terça-feira, agosto 2

E não te acho

Corro. Os pés correm juntos com meus pensamentos até o fim da rua. Automático desvio somente o olhos rápido pra direita e pra esquerda quando me ensinaram quando criança ao atravessar uma avenida qualquer: passam carros velozes vermelhos azuis pretos e sujos. Albert Camus morreu de acidente de carro James Dean e Chico Science. Eu atravesso a avenida movimentada de máquinas com estranhos dentro. Chego a outra rua. Tiro o papel da minha calça jeans azul. O papel está amassado o papel está suado e por isso borrado. Tem um número da casa. A letra da rua de um quarteirão e um nome de um bairro da cidade. Olho pro céu. O sol esta em cima de minha cabeça. Raciocino que são por volta de meio dia e as luzes do sol incide veloz sob a  imaginária linha do equador. Bota a mão no rosto. Abro os dedos e a boca. Rodopio. Tento raciocinar. O grito de Edward Munch reprimido.

Ei! Está tudo bem com você? – pergunta uma filha de deus preocupada.

Não respondo nada e continuo a andar a camiseta branca sem nenhum design está molhada. O coração está acelerado. Cérebro confuso e rua torta. Se essa rua fosse minha... Se essa rua eu mandava... Onde estou? Pego novamente o papel. A anotação borrou mais ainda. Foi uma pessoa que anotou pra mim dentro de um ônibus quando ia para o centro. Sentei ao lado dela. Ela perguntou as horas pra mim. Disse que não tinha relógio. Ela falou sobre o tempo. Percebi que queria puxar assunto. Então não sei o porquê acabei falando sobre meu irmão alcoólatra minha mãe hipocondríaca a crise mundial a corrupção meu pai morto e um poeta que eu estava lendo. Ele tinha que descer na próxima parada. “Qual seu nome?” perguntei. “Qual seu numero?” perguntei logo em seguida. Arrancou um papel do seu caderno tipo escola e anotou seu endereço. Sorri e ela desceu. E agora estou aqui nesta rua torta atrás dela. Ela tem cabelos lisos e longos. São de uma cor entre o preto e amarelo. Os dentes incisivos da arcada inferior são meio tