segunda-feira, junho 24

Feliz Ano Velho ( Filme)




Ficha Técnica
Título original: Feliz Ano Velho
Gênero: Drama
Duração: 105min.
Lançamento (Brasil): 1988
Distribuição: Embrafilme
Direção: Roberto Gervitz
Roteiro: Roberto Gervitz
Produção: Cláudio Kahnz
Produtor Associado: Josef Kurc, José Mindlin, Victor Rebouças, Sérgio Mindlin, Patrícia M. Caldeira, Reynaldo Catalano e Nelson Atallah
Direção de Produção: Boby Costa
Co-produção: Tatu Filmes, Quanta Filmes, Transvídeo, 5.6 Produções, Embrafilme
Música: Luiz Henrique Xavier
Som: Galileu Garcia Júnior e Roberto Gervitz
Fotografia: César Charlone
Sonografia: José Luiz Sasso e Karin Stuckenschmidt
Direção Artística: Clóvis Bueno
Cenografia: Clóvis Bueno
Figurinos: Clóvis Bueno
Montagem: Galileu Garcia Júnior



Esse filme é baseado no livro autobiográfico Feliz Ano Velho de Marcelo Rubens Paiva, que teve seu pai Rubens Paiva morto na Ditadura Militar ( Essa noticia foi confirmada depois da Comissão da Verdade) e conta a Historia de um universitário que mora numa republica de estudantes em Campinas-SP que vai se tornar militante ( talvez muito pelo sumiço do seu pai), entre aventuras amorosas, diamba, musica, e um terrível acidente fraturando a cervical lhe deixando tetraplégico e o faz repensar a Vida. 

....

Se eu tirasse um xerox da cabeça,
no papel eram pontos insólitos,
traços de oxigênio,
nuvens de fumaça
e muito gaz lacrimogênio.

Se eu tirasse um xerox do coração,
nas veias velhas teias apinhadas de aranhas,
batom, merthiolate, puro purê de tomate.

Se eu tirasse um xerox integral em nú frontal
pra saber se no fundo algo por dentro vai mal

o resultado era um fio descascado espalhando adrenalina o
tempo todo pra todo lado.

Se eu tirasse um xerox geral
pra saber se na real algo comigo não vai legal

o resultado era um puta emaranhado de fios e cacos

confundidos num anárquico mosaico de artefatos. 

( letra da musica do filme de Luiz Henrique Javier)


filme completo

Curiosidades: Hoje Marcelo Rubens Paiva escreve peças de Teatro e teve um texto adaptado recentemente para o cinema " E aí, Comeu?".

Esfinge

por Maria Ligia Ueno

E os meus pensamentos voam longe, feito andorinhas, tentando adivinhar os meus futuros conforme esbarro nas encruzilhadas da vida. Mas assim como uma andorinha não faz verão, cada um que se passa na minha cabeça não me toma. E a minha mente continua seu passeio pelas possibilidades, pelas catástrofes e pelos jardins. E a minha mente continua seu passeio, sem a paciência de outrora, com medo da pressa imperfeita, com medo dos monstros que me espreitam, com medo dos cacos da flor de vidro que derrubei no chão. E a minha mente continua seu passeio, entre os arranha-céus que construí com orgulho na minha cidade imaginária, entre as casas modestas no campo em que eu reservava para meu refúgio, entre o lago de carpas brancas e laranjas que retinham minhas lágrimas.

E os meus pensamentos voam longe, como um balão de ar quente que testa as correntes do vento, deixando-me testar pelo pelos meus sonhos, meus desejos e meus objetivos. E como um castelo de cartas desmoronado, causam-me o riso. Não posso controlar o incontrolável, não posso pedir o impedível, não posso querer que tudo seja como era antes. Aliás, sequer quero como era antes, eu gostaria que fosse como eu desejava antes.

E os meus pensamentos cavam a terra, a fim de me enterrar consigo.  Mas por outro lado, constroem um morro com a terra cavada, no qual me habilito a subir e a enxergar o mundo com um otimismo nunca antes permitido. O céu está lindo hoje, cheio de nuvens para lembrar como é boa a incerteza.

E os meus pensamentos se cansaram de tanto andar, de tanto rodar em círculos sem chegar a lugar nenhum, como se fossem ponteiros de relógios que repetem a vida toda os mesmos números, e o mesmo compasso.

E neste compasso continuo tentando achar lugar nenhum, ou algum, seja para me esconder das conclusões que me passam pela cabeça, seja para me afugentar nas conclusões que chegam à tua cabeça.

E os meus pensamentos são como porcos-espinho, desses que com cuidado e paciência se consegue tocar o coração, mas que com brutalidade apenas te ferirão. É o caso famoso da flor que se transformou em porco-espinho, quando Dr. Jekyll deixou sua poção cair na jardineira. Esse porco-espinho que se tornou minha mente é uma verdadeira esfinge: decifra-me ou devoro-te.