domingo, dezembro 18

VASCO DA GAMA - 2011: Ano da Ressurreição


                                        
Símbolo do Clube de Regatas Vasco da Gama.
Esse ano foi marcado pela superação e ressurgimento de um dos melhores e tradicionais clubes do Brasil, o Clube de Regatas Vasco da Gama, fundado no dia 21 de agosto de 1898 em homenagem ao grande navegante português do mesmo nome, com uma história lindíssima podendo causa inveja a qualquer grande clube, a começar foi o 1º do país a ter os jogadores negros no seleto de jogadores, causando a ira dos outros clubes que eram dirigidas pelas elites do futebol carioca, no caso o Botafogo, Fluminense e Flamengo e outros, sendo assim boicotado do campeonato com a criação da nova entidade, a AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Atléticos) pelos mesmos clubes adversários citados anteriormente.



O primeiro uniforme do clube e alguns jogadores negros na foto.
Devido a esse gesto de nobreza em combater o racismo no futebol na 1º metade do século XX em que a modalidade era praticamente exclusiva a elite do Rio de Janeiro com os seus clubes, o clube não se intimidou e assim com o passar dos anos construiu o seu próprio estádio com recursos próprios, donativos e ajuda de seus torcedores o São Januário, sendo o único entre os quatros grandes do Rio a ter o próprio mando de campo.



O estádio de São Januário como palco de eventos políticos, principalmente no Governo Vargas (1930-1945).

Após esse feito, o time forma um elenco imbatível conhecido como “Expresso da Vitória” na década de 40 que ganhou de forma invicta o campeonato carioca em 1945, 1947 e 1949, e campeão do Campeonato Sul-Americano em 1948 (embrião da Taça Libertadores da América) que anos mais tarde foi reconhecida pela CONMEBOL (Confederação Sul-Americana de Futebol), sendo o primeiro clube do Brasil a ser campeão continental, e com a grande campanha com o time praticamente imbatível, foi a base da seleção brasileira na Copa de 1950 no Brasil que ficou com o vice-campeonato e de forma injusta penalizou o goleiro Barbosa (que era negro) pela derrota na final por ser acusado de falhar num dos gols da equipe adversária (Uruguai). Mas o primeiro capitão a levantar a taça pelo Brasil de campeão do mundo na Copa da Suécia (1958) era jogador do Vasco (Bellini).


O time que ficou conhecido como “Expresso da Vitória” na década de 1940.

Os jogadores que fizeram o primeiro clube do Brasil a ser campeão continental (Copa Sul-Americana – embrião da Taça Libertadores nos dias atuais).

O clube que teve grandes jogadores como Roberto Dinamite, Ademir Menezes, Vavá, Romário, Giovani, Ramon, Mauro Galvão, Odvan, Juninho Pernambucano, Juninho Paulista, Felipe, Edmundo, Bebeto e muitíssimos outros. Conquistou importantes títulos como o Brasileiro (4 vezes), Libertadores e Copa Mercosul em 2000 numa virada histórica sobre o Palmeiras (3 X 4, perdendo no placar de 3 a 0 no 1º tempo) em pleno Parque Antarctica.
Após essas conquistas, o clube mergulhou num abismo que pareceu sem fim, mas durou uma década (anos 2000, a pior década) sob o comandado de Eurico Miranda, falta de grandes patrocinadores, recusa de jogadores em jogar no clube, boicote da Globo em determinados jogos, da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) com a tabela de jogos e inclusive marcar a data da final dos jogos da Copa do Brasil após a Copa do Mundo do mesmo ano podendo ser realizado antes do torneio se houvesse melhor planejamento da entidade,  jogadores que saíram com a ação na Justiça do Trabalho contra o clube e em campo os sucessivos roubos dos árbitros. E o Eurico dirigia a equipe com mãos de ferro e atacava tudo e todos (principalmente a Globo e a CBF), em virtude disso o seu desgaste e antipatia acabaram prejudicando o Vasco, que sofreu boicote e prejuízos em todas as esferas, perdendo assim a credibilidade e a o discurso dos adversários principalmente dos flamenguistas de ser “vice” por causa das sucessivas derrotas em finais, principalmente ao time citado anteriormente.
Essa crise dentro e fora do campo acabou tirando o Eurico da direção do clube e assumindo o ídolo de todos os tempos, Roberto Dinamite, mas não evitou o rebaixamento para a Série B em 2008, sendo o fruto da administração do antecessor que teve de ser reestruturado no ano seguinte para o clube voltar ao seu devido lugar.
E como de costume pelo seus torcedores, o Vasco inicia o ano perdendo para os pequenos e menos tradicionais clubes do Rio e ameaçado de rebaixamento, resultando na dispensa de um dos principais jogadores (Carlos Alberto) devido a má fase e o ato de indisciplina do mesmo, ficando em sexto lugar no Campeonato Carioca.
Mas na Copa do Brasil de forma aguerrida dos seus jogadores o clube foi à final contra o Coritiba que no momento era o mais badalado devido a sua campanha pelo estadual, a goleada aplicada sobre o Palmeiras (6 X 0) em seu mando de campo e de forma invicta foi a final. Quem não lembra o enjoado do Milton Neves da Rede Bandeirantes falando que o Coritiba era o favorito e que seria campeão, todas as emissores de rádio e TV e comentaristas praticamente apostavam no clube paranaense, desdenhando o time cruzmaltino.
Flamenguistas apostavam mais um “vice” do seu arqui-rival e torcendo pelo Coritiba, mas na decisão em dois jogos e principalmente no último o Vasco mostrou o seu verdadeiro valor com a conquista da Copa do Brasil, calando todos aqueles que não acreditavam e torciam contra.
Após o título o clube teve um grande abalo, o AVC (Acidente Vascular Cerebral) do Ricardo Gomes (treinador) durante o jogo Flamengo X Vasco no Engenhão no dia 28 de agosto, afetando o time nos jogos seguintes, e pra ressaltar, durante o atendimento médico a técnico do Vasco, o árbitro Péricles Bassols não interrompeu a partida (que está no regulamento numa situação dessas).
A recuperação inesperado do treinador por causa da gravidade do problema que levou risco de morte, deu animo ao grupo que disputou até o fim a luta pelo título do Brasileiro e a Copa Sulamericana, calando a boca daqueles que acham que os clubes não podem disputar simultaneamente os campeonatos que estiverem disputando.
Daí o clube o sentiu a força dos esquemas espúrios no futebol, não tirando o mérito dos jogadores do Sport Club Corinthians Paulista nesse ano que conquistaram o campeonato brasileiro, porque em campo a equipe demonstrou capacidade, eficiência e qualidade técnica para legitimar o favoritismo. Mas em contrapartida, o Vasco da Gama foi a equipe mais prejudicada nesse campeonato, se contarmos os pênaltis não validados que foram legítimos, gols anulados ilegitimamente, distribuição excessiva de cartões punindo os principais jogadores, enquanto isso assistimos passivamente o poderoso chefão do Ricardo Teixeira nomear o Andrés Sanches (Presidente do Corinthians) e o Ronaldo Fenômeno (sócio da Globo, do Corinthians e empresário de principais jogadores como o Neymar) para coordenarem a entidade até a Copa de 2014 em que o primeiro é pretenso sucessor do atual da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Sem falar que o futuro estádio do atual campeão brasileiro neste ano é escandalosamente financiado com o dinheiro público através do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) de quase 1 Bilhão de reais que irá sediar e fazer a abertura do primeiro da próxima copa do mundo na capital paulista.
Não há dúvidas que nos bastidores neste ano, o Flamengo e Corinthians mais uma vez foram beneficiados, a começar pela tabela que nos dois últimos jogos o Vasco, Palmeiras, São Paulo e Fluminense disputaram os clássicos, enquanto “as duas maiores torcidas” (para a Globo e Bandeirantes) enfrentaram apenas um.
O ano de 2011 foi o ano da ressurreição para o Vasco da Gama, voltamos ao nosso devido lugar, impondo o respeito a todos os adversários, e não há arbitragem (como aconteceu no jogo com o Fluminense e Flamengo) e os esquemas repugnantes que irá tirar o Gigante da Colina na disputa, isso foi demonstrado muito bem em campo por cada jogador. E tenho a certeza que em 2012 dias melhores ainda virão a São Januário. 

CARTA A ARTHUR RIMBAUD.

Foi por um lapso
Eu devia ter tirado sua foto Rimbaud
Foi ontem, sim foi ontem
Quando te vi subindo a escada volante daquele shopping
Com aquele olhar de cristal iluminando os espaços ao redor
Já fazia um certo tempo desde a última vez
Lembro muito bem da primeira
Foi nos mágicos anos noventa
Eu subia a rua de ladeira do lado esquerdo do teatro Arthur Azevedo
E você descia a Rua da Paz em direção a Praça João Lisboa
Você me parou por conta da minha camisa do Kurt Cobain
Sim Rimbaud você queria entender aquele olhar
Esse mesmo olhar que você forjou na fria Ardenas no interior da França
Olha Rimbaud naqueles dias eu andava maravilhado
Maravilhado com as coisas que você me ensinava
A Liturgia das ruas, a velha postura rebelde
Todas as histórias sobre os Símbolos
Você que conheceu Marllamé, Baudelarie, os Parnasianos
Como chegou aqui na nossa Ilha rebelde
Eu prometi ajudar e entender seus filhos
Sim seus descendentes os Hippies
Me explicou que eles não tinham culpa
Você havia desgrenhado as estradas da frança do século XIX
E eles seguiam agora quase sem destino uma certa estrada
Rimbaud naquela época eu era apenas um adolescente, um aprendiz
Você já perambulava pela 28 com um príncipe Dionisíaco
As pessoas me olhavam com um certo respeito
Era uma honra aprender com você o acesso as vias
Os sabores, aromas, os versos e as experiências
O Reviver sempre foi para você um Vortex
Depois para mim representava esse portal e muito mais coisas
Você dizia que os vultos dos nossos grandes viviam por lá
Diversas vezes Rimbaud eu vi você chorando ao lado dos mendigos
Abraçados com miseráveis eu chegava a ver suas asas de anjo
Essas mesmas asas que acalentavam aquelas dores
Hoje Rimbaud sou apenas um mero escritor
Envolto no dia a dia da administração de valores, sistemas e vidas
Se você me visse ia sorrir da minha gravata
Da minha indumentária de homem de negócios
Mas é na solidão do meu quarto
Quando leio as tuas Iluminuras que me ponho a chorar
E a ter certeza que aqueles versos desvendaram a mim o mundo
E que esses mesmos versos estarão comigo para sempre.
Me lembrando que a poesia, a música, a arte eu nunca poderei abandonar.

quinta-feira, dezembro 15

braços finos e seios nasCENDO

Fim da tarde. 
Parada de ônibus. Escarcéu, céu azul sem nuvens, gente suada, chicletes na boca, secundaristas, Bel, Cacá, Marcelo, Maneco, um careta oferecido por não sei quem.  O ônibus parou. Algumas dezenas entraram. Lotado como sempre. O motorista acelerou. Cacá pegou um batom vermelho da bolsa de Bel. Marcelo e Bel ficaram no fundo em pé. Não falavam muito. Além do banal. Oi. Ficou de recuperação? Marcelo curtia seus longos cabelos loiros, a magreza de modelo e a coluna empinada. Todos na escola apaixonado por ela. E ele somente mais um. Lado a lado no fundão do ônibus. Platonismo na cabeça de Marcelo. Os peitos de Bel crescendo. Maneco soltou um peido e sorriu sozinho da cara de otário dos outros. Cacá passava batom. Um velho reclamou do desrespeito da nova geração. O ônibus cada vez mais lotado. Marcelo e Bel mais apertados. Um sinal vermelho. Amarelo. Verde. Marcelo sentiu seu braço roçando seus seios. Bel sentia seu braço fino. Marcelo pensou em tirar, tímido que era. Mas resistiu e deixou lá. Bel não falava nada. Marcelo cada vez mais excitado. O ônibus balançava e seu braço mais forte em seus seios. Já tinha se passado muitos minutos naquele transa no fundo do ônibus. Um suspiro. Braço fino e seio nascendo. Maneco agora cantava uma música pra Cacá. Bel sorria. Marcelo também. O ônibus parou. Maneco desceu e soltou outro peido e se despediu de Marcelo, Cacá e Bel. Braços finos e seis nascendo. Cacá rebolava. Bel sorria de Cacá. Marcelo também. Bel ia descer com Cacá na próxima parada. Não vai embora. Desceram os dois. Braço fino sozinho sem seios nascendo. Fim de tarde. Próxima parada.
Marcelo desce.
chega em casa
corre pra seu quarto. fecha.
som alto. pula na cama. bate uma.
ganhou o dia.

sábado, dezembro 10

O Louco


Caminhava a longos passos pra Assembléia Legislativa exigir uma urgentíssima Reforma Manicomial, quando na Praça João Lisboa me deparei com pombos saltitando e um magro rapaz de cabeça pra baixo, listrada camisa, velhas calças, certeza que conhecia, tanto certeza que fui falar com ele.
- E ai amigo, como vai? Há quanto anos luz não te vejo.
Ele parou e reparou que falava com ele mesmo, olhou-me de barriga ao peito, digo, de pernas a cabeça.
- Seu nome não é José de Ribamar? Casado com Maria que é primo de João irmão de Pedro e vizinho de Lucas?
- Sou eu mesmo, mas não me lembro do siô não, apesar de sua cara não ser estranha.
Dei um abraço grande nele.
- É que eu sou estranho mesmo. Ele sorriu com os restos de dentes. Convidei-lhe a tomar um almoço, digo um café.
- Como vai sua rocinha no interior?
- Siô, tá dando muito agora é feijão, mandioca, joão gomes, tomate...
- E os peixes?
-... Agora da dando muito Curimatá, traira, pedra...
- E os filhos? Quantos?
Contou nove nos noves dedos (perdeu o indicador numa antiga fábrica de tecido da Camboa), Pedro, José, Juscelino, Maria... Fim de conversa, ele tava apressado atrás de um novo dedo, digo de um novo emprego. E lhe fiz uma ultima pergunta:
- Mas Ribamar me lembro muito bem que fui ao seu enterro, em 26 de fevereiro de 1984, era um chuvoso dia, lá no cemitério do Gavião.

quarta-feira, dezembro 7

MORPHINE

Um ambiente sombrio de filme noir e que cheira a adultério, nicotina e crimes carnais... Um mundo de refúgios alcóolicos para noites infernais, devassidões inundadas com complexos de culpa, jogos de bilhar em salões decadentes, desmaios de porre em noitadas solitárias, serenatas sombrias que se estendem em bares suburbanos, ascensões drogadas a outras dimensões... São as imagens que vem a minha cabeça quando escuto Morphine. formado em 1989 nos E.U.A com Mark Sandman no baixo (de duas cordas) e vocais, Dana Colley no saxofone e Billy Conway na bateria.
Aí vocês devem estarem se perguntando; falta algo? cadê a guitarra? Sim, a famosa guitarra, com certeza prezados; o Morphine não possuia esse instrumento na sua formação, quem fazia, às vezes, era o sax barítono pontuado pelo baixo de duas cordas chapadão de Mark Sandman. 
O Morphine era uma junção de Blues com Jazz transformado em uma banda Rock Alternativo única, tudo isso guiada pela voz rouca sorvida a boas doses etílicas e algumas carreiras de cocaina. Mark nunca escondeu sua predileção pela literatura Beat, retirava dos romances Beatnicks as nuances para suas letras.
Mark Sandman chegou a morar no Brasil no começo dos anos 90. a banda durou até 1999 com quatro álbuns festejados por critica e público, nesse mesmo ano em um derradeiro show na Ítalia Mark sofreu um ataque cardiaco fulminante em pleno palco, com certeza motivado pela famosa união de álcool e cocaina. O legado ficou através de um som autoral e moderno, um caminho a ser seguido pelo blues e jazz que o rock, ou mais precisamente, que a música pop desconhecia.


quarta-feira, novembro 30

Beira-mar.

O Café Literário no Odylo.

