quarta-feira, maio 25

Quelle Folie!


Venho discutindo com os poetas Cris e Natan certas contradições que venho notando em artistas que produzem coisas tão delicadas e sensíveis como, por exemplo, a compositora Carla Bruni casada com o presidente da França de direita Nicolas Sarkosy que não é de se estranhar apoia a politica sanguinária e mentirosa anti-terrorista dos norte-americanos ou seu tratamento no departamento ultra-mar da Guiana Francesa (que tout le monde sabe que é uma colônia de exploração) com os índios serem obrigados a falar francês em vez de sua língua ou sua politica racista contra imigrantes.
É como se o compositor pinherense Eliseu Cardoso jantasse com o senador também pinherense José Sarney na beira do rio Pericumã e depois tocasse uma de suas belas canções de barriga cheia e sabendo que o Maranhão novamente é o pior IDH do Brasil e além ter lido Honorários Bandidos.
Me pergunto se não rola uma crise existencial com esse tipo de artista. Será que a angústia de Nauro Machado não nasceu com sua amizade com José Sarney? Tô imaginando Nelson Rodrigues tendo pesadelos horríveis com os gritos dos torturados nos porões da ditadura militar que ele simpatizava. Em falar em ditadura militar vamos assinar a Campanha da Memória e da Verdade da OABRJ para abrir os arquivos. Que iniciativa massa!
Segue o link abaixo:

Diego Pires

fotografias do dia

Uma caneta multicolorida
Para descrever sentimentos kamikazes
Em verbos SOS.
Esquinas prostituídas.
Mãos calejadas.
Monóxido de carbono enfeitando os dias.
Ver o céu vermelho.
Batidas ritmadas da vida perdida.
Milhões de versos japoneses em nossas cabeças.
Chuvas de sapos na terra estia do Maranhão.
O guaraná do teu corpo
Vernificados em tristes passeios.
Orquestra de celulares Nokia
Num ônibus velho.
Caixa de bombons:
Halls Big-Big Jujuba
Aceno negativo de dedos.
O medo rasga a angústia do olhar
Molhado do desamparo.
Dói ter a imagem do pé podre
A água suja que pinga, pinga, pinga
Na porta do Banco do Brasil.
Coca-cola bem gelada com limão
Para esquecer o que as retinas fotografam todos os dias.

cris lima

Angustiados

P/ o poeta Nauro Machado
Houve um tempo, mas não há muito tempo, que cruzava veloz as ruas do Centro. Sol, Paz, Afogados e Praça João Lisboa no estardalhaço dos pombos brancos, pardos, pretos e no bronze austero do buço de estranhos falecidos notáveis e chegava talvez na beira-mar. As pernas velozes me levavam batendo com outras pernas de estudantes, trabalhadores, mendigos, compradores, vendedores ambulantes e todo inferno de gentes como eu e mais um velho de chapéu de coco vestido com calça de linho - bem atípico para os coloridos das gentes - de barba grisalha e olhos profundos, muitos profundos segurando um guarda-chuva preto, como se a qualquer tempo pudesse abrí-lo pra se proteger do seu céu menstruando deus, mas sem seu simbolismo, era em razão do sol ou da chuva sazonal da ilha. E assim de tanto nos cruzar. Cúmplices. Inclinávamos a cabeça e um modesto aceno. E nos perdíamos novamente naquele inferno de gentes e ruas - Afogados, Sol, Paz e Praça João Lisboa, vendedores ambulantes, mendigos, estudantes, trabalhadores e no estardalhaço dos pombos brancos, pretos, pardos e no busto austero bronze de falecidos notáveis estranhos e talvez chegava na beira-mar de novo.

O mundo dos dois homens

haviam dois homens...
um era corrupto e outro não sabia
haviam dois homens
um se candidatou e o outro votou
haviam dois homens
um exigia, o outro obedecia
simplesmente por acreditar
que no mundo
existiam apenas dois homens



2012: ficção ou realidade?

Hoje como de costume tomei meu café e liguei a televisão, procurei algo interessante para assistir e me deparei com filme 2012 passando no canal HBO. Confesso que não sou muito fã deste tipo de gênero: Ficção científica, mas resolvi assistir.
Com o passar das imagens algo me ocorria, ou melhor, algo que me era muito familiar acontecia. Aquelas cenas catastróficas, apocalípticas, anúncios do fim dos tempos me fazia recordar os desastres naturais que vem acontecendo recentemente no mundo. Os tsumanis, os acontecidos aqui no Brasil (ei parece que fenômenos da natureza não só acontecem em outros países também temos este “privilégio”). Quantos morreram ou perderam suas casas em Santa Catarina a três anos atrás? Quantos companheiros nordestinos e, sobretudo, meus irmãos maranhenses não morreram afogados ou ficaram em cima de suas casas esperando os rios baixarem? E aqueles que não tiveram tempo de sair de suas casas e aqueles que em seus olhos só refletiram sofrimento, dor, desastre, como numa tela de cinema?

Campinas-SP


Morei numa república de estudantes em Campinas. Terra que, por exemplo, adotou o compositor maranhense Zeca Baleiro e onde em umas de suas cachoeiras o escritor paulista Marcelo Rubens Paiva fraturou uma vértebra cervical num pulo dando origem ao livro “Feliz Ano Velho” e além de antigos grandes barões cafeeiros como Barão Geraldo.  Fui pra lá tentar entrar num mestrado na Unicamp, uma das melhores universidades do Brasil segundo dizem por aí. Dividia a república com hermanos colombianos, paulistas e meu amigo maranhense do tempo de colegial. Mas não quero falar do individualismo e arrogância dos paulistas ou de sua fixação por trabalhar e seu medo de ser assaltados e os cafés expressos e sequestros relâmpagos ou jovens universitários cantando rock roll americano dentro de um pub ou então de ser uma cidade cosmopólita com belas praças arborizadas. Quero falar de outra coisa: um fato que me deixou literalmente mudo. Almoçava num restaurante tailandês quando um homem acompanhado de uma mulher e uma criança chegaram na entrada e começaram a pedir trocados para comer. Os reconheci imediatamente pelo acento “cantado” as roupas e a modéstia ao estender as mãos. Eram nordestinos como eu comedores de farinha de mandioca. Só que com outras pretensões naquelas bandas frias do sudeste, mas talvez com a mesma desilusão com sua terra natal. Dali não conseguir engolir mais nada e sair. Caminhões sujos parados do nordeste os trouxeram. Meninos eu vi! A diáspora ainda continua, né josé, pedro, carlos, joão, aurelio, purcina, mateus, eloy, marcio, cris, igor, licia, marcos, elizeu, fátima, maria, graça, paulo, helena...  ?
diego pires