quarta-feira, setembro 14

Polícia universitária já!

Dia 05 de agosto foi marcado por uma grande tragédia no campus da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) com a morte do estudante universitário que estudava na instituição, Kelvin Rodrigues, nesse mesmo dia estava acontecendo dois eventos acadêmico na universidade.

O da juventude conservadora que estava sendo realizado no auditório central da universidade, e outra no Centro de Ciências Humanas (CCH) com a denominação de “porra louca” organizado por estudantes e professores, esses eventos além do cunho acadêmico, tinha também o caráter político e ideológico.

Os conservadores pregavam os valores da família, do cristianismo, da lei e da ordem, enquanto os “porra louca” estavam discutindo assuntos como escola sem partido, redução do repasse de verbas da universidade e outras pautas que estavam na agenda.

Tudo isso foi motivado pela conjuntura política que estamos vivenciando, a ruptura das regras democráticas e do estado democrático de direito com o golpe disfarçado de Impeachment que poderá afastar em definitivo a presente da república que foi eleita legitimamente sem crime algum, pois os crimes na qual acusam (crime de responsabilidade fiscal que a perícia do senado a inocentou e o Ministério Público Federal do Distrito Federal (MPF-DF) pediu arquivamento do caso) não conseguiram provar.

As realizações destes eventos foram para demarcar espaço dentro da universidade, com o golpe em curso no país que o mundo inteiro acompanha e denuncia, e somente a imprensa das grandes mídias do país negam veementemente, o conservadorismo tem se alastrado por todo o Brasil, principalmente nas universidades.

Os conservadores defendem o golpe abertamente e por trás dos ideais de valores a família, a igreja, a lei e a ordem, por trás está a pregação do ódio e a luta pela negação de direitos, como a luta para anular o casamento civil do mesmo sexo aprovado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), são contrários ao sistema de cotas sociais e raciais com a alegação da meritocracia, a não criminalização da homofobia, criminalizar o aborto mesmo em caso de estupro e a gravidez colocar a vida da mulher em risco, o absurdo estatuto da família que tramita no congresso nacional orquestrado pelos neoinquisidores (bancada evangélica) e para piorar, levantam a bandeira do projeto de lei “escola sem partido” que também tramita no congresso nacional e já foi aprovado pelas assembleias legislativa dos estados de Alagoas e Paraná, o neoinquisidor Magno Malta, senador pelo estado de Espírito Santo e um dos líderes da bancada evangélica, é o autor do projeto.

O citado projeto visa nada mais e nada menos que amordaçar os professores e interferir diretamente no seu trabalho em sala de aula, essa lei já está fazendo vítimas em Alagoas e Paraná, professores afastados da sala de aula e das suas funções por supostas doutrinação ideológica.

É nesta conjuntura política e o golpe em curso foram realizados dois eventos no mesmo dia num mesmo espaço com a distância de poucos metros na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), eu imaginei que haveria provocações, xingamentos, insultos e até mesmo agressões físicas de ambos os lados, e para o bem de todos acabou não havendo, e os eventos ocorreram de forma pacifica até a morte do estudante Kelvin Rodrigues.
E antes de eu falar do jovem, prezo aqui os meus sentimentos a família que ainda sente a dor da perda de forma trágica, o que eu comentar a respeito do ocorrido é baseado em relatos e comentários de pessoas que estavam no evento e viram o corpo do estudante antes de falecer no local do crime.

O que eu vou falar já comentei em grupos de WhatsApp que eu participo, para mim a morte do Kelvin Rodrigues foi premeditada, não acredito em latrocínio, crime passional e nem mesmo em acerto de contas, mas porque você pensa dessa forma?
Primeiro, nunca houve crime dessa dimensão de dentro da universidade, posso afirmar isso pelo meu conhecimento e os 6 anos que estive na graduação por essa instituição justamente pelo CCH em que sou formado, segundo, sempre houve eventos nas dependências do campus, principalmente no Centro de Ciências Humanas, e mais ainda no chamado bloco 6 que foi o local do crime.

Esse bloco é conhecido por ser um local que os estudantes usam drogas como a maconha e cocaína e também para namorar, é verdade, mas, entretanto, é usado também para diversas atividades, dentre elas as culturais que já foi realizado vários ponches e saraus organizados por centros e diretórios acadêmicos.

Não há nada de errado a realização de eventos regado a bebida e até mesmo drogas dentro da universidade, não estou aqui fazendo apologia e defendendo o uso de bebidas e principalmente de drogas na universidade, que fique bem claro, mas uma coisa deve ser ressaltada.

