domingo, outubro 30

Um Circular na Deodoro

Para Rita Cadillac, Flávia Alessandra,
Olinda Saul e Maitê Proença

Um jeans apertado lavrando a consciência
O fogo de um Butoh e a dança das trevas naquela calcinha enfiada até o pensamento
Um Circular na Deodoro às 18 e 30 na tarde de uma sainha sem Versace
E eis-me aqui teso entre pombos e milhos Famigerados

A dama da noite e o senhor das Guajajaras no Ballet urbano das meninas de vermelho e preto
Não que eu devore sozinho tais imagens e aqueles olhares sem destinos
Mas é que a noite me cobre de verdades assim como a seus leopardos
Eu mesmo um deles entre muitos que afloram
 
Um circular na Deodoro também nos    ensina o caminho das tigresas
E nas brenhas dos grelinhos umedecidos Sabemos da velocidade que percorremos e onde encontrá-las
Delícia de boca tem mais delícias que pêssegos e maçãs
Um seio apontando minha cintura desce até o umbigo que me erra
Aviso que o paraíso é mais embaixo e procuro ser engolido vivo
Assim como foi no início será para sempre
Fervor pólvora estopim ardência
2002

Fernando Atallaia 

sábado, outubro 29

Tá Tá Tá



- Sou eu, cara.
Pelo “cara” o identifiquei, seu excesso de gírias era maneira de dizer que tinha vivido de alguma forma em alguma periferia ou ter tidos amigos de lá. Sempre escondendo seu berço burguês.
- Preciso me drogar, cara.
- Porque você vem sempre pra cá?
- Porque eu te amo, baby.
- Já te falei pra parar com isso. Pico na veia é atípico aos trópicos.
Ele vai afobado pra cozinha, acha uma colher, esmaga uns compridos que tira nos bolsos dos jeans desbotado, acende uma boca do fogão com seu pequeno isqueiro da bic. Ponho um pouco de água do filtro de barro na colher e vejo aqueles comprimidos se dissolver até ficar algo branco acima do azul do fogo. Suga o líquido com seringa e tira seu cinto das calças e põe no braço e aperta. As veias estufam e a seringa atravessada nos dentes.
- Boa noite... E vira o rosto, veado.
- Boa noite. Capitão Latino-Americano!
Escondo os olhos com as mãos. Medo daquilo. Coisa mais sadomasoquista. Me tremo. Recolho as mãos e ele ainda esta injetando. Apago os olhos e demoro mais tempo. Entre os dedos abertos vejo que tirou a seringa. Com os olhos baixos, relaxado, encostado no fogão. Sentado.
-... Eu amo isso.
- Lesado! Você se odeia. Você só que aliviar a dor de viver.
-... É só uma morte controlada...
- Li num artigo que a perda de controle esta associada à loucura. Talvez você numa última tentativa tenta o manter o controle de algo. Do seu corpo, no caso.
- ...larga esse curso de psicologia... É você que vai enlouquecer.... Sabia que loucura em francês é carnaval no Brasil.... Tudo é relativo Doctor Einstein. Quero dormir...
Bato em sua cara. Com as palmas da mão aberta. Ele está dormindo mesmo ou...
- Acorda.
- D`accord... Compositor aristocrata brasileiro.
- Não quero chamar a ambulância. Cúmplice de uma overdose.
- Chame seus advogados corruptos...
- Cínico! Eles já te ajudaram a te tirar da cadeia.
- Precisava de grana... Corremos o risco...
- O risco... Arriscar morrer pra sobreviver.
-...Seus jargões... É droga mais pesada do que essa... Vou dormir...

