terça-feira, maio 31

Há muito tempo atrás

quando os relâmpagos rasgaram o céu e cuspiram clarões por sobre Pedreiras a cidade já dormia. em poucas horas as águas salivaram os rebocos das casas e subiram pelas ruas e quintais, a lua refletida escorria  caminhos de desepero. o pai, vigilante saltou da rede e com a lamparina acordou toda a família. com os olhos silenciosos e sonolentos todos entraram na canoa. um saco com as roupas. quase três panelas e dois bancos de madeira. nada ficava para trás. apenas o fogão de barro, memórias do fogo, certeza de uma nova enchente. a canoa deslizou por sobre o mearim. as crianças se protegiam do vento presas à saia da mãe, enquanto o pai com o cigarro na mão insistia em criar nuvens  claras que não trouxessem mais chuvas. isso foi há muito tempo atrás ... no ano de 2015...


Elizeu Cardoso

A ordem agora é sublimar

Diante do que hoje estamos vivendo, a banalização de tudo, das relações pessoais, dos sentimentos, das atitudes e da falta dela. A ordem agora, meus amigos é sublimar. Vamos sublimar as greves que não deram certo, (ai estou falando dos meus companheiros, professores, dos rodoviários, dos policiais), o descaso com as ruas sem asfalto de São Luis. Vamos sublimar a selvageria, a barbárie dos passageiros que correm feitos loucos atrás dos ônibus entupidos de gente, que nem cabe meu pé doente. Vamos sublimar a falta de livros, computadores, e falta de interesse nas escolas. Vamos sublimar nossos alunos que coitados, não tem culpa da desordem do sistema e que ficam nas carteiras á ver navios. Vamos sublimar o Governo aristocrata sem Governo, a prefeitura que desmorona os “Castelos”. Vamos sublimar os impostos: IPTU, IPVA, IPI e tantos outros I, que o dinheiro não chega para pagar. Vamos sublimar o amor que não deu certo, o casamento infeliz, o beijo não dado, o sexo não feito. Vamos sublimar as filas nos bancos, no ponto de ônibus, no restaurante. Vamos sublimar os carros parados em engarrafamentos, os motoristas irresponsáveis que bebem e causam acidentes. Vamos sublimar o chefe que não entende o atraso às 7.00 por conta do transporte que está em greve, ou que simplesmente, não passa. Vamos sublimar!

Misantropia


Na verdade vou falar sobre a solidão e não sobre a aversão as pessoas (misantropia), mas é que ambos são bastante confundidos. Você está um dia a fim de ficar sozinho no seu quarto com música ou sem música ou sei lá. Resumindo: só. E lá vêm os parentes, ou os amigos ou o companheiro reclamando:
“ o que esta acontecendo com você?”
“ você está doente?”
“ ele tá doido.”
" sai dessa amigo!Reage."
E aí você muitas vezes, não sabe nem o que responder ou não está nem com vontade ou diz:
“to lendo um livro”
“to pensando na vida”
“sou poeta”
“to vendo o teto”
“não é nada não"
Como há uma estranheza bruta com esse ato como, por exemplo, na masturbação. Conheço gente que foi parar num psiquiatra e saiu com uma receita de antidepressivo nas mãos. Ou foi fazer terapia com psicólogo. Ou até bater um ecg, ressonância magnética, tomografia computorizada da cabeça. Ou, até pior, ir pra uma igreja.
Solidão não é bicho de sete cabeças ou doença, é  um sentimento necessário. Que digam os filósofos ou Vinicius de Moraes.
Oh cumpade! Deixe em paz nossa solidão.

segunda-feira, maio 30

Protesto ao sono!

Hoje, só hoje, não quero dormir. Quero exaurir a madrugada com meus monólogos internos. Da minha cama palco, dos fantasmas platéia, do pensamento meu discurso. Me recuso a encerrar as pálpebras como se findasse o espetáculo. Que se mantenham abertas as cortinas, para na penumbra declamar ... Ode ao Silêncio, quero me libertar!

