segunda-feira, outubro 15

UFA!


Quando entrei na universidade
Escrevi essa crônica.


Que ironia. Torturei-me horas da minha vida esquentando bunda no banco da escola, do cursinho, de casa. Estudando fórmulas matemáticas, reações químicas, guerras mundiais, o reino animal e o diabo escambal! Pra entrar no sonho de todos os pais com seus filhos: a universidade pública. E agora corro em direção a parada do busão em ritmo de maratona equilibrando os enormes livros que peguei hoje na biblioteca pra disputar uma vaga no transporte coletivo. Faço sinal e pulo na escada com ele já em movimento. É que o motora não tem muita paciência. Ufa!

Agora tenho que sentar. Descansar os músculos do corpo fedido. Mas como? Se são Trinta e cinco bancos e eu já devo ser o centésimo a subir. O busão esta hiper-lotado. Olho para o pára-brisa cheio de adesivos descolorados do sol. E me prendo a um deles que esta escrito: QUEM NÃO TEM CÃO CAÇA COM GATO. Reflito alguns segundos. Os degraus são tão duros pra pôr à bunda. E como minha coluna dói. Sentei. Ufa!

O monstro barulhento de ferro e aço corre o asfalto esburacado. Treme mais que motor de geladeira de asilo. Como é difícil respirar aqui dentro. Hei amigo da pra abrir o vidro?O cara me olha com fisionomia de que fiz pergunta de idiota e resmunga que ta tudo travado. Sinto uma coisa molenga esfregando em minhas costas. Giro a cabeça. É uma enorme barriga tentando achar um espaço inexistente dentro do busão. O dono da barriga constrangido olhando de cima pra baixo me pede calma. Ufa! Acabei de comprovar uma lei de Newton.

Chegamos a quinta parada. Um terço da galera desceu. Como o ar melhorou. Já dar pra respirar fundo. Levantar os Braços. Esticar as pernas...Uma miragem!


Um banco vazio


Ao seu lado esta escrito em negrito e caixa alta: RESERVADO PRA IDOSOS E GESTANTES. Minha opinião é que estou muito cansado e não vejo ninguém com a barriga grande ou com mais de 50 anos (qual a idade de um idoso?). Agora sento. Ufa!

Décima parada. Sobe um velho que mau se equilibra nas pernas. Finjo que não percebo. Mas tá todo mundo olhando pra mim. Uns riem do meu papel de otário. Outros fazem cara tipo: o que esta esperando. Dou uma cutucada no velho e peço pra ele sentar no meu lugar. Ele agradece e diz que deus é pai. Alegria de pobre dura pouca. Mas pelo menos fiz uma boa ação. Um pouco forçada admito. Ufa!
           
Olha pro outro lado da roleta. Nem um banco vazio. Mas tem uma linda garota linda, loira, óculos escuros, e... Sentada! Vou passar e ficar perto dela pra ela se compadecer e peça os livros. Eta! Meu deus do céu!Cadê meu passe e minha carteira de estudante? Como é difícil achar a coisas quando procuramos. No bolso esquerdo não tá. No direito também. No de trás também. A cobradora já fecha a cara. Já sei! No bolso da camisa. Ufa!
             
A garota nem percebe minha presença e a agonia com os livros. Estou me envergando. Daqui a um tempo estou como o corcunda de Notre Dame. O ônibus dá uma freada violenta. Calculo Um, Cálculo Dois desabam sobre o colo dela. Xingo o motora. Filho da P****! Desgraçado! Peço um milhão de desculpas a garota. A culpa não foi minha. E ela diz bufando de raiva que não foi nada. Ufa! Acho que ela não vai me dar seu Orkut.         

Tempos Modernos.



Hoje em dia, com o avanço da tecnologia, a necessidade de informação rápida e a banalização do desrespeito ao espaço pessoal alheio, acabam criando algumas situações que há bem pouco tempo não eram comuns no nosso dia a dia. O celular, por exemplo. Antigamente as pessoas só eram encontradas no trabalho ou em casa, através dos quase hoje extintos telefones fixos. Se havia alguma emergência, não tinha jeito, tinha que esperar a pessoa estar em algum lugar com telefone pra poder ligar para ela e tratar do assunto.

Mas com o advento da telefonia móvel, a pessoa pode facilmente ser contatada em qualquer lugar e de lá mesmo resolver os tais problemas urgentes ou somente bater papo.
mas aí é que está o problema, é que quando se diz 'qualquer lugar' quer dizer 'qualquer lugar mesmo'. Na rua, restaurante, escola, mercado, ônibus e até no banheiro. Digo isso porque certa vez eu estava no banheiro aqui da empresa e notei que de dentro de um dos boxes, alguém (entre alguns gemidos forçados e espremidos e outro) travava uma discussão acalorada com outra pessoa do outro lado da linha... Será que os assuntos de hoje em dia não podem nem esperar a pessoa terminar de cag... bom, de ter seu momento consigo mesmo em paz?

No ônibus então, é outro desastre. Sem contar aqueles ‘sem-noção’, metidos a Dj's de gosto musical pra lá de duvidoso que colocam seus celulares “xing-ling's” no mais alto volume, nos impondo a escutar a contra gosto os tais "tchê-tchêrêrê-tchê-tchês" a viagem inteira. ainda tem aqueles que atendem o telefone e conversam como se estivesse sentados na sala da casa deles. falando alto, expondo intimidades que não competem aos outros passageiros do coletivo participarem... outro dia levei um susto quando uma mulher, creio que irritada por a outra pessoa na linha não entender o que ela dizia, gritou "- OS OVOS, FULANA, ..ATÉ OS OVOS!!" várias cabeças viraram em direção à mulher ao telefone, muitas dessas imaginado nos ovos de quem, que ela estava falando. Sei lá! Prefiro pensar (apesar de não ter ouvido o contexto do assunto) que ela estaria falando que tudo hoje em dia estava caro.. "Até os ovos"....

Por essas e por outras é que não atendo telefone no ônibus. Prefiro enviar mensagens de texto, e ficar rindo sozinho ao ler as respostas dos meus papos virtuais e silenciosos, enquanto tento disfarçadamente esconder o visor das vistas do passageiro ao lado que de pescoço e olhos compridos, tenta ver o que tanto leio e escrevo no meu celular.