segunda-feira, outubro 24

carrocel

Nessa hora senti o não sentido
E revivi as ondas que transpassam
A vagabunda dor que atormenta
A solidão que me prende com um laço
E nessa chama da de sorte que nasci
E morro o sono desacreditado
São borboletas que sobrevoam docemente
Uma flor que nunca brota por descaso
Vou me perdendo a cada meia lua
É uma noturna que me embriaga em veneno
Posso sonhar e acordar quando surgir
Um elixir que me resgatará desse tormento
Vou navegando em densas águas
E me afogando a cada gota de chuva
Como criança que sempre teima em correr
Em uma rua em que as pedras são  agulhas
E o veneno que inebria minha alma
É a mesma chama que corroeu o meu peito
Vou então recostando o silêncio e o sorriso
Pois a derrota me cala como um beijo
Suplicando recubro toda a raiva
E escondo o que nunca quero olhar
E quem sabe as rosas acordem
Quem sabe o amor as façam brotar
Mais que amor é esse que não vive
E não espera e muito menos alcança
Quero olhar o que é não se vê
E sentir-me de novo como uma criança
Pois agora só enxergo o que vejo
E vivo de uma razão que partiu
Foi embora com a enxurrada da chuva
Que desmoronou tudo  que viu
Pois só vive o que espera
E só almeja aquele que cansa
Pois isso eu já parei
Porque não quero viver de lembranças
Muito menos de um falso sorriso
Ou muito menos falsa esperança
Só quero voltar ...
só quero voltar a ser criança

Nice Santos 

quarta-feira, outubro 19

Dia das Tias*

Você sabe quando se comemora o Dia das Tias? Também não... mas todos nós sabemos o Dia das mães, dia dos pais, dia dos avós, dia do índio, dos namorados, da árvore, da secretária, do beijo,  do sexo ( esse é ótimo de comemorar!!! rsss) e até dia do amante (esse pode dar confusão) mas dia das tias não tem!!!
Aí você pode se perguntar: mas porque essa “louca” tá falando de dia das tias?? E claro respondo: Por que eu sou uma Tia e nunca ganhei nada no “meu” dia!! Para que você leitor entenda minha revolta vou explicar direitinho...
Sou a caçula de 7 irmãos, temos uma diferença grande de idade, quando eu nasci a minha irmã já tinha quase 15 aninhos!! Então aos 9 anos eu era tia, e depois foram aumentando até chegar a 18 (DEZOITO!!!!) sobrinhos! Tenho sobrinhos de idades variadas, adultos, adolescentes e crianças, os mais velhos não me chamam de tia, os adolescentes às vezes, e as crianças sempre.
Então sendo tia cedo, fui mais a irmã mais velha de alguns sobrinhos do que tia mesmo, rss.  Fui irmã, confidente, cupido, amiga, aquele q levava pros shows quando os pais não queriam, o carro ia lotado de “aborrecentes”  com algumas regrinhas: não beber nada que alguém ofereça, não fumar, e não “sumir” com namorado, ou ficante...
Já fiquei com sobrinho no hospital pra minha irmã poder descansar um pouco, já “mudei” pra casa delas pra que possam viajar, já fui professora particular, já andei atrás de um sapato para uma sobrinha usar com a fantasia de Cinderela (ela ficou linda!), já fiz painel pra festa de aniversário, já fiz festa de aniversário ( dias enrolando balas, horas fazendo o bolo, decorando, enchendo balão...) já fiz até festa de aniversário pras bonecas e pros cachorros!! Pegar no colégio então... Perdi a conta!
Não estou aqui reclamando de tudo o que já, faço tudo que puder pra ajudar minha família, elas sabem que se precisarem podem contar comigo, o que eu quero é um dia pra comemorar, um dia “meu”!!
Que tal pensar numa data? Eu pensei no dia 12 de maio ( meu aniversário!! Rssss) mas mês de maio... mães.... e pior as vezes o dia das mães cai no dia 12, aí não dá pra competir. Então quem, se interessar pensa numa data e depois me avisa.
E VIVA O DIA DAS TIAS!!!!!               


Janaína Rodrigues de Miranda


*a Tia que falo aqui é a irmã dos pais,
não a professora do colégio que alguns ensinam ERRADAMENTE as crianças a chamarem de Tia!