Alice Nascimento


Foto cedida por Lívia Parente em uma de suas apresentações
Simplesmente, Deslumbrante!

Não aceito propaganda de opções sexuais

Por Luciene Galvão*

Eis a frase enunciada pela presidente Dilma Roussef para justificar o motivo pelo qual o vídeo que compõe o kit anti-homofobia é inadequado para ser trabalhado nas escolas brasileiras. O que fica subentendido é que adequado é engolirmos a noção de que somos todos iguais e, portanto, temos os mesmos comportamentos, desejos e prazeres. Apropriado é o silenciamento institucional diante de tanta agressão e discriminação. E mais adequado ainda é viver em um Estado laico e ver as discussões nessa esfera (alguém se lembra da discussão sobre o aborto na época das eleições?) serem submetidas ao crivo religioso e das barganhas políticas.
Ainda achamos que o mais importante é discutir quem é melhor remunerado no mercado de trabalho? Quem lava louça, arruma a casa ou cuida das crianças? Quem fica por cima na hora H? O sexo é somente aquilo que temos entre as pernas e que define lugares? O que acontece se ele for uma forma de criar nossos corpos? De dar sentido e coerência a eles?
Se assim for, gostaria muito de discutir a quem não é permitido sequer ser homem ou mulher. Vamos falar sobre as pessoas (e com as pessoas) que buscam construir seus corpos diariamente para serem vistas como mais humanas. Delas (e com elas) que se tornam “invisíveis” e sem direitos para a educação, a saúde, a assistência social... e a maioria de nossas políticas públicas. E nos questionar o que nos leva a achar que vaginas e pênis decidem, por nós, sobre como devemos ser e a quem devemos amar. E não aceito propaganda de opções sexuais!

*Formada em psicologia pela UFMA.

domingo, maio 29

Reminiscências de uma inesquecível companhia.

Ainda lembro quando ela estava por aqui, tudo que aprendi sobre a vida ela quem me ensinou, ela com seu brilho e suas várias histórias, o sentido de bem e mal não foram meus pais, muito menos outro parente próximo quem me ensinou e sim ela, todos nós aqui em casa buscávamos seus conselhos, como um oráculo ela tirava as dúvidas, nos indicava os caminhos a percorrer, ela esteve entre nós nos momentos mais difíceis e também nos momentos mais alegres, nas festas de fim de ano, no carnaval, nos aniversários. Em certos momentos tudo girava em torno de sua presença, na infância esteve junto de mim quando minha mãe me curava a febre com chá e bolachas cream cracker, na adolescência ela foi testemunha do primeiro beijo que roubei no sofá da sala, na chegada do meu primeiro violão, dos livros amontoados ali próximo, pode observar a chegada do meu filho na família, testemunhar seus primeiros passos ao redor da mesa de centro. Hoje é um dia triste perdemos um ente muito querido, hoje pela manhã ela não iluminou mais nossas retinas com o colorido de suas imagens e seus vários diálogos em assuntos direcionados a nossa escolha. hoje por volta das onze da amanhã recebemos a ligação do técnico de eletrônica, nos informando a morte de nossa tão querida televisão de 20 polegadas. 

James Jamerson

Por Eduardo Monteiro

Eu, meu baixo, um método de contrabaixo aberto e as faixas no computador. Exercícios legais, alguns bem difíceis... lá pelo exercício setenta e dois os sinos tocam, ou melhor, ouço uma linha do James Jamerson. Os leitores baixistas devem conhecê-lo, mas, para quem nunca ouviu falar, posso apresentá-lo utilizando a primeira coisa que me vem à cabeça quando ouço seu nome: “My Girl” do Temptations. Essa faixa, que já foi cantada no chuveiro, dançada na sala e balbuciada em diversas outras situações, foi e ainda é um grande hit, um clássico, parte desse sucesso pode ser atribuída a essa linha envolvente criada pelo grande James, que também tocou com nomes como Steve Wonder, Marvin Gaye e Jackson Five, deixando a sua marca em canções que não nos saem da cabeça.

Deixo-os, não com o clipe da música, mas com um dos milhões de admiradores do James tocando “My Girl” (ah, é claro que você lembra do filme “Meu primeiro amor”, pois é):



O Decadentismo



Por Cris Lima

Em meio às transformações socais e econômicas que o mundo atravessava no período conhecido como fin-du-siècle, o declínio do império, sobretudo na França e na Inglaterra e ascensão de uma classe ávida por poder e prestígio social, a burguesia, surge uma estética sem preocupação em defender algum lema, sem fazer algum tipo de revolução, o Decadentismo.
Os decadentistas, como foram chamados os escritores desse período finissecular, acreditavam que a sociedade francesa e inglesa passavam por um período de decadência, declínio, mas na verdade o mundo por inteiro encontrava-se mergulhado por uma onda de pessimismo, frente ao um novo século que vinha surgindo. Inúmeras modificações no cenário das grandes cidades como Paris e Londres faziam-se notar, o que fez com que intelectuais como Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Mallarmé, Oscar Wilde, D’Annunzio, entre outros, começassem a criticar o modo como a vida social se tornava cada vez mais artificial.
As transformações que ocorreram nas metrópoles foram os balés, as casas de ópera, os bordéis, os bulevares, lugares do divertimento e do prazer. Tais mudanças, também se fizeram notar aqui no Brasil no inicio do século XX, a chamada “Belle Époque Tropical”. O Rio de Janeiro, capital da república, foi um espaço bastante retratado por nossos artistas decadentistas, entre eles: João do Rio, um representante singular dentro da estética decadentista. Da mesma forma que aristocracia francesa e inglesa encontravam-se em ruína, a brasileira também não estava diferente, a sociedade carioca começava a experimentar do progresso com a industrialização e a democracia.

Em outro momento trarei mais informações sobre o Decadentismo, mas abaixo indicarei alguns autores sobre o assunto para quem se interessar:

BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade.Org: Teixeira Coelho Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas III: Charles Baudelaire: Um Lírico no Auge do Capitalismo. 3 ed. – São Paulo Editora brasiliense,2000.
PRAZ, Mario. A carne, a morte e o diabo na literatura romântica; Trad: Philadelpho Menezes. Campinas, SP: Unicamp. 1996.

sábado, maio 28

Um amiguinho Norte-Americano

Na minha infância no bairro do Filipinho sempre nas férias viam crianças norte-americanas. Eu e meu amigo Rogério fizemos amizade com um deles. Ele nos ensinava a jogar futebol americano e também jogávamos futebol brasileiro ou nossa pelada ou o já globalizado video game. Me lembro que a gente uma vez mostrou pra ele a favela da Redenção que ficava paralela ao bairro. “Isso é o Brasil”. Falávamos algo do tipo. Ele ficava assustado. Nós crescemos o mundo deu muitas voltas eu virei enfermeiro meu amigo Rogério tá estudando música e nosso amiguinho norte – americano virou soldado. E pelas útimas noticias a caminho de uma batalha no oriente médio. Mais um soldado anônimo crazy.
Termino esse texto com uma letra do Arnaldo Antunes:


Saiba: todo mundo foi neném
Einstein, Freud e Platão também
Hitler, Bush e Sadam Hussein
Quem tem grana e quem não tem

Saiba: todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
e também você e eu

Saiba: todo mundo teve medo
Mesmo que seja segredo
Nietzsche e Simone de Beauvoir
Fernandinho Beira-Mar

Saiba: todo mundo vai morrer
Presidente, general ou rei
Anglo-saxão ou muçulmano
Todo e qualquer ser humano

Saiba: todo mundo teve pai
Quem já foi e quem ainda vai
Lao Tsé Moisés Ramsés Pelé
Ghandi, Mike Tyson, Salomé
Saiba: todo mundo teve mãe
Índios, africanos e alemães
Nero, Che Guevara, Pinochet
e também eu e você

Novo conceito: Tecnodemagogia


Quatro paredes abandonadas pelo descaso. Luz fracionada, natural, que invade o espaço esmagada entre as telhas. Ventilação? Quando em surto alguém corre. No recreio? Não, não há espaço para recreio, esse intervalo é furtado dos alunos, mas para pegar a borracha emprestada ou aquela folha extirpada de algo parecido com um caderno sofrida pelos rabiscos inelegíveis quando atirada ao cesto de lixo...sim, há ventilação. Livros? Dizem que há uma Política Nacional do Livro, mas não se sabe ao certo. Ali os livros nunca chegaram. Não, minto, sim, já chegaram: foram colhidos em depósitos. Eram antigos, mofados, incompletos, três por aluno, dois por aluno, nenhum, tanto faz, eles nunca sentiram o cheiro de um livro novo, como cheiro do café passado no coador de pano, instigador de sentidos que faz o imaginário brotar uma mesa com pães frescos, bolo de milho, cuscuz e beiju...mas não, nada de ilusão, é realidade mesmo! Biblioteca? Pra quê? Quatro paredes sem alunos, sem fardas, sem cores, sem voto? E computadores? Jamais! Despertam mentes curiosas e investigativas, é melhor não ousar. Detalhe, o enfarte desse conglomerado de paredes de cimento e tijolo seria inevitável, a fiação jamais suportaria essa tecnologia.O fato é que acaba de ser aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), do Senado Federal, o projeto de lei que altera a Política Nacional do Livro, e que será votado em meados do ano. Então serão garantidos livros aos alunos? Não, isso já é, ou deveria ser. O que muda? Em era de evolução tecnológica, onde jumentos são utilizados como bibliotecas para transportar livros, caixas de papelão são improvisadas para o mesmo fim, livros nem chegam as escolas e computadores não relíquias sem conexão com internet (na maioria, grande maioria das escolas, até inexistem)... agora os E-readers, mais conhecidos como Ipad, equipamentos sofisticados, leitores de livros digitais, serão equiparados a LIVRO !!!!
                                                          
Multiplicam-se quatro paredes, multiplicam-se alunos, multiplicam-se votos, multiplicam-se espaços coletores, armazenadores chamados de escola. Inova-se no conceito: tecnodemagogia! 

sexta-feira, maio 27

UFMA

Alguns dos contribuintes do .continuando se formaram nesta universidade e com certeza tiveram influência de seus professores e daquele mundo e ganham dindim com o diploma. É de dar dó e nó na garganta de como se encontra a estrutura da universidade hoje e a complacência dos professores e funcionários. A indignação dos atuais estudantes com a gestão do doutor tecnocrata Natalino Salgado estão nas suas bocas . Gente é só ir lá e bater um papo na imensa fila do RU com eles. Com um DCE cooptado pela reitoria e por isso conivente que só faz horríveis caloradas e vestir a camisa de uma ótima malha do reitor para sua campanha de releição. Abaixo segue um vídeo do Jornal da Globo expondo um pouco do que tá acontecendo.