Vou logo avisando; Um comentário bem  insosso.
Que me lembre nesses vinte e tantos anos é a primeira vez que fui a um CL. Ao meu lado, o poeta Zé Maria Medeiros, e do outro, com certeza, um poeta também, ou talvez um desavisado que chegou ali.
Ninguém da nossa mesa sabia quem eram os palestrantes – mas depois de muitos minutos deciframos os nomes – Ewerton e Ronaldo – ambos poetas e escritores premiados pelos editais de cultura da cidade.
As perguntas dos ouvintes; O gênero romance vai acabar com toda essa tecnologia? Como é seu processo criativo? Você escrevia prosa e agora poesias, por quê?
(Com a fome de Zé Maria e o velho ao nosso lado comemos bastantes salgadinhos com refrigerantes e sucos regionais, que no fim são de nossos impostos, que nos desviava um pouco da atenção das falas).
Mas, amigos, descobri pela pergunta de uma ouvinte que o Maranhão havia recebido o título de Atenas Brasileira, pois aqui havia um tempo grandes poetas e segundo ela, agora, tínhamos mais prosadores, em vez de poetas.
O que fez Ewerton responder que não sabia se isso era verdade, e citou alguns poetas de renome nacional que morava aqui: Nauro Machado, Luís Augusto Cassas, e outro que não lembro o nome e talvez mais outros.
Lembro que Everton disse que Chico Buarque não era romancista, porque ia se isolar em Paris para escrever e também o Jô Soares porque fazia pesquisas bibliográficas para escrever seus livros . E que o verdadeiro romancista estava nas ruas, cantando sua aldeia, sabendo sei lá se vai ser descoberto, lido, reconhecido, pois escrevia por uma necessidade.
Lembro que Ronaldo disse que para escrever necessitava sair de seu objeto para ver melhor seus personagens, o contexto, etecetera o que vai de encontro às palavras de Everton sobre o verdadeiro romancista.
Contradições à parte. O Igor chegou, e na mesa já tinha sentado outro escritor (não lembro o nome) e pela 1º vez alguém me falou que tinha sido um ghost write pra ganhar grana (espécie de prostituição literária). Bacana. E também que já viveu só das letras (coisa rara).
Comprei o livro do Ewerton, por curiosidade e pra valorizar o que de certa forma é nosso.
Ah... Uma coisa, talvez, meio babaca pra alguns, mas pra mim de grande relevância. O Luís Augusto Cassas estava lá. Vontade de falar com ele. De dizer que o seu livro foi o primeiro que tinha lido ainda criança, e depois quase todos os outros. Mas preferi ficar na minha.
Eu avisei  que o comentário era insosso