COITO ANAL - para quem tiver estômago


CLOVIS

Clovis era um homem sujo. Não falava nada sem cuspir em seguida no chão, não andava três metros sem coçar o saco e não falava uma frase que não contivesse um palavrão. Mau caráter. Um escroque de primeira. Ainda por cima agiota. Profissão que requer uma ética específica, nada amigável. Gostava de ver as pessoas pedindo. Deixava que elas implorassem. O que se obtém das pessoas que estão no fundo do poço é sempre uma surpresa. São capazes de tudo.  A todos concedia o empréstimo, contanto que estivessem dispostos a aceitar o preço, que iam dos juros a vinte por cento à humilhação mais execrável.

PEDRO

Seu Pedro era um desses alcoólatras, crias desgarradas da cirrose, que andam pelo centro em busca de cachaça. Precisava do álcool como quem precisa de sangue. Por uma dose estava disposto a tudo, inclusive, a bater na porta de Clovis e lhe pedir dinheiro. O agiota riu. Sabia que Pedro não poderia pagar sequer um empréstimo de vinte reais. Pedro insistiu. Clovis o mandou ir embora. No caso de Pedro nem a humilhação era a garantia. Aquele sujeito já estava completamente acabado.   

ANA

Ana tinha perdido uma perna num acidente de carro. Andava com ajuda de uma perna mecânica. Tinha uma vida aparentemente normal. No entanto, o fato de ser amputada dificultava a aproximação dos rapazes. Ela poderia até ter seu charme reservado, um traço de beleza diminuto aqui acolá. Mas na hora da transa sempre era um choque. Ela não poderia ficar com a perna. Se a tirasse, os parceiros sempre reagiriam negativamente, ficando um impasse no ar. Clovis, por exemplo, quando viu perna sendo deslocada, não teve outra reação senão rir. E dali por diante, toda vez que a encontrava, a chamava de perna de robô.

A PROPOSTA
O alcoólatra insistia. Todas as vezes que encontrava Clovis, pedia os malditos cinco reais. Ele respondia que não, como se o alertasse “você não será capaz de pagar”. Às vezes, apenas sorrindo, meneando a cabeça, alegava não ter dinheiro. Com seus botões Clovis tentava imaginar até que ponto Pedro seria capaz de ir em busca do álcool. A força de pensar, ele achou uma solução, um preço acessível para o viciado. No dia seguinte ele deu a sua proposta: ele daria os cinco reais, mas o velho teria que lhe dar o cu.

UM ENCONTRO CASUAL

Era noite. Ana encontrou Clovis no bar. Sentou-se ao seu lado. Ele já estava um pouco alterado pela bebida. Ana havia pintado os cabelos. Arriscara pela primeira vez usar maquiagem. Era praticamente outra mulher.  Clovis, imediatamente,  puxou assunto e, sem reconhecer o seu bode expiatório, a quem chamava de perna de robô, pagou-lhe um drinque. Eles conversaram a noite toda. Quando o bar se fechava, ele propôs levá-la ao motel. Ela aceitou veementemente. Mas antes, eles tomariam a última dose.

O COITO

Pedro aceitou. Seria enrabado em troca da cachaça. Era escravo do vício e por ele faria tudo. Disse sim como quem não mais tivesse opção. Foi ao escritório de Clovis e logo no corredor, abaixou a calças e colocou as mãos na parede. De certa forma, pensou Clovis, o velho agia com certa naturalidade. Talvez já tivesse feito isso. Talvez, a fim de que tudo corresse o mais rápido possível, decidiu facilitar as coisas e ser prático. Para Clovis nada interessava. Ele não hesitou também em abrir o zíper de sua calça e de cuspir em seu falo para que a penetração ocorresse sem dificuldade.

O CHOQUE

Quando entrou no carro Clovis já se sentia estranho. Percebia a voz pastosa. Não conseguia enfiar a chave na ignição. O corpo parecia pesar uma tonelada. Aos poucos, perdia a coordenação motora. Sentada, no banco de passageiro, Ana o observava. Ele ainda tentou colocar as mãos em seus seios, mas não conseguiu completar o trajeto. Seu braço, já dormente, caiu na coxa de Ana e fez um imenso barulho ao se chocar contra a perna mecânica. O último reflexo de Clovis, antes de sentir completamente o efeito do boa noite cinderela, foi olhar para Ana com cara de espanto, balbuciando alguns palavrões até desfalecer de uma vez.
           