quinta-feira, maio 26

Guie-me à vida

Procuro desesperadamente um guia. Não sei se pessoa ou mapa, algo que me apresente à vida. Que junto a mim faça projetos e que sejam executados e registrados na certeza que passei pela vida! Quero ver o calor do reagge e das pessoas que ali se misturam, as umbigadas entre tambores, o bater das matracas e o esquentar dos pandeirões, ver o dia amanhecer ouvindo poesias, acender uma fogueira na praia ao som de um violão – quem sabe até aprenda a tocar violão, pode ser uma só música, ou várias -, sentar debaixo de uma mangueira e ouvircausos ou comer juçara batendo papo furado. Quero botar o pé no chão, andar descalça nas calçadas das casas do interior, ou quem sabe tentar malabaristicamente andar no meio fio das calçadas, como fazia quando criança, mas sem ousar furtar manga da casa do vizinho pra comer com sal e pimenta do reino, pois as asas dissolveram-se com o tempo, nem pegar sorrateiramente aquelas laranjas enormes que abríamos com as mãos para comer aos gomos das barrigudeiras, essas, já não existem mais, ou até mesmo, descer escorregando morro abaixo engolindo terra e rasgando as roupas e a pele nas pedras - Não havia dor mais deliciosa do que aquela! Quero sentir o cheiro da chuva e da terra molhada, catar canapun na beira das estradas, visitar feirinhas com gente de verdade, comer milho cozido enrolado na palha, bolo de tapioca frito com café preto entre uma conversa e outra, sentir o calor humano das pessoas entre cores, cheiros. Quero levar comigo  uma rede para nas viagens embalar meus sonhos conhecendo também novos escritores e canções. Quero conhecer os interiores e seus moradores... conversar, infinitamente conversar, ver a vida sob os meus olhos e o olhar deles e então... respirar a vida, experimentá-la, brincar e chorar com ela...observar o humano e o desumano...questioná-los até alcançar o mundo: cidades que ainda não fui, países que ainda não conheci... cultura... arte... Sim, eu preciso de um guia! 

Talvez, sejam os meus próprios pés!


Alice Almeida Nascimento


Meu tempo? meu tempo é agora.

Para Priscila e a todos os anjos de olhos vermelhos.
Faz dias que não saio de casa. São estranhos esses dias, esse meio brilho, esse sorriso escondido por detrás dos olhares, tudo isso me causa frio e náusea, por quanto tempo? E aí vejo todos vocês surgindo e desaparecendo nessa rota quase sempre sem rastro e o fato de nós estarmos aqui, ali, além, não chama a atenção de vocês? Afinal quem somos todos nós ali comungando o mesmo gole seco desse tácito veneno. Que fazia eu ali na discrepância daquele dia vestida de ouro? Naquela esquina escondendo minha dor ou deixando que ela escapasse por entre meus dentes, entre a minha língua e a fumaça de um cigarro amassado por esse espaço que compreende o último abraço que trocamos.
Faz dias que não falo uma palavra sequer, faz dias que sequer me exaspero num devaneio qualquer, são dias estranhos, diferente dos estranhos dias de outros anos, compreenda, na piscadela dos nossos olhos eles pariram crises, produziram vírus, roubaram nossas crianças, forjaram um golpe de estado, trancaram nossos sonhos, e onde estávamos quando eles nos seus joguinhos estratégicos traçavam o destino de nossas almas, onde eu estava? Onde estavam vocês? Numa esquina qualquer vendendo barato nosso tempo com coisas supérfluas, com palavras ao vento, ou acendendo o brilho de nossos olhos de forma forçada, quando eles deviam brilhar involuntariamente brotando a lágrima que não se compra em lugar nenhum.
Faz dias que ando em círculos, feito uma cadela no cio em busca desse abrigo, dessa ventura, por quanto tempo esperar que essa chuva passe e os girassóis devolvam a graça roubada pelos estranhos dias, mas olhem, nada é para sempre, por que o tempo, o tempo não para! E eu não espero que alguém me faça algo ou invente uma trapaça, e também não vou ficar aqui esperando por nossa desgraça, minha juventude é ouro, ser jovem é massa! Se quiser me seguir me siga, se quer desistir desista, antes que seja tarde, por que não ando com covarde, essa amizade eu jogo fora porque meu tempo brother, meu tempo é agora!
Natam Castro

Para um brasileiro que sonhava ser feliz

era uma vez um brasileiro
dois  olhos assustados no mundo
três bancos rodeavam a mesa
quatro bocas choravam ao mesmo tempo
cinco pediam caderno e lápis
seis batiam no prato vazio
sete palmos. o coração enguiça
sete dias. a missa
oito...
nove...
dez...iguais a ele

elizeu cardoso

Deixem nossas florestas em paz




Por Marcio Romero, de Campinas-SP. *

Temos o hábito de julgar nossa geração superior às gerações anteriores, principalmente quando se trata de ciência e tecnologia. Em relação à nossa visão sobre o meio ambiente também não é diferente, temos acompanhado um avanço mundial no modo como o homem se vê perante à natureza. Antigamente o homem considerava-se superior aos outros seres vivos e por causa disso considerava-se no direito de explorá-los o quanto desejasse. Atualmente parece haver uma consciência de dependência mútua entre o homem e o ambiente, onde se um lado perde o outro perde também. 

Porém, no Brasil, parece que a consciência ambiental da geração dos nossos atuais políticos é mais atrasada do que dos nossos antigos políticos. A nossa atual legislação sobre o uso de florestas criado em 1965 é de longe muito superior à nova legislação que estão querendo implementar. Enquanto o mundo caminha em direção à preservação e reconstituição das matas, os políticos do Brasil querem legalizar o desmatamento irregular feito até julho de 2008 sobre vegetação às margens de rios, topos de morros, e encostas. E como se não bastasse, perdoar as multas a proprietários de terras nessas áreas que não cumpriram a lei e isentá-los do reflorestamento. Ou seja, quem não cumpriu a lei no passado estará perdoado.

Por essa lógica quem não cumprir a nova lei será perdoado daqui a alguns anos.A verdadeira razão desta mudança é que muitos dos deputados que querem a alteração no código florestal, chamados de ruralistas, são plantadores de soja, café, cana-de-açucar e criadores de gado. E a maioria está em desacordo com a legislação ambiental. Com a aprovação do novo código florestal eles passarão da ilegalidade para a legalidade, não terão que pagar suas multas milionárias e estarão livres de suas obrigações com reflorestamento.
Por causa do interesse de poucos o Brasil caminha rumo ao desenvolvimento insustentável e desastres ambientais, como ocorreram em Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo. E justamente no ano de 2011, quando o mundo inteiro está celebrando o ano internacional das florestas.
       
* Biólogo e Mestre em Ecologia pela Unicamp.                                                                                                                                         

O que querem de fato as mulheres?

Pergunta tão questionada por Freud e por tantos outros homens em busca de entender este “universo misterioso” que é ser mulher. O que queremos? O que buscamos? Qual será nossa felicidade?
Rita Lee diz em sua música: Mulher é bicho esquisito sangra todo mês. Desculpe-me cara, Rita Lee, vou discordar um pouco de você. Mulher não é um bicho esquisito, e nem tem fases. Não somos luas! Nós mulheres queremos coisas simples. Queremos que numa tarde de sábado após fazer amor e perguntar ao nosso companheiro, (ai entra todo tipo de sinônimo), porque ele nos ama e não e ele diz simplesmente; Amo você porque amo. Ora! Queremos quando estivemos na tal da TPM, com o corpo inchado, o seios mal cabendo no sutiã e proferimos aquela frase que todo mulher diz: Meu bem, to uma baleia! E ele não diz nada ou então diz: Isto é coisa da tua cabeça. Queremos que ele diga: Meu amor, eu te amo e te admiro assim mesmo, minha baleiazinha!. Queremos ter alguém que no final do dia ligue para perguntar como foi o dia. Queremos ainda ser meretrizes para nossos maridos, namorados, amantes, (enfim, falei ainda pouco cabe aqui todos os sinônimos), e ao mesmo tempo santas. Queremos ser todas as mulheres, de Cleópatra á Dilma Rousseff. Queremos ser várias mulheres para um único homem. O problema é que os homens querem todas as mulheres. Não uma multi-woman.
Não precisamos ser decifradas, adivinhadas. Ei, queremos ser amadas unicamente. Queremos preparar almoços, jantares, lanches, mas queremos discutir Filosofia, Matemática, Literatura, Cinema, Economia e falar de novelas. Por que não? Queremos ser mães e ao mesmo tempo amantes, amigas. Queremos comprar lingerie não só para agradas aos homens, mas para nos sentimos desejadas, “gostosas”. Queremos sexo oral em toda relação. Não queremos pedir! Queremos que façam. E respeitem quando não queremos fazer o mesmo. Queremos que compreendam que ás vezes queremos só namorar, só ir ao cinema, tomar sorvete, ser tocadas no cabelo e escutar: Meu bem, suas unhas estão tão bonitas!
Queremos ainda mais ser respeitadas, quando não mais queremos uma relação e dizemos NÃO, sem precisar correr o risco de sermos violentadas, machucadas ou o pior, mortas por nossos namorados, maridos ou amantes. Não somos misteriosas, esfinges, ou medusas, temos sim um lado místico, como diz Clarissa Pinkola Èstes em seu livro: Mulheres que correm com os lobos, temos um self selvagem, uma ligação forte com a natureza, temos um sexto, um sétimo ou sei lá quantos sentidos, mas não somos bruxas. Queremos somente nos sentir plenas, queremos nos sentir felizes, queremos ser Mulheres. Talvez para resumir o que de fato nós mulheres queremos eu tentaria ilustrar como a imagem de um livro que li há tempos atrás de Marylin French: Mulheres