terça-feira, novembro 29

Rompendo a Hierarquia, Ordem e a Disciplina

Desde o dia 23 de novembro (Quarta feira) a Polícia Militar do Maranhão e Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão de forma heróica e histórica estão fazendo a greve por tempo indeterminado por causa da intransigência do Governo do Estado que se recusa a dialogar com os policiais e bombeiros.
Não pensem vocês que eu exalto a polícia, porque eu reconheço que a mesma é o órgão repressor do Estado sobre a sociedade principalmente aos mais pobres e excluídos, muitos não vêem com bons olhos essa greve dos policias por causa da violência praticada a população, quem não se lembram do caso pedreiro José de Ribamar Batista que foi morto por policiais por supostamente não ter pagado o posto de gasolina após encher o tanque do seu carro e em seguida fugir até ser capturado (Versão da policia)?
Eu tenho motivos suficientes para não confiar na corporação e muito menos das pessoas que fazem parte, mas tenho amigos policiais principalmente do curso de História da Universidade Federal do Maranhão que eu os conheci especialmente da minha turma 2004.2, e eles sabem do meu posicionamento em relação à PMMA, até o momento da minha vida nunca fui vítima da violência policial, mas fui abordado de forma arbitrária e com abuso de autoridade.
A forma truculenta e repressiva que agem os homens e mulheres da polícia ajudou a construir a imagem negativa e contestação da sociedade, sendo compreensível o não apoio e a indiferença de alguns setores da sociedade sobre a greve e colocando-se contra os mesmos diante do caos que se encontra a segurança pública no estado.
Mas deveremos ter a compreensão que por trás das fardas, são homens e mulheres, pais e mães de família, o risco que corre o trabalhador ou trabalhadora ao sair de sua para o trabalho e não voltar no final do dia por causa da violência das grandes cidades, seja por bandidos ou pela policia, é a mesma sensação sentida por estes homens e mulheres que usam a farda, sendo que são também mal vistos por bandidos, porque se cair nas mãos deles, terá a sua vida ceifada, porque o papel da polícia é matar bandido, havendo aí uma eterna “rixa” entre eles.
A sociedade está cansada de saber da violência praticada pela policia, mas não sabem o que eles passam nos quartéis e muito menos nos subterrâneos, onde são explorados e humilhados por seus superiores sendo tratados como animais, a dignidade humana é uma palavra inexistente nos quartéis militares.
Os homens e mulheres são treinados para ser uma espécie de máquinas, como na série americana que fez sucesso nos anos 1990, o Robocop, fazendo serem tratados dessa forma pra colocar a sua vida em risco com a carga horária excessiva com a remuneração baixa e sem a proteção e armamento devidamente assegurados.
A relação entre o Estado e a Polícia Militar é comparado com o dono e o cachorro, em que o cachorro está sempre a disposição para proteger o seu dono, a família do dono e toda a propriedade privada, em troca muitas das vezes é o que se vê é o dono tratar o seu cachorro da forma mais degradante e humilhante e mesmo assim muitas das vezes o animal está sempre a disposição do dono, demonstrado lealdade e fidelidade, tornando-se o melhor amigo do homem.
Essa é a relação do Estado com a Polícia Militar, que sempre esteve a serviço da manutenção da ordem e da propriedade privada, mas nunca foram reconhecido por prestar esses serviços, exceto a alta patente da corporação, a Polícia Militar do Maranhão foi fundada/instituída no século XIX justamente no período em que o Brasil e o Maranhão viviam num regime monárquico-imperial-escravista, com a sociedade quase estamental em que a minoria privilegiada sempre esteve no poder e usufrui das benesses do Estado.
O estado que historicamente sempre foi governado por grupos políticos oligárquicos, a PMMA sempre foi usada como instrumento de interesses da classe política e reprimir qualquer insatisfação popular, numa repleta troca de favores.
A Polícia Militar do Maranhão, dos demais estado da federação e próprio exército, marinha e aeronáutica são as instituições que não mudaram com o passar do tempo, o Brasil hoje vive um momento político muito diferente ao que era nos séculos anteriores e num passado recente, em que a democracia é o sistema vigente com o caráter republicano.
Mas esses órgãos de repressão vivem como se estivessem nos séculos anteriores ou no passado recente com as mesmas práticas, lembro-me ano passado no período das eleições para Presidente da República e Governador dos Estados um debate que eu assisti onde estavam todos os candidatos, inclusive a atual Governadora do Maranhão, e fizeram uma pergunta ao candidato Marcos Silva do PSTU o que ele faria na segurança pública caso ele fosse governador, o mesmo respondeu que iria humanizar a polícia, muitos viram como deboche porque muito amigos meus de faculdade que eu conheço com formação marxista não acreditam na humanização dos policiais, e ironizaram pelo fato do Marcos ser da mesma vertente política e ideológica.
A idéia de propor a humanização da polícia não deixa de ser interessante, porque o modelo de segurança pública imposto pela elite dirigente dos órgãos são arcaicos e ultrapassados, não condiz com o regime democrático e republicano. É necessário o debate a que tipo de segurança pública que queremos, porque a idéia de humanizar os policiais não será feito num passe de mágica e é a curto, médio e longo com a participação de todos os segmentos e esfera da sociedade, não apenas entre o Estado e própria policia.
A greve da Polícia Militar do Maranhão é louvável e heróica, porque quebra um dos principais pilares que sustenta a hierarquia, ordem e a disciplina: a proibição de fazer greve.
Algo que talvez nunca ocorreu na história do Maranhão,as reivindicações não se resume apenas ao reajuste salarial como gosta de afirmar a imprensa para dar impressão a opinião pública que a exigência dos mesmos se resume somente a isso.
A reivindicação policial está mais associado a dignidade humana, como eu disse anteriormente, essa palavra inexiste nos quartéis militares,e as reivindicações além do reajuste salarial e reposição das perdas salariais dos anos anteriores são:
- Regulamentação da carga horária de serviço nos termos previstos na constituição federal do Brasil de 1988;
- Implantação da carga horária de serviço nos termos previstos na constituição federal do Brasil de 1988;
- Fim da aplicação do regulamento disciplinar do exército para policiais e bombeiros militares do Maranhão;
- Garantia de promoção de policiais e bombeiros por tempo de serviço previsto em lei (pela meritocracia para os cargos e o fim da indicação política);
- Eleição da lista tríplice para o Comandante Geral com a participação de todos os integrantes da cúpula da PMMA e CBMA (maior autonomia a Polícia e aos Bombeiros);
- Anistia e o fim de represália a policiais e bombeiros envolvidos no movimento.
Como vimos, essas reivindicações rompem a velha estrutura vigente na policia e no corpo de bombeiros, deixando o governo do estado atônito porque subestimou a manifestação dos militares, é como o cão mordesse o seu próprio dono, sendo que o mesmo nunca imaginaria que o seu animal teria a coragem de mordê-lo, a Polícia Militar que historicamente sempre serviu de cão de guarda ao estado e a classe política, resolveram dar um basta nessa situação.
Cansados de serem explorados e humilhados pelo governo e seus comandantes, onde o serviço prestado pela segurança do governo é precário em que nos últimos tempos o que se viu foram as rebeliões que resultou de muitas cabeças decepadas, e todo o serviço é precarizado inclusive o IML (Instituto Médico Legal).
A Governadora Roseana Sarney demonstrou mais uma vez que não tem capacidade de estar a frente do governo, não tendo a mesma inteligência e a sabedoria do seu pai (José Sarney) que o colocou no governo através do golpe via judiciário em 2009 que resultou na cassação do ex-Governador Jackson Lago, o que se vê é a família Murad governando o estado, sendo governadores de fato como o secretário de saúde Ricardo Murad (cunhado da governadora) e o Jorge Murad (marido da governadora e irmão do secretário de saúde), e ela numa espécie de fantoche e com arrogância de querer se recusar a dialogar com a categoria.
E solicita os homens do exército e da Força Nacional, no intuito claro de não querer o diálogo e usar a força pra reprimir o movimento, a presença do exercito é falsa, pois o contingente de homens é insuficiente para a cidade de São Luís e todo o estado, sendo que a maioria dos soldados são jovens de 18 a 21 recrutados que recentemente foram alistados, os mesmos não tem preparo nenhum para lidar com a população nas ruas e principalmente no cotidiano.
Jovens esses armados de fuzis, quem conhece sabe o poder de destruição que causa o tiro dessas armas, causando danos irreparáveis no corpo da vitima, podendo atingir mais pessoas envolta devido ao alto poder de destruição. O governo do estado é o próprio responsável por esses caos que está vigorando no nosso estado. E a greve dos policiais e bombeiros são legitimas.
Porque são trabalhadores também, que são constantemente explorados e humilhados, sendo tratados como animais ou o ROBOCOP. A policia e os bombeiros precisam rever conceitos e rediscutir junto com a sociedade o modelo de segurança pública.

domingo, novembro 27

Obrigado por fazer amor comigo assinado: Vanessa.


