terça-feira, outubro 18

Beto, o Tesoureiro




Breve histórico
Ele. Dono de uma de empresa de créditos para pensionistas do INSS. Naquele ano. Sabia está passando o pior ano da sua vida quando imaginava uma comparação com outros. Não bastava ir longe. Um ano e meio atrás. Ganhava rios de dinheiro com o mercado ascendente de créditos correlacionado ao aumento do índice de vida. Ao lado de uma belíssima namorada apesar de que não estava tão apaixonado. Mas sempre com sérias dúvidas dessa tal da paixão. Feliz sim. Ou pelo menos satisfeito.  Uma jovem negra e sensual e ex-prostituta que conheceu numa festa de fim de ano entre foguetes, axé, cocaína e cervejas e um programa com ela.
Estado atual
A empresa a beira da falência por causa da concorrência ter aumentado e o recente surto de gripe HN1 que vitimou dezenas de idosos. E a namorada que durante sua decadência e do vício em álcool retornou a prostituição. Além do fim do relacionamento, após ele lhe bater e dizer que a odiava e só gostava de sua buceta arroxeada. Não deu outra, arrumou suas malas e saiu dizendo orgulhosa que com sua buceta arroxeada ganhava muito dinheiro, ao contrário dele, que vendia créditos para uns três velhinhos aposentados idiotas a juros altíssimos.
Auto - imagem
Arruinado. Essa palavra vinha e voltava na sua mente ou quando se deparava com seu reflexo. A barba por fazer, a magreza, e os dentes amarelados de tanto fumar. Arruinado estava desenhado na sua cara e não só nos boletos da conta bancária.
O de repente
Tinha sonhado. Corado e forte numa bela praia. Banhava e tirava a coira. Acordou e sentiu raiva do sonho. Que mentira. Deus havia de lhe pagar. Alguém tocava a campainha. Se fosse deus matava-o sem pensar duas vezes.
Abriu a porta. Uma garota que seus pais haviam lhe enviado para fazer os serviços domésticos. Havia até se esquecido daquele pedido que tinha feito já há um bom tempo. Também, com todo o inferno que passava, o esquecimento daquela garota era justificável. 
Entre. Pode ficar naquele quarto. - Falou ainda com sono. Ela foi calada pra lá. E ele voltou a dormir. Dessa vez não sonhou e quando acordou a casa estava um brinco. Arrumada. Cheirosa. Os móveis sem poeira. E até um quadro velho  largado no fundo do quintal agora enfeitava a parede do terraço. Aquilo sim era um sonho. Melhor que um sonho, pois era real e verdadeiro. Já não queria matar deus por agora.
O olhar
Agradeceu e reparou melhor aquela garota com o sorriso estampado no rosto. Dentes curtos. Braços fortes. Baixa. E um longo cabelo liso. Ela disse que havia abrido a geladeira e tinha preparado um cozidão com a carne que encontrou no freezer e o resto de verduras e um arroz com bastante alho.
- Faz bem alho. Sabia?
- É?!
- Não sei ao certo pra quê, mas meus avós dizem que pra muitas doenças.
- Qual sua idade?
- 14 anos. Já preparei a mesa senhor.
- Não me chame de senhor. Chame-me de Roberto.
- Tudo bem, Roberto.  
Os dois comeram em silêncio e ele percebeu que ela ainda tinha o sorriso estampado no rosto. Ela feliz e ele arruinado.
- Você sabe que não posso te pagar um salário mínimo? E que você vai morar aqui e estudar. Sabe?
- Sim, Roberto.
- Como vão meus pais?
- Eles estão um pouco gripados, mas no geral bem e preocupados com você.
- Imagino... Você cozinha muito bem.
- Obrigado.
- Você pôs um quadro lá fora no terraço.
- Sim. Você não gostou?
- Gostei. É uma reprodução duma pintura  de Pablo Picasso.
- Quem é ele?
- Era um pintor passional e genioso espanhol...

