sábado, fevereiro 8

ENTREVISTA COM A BANDA FOME



Por Davi Galhardo

Nada mais justo que começarmos esse bate-papo pelo começo. Vocês poderiam fazer um breve histórico da banda contando-nos: quando, onde e como surgiu a FOME?
FOME: A banda surgiu em fevereiro carnaval de 1989 – no Bairro do Cohatrac, a banda no início era um trio: Eduardo Mulambo (voz e baixo), Mauricio (guitarra), Billi Podrão (bateria) – meses depois Rato Velho assume a bateria e Billi Podrão vai para os vocais – mais tarde (1990) Eduardo sai da banda e Carlos Pança assume o baixo, formação que perdurou até a parada da banda em 1993. Com a volta da em 2013, Rato Velho se acidentou de moto e o Edvards está segurando a batera.

A banda FOME tocou no festival “Nordeste em Caos” ao lado de Câmbio Negro HC e Discarga Violenta, e pelo que se sabe recebendo bastante admiração do público. Falem um pouco a respeito dos “intercâmbios” entre bandas do Nordeste que vocês puderam presenciar.
FOME: O intercâmbio nos meados de 1980 e início1990 era bastante intensificado, existia um um bom entrosamento não só entre as bandas do nordeste quanto entre as bandas dos quatros cantos do Brasil, nós mesmo tínhamos um leque de diversas bandas a qual tínhamos contato. Rolava troca de fanzines, demos, etc..

FOME é bastante lembrada Brasil à fora pela Split que possuem com a Amnésia intitulada “Fome & Amnésia” de 1990. Como era a relação entre estas duas bandas nesta época, e como era o Cenário local daquele momento na chamada “Ilha do Lixo”, ou seja, São Luís do Maranhão
FOME: A relação entre A banda amnésia e fome sempre foi a melhor possível, posso até dizer que são bandas irmãs, os ensaios sempre rolaram juntos, não lembro um ensaio da fome sem amnésia e vice-versa. Quanto o cenário era bem produtivo, surgiram várias bandas na época, diga-se de passagem muitas das quais muito boas, grande parte de bandas de metal, outras punks, algumas de rap, mas havia uma união muito sadia entre as bandas e o público tanto que ocorreram vários show, com bandas de punk, metal e rap juntas!

4 – Outro registro da FOME que se tem notícias é a DemoTape “Invólucro Humano” que foi gravada no estúdio caseiro “Estrago Tapes Records” em Abril de 1991, falem um pouco sobre este material.
FOME: Bom apesar de todos esforços do Assis (gravamos na casa dele), o áudio ficou de péssima qualidade, não se escuta ou entende quase nada, e acabou não saindo o que esperávamos, mas de qualquer forma valeu a intenção da “Estrago Tapes Records”.

A quarta edição do Fanzine HARDRUNK de 2004, traz uma matéria de divulgação de um CDr da banda, que na época estava sendo lançado pela Grito Punk Produções resgatando as DemoTapes existentes até aquele momento, texto assinado por Joacy James. Gostaríamos que vocês falassem um pouco sobre este resgate histórico.
FOME: Na verdade eu não tive acesso a esse material, não estava morando aqui em são luís - fiquei sabendo, assim por alto, mas acredito que todo resgate é benéfico. Qualquer ato que leve nossa música e nosso anseio de um mundo igual aos confins do planeta, vale apena ser resgatado, vale apena ser divulgado!

Em 2006 acontecia o Festival Punk Atitude – 20 anos do Punk no Maranhão onde a banda se fez presente. Vocês gostariam de falar um pouco a respeito do mesmo, e de sua significação?
FOME: Bom nesse show a banda tocou meio que “nas coxas” já estávamos a mais de cinco anos ou mais sem tocar, e fizemos apenas um ensaio, como nosso guitarra estava em fortaleza, convidamos o Isomar (Antigo) para segurar a guitarra, ai complicou não tinha como ele pegar todas as bases de uma vez só duas horas de ensaio – tocamos mesmo só para não deixar a data e o significado do show passar batido, mas, valeu apena o registro dos 20 anos do punk na Ilha, foi um show muito válido.

De 2007 para cá muita coisa mudou, muitos indivíduos e bandas se foram e tantos outros novos apareceram... Como vocês tem observado a Cena Local nestes últimos tempos?
FOME: Esta pergunta vou te responde com mais propriedade daqui a uns seis meses mais ou menos, porque te confesso que estamos por fora da cena. Mas acredito que ela tenha crescido não sei em qualidade, mas que cresceu, cresceu!

Neste meio tempo longe de atividades diretamente ligadas ao meio underground vocês absorveram novas influências? Seja na Música, Cinema, Literatura ou mesmo no próprio Cotidiano desesperador de todos os dias? Rs Comentem a respeito.
FOME: Verdade, hoje nossas influências vão de Nelson Gonçalves a Ratos de Porão (hehehehehe!) – brincadeiras à parte hoje temos como influência praticamente quase tudo de qualidade – Cinema, literatura, mpb, clássicas, rock, reggae, rap – e buscamos aproveita o que de melhor esses músicos e autores oferecem.

Nada mais justo pra esse retorno da Banda FOME que um material com inéditas, gostaríamos de saber se vocês já tem algo nesse sentido sendo encaminhado?
FOME: Bom, a partir de fevereiro, começaremos a fazer músicas novas, esse primeiro momento de volta, estamos apenas preocupados em recupera as músicas que já tocávamos, depois que as recuperamos daremos início a uma nova produção.

É um prazer enorme dialogar com vocês. Deixaremos o espaço em aberto para que possam deixar uma mensagem, endereço pra contato, e-mail etc. O espaço é de vocês!
FOME: Bom, queremos desejar saúde e paz a todos e dizer para que nunca parem de correr atrás de seus sonhos, leiam bastante, se interessem por política e nunca, nunca aceitem a submissão, um abraço a todos. E não deixem de ir a nossas gigs. Hehehehehehe!

Arrivederci


A tristeza me pegou de jeito hoje. Sinto que aquele desenho de ossos encapuzados criou vida e bate na porta das pessoas, anunciando a brevidade de nossa consciência. E a perpetuidade das minhas memórias... Será que vou sempre me lembrar de ti? 

Eu não tenho lágrimas suficientes para salgar tua carne, e me juntarei aos teus outros amigos no teu processo de mumificação, e poetaremos teus feitos e não-feitos (como se feitos tivessem sido), e te manteremos vivo como a musa de Camões.

Ah, meu amigo. As perdas se acumulam como um punhado de pedras nos meus bolsos enquanto tento atravessar o rio. E a cada braçada me sinto mais pesada e preciso de mais força para seguir.
A dor me é infinita, e hoje me resigno a senti-la vibrante em minhas artérias, perfurando  meus órgãos e cegando meus olhos. Minha visão cega tromba nos mesmos móveis que sempre estiveram no mesmo lugar, e sinto novamente a (in)segurança de que está tudo igual.

As estrelas não me consolam, nem a lua, nem o céu. Nem mesmo o céu. Nos encontraremos um dia, meu caro.