terça-feira, outubro 16

Gangue da Bota Preta





No final dos anos oitenta e inicio dos anos noventa, vários grupos de jovens de diversos bairros de São Luís, levados por uma profunda falta de perspectiva na vida e ajudados também pela ausência de politicas públicas direcionadas a juventude Maranhense, formaram gangues que demarcavam seus territórios, ou “áreas” como eles costumavam chamar. Entendam-se esses nomes como sendo os bairros onde essas gangues eram formadas. Dessa época a gangue que ficou mais conhecida em São Luís se chamava (Gangue da bota preta), essa gangue era formada basicamente por rapazes que tinham entre 16 e 23 anos, todos na sua maioria de famílias humildes. A gangue era proveniente dos bairros da Ivar Saldanha, João Paulo e Alemanha, esse último onde residia a maioria dos seus integrantes. Esses rapazes ficaram conhecidos pelo nome de Gangue da bota preta, pelo motivo de usarem coturnos e botas pretas, as mesmas usadas por militares e policiais. Esse detalhe identificava-os nos embates com outras gangues de outras “áreas”. Outra característica marcante sobre a existência da gangue, era uma informação que corria entre as pessoas que temiam eles e também gangues rivais, de que para ser aceito na gangue, o candidato a membro tinha que apresentar “bicos de seios” de garotas, somente assim depois de confirmada a certeza do ato cruel, o candidato seria aceito. Segundo a policia a gangue teve cerca de quatro anos de existência, toda a onda de vandalismo e crimes teria durado até o ano de 1994. Atualmente diversos integrantes evitam falar do passado negro, dentre eles alguns já possuem família, estão trabalhando e dois cumprem pena em presídios de São Luís.


“Arrastão da Bota Preta”, Factoide inventado pela família Sarney.


                                                                          Manchete do Jornal Pequeno.

Em 17 de Novembro de 1992, uma terça feira, São Luís ficou aterrorizada durante quase o dia inteiro, pela informação de que integrantes da Gangue da bota preta estariam realizando arrastões em vários bairros da cidade. Todo o contingente de policiais da Ilha foi deslocado para esses bairros, as rádios informavam que segundo informação da policia, era mais seguro as pessoas evitarem sair de casa. Diversas escolas foram trancadas com alunos impedidos de saírem, o pânico era geral em toda a cidade. No dia seguinte uma manchete do Jornal Pequeno dizia: “ARRASTÃO DE ONTEM SERIA PLANO DA FAMILIA SARNEY DE LEVAR JOÃO ALBERTO A SECRETÁRIA DE SEGURANÇA PÚBLICA”. Segundo o jornal, o secretário Jorge Murad Maluf havia sido afastado pelo motivo de ter sido indicado a desembargador. O secretário interino Leofredo Ramos ainda não havia sido efetivado no cargo, nesse período o senador João Alberto estava sem cargo, por motivo de sua derrota nas urnas para Conceição Andrade. Porém o suposto factoide não deu certo e logo em seguida Leofredo Ramos foi efetivado como secretário de segurança pública.


O mendigo




Certo dia enquanto esperava pra resolver um probleminha meu no centro, fui abordado por um certo mendigo me pedindo algumas moedas, dei alguns trocados pra ele (sempre que posso, dou umas moedas para mendigos, não resolve, mas alivia – e falo isso por mim, não por eles.) Ele pegou o dinheiro e se afastou um pouco, eu então, fiquei observando aquela pessoa... Apesar de todas as mazelas que a vida lhe impôs, ele tinha algo de diferente... Algo que me pareceu como uma sobriedade, uma resignação... Ele do alto de sua mendicância parecia ter uma certa nobreza de espírito. Observei mais um pouco e senti uma inquietação por dentro do peito ao ver a maneira com que ele olhava as vitrines, as pessoas bem vestidas entrando e saindo das lojas, ele quase não era notado, como se fosse um ser invisível. E quando o notavam a reação era de receio, esquiva ou quase sempre de indiferença. Notei que ele não pedia nada a ninguém, estava absorto, parado olhando alguma coisa, segui seus olhos e vi que ele admirava uma pequena caixa de musica ricamente decorada, com uma bailarina a rodopiar ao sabor da melodia que de lá saía. Os olhos dele então passearam pela vitrine cheia de todo os tipos de coisas belas e caras... Ele ficou um tempo ali, parado, olhando, e depois algo mudou. Dos seus olhos brilhantes rolaram duas grossas lágrimas, escorrendo pelo rosto, ele as limpou com as costas das mãos sujas, e lentamente virou-se, ao fazê-lo, percebeu que eu o observava de longe. Olhou pra mim e fez um sinal de “joinha” com o polegar levantado, deu um sorriso que até hoje eu não consigo explicar, pegou a trouxa que carregava e seguiu seu rumo, desaparecendo na multidão de gente que lotava a rua.