            A BORRA DE SANGUE

         Ele socava o cu do velho sem pena. Conseguia sentir suas tripas sendo esmagadas. Via a merda enegrecida manchar seu pênis. Algumas borras de sangue já apareciam nas fezes. Era um diagnóstico prévio ou de úlcera hemorrágica ou de cirrose que Clovis ignorava insanamente, metendo cada vez mais forte, insistentemente, perguntando ao velho se ele gostava de ser enrabado. O velho respondia gemendo, como se soltasse pequenos balidos quase imperceptíveis.  Um cheiro insuportável ficou suspenso no ar. Uma atmosfera nefanda se instalou. Clovis estava decido a não acabar aquilo tão cedo. Iria até o fim. Iria até gozar.

NO MOTEL

Ele acorda. Ainda está atordoado. Clovis percebe que está amarrado na cama, deitado de bruços. Ele olha pelo espelho o reflexo de Ana, que se encontra atrás dele, com a perna mecânica na mão. Sua reação é pedir desculpas insistentemente. Mas Ana está implacável. Com toda força que possuí, enfia a perna no ânus de Clovis. Está tão decidida, que nem percebe os gritos do homem.  Sem piedade ela enfia a perna quase até o talo, perguntando a ele quem era a perna de robô. Ela só parou quando Clovis começou a se tremer. Pela sua boca, ecorre sangue. Já não implora por piedade. Apenas grunhe como um animal sendo sacrificado.

FINAL FELIZ

No canto do centro da cidade, o velho Pedro cantarola abraçado à sua garrafa de aguardente. Parecia que nada tinha acontecido. Tudo fora obliterado no instante em que sorveu o primeiro gole de pinga.


19/10/2011

terça-feira, outubro 18

Beto, o Tesoureiro




Breve histórico
Ele. Dono de uma de empresa de créditos para pensionistas do INSS. Naquele ano. Sabia está passando o pior ano da sua vida quando imaginava uma comparação com outros. Não bastava ir longe. Um ano e meio atrás. Ganhava rios de dinheiro com o mercado ascendente de créditos correlacionado ao aumento do índice de vida. Ao lado de uma belíssima namorada apesar de que não estava tão apaixonado. Mas sempre com sérias dúvidas dessa tal da paixão. Feliz sim. Ou pelo menos satisfeito.  Uma jovem negra e sensual e ex-prostituta que conheceu numa festa de fim de ano entre foguetes, axé, cocaína e cervejas e um programa com ela.
Estado atual
A empresa a beira da falência por causa da concorrência ter aumentado e o recente surto de gripe HN1 que vitimou dezenas de idosos. E a namorada que durante sua decadência e do vício em álcool retornou a prostituição. Além do fim do relacionamento, após ele lhe bater e dizer que a odiava e só gostava de sua buceta arroxeada. Não deu outra, arrumou suas malas e saiu dizendo orgulhosa que com sua buceta arroxeada ganhava muito dinheiro, ao contrário dele, que vendia créditos para uns três velhinhos aposentados idiotas a juros altíssimos.
Auto - imagem
Arruinado. Essa palavra vinha e voltava na sua mente ou quando se deparava com seu reflexo. A barba por fazer, a magreza, e os dentes amarelados de tanto fumar. Arruinado estava desenhado na sua cara e não só nos boletos da conta bancária.
O de repente
Tinha sonhado. Corado e forte numa bela praia. Banhava e tirava a coira. Acordou e sentiu raiva do sonho. Que mentira. Deus havia de lhe pagar. Alguém tocava a campainha. Se fosse deus matava-o sem pensar duas vezes.
Abriu a porta. Uma garota que seus pais haviam lhe enviado para fazer os serviços domésticos. Havia até se esquecido daquele pedido que tinha feito já há um bom tempo. Também, com todo o inferno que passava, o esquecimento daquela garota era justificável. 
Entre. Pode ficar naquele quarto. - Falou ainda com sono. Ela foi calada pra lá. E ele voltou a dormir. Dessa vez não sonhou e quando acordou a casa estava um brinco. Arrumada. Cheirosa. Os móveis sem poeira. E até um quadro velho  largado no fundo do quintal agora enfeitava a parede do terraço. Aquilo sim era um sonho. Melhor que um sonho, pois era real e verdadeiro. Já não queria matar deus por agora.
O olhar
Agradeceu e reparou melhor aquela garota com o sorriso estampado no rosto. Dentes curtos. Braços fortes. Baixa. E um longo cabelo liso. Ela disse que havia abrido a geladeira e tinha preparado um cozidão com a carne que encontrou no freezer e o resto de verduras e um arroz com bastante alho.
- Faz bem alho. Sabia?
- É?!
- Não sei ao certo pra quê, mas meus avós dizem que pra muitas doenças.
- Qual sua idade?
- 14 anos. Já preparei a mesa senhor.
- Não me chame de senhor. Chame-me de Roberto.
- Tudo bem, Roberto.  
Os dois comeram em silêncio e ele percebeu que ela ainda tinha o sorriso estampado no rosto. Ela feliz e ele arruinado.
- Você sabe que não posso te pagar um salário mínimo? E que você vai morar aqui e estudar. Sabe?
- Sim, Roberto.
- Como vão meus pais?
- Eles estão um pouco gripados, mas no geral bem e preocupados com você.
- Imagino... Você cozinha muito bem.
- Obrigado.
- Você pôs um quadro lá fora no terraço.
- Sim. Você não gostou?
- Gostei. É uma reprodução duma pintura  de Pablo Picasso.
- Quem é ele?
- Era um pintor passional e genioso espanhol...

