosto.
Que gosto. O mundo inteiro em minha mente. Pensar em algo é como uma busca no Google. Uma única palavra me traz milhares de imagens diferentes, a maioria indesejada. Não dá pra filtrar. Se busco faca: faca para cortar o bolo; brilho de faca; faca afiada; facada no abdômen. Busca-se flor: flor-de-lis; alma de flores; coroa de flor. Há cenas de guerra, cenas do crime, velórios e parto. Não dá pra selecionar, os programas sempre se misturam nos comercias, e as imagens saltam a órbita ocular. Talvez seja mesmo o córtex frontal periorbital.