Quem realmente consome drogas dentro da universidade são jovens de classe média, classe média alta e até mesmo da alta sociedade, muitos jovens de outros centros como o Centro de Ciências Sociais (CCSO) e Centro de Ciências Biológicas (CCBS) que ficam os cursos de direito e medicina respectivamente frequentam o bloco 6 do CCH, sejam para usar drogas ou namorar.

Muitos dos advogados, médicos, engenheiros, promotores, juízes e outros profissionais liberais que estão na sociedade, muito deles bem sucedidos, já experimentaram maconha e cocaína, namoraram nesse bloco hoje tão marginalizado.

Portanto, não se empolgue e nem dê credibilidade se você ver algum profissional liberal com ideias conservadoras que preze a família, a moral, os bons costumes, a lei e a ordem, porque muitos deles tem o passado que não condiz com o discurso, e temos aí muitos exemplos, só não vou citar nomes porque se trata da privacidade de cada um, e eu defendo que a privacidade das pessoas sejam inviolável, por isso eu não condeno quem usa ou já usou drogas, e cada um tem a liberdade de fazer da sua vida o que bem entende e assume as suas responsabilidades sem prejudicar ninguém.

Agora voltando ao assunto do estudante assassinado, reafirmando mais uma vez que na minha ótica foi um assassinato premeditado, porque um dos fatores que eu sustento essa tese por ele ser negro e morador da periferia (morava na Vila Embratel, um dos bairros que fica entorno da UFMA), mais uma vez você com o vitimismo e mania de perseguição? Sim, você já viu um branco rico ser vítima de preconceito e ódio? Já viu algum filhinho de papai ser vítima da violência e ou perder a vida pela sua condição social e cor da pele?

Como disse anteriormente, nunca houve assassinato nessa dimensão de dentro da universidade, e ocorre justamente quando estava acontecendo o evento cultural após atividades dos “porra louca” organizado por estudantes e professores e o assassinato ocorrido foi a poucos metros do local que estava acontecendo a festa. Coincidência não?
O outro fator que eu reforço a tese da morte premeditada, de acordo com os comentários de pessoas que o conheciam, Kelvin supostamente era homossexual, não estou aqui discriminando e nem ridicularizando a sua orientação sexual, e também não há provas concretas a respeito disso, talvez a sua família sequer sabia da sua condição.

A suposta homossexualidade da vítima reforça a tese de que ele foi vítima do ódio, pois relatos de pessoas que viram os seus últimos momentos ainda com vida, reiteram que os assassinos não levaram nada de seus pertences, descartando a hipótese do latrocínio (roubo seguido de morte).

Só a polícia civil pode elucidar esse crime, e se quiser realmente esclarecer para a sociedade e em especial a comunidade da UFMA, porque as investigações do caso não convenceram a mim e nem as pessoas que estavam no dia do ocorrido, e ressalto, o crime de ódio vem aumentando nas universidades.

Um jovem na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi morto de forma covarde, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) um estudante foi agredido brutalmente por um grupo de estudantes da mesma instituição, a ponto de ficar hospitalizado em virtude das agressões, esses dois fatos citados que os estudantes foram vítimas, era negro e homossexual e outro indígena que havia ingressado pelo sistema de cotas respectivamente.

Casos de agressão verbal e física tem aumentado nas universidades brasileiras, principalmente envolvendo os pobres, negros, indígenas, homossexuais e mulheres, justamente em que o conservadorismo vem crescendo nas instituições de ensino superior, e crimes como racismo, misoginia e a homofobia tem sido decorrente, fomentando o preconceito, discriminação e a intolerância.

Kelvin Rodrigues não foi vítima da violência simplesmente, foi escolhido pelo assassino pra colocar em ação o seu ódio, porque as universidades brasileiras ainda continua sendo o lugar exclusivamente para a elite branca, pobre e negro estudar numa universidade pública é considerado um acinte, principalmente para aqueles que são contrários ao sistema de cotas e defendem a falácia da meritocracia.