Já passava da meia noite quando Morávio andava há 40 km pela orla da praia, destino esse que ele fazia a alguns meses, quando a insônia insistia em voltar. Neste dia algo chamou sua atenção diferente das outras vezes que passou por ali. Andando à mancar estava uma mulher que, usava um vestido prata, parecia ter machucado o pé, segurava nas mãos as sandálias de salto alto. Morávio parou e observou aquela mulher passar próximo de seu carro, percebeu na pouca distância que ela chorava copiosamente, por um instante pensou em ligar o carro e continuar seu passeio pela avenida vazia, mas resolveu seguir lentamente aquela mulher, a cada metro que o carro percorria a frente ele olhava a mulher intensamente, porém ela parecia o ignorar completamente, talvez o motivo do seu pranto fosse suficiente para que essa percepção não acontecesse. Morávio foi tomado por uma certa angústia com a cena. Subitamente parou o carro e começou a seguir aquela mulher, apressou o passo queria chegar mais perto dela, compartilhar da dor, saber o motivo das lágrimas. Ao perceber sua aproximação ela se pôs a correr em direção a areia da praia, ele também, ela jogou fora as sandálias e se jogou em meio às ondas que quebravam sem o menor pudor naquela madrugada. Morávio aumentara mais ainda sua angústia, não restava nada a fazer do que adentrar o mar em busca daquela coisa quase sem sentido.

Após alguns mergulhos ele conseguiu abraçar sua cintura abaixo do nível do mar, por uns segundos ela tentou se desvencilhar, depois exausta convalesceu nos braços dele. Ao iniciar o retorno a areia da praia ele pode observar melhor os traços daquela mulher, a maquiagem borrada por conta do sal das lágrimas e do mar.

Polícia Universitária

Há poucos dias o Brasil presenciou mais uma violência policial com os estudantes, e mais uma vez na USP (Universidade de São Paulo) na capital paulista (São Paulo) que prenderam os estudantes por supostamente portarem maconha.
Essa atitude foi o estopim para os estudantes do FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da mesma instituição entrar em confronto com os policiais e ocupar a reitoria.
A grande imprensa deste país, no caso a Rede Globo, Bandeirantes, Record, SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), Redetv e outras como de costume, estava contra os estudantes a ponto de alguns jornalistas chamarem de “vagabundos”, baderneiros” e outras denominações que todos já conhecem.
Mas antes desse fato ocorrido um estudante foi assassinado dentro das dependências da universidade, e esse incidente não é isolado porque outros casos semelhantes já ocorreram, eu particularmente não conheço a USP, mas quem conhece falam que a área da universidade é imensa e com localidades bastante sinistras principalmente a noite, propicio a assaltos, roubos, furtos, estupros e outros tipos de violência.
Vamos ao caso do Campus da UFMA com a sua grande área, mas não tanto quanto a USP (a meu ver), já houve roubos, assaltos, estupros e outros, como não querer a segurança dentro da instituição com esses problemas?
Lembro-me em tempos de movimento estudantil que alguns segmentos pregavam a retirada dos seguranças armados e uma segurança sem armas, como podemos querer seguranças sem armamento se a UFMA está localizada nas áreas mais violentas de São Luís? não se trata de defender o policiamento e a repressão.
Porque a segurança no campus da UFMA ou em qualquer instituição público de ensino superior no Brasil afora que passa pelo mesmo problema é necessária, a questão que deve ser discutido pelos estudantes, professores e técnicos é que tipo de segurança que deve ser implantada nas universidades.
Porque a atitude da Polícia Militar de São Paulo na USP foi autoritária, porque o consumo da maconha não é crime de acordo com a nova lei, o usuário/dependente químico não deve ser tratado como criminoso também de acordo com a nova lei, se a policia e a grande mídia afirmam o uso da droga, cadê as provas? Quem foram esses estudantes? Se os grandes veiculadores da noticia no país afora estavam propagando que os estudantes não devem ter privilégios, nem usar drogas nas universidades e serem tratados como pessoas comuns, eu pergunto novamente. Cadê as drogas? Que quantidade era para ser caracterizado como tráfico? Quem são esses estudantes? Não houve em nenhum momento documentos com fotos ou testemunhas para provar. Creio eu que a maconha foi apenas um estopim para a polícia exercer o papel de repressor contra os estudantes. Porque o atual reitor da universidade é intimamente ligado ao governo tucano paulista. É apontado por muitos estudantes como autoritário e rege a instituição a mãos de ferro.
Todos nós conhecemos que o uso da drogas sempre foi o tema de debate nas universidades, uso das mesmas é ocasionado a vários fatores, recentemente o STF (Supremo Tribunal Federal) respaldou a marcha pela legalização da maconha por reconhecer que é uma liberdade de expressão e é legitimo o debate em todas as esferas da sociedade.
Portanto, a atitude policial foi extremamente arbitraria no intuito de reprimir os estudantes a todo e qualquer custo, mas com todo esse incidente que não é isolado continua sendo importante a existência de uma segurança nas universidades, mas que tipo de segurança e sendo especifica a lidar com o cotidiano dos estudantes.
Todo e qualquer órgão de segurança é repressor, e isso é fato, mas há diferenciação e funções diferenciadas aplicado por cada instituição, por exemplo, a Polícia Federal e a Polícia Militar nos estados são repressoras, mas com o papel diferente em suas funções.
A Polícia Universitária nas universidades seria importante, porque a função aplicada seria diferenciada com os demais órgãos de seguranças, especialmente a lidar com os estudantes e o ambiente estudantil e acadêmico.
Seguindo assim, a segurança é necessária, mas que tipo de segurança queremos nas universidades? Porque com a segurança já é um problema e sem ela é pior ainda.

sexta-feira, novembro 25

6 Meses de .continuand0

Entre trancos e barrancos e pedras no meio do caminho ( só pra citar Drummond,  lugar comum nos cafés filosoficos), venho daqui do mais pseudo intelectuais lugares dizer com um imenso prazer, como, o sol de verão ( que merda é essa que to falando).

Sim, oh yes! São 6 meses. Daqui a 3 meses nasce uma criança, como ela vai ser ?
Sei que o blog tá ficando literario, como disse a IN e ele respondeu: - é bem melhor, pois atemporal.