quarta-feira, maio 25

Quelle Folie!


Venho discutindo com os poetas Cris e Natan certas contradições que venho notando em artistas que produzem coisas tão delicadas e sensíveis como, por exemplo, a compositora Carla Bruni casada com o presidente da França de direita Nicolas Sarkosy que não é de se estranhar apoia a politica sanguinária e mentirosa anti-terrorista dos norte-americanos ou seu tratamento no departamento ultra-mar da Guiana Francesa (que tout le monde sabe que é uma colônia de exploração) com os índios serem obrigados a falar francês em vez de sua língua ou sua politica racista contra imigrantes.
É como se o compositor pinherense Eliseu Cardoso jantasse com o senador também pinherense José Sarney na beira do rio Pericumã e depois tocasse uma de suas belas canções de barriga cheia e sabendo que o Maranhão novamente é o pior IDH do Brasil e além ter lido Honorários Bandidos.
Me pergunto se não rola uma crise existencial com esse tipo de artista. Será que a angústia de Nauro Machado não nasceu com sua amizade com José Sarney? Tô imaginando Nelson Rodrigues tendo pesadelos horríveis com os gritos dos torturados nos porões da ditadura militar que ele simpatizava. Em falar em ditadura militar vamos assinar a Campanha da Memória e da Verdade da OABRJ para abrir os arquivos. Que iniciativa massa!
Segue o link abaixo:

Diego Pires

fotografias do dia

Uma caneta multicolorida
Para descrever sentimentos kamikazes
Em verbos SOS.
Esquinas prostituídas.
Mãos calejadas.
Monóxido de carbono enfeitando os dias.
Ver o céu vermelho.
Batidas ritmadas da vida perdida.
Milhões de versos japoneses em nossas cabeças.
Chuvas de sapos na terra estia do Maranhão.
O guaraná do teu corpo
Vernificados em tristes passeios.
Orquestra de celulares Nokia
Num ônibus velho.
Caixa de bombons:
Halls Big-Big Jujuba
Aceno negativo de dedos.
O medo rasga a angústia do olhar
Molhado do desamparo.
Dói ter a imagem do pé podre
A água suja que pinga, pinga, pinga
Na porta do Banco do Brasil.
Coca-cola bem gelada com limão
Para esquecer o que as retinas fotografam todos os dias.