O up grade

Após a entrada daquela garota em sua vida  passou a fazer a barba e largou o vício em álcool e até parou de fumar e voltou a trabalhar com bastante estímulo e afinco fazendo sua empresa conseguir superar a crise perante a concorrência e devido também o controle da gripe HN1 após alguns mutirões de vacinações pela cidade. Os idosos estavam querendo créditos e com mais saúde.  Acabaram tendo uma relação amorosa e ilegal, pois segundo a legislação; é pedofilia. Apesar de ela insistir que ela já era uma mulher. Que essa lei era bobagem. Que de onde veio era normal. Então decidiu seguir o lema: deixa a vida me levar. Todos os fins de semana iam a praia tomar água de coco e tomar banho de mar. Como mais ou menos naquele sonho que teve há um capítulo atrás. Amou deus pela primeira vez. Estava corado e bonito.

A denúncia


Sua ex-namorada sabendo por uma vizinha mal comida do relacionamento de Roberto com a empregadinha doméstica fez uma denuncia anônima ao DPCA (Departamento de Proteção a Crianças e Adolescentes) daquela sacanagem.  Preso em flagrante, após um agente policial disfarçado de vendedor de planos de saúde ir, várias vezes, em sua casa e conseguir extrair do próprio Roberto um choro apaixonado por aquela garota. Ela mudou minha vida, senhor. Apesar do sentimento de culpa que sentia por causa dela ser tão novinha e disse rindo e feliz que a chamava nos momentos íntimos de; minha lolitinha, o que o agente policial não entendeu. Depois do desabafo o agente mostrou seu distintivo e efetuou a prisão palpada na lei nº tal.

Jack

 
Atenuado por ser réu primário foi sentenciado a seis anos de prisão. Na cadeia com seu diploma de Jack é feito, ironicamente, de empregadinha e estuprado por todos os detentos, segundo agora, a lei do cão. Ainda tentou explicar que era paixão, amor, algo sublime, passional, ela já era uma mulher. Ela mesma me dizia isso. Saiu de meu controle. De nada adiantou. E se fosse a sua filha, Jack? Os anos passavam os velhos detentos saiam e novos chegavam. E devido aos seus dotes de entender de burocracia e dinheiro ganhou a confiança de traficantes e latrocinas que nunca sairiam dali, mas que comandavam assim mesmo o tráfico e assassinatos na cidade. Passou a fazer seus trâmites financeiros e ganhar outro patamar dentro da cadeia. Já não era mais a empregadinha e o cú da galera. Agora era Beto, o Tesoureiro.