Daqui a 100 anos nossos bisnetos olharão o blog ( se o calendario Maia estiver errado e a  internet não ser uma coisa retrô) e o .continuando estará numa espécie de biblioteca virtual de blogs ou cemitério. Eles comentarão:

- Naquela tempo se falava português no Brasil e ainda se escrevia poemas....hehehehe.... Bando de rolaplix (gíria da época)

Mas valeu a todos que contribuiram a essa blog e que contribuem.

vou chorar. :)

Teus olhos de mar

Eu na terra e minha linha n’água”


(Fala de um pescador desconhecido na Beira-Mar)



Dá uma vontade quase mortal

De ser o mar...

E de me encontrar em ti.

Navegar de manso igual a calmaria

que mareja teu olhar, teu ser.

O sabor marítimo que lança teus dedos

Joga-me contra as pedras da beira-mar.

Olha-me como ondas mais violentas de um mar revolto.







terça-feira, novembro 22

JÁ TE CONTEI DA PRIMEIRA VEZ QUE FIZ UM PROGRAMA?

           

Na época as coisas estavam um pouco apertadas. Parece um bom argumento: a necessidade. Mas não era para tanto. Não passava fome. Apenas sentia o golpe profundo e covarde do dinheiro do aluguel. Uma espécie de extorsão velada: paga ou vai dormir na rua.

Volto a insistir, as razões que me levaram a prostituição foram de outra ordem.
Na verdade, foi mais um acidente.
Foi Cristiane.
Perfil de Cristiane: Uma coroa. Uns quarenta para cinqüenta.  Conservada (se fosse um carro). Gostosa (se fosse mais nova). Rica (Aqui não cabe compações).

Encontramos-nos certa vez. Ela me sorriu. Aliás, Cristiane tinha o poder de se comunicar por seus sorrisos. Através deles, ela podia convidar para o motel, dizer que não gostou de determinado comentário, conversar sobre Foucault por duas horas e meia. Falei que eu era estudante de história. Ela sorriu. Falei que morava em uma república. Novo sorriso. Disse que me interessava por cinema e que arranhava um violão e que detestava crianças. Ela não sorriu. Eu sorri. Ficou um clima...

- Quer uma cerveja?
- Sim... Ela voltou a sorrir. A música do bar voltou a tocar. As pessoas voltaram a circular. A conversa fluiu. Fomos para cama. Foi uma noite perfeita. Sexo, embriaguês, carona para casa – no carro dela, é claro.

Saímos durante umas três semanas. Ela pagava o jantar. Iámos para boate. Ela dizia “Não, eu faço questão”. Eu, “tudo bem”. E assim nos entendíamos. A situação não me incomodava. Quer dizer. A única coisa que me incomodava, de certa forma, era o fato de eu não me incomodar. Estava mais do que claro que eu era um liso e que ela queria a companhia de uma rola a qualquer custo. As mulheres dessa idade, quando se permitem, se agarram a um pau como se segurassem uma bóia de salva-vidas. Elas transam com uma espécie de furor. Fazem de tudo como se quisessem recuperar o tempo perdido ou como se não tivessem mais tempo.

Safada...

No entanto, ela consumia quase todo meu tempo. Era uma espécie de fogo inextinguível. Tinha impressão que me comia vivo. Que tentava, nesse querer desenfreado, sugar minha alma através de seus orifícios. Creio até que emagreci, veja só! Precisava de espaço, de tempo. Pela primeira vez, senti saudades do meu curso de história e, por incrível que pareça, saudades de entregar meus trabalhos dentro do prazo.

- Cris... Não posso mais sair...
- Ah... O que foi, gatinho?
- Preciso... eh... preciso... eh...
- Hum...
- Terminar a resenha de um livro...
- Ah, que penah!...
- Pois é...
- Logo hoje que eu... (Censurado)

E depois dessa noite decidi não mais encontrá-la. Ela insistia, por seu turno. Mas eu fui resoluto. Não, definitivamente, não! Mas ela ligava. Todo dia. Duas vezes por semana. Uma vez. De vez quando. Quando o telefone tocava já sabia quem era. Ficava olhando para visor do celular tentando esboçar alguma desculpa. Eu perguntaria sobre sua vida. Ela, sobre a minha. Respondia tudo automaticamente, como se estivesse ligado no modo “seja simpático!”. E certa vez, não sei exatamente como fomos parar neste assunto, conversamos sobre dinheiro, mas precisamente, sobre minha situação financeira. Ela ficou sabendo que eu era um liso (fingindo que isso se tratava de uma novidade) e que eu, por incrível que pareça, tinha algum orgulho e que a situação de estar saindo com ela – ela pagando tudo – me incomodava.

- Que besteira...

- Eu sou homem, entenda...

Apesar de ser homem, era a primeira vez que falava isso, assim, diretamente, quase francamente. “Eu sou homem”, fiquei repetindo isso na cabeça, como se fosse ao mesmo tempo homem de fato e uma criança de 10 anos com um lençol amarrado no pescoço me imaginando o próprio superman.

- Vamos transar, deixa de ser bobo, é só umazinha...
- Eu já disse, Cris, não posso voltar atrás... Eu sou um h...
- Eu pago!
(pausa)...
(pausa de novo)
- Você louca... Eu não aceitaria esse tipo de...
- trezentos reais!
(pausa)...
(pausa novamente)
(só mais um pouquinho)
- Você está de brincadeira...   
- Falo sério!...
- Não posso aceitar...
- Trezentos!
- Que horas?
- Dez e meia... Você quer que eu te busque?
- Pode deixar... Pego um taxi!
(Claro que iria de ônibus. Falei taxi para parecer um pouco mais independente)

 Estava, a partir daquele instante, contratado. Pensei em pegar o telefone e cancelar. Mas desisti. Já tinha bancado o menino demasiado. Já era hora de agir com veemência. Chegar e lhe dizer...

- 20 comer e pegar o dinheiro, ordinária!

Fiquei refletindo da vez em que fui assaltado e o assaltante me chamava apenas de vagabundo. “Passa o dinheiro, vagabundo!”. Quando na verdade era ele que... enfim, ele estava com uma arma e não quis corrigi-lo. Ao me tratar assim ele esquecia que era de fato um bandido. No lugar disso, ele cumpria uma espécie de dever que lhe fora imputado por não sei quem. Não sei por que faço essa analogia. Mas o interessante é que, na hora em que fui contratado para ser michê, tive o ímpeto de chamá-la só de puta! De bater em seu traseiro chamando-lhe de puta. “Tu é puta, sabia? Tu puta!”. Dizendo isso com a entonação de um ator pornô com um sotaque carioca, com a voz meio nasalizada, fazendo chiar o ‘s’ e estendo a última sílaba como se houvesse a letra ‘h’ no final de cada palavra.  “Tu uma putah! Cashorrah!”.

Sai de casa.

Peguei o ônibus.

Desci do ônibus.

Parei por um instante na calçada. Olhei o veículo indo embora e desaparecendo na esquina. Estava sozinho. Fiquei nervoso. Só tinha um texto ensaiado. Uma três frases mais ou menos. Quer dizer, uns três palavrões (vagabunda, ordinária, puta). De resto, bastava assumir uma postura de quem não está nem aí. De quem só veio para comer mesmo, enfim.

Mas eu não conseguia entrar no clima. O que se apossava de mim era um enorme receio. Ia para casa dela para cumprir um serviço. Ela me contratou. Eu teria que ir lá. Teria que fazer valer trezentos reais de sexo, puta que pariu, como contar? Se for por metida, quanto será que vale uma metida? Dois reais? Cento e cinqüenta metidas será o suficiente para satisfazer uma mulher? É melhor ficar em cinquenta centavos. Seiscentas metidas. Não é possível... Acho que basta. Esse é meu preço! Uma pirocada: cinqüenta centavos. 

Merda!

Sem mais tempo para pensar.

Toquei a campainha. Uma vozinha lânguida saindo pelo interfone disse “Tá aberto” - rindo logo em seguida, querendo dizer que também tinha falado uma sacanagem. Ela estava no ponto. Eu... Eu tinha esquecido meu texto e a única coisa que sabia repetir para mim mesmo era “o que que eu estou fazendo aqui!”.
Ela abre a porta...

– Boa noite...

Ela estava tentando ser sexy. E, talvez, por perceber esta tentativa enquanto uma tentativa, eu, definitivamente tinha travado.

- Com licença...

Entrei de uma vez, antes que, na porta mesmo, tivesse que mostrar o meu serviço, se de fato tinha as qualificação para tal empresa, se valia este empreendimento, se estava preparado de fato para enfrentar os desafios do mercado de trabalho.

- Você quer beber?

- Quero!
(“Pelo amor de deus”. Foi o resto da frase que não disse.)

Estava sem reação.  Ela voltou. Reparei que usava um chambre preto, meio transparente. Que era muito baixa sem o salto, que os peitos, sem o sutiã, pareciam mais caídos e que a maquiagem não escondia perfeitamente os traços da velhice.

- O que você tem?
- Eu? Nada...
- Você está meio assim...
- Tive um dia ruim, é só isso...
- Você tem certeza que quer fazer isso?
- (hesitante) Sendo sincero eu acho que...
- Você prefere o pagamento antes, ou depois?
- (convicto) Antes!
- Está aqui...

É preciso ter muito virtude para recusar dinheiro. Principalmente quando o caráter é flexível e a moral é subornável. Aceitei automaticamente. Coloquei as notas no bolso, socando-as para dentro, querendo que essa parte do pagamento, a mais humilhante, passasse o mais rápido possível. Terminado isso, me transformei em um produto. Era dela e teria de fazer o que pedisse.

- Tire a roupa   
- Pois não!
- Você está sendo muito profissional...
(Nesse métier de garoto de programa ser muito profissional é uma crítica)
- Desculpe, senhora... (merda!)

Para compensar a polidez, a peguei pela cintura e afundei minha cara em seus seios. Tinha que prolongar ao máximo esse impulso repentino que tive e aproveitar meu lapso de ereção. Tirei rapidamente sua roupa. Ignorei seus protestos. “Calma!”, “Calma, gatinho”. Foda-se! Porra de gatinho! Fui com tudo. Dei tudo que tinha. Usei o que restava do meu instinto animal e a comi tal qual um bicho no cio.

- Já?

Envolvido no ímpeto de possuí-la, não me dei conta que não tinha dado nem dois minutos e que passava longe das seiscentas metidas prometidas que valeriam os trezentos reais. Desarmado, desabei na cama.
- Já?

            Essa palavra monossilábica torturante dava o tom do fiasco. Estava rendido.

            - Já?
           
           Ela perguntava, passando gradativamente da interrogação para exclamação.

            - Já!
            - Desculpe...

            Ela riu. Passou a mão na minha cabeça. Não pude evitar a consolação. Coloquei minha cabeça entre seus seios e falei com a voz abafada “desculpe!”, “desculpe!”. Ela disse que tudo bem, que isso acontecia - mas no fundo estava puta de raiva. 

Só me restava o último golpe de dignidade, embora tardio.

            - Vou devolver o seu dinheiro
            - Não precisa...
            - Não posso aceitar...
            - Fique...
            - Aceite, insisto...
            - Fique para você...
            - Mas...
            - Pegue um taxi...
           
Voltei de ônibus.