O up grade

Após a entrada daquela garota em sua vida  passou a fazer a barba e largou o vício em álcool e até parou de fumar e voltou a trabalhar com bastante estímulo e afinco fazendo sua empresa conseguir superar a crise perante a concorrência e devido também o controle da gripe HN1 após alguns mutirões de vacinações pela cidade. Os idosos estavam querendo créditos e com mais saúde.  Acabaram tendo uma relação amorosa e ilegal, pois segundo a legislação; é pedofilia. Apesar de ela insistir que ela já era uma mulher. Que essa lei era bobagem. Que de onde veio era normal. Então decidiu seguir o lema: deixa a vida me levar. Todos os fins de semana iam a praia tomar água de coco e tomar banho de mar. Como mais ou menos naquele sonho que teve há um capítulo atrás. Amou deus pela primeira vez. Estava corado e bonito.

A denúncia


Sua ex-namorada sabendo por uma vizinha mal comida do relacionamento de Roberto com a empregadinha doméstica fez uma denuncia anônima ao DPCA (Departamento de Proteção a Crianças e Adolescentes) daquela sacanagem.  Preso em flagrante, após um agente policial disfarçado de vendedor de planos de saúde ir, várias vezes, em sua casa e conseguir extrair do próprio Roberto um choro apaixonado por aquela garota. Ela mudou minha vida, senhor. Apesar do sentimento de culpa que sentia por causa dela ser tão novinha e disse rindo e feliz que a chamava nos momentos íntimos de; minha lolitinha, o que o agente policial não entendeu. Depois do desabafo o agente mostrou seu distintivo e efetuou a prisão palpada na lei nº tal.

Jack

 
Atenuado por ser réu primário foi sentenciado a seis anos de prisão. Na cadeia com seu diploma de Jack é feito, ironicamente, de empregadinha e estuprado por todos os detentos, segundo agora, a lei do cão. Ainda tentou explicar que era paixão, amor, algo sublime, passional, ela já era uma mulher. Ela mesma me dizia isso. Saiu de meu controle. De nada adiantou. E se fosse a sua filha, Jack? Os anos passavam os velhos detentos saiam e novos chegavam. E devido aos seus dotes de entender de burocracia e dinheiro ganhou a confiança de traficantes e latrocinas que nunca sairiam dali, mas que comandavam assim mesmo o tráfico e assassinatos na cidade. Passou a fazer seus trâmites financeiros e ganhar outro patamar dentro da cadeia. Já não era mais a empregadinha e o cú da galera. Agora era Beto, o Tesoureiro.

O eterno retorno

 
Após ser solto, sua empresa, obviamente, já não existia, e seus pais estava mortos pela gripe HN1 e seus amigos e ex-sócios ignoravam seus telefonemas. Agora não era mais um homem normal, era um ex-detento e mais arruinado que antes. O que lhe restou foi sua casa e ir atrás daquela jovem que se apaixonou perdidamente. Agora com 20 anos de idade. Fazendo pré-vestibular e curso de inglês. Mas pra sua decepção e confusão estava noiva do falso vendedor de planos de saúde e agente policial. Beto, o Tesoureiro, pensou: deus está morto. Por dentro de todo o mercado negro da cidade adquiriu um revolver calibre 22 e matou os dois e logo depois tocou fogo na casa, sem deixar quaisquer pistas.

O Happy End

Desempregado, coração partido, cú arrebentado, falido, órfão e agora homicida, mas sem um pingo de sentimento de culpa pelos assassinatos. Estava realmente complicado arranjar um emprego com a ficha criminal suja e pensar num futuro financeiro e emocionalmente estável.  Vendeu sua casa. O único patrimônio que lhe restava e decidiu traficar armas com seus contatos na cadeia e vender pó com o capital inicial da casa. Com o mercado ascendente de drogados e crimes a mão armada subiu no ramo rapidamente.  E numa festa de fim de ano entre rap, uísques, tiros e pó reencontrou sua ex-namorada e ex-ex-prostituta após um programa com ela, mas já, sem qualquer dúvida, quanto à palavra paixão e sua buceta arroxeada.
Créditos Finais
Hoje é um dos homens mais procurados pela Polícia Federal e comandante de uma facção que detém 49 (segundo estasticas ta própria PF) por cento do mercado de armas e pó da cidade. De vez em quando se depara com seu reflexo, pensa em qualquer coisa, menos em arruinado.
- Sou apenas Beto, o Tesoureiro.