O eterno retorno

 
Após ser solto, sua empresa, obviamente, já não existia, e seus pais estava mortos pela gripe HN1 e seus amigos e ex-sócios ignoravam seus telefonemas. Agora não era mais um homem normal, era um ex-detento e mais arruinado que antes. O que lhe restou foi sua casa e ir atrás daquela jovem que se apaixonou perdidamente. Agora com 20 anos de idade. Fazendo pré-vestibular e curso de inglês. Mas pra sua decepção e confusão estava noiva do falso vendedor de planos de saúde e agente policial. Beto, o Tesoureiro, pensou: deus está morto. Por dentro de todo o mercado negro da cidade adquiriu um revolver calibre 22 e matou os dois e logo depois tocou fogo na casa, sem deixar quaisquer pistas.

O Happy End

Desempregado, coração partido, cú arrebentado, falido, órfão e agora homicida, mas sem um pingo de sentimento de culpa pelos assassinatos. Estava realmente complicado arranjar um emprego com a ficha criminal suja e pensar num futuro financeiro e emocionalmente estável.  Vendeu sua casa. O único patrimônio que lhe restava e decidiu traficar armas com seus contatos na cadeia e vender pó com o capital inicial da casa. Com o mercado ascendente de drogados e crimes a mão armada subiu no ramo rapidamente.  E numa festa de fim de ano entre rap, uísques, tiros e pó reencontrou sua ex-namorada e ex-ex-prostituta após um programa com ela, mas já, sem qualquer dúvida, quanto à palavra paixão e sua buceta arroxeada.
Créditos Finais
Hoje é um dos homens mais procurados pela Polícia Federal e comandante de uma facção que detém 49 (segundo estasticas ta própria PF) por cento do mercado de armas e pó da cidade. De vez em quando se depara com seu reflexo, pensa em qualquer coisa, menos em arruinado.
- Sou apenas Beto, o Tesoureiro.

quinta-feira, outubro 13

O que foi, acha que estou de brincadeira?

Vai me dizer que não se considera mais criança? Já sei, tornou-se um adulto, tem responsabilidades como o trabalho, contas pra pagar, sair da casa dos pais, ter seu próprio canto, programar o futuro, fazer faculdade, fazer pós-graduação, mestrado e outras tantas coisas...
... Pois é crescemos!! E quantos crescem e esquecem que foram crianças...
Eu confesso que não deixei de ser criança (quem me conhece sabe disso... rss!), adoro ver desenho animado, ver filmes infantis (têm mensagens ótimas) comendo pipoca, deitada no chão com meus sobrinhos...
Conheço poucos adultos assim, e acho uma pena, pois não sabem o que estão perdendo
Sei que alguns têm uma vontade enorme de brincar, correr, rir alto, empinar pipa, jogar bolinha de gude.... Ficou com vontade também????
Mas já somos adultos, temos responsabilidades.... Mas nem por isso vamos deixar de ganhar (ou melhor, nos dar...) presentes no dia das crianças!
Calma, é muito fácil, amanhã têm vários filmes legais nos cinemas, vai lá, compra um saco de pipoca bem grande e divirta-se! Ah é muito tímido, então aluga um DVD, faz pipoca em casa com uma boa companhia e ria bastante, se quiser posso dar uma lista de filmes ótimos... rssss
Então pra todos que ainda são crianças, que acreditam em Papai Noel (ele existe!!! rssss), que gostam de brincar:
FELIZ DIA DAS CRIANÇAS!
Um beijo para todos!
                   Janaína Rodrigues de Miranda

quarta-feira, outubro 12

Feliz dia das Crianças, mas quais as crianças?