E os homossexuais tem sido alvo preferencial, casos de agressões e mortes tem aumentando bastante no país, e mesmo assim os neoinquidores são contra a criminalização da homofobia por causa das suas convicções religiosas e querem a todo custo submeter o estado e toda a sociedade aos seus interesses.
E aproveitando de um fato isolado e premeditado, a reitoria da universidade de forma autoritária e fascista, assinou o convênio com a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão para a instalação de um quartel e permanência da Polícia Militar do Maranhão (PMMA) dentro do campus.
Não houve um diálogo com a comunidade acadêmica, nem mesmo com as entidades como a Associação dos Professores da UFMA (APRUMA), Sindicato dos Docentes da UFMA (SINDUFMA), Sindicato dos técnicos administrativos, Diretório Central dos Estudantes (DCE), Centros e Diretórios acadêmico dos cursos, e muito menos consultou o Conselho Superior da UFMA (CONSUN).
Natalino Salgado, ex-reitor, pelo menos consultava o conselho superior, não decidia nada sem o aval do CONSUN, e a atual reitora, a Nair Portela, se mostrou bem pior que o antecessor, o assassinato premeditado ocorreu no dia 5 de agosto numa sexta-feira, e no dia 8 na segunda-feira de forma relâmpago assinou o convenio com o secretário de segurança pública Jefferson Portela e o comandante geral da PMMA.
Precisavam de um defunto para passar por cima de todas as instâncias da universidade? A própria instituição através da reitoria não teve um mínimo de respeito com o estudante assassinado por não aguardar o desfecho do ocorrido para poder tomar medidas mais sensatas sobre a questão da segurança.
Os que realizaram o evento dos conservadores também foram oportunistas, aproveitaram o crime trágico e premeditado para promover a passeata dentro da universidade para pedir policiamento no campus, e de forma covarde e desrespeitosa usaram o nome do Kelvin como bandeira reivindicatória para clamar por segurança e tentam responsabilizar os organizadores do evento “porra louca” pelo assassinato do estudante.
Eu não sou contra a implantação do sistema de segurança na UFMA, mas sou contra a entrada e permanência da polícia militar dentro do campus, em vez de assinar o convenio porque a Vossa Magnifica Reitora Profa. Dra. Nair Portela não cria a polícia universitária?
Até os integrantes da PMMA são contra a entrada e permanência da corporação dentro da universidade, pois sabem que vai acirrar ainda mais o conflito deles com os estudantes, professores e funcionários, desgastando ainda mais a imagem da polícia perante a sociedade.
A reivindicação por mais segurança é antiga, roubos e furtos sempre ocorreram dentro da UFMA, inclusive brigas motivadas por questões políticas e ideológica, principalmente em época de eleições para o DCE, centros e diretórios acadêmicos que estão constantemente lutando pelo poder dessas entidades estudantis, mas assassinato e da forma como foi com o estudante, nunca.
Sabemos bem da truculência da polícia militar nos bairros de periferia, em que os pobres, negros, trabalhadores, pais e mães de família são constantemente confundidos por bandidos e tratados das formas mais cruéis e humilhantes, prevalecendo o conceito de que todo morador de bairro pobre e violento é ladrão e bandido ou no mínimo suspeito e tem alguma ligação com a bandidagem, seja na amizade, parentesco e/ou acobertar bandido por causa de represália.
Como a polícia vai agir com os filhinhos de papai ao verem fumando maconha e cheirando cocaína dentro da universidade? A forma de abordagem será igual como estão habituados a fazer com os pobres e negros na periferia? A presença da polícia militar não vai corresponder os anseios na questão da segurança.
Vai acirrar mais os conflitos dentro da universidade principalmente em proibir a realização de festas e eventos organizado por estudantes, a universidade não é lugar de festas e sim para estudar para uns, também não é o espaço de cerceamento com a presença da força repressora do estado, no caso, a PMMA, pois a universidade proporciona um espaço para os debates de ideias e a liberdade é um dos pilares.
A polícia universitária mais do que nunca é necessária, pois será criada dentro dos anseios e perspectivas que atendam os interesses exclusivamente da universidade, com a política de segurança pautada em assegurar o patrimônio da universidade quanto resguardar a integridade dos que fazem parte dela sem transgredir os princípios que reinam na universidade, que são a democracia, a liberdade, igualdade e o respeito.
E além do mais, a PMMA representa um dos resquícios da ditadura e não se adequou completamente com o regime democrático ainda vigente, a sua atuação não reflete com o que se prega dentro da universidade no caráter de formar opiniões e pensadores críticos.
O que vai se esperar para comprovar que a presença da polícia na UFMA tende a não dar certo? Que haja casos de agressões? Prisões de estudantes dentro da universidade por fumarem maconha ou usar outra droga? A resistência dos estudantes, professores e funcionários habituados a utilizar os espaços da universidade para realizar eventos seja de cunho acadêmico, cultural e político quando forem proibidos e negados? Ou vai aguardar mais um assassinato dentro do campus, mas envolvendo os policiais?
Sou contra a presença da polícia militar no campus, mas defendo que se crie a polícia universitária, e seria bom os estudantes, professores e funcionários propor a criação de um sistema de segurança exclusivamente para a universidade sem intervenção externa que atenda os anseios e perspectivas de acordo com a realidade acadêmica.

Polícia universitária já!