cris lima

Angustiados

P/ o poeta Nauro Machado
Houve um tempo, mas não há muito tempo, que cruzava veloz as ruas do Centro. Sol, Paz, Afogados e Praça João Lisboa no estardalhaço dos pombos brancos, pardos, pretos e no bronze austero do buço de estranhos falecidos notáveis e chegava talvez na beira-mar. As pernas velozes me levavam batendo com outras pernas de estudantes, trabalhadores, mendigos, compradores, vendedores ambulantes e todo inferno de gentes como eu e mais um velho de chapéu de coco vestido com calça de linho - bem atípico para os coloridos das gentes - de barba grisalha e olhos profundos, muitos profundos segurando um guarda-chuva preto, como se a qualquer tempo pudesse abrí-lo pra se proteger do seu céu menstruando deus, mas sem seu simbolismo, era em razão do sol ou da chuva sazonal da ilha. E assim de tanto nos cruzar. Cúmplices. Inclinávamos a cabeça e um modesto aceno. E nos perdíamos novamente naquele inferno de gentes e ruas - Afogados, Sol, Paz e Praça João Lisboa, vendedores ambulantes, mendigos, estudantes, trabalhadores e no estardalhaço dos pombos brancos, pretos, pardos e no busto austero bronze de falecidos notáveis estranhos e talvez chegava na beira-mar de novo.

O mundo dos dois homens

haviam dois homens...
um era corrupto e outro não sabia
haviam dois homens
um se candidatou e o outro votou
haviam dois homens
um exigia, o outro obedecia
simplesmente por acreditar
que no mundo
existiam apenas dois homens



2012: ficção ou realidade?

Hoje como de costume tomei meu café e liguei a televisão, procurei algo interessante para assistir e me deparei com filme 2012 passando no canal HBO. Confesso que não sou muito fã deste tipo de gênero: Ficção científica, mas resolvi assistir.
Com o passar das imagens algo me ocorria, ou melhor, algo que me era muito familiar acontecia. Aquelas cenas catastróficas, apocalípticas, anúncios do fim dos tempos me fazia recordar os desastres naturais que vem acontecendo recentemente no mundo. Os tsumanis, os acontecidos aqui no Brasil (ei parece que fenômenos da natureza não só acontecem em outros países também temos este “privilégio”). Quantos morreram ou perderam suas casas em Santa Catarina a três anos atrás? Quantos companheiros nordestinos e, sobretudo, meus irmãos maranhenses não morreram afogados ou ficaram em cima de suas casas esperando os rios baixarem? E aqueles que não tiveram tempo de sair de suas casas e aqueles que em seus olhos só refletiram sofrimento, dor, desastre, como numa tela de cinema?

Campinas-SP


Morei numa república de estudantes em Campinas. Terra que, por exemplo, adotou o compositor maranhense Zeca Baleiro e onde em umas de suas cachoeiras o escritor paulista Marcelo Rubens Paiva fraturou uma vértebra cervical num pulo dando origem ao livro “Feliz Ano Velho” e além de antigos grandes barões cafeeiros como Barão Geraldo.  Fui pra lá tentar entrar num mestrado na Unicamp, uma das melhores universidades do Brasil segundo dizem por aí. Dividia a república com hermanos colombianos, paulistas e meu amigo maranhense do tempo de colegial. Mas não quero falar do individualismo e arrogância dos paulistas ou de sua fixação por trabalhar e seu medo de ser assaltados e os cafés expressos e sequestros relâmpagos ou jovens universitários cantando rock roll americano dentro de um pub ou então de ser uma cidade cosmopólita com belas praças arborizadas. Quero falar de outra coisa: um fato que me deixou literalmente mudo. Almoçava num restaurante tailandês quando um homem acompanhado de uma mulher e uma criança chegaram na entrada e começaram a pedir trocados para comer. Os reconheci imediatamente pelo acento “cantado” as roupas e a modéstia ao estender as mãos. Eram nordestinos como eu comedores de farinha de mandioca. Só que com outras pretensões naquelas bandas frias do sudeste, mas talvez com a mesma desilusão com sua terra natal. Dali não conseguir engolir mais nada e sair. Caminhões sujos parados do nordeste os trouxeram. Meninos eu vi! A diáspora ainda continua, né josé, pedro, carlos, joão, aurelio, purcina, mateus, eloy, marcio, cris, igor, licia, marcos, elizeu, fátima, maria, graça, paulo, helena...  ?
diego pires