Hoje é o dia dos diabinhos (rsrs) que tanto dá a dor de cabeça aos adultos, mas são eles que conseguem comovem com o sorriso aberto e franco, devido o seu ar de pureza e inocência.
Hoje é especial para elas, você adulto volte a ser criança que sentirá a pureza e a inocência delas, irá ver que no mundo em que elas vivem não há maldades, impurezas e pessoas má intencionadas.
Seria bom que fosse o dia de todas as crianças no mundo, mas infelizmente essa data como muitas outras como o Natal, Ano Novo, Páscoa, Dia das Mães e muitos outros não passam de um simbolismo e manter o consumo numa sociedade em que vivemos que a regra é o indivíduo gastar, gastar e gastar.
Alguns pais que estão numa situação financeira estável e equilibrada não vêem problemas comprar a loja inteira de brinquedos para o(s) seu(s) filho(s), pais que vivem numa situação apertada, mas para agradar acabam comprando para o(s) filho(s) nem que seja o único presente, mas os pais que são pobres e vivem na extrema pobreza, que presentes darão aos seus(s) filho(s)?
Lembro a minha infância na Rua Raimundo Correia no Bairro do Monte Castelo, época que não havia asfalto e nem saneamento básico, a rua inteira era tomada por lama e esgoto a céu aberto. Que mesmo numa situação de descaso por não haver uma quadra poliesportiva e nem uma praça para poder brincar, as crianças de minha época davam o jeito de brincar e faziam a arte de fazer brinquedo.
Quem nunca viu ou ouviu falar nesses brinquedos?








Como você todos viram, essa foi a minha infância, mesmo com a pobreza e ter morado numa rua em que não havia condições dignas de moradia, as crianças davam o jeito de brincar, eu mesmo já fiz muitos barquinhos de papel ou a caixa de fósforos vazia e brincava, fiz inúmeras pipas com o papel de caderno. Sem falar de outras brincadeiras como esconde-esconde, amarelinha, pega-pega, estátua, bete, queimada e muitas outras.
Que infelizmente essas brincadeiras deixaram de ser praticada pelas crianças de hoje e substituída por jogos eletrônicos e internet. Ruas que antes eram ocupadas por crianças, pouco se vêem, os excessos de informação nos meios de comunicação fizeram as crianças se tornarem mais adultos.
Mas não devemos muito que comemorar, pois há muitas crianças nesse exato momento que estou escrevendo, passando fome e ainda nem tomaram café, não comeram ontem, dormiu na rua numa calçada e sofrem por falta de pais ou um lar.
O dia das crianças foi bom para o comercio que faturou com a venda dos brinquedos que aumentaram neste ano, aproveitando o aumento das cargas tributárias principalmente os importados. Foi bom para muitas ONG´s (Organizações Não Governamentais) que receberam verba do Estado para promover festas nos bairros de periferia somente para este dia.
No site de relacionamento Orkut e Facebook há uma campanha para que os membros utilizem a foto de algum personagem infantil que marcou a sua infância que seja colocada na foto de perfil, eu que tiver que escolher, ficaria na duvida por são infinitos, mas irei escolher do Chaves, o seriado mexicano criado por Roberto Gomez Bolaños em 1970 e foi exibido pela 1º vez no Brasil no inicio da década de 80 pelo SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), que ainda hoje faz sucesso aqui no Brasil e no mundo, principalmente na América Latina, que ainda são exibidos mesmo sendo reprises, uma parte do elenco terem falecidos e os ainda vivos não interpretam mais os personagens.
 Chaves é o retrato da criança pobre, órfã, constantemente vive com fome e mora num barril, mesmo com a situação de penúria, consegue ser uma criança pura, inocente, honesto e desprovido da malícia de adultos. O principal personagem retrata muito bem o cunho social, deixando claro que a fome deixa o indivíduo inválido, sem capacidade de pensar, estudar e concentrar, o que faz ser atrapalhado e burro, e a felicidade estão na tentativa de comer ao menos um sanduiche de presunto, e num instinto de sobrevivência ao ser comparado com o animal, comete a exceção, ao furtar qualquer comida (ou achar que seja) que apareça na sua frente para ficar saciado.
Eu gostaria de desejar feliz o dia das crianças para todas as crianças, na certeza que todos terão o futuro certo de construir uma sociedade mais humana e igualitária, mas infelizmente nem todas as crianças terão este futuro, e muitas nem sabe se ganharão presentes hoje e vivem na incerteza do seu futuro e aprendendo cada vez mais cedo à vida de adulto.

Descobri ser um anjo


Não há outra explicação: eu sou um anjo. Todos sabem, menos eu. Talvez nem saibam também, apenas sentem isso. Nada de anjinho de auréola ou com longas asas nas costas. Dizem que a auréola virou farinha e pintou alguns fios brancos nos cabelos. Cada vez mais presentes, cada vez mais atraentes. Dizem que as asas ausentes foram circuncisadas, para poder ter os pés no chão e olhar a vida como os humanos. Aprender a vida tocando o chão. Pés no chão, cabeça nas nuvens. Está na memória. Anjo com vontade de tatuar as asas na costa. Talvez seja mesmo um anjo barroco, malicioso, daqueles que sorri com gracinha, mas sem maldades. Anjo não tem maldade. Pode provocar situações, pode se embaraçar todo, mas não tem a vilania como caráter. Um anjo sem grandes ambições, com a única missão de ajudar a vida alheia, de cupido a mensageiro, no melhor papel de anjo. Dentro da legião celeste, não fui expulso do céu, apenas cedi à curiosidade de experimentar o que tem abaixo dele ou ao lado. Sou do coro de anjos, mas estou perdido. Fiz amizade com os exus. São mais divertidos, incisivos e sabem cobrar por suas tarefas e missões. Tenho aprendido com eles sobre o sentido do prazer. Eles estão mais perto dos homens e sabem de todos os prazeres mundanos, do sexo ao ócio. Mas anjo não tem sexo, surge híbrido. Anjo confunde sentidos e intenções, porque nós, anjos, temos muito amor, somos divinos, é nossa essência. E amor na terra tem valor semântico de todo jeito, de toda forma. Sou anjo porque sei falar com deus, sei encontrá-lo onde ele se manifesta. Mas a gente enche o saco também. Não estou mais no céu. Só que quando a gente se olha no espelho entende que não dá para ser diferente. Anjo não chega a ser diabo, nem deus. Anjo não amadurece, cumpre a missão, que nem sabe qual é. Agora que me dou conta da minha natureza divina, quero experimentar o humano. Quero experimentar dos prazeres como os homens, errar e aprender, ter projetos, planos, entender o que é a rotina dos dias. Quero ser ambicioso, ter família, entender o tédio como antítese. Mesmo anjo torto, safado, buarquiano, predestinado a ser errado, quero ir até o fim.




(fevereiro de 2011)

terça-feira, outubro 11

A espera

A espera.

A espera ardida.

Do fogo que consome o ser.

Do vento quente no estomago infeliz.



A espera

A espera sucinta,

Translocada,

Serena

Do mar batendo em pedras.,

Da verdade tão cruel que dilacera.



A espera

A espera ferida,

Gemida na noite marcada,

Dos lances incendiários

Espelhos sem tetos.



A espera

A espera do livro.

Do cigarro no cinzeiro

Do chiclete mascado

Da vida parada

Na doida não falecida, não vivida...

A doida nua, insana

Que corre da madrugada.



A espera

A espera tão fugaz,

Tão silenciosa,

Tão gostosa.

Do nada,

Dos sentimentos mutilados

Do sexo cheirado.



A espera

A espera negra

Branca,

Mulata,

Crioula.

Do ônibus,

Do banco,

Da calçada.

Da sala de espera do consultório.

A espera

A espera que é penetrante

Que é lasciva

Que é perversa

Que é ninfomaníaca



A espera

A espera que é tão espera

Insuportável

Inaudita

Inalada

Inofensiva.


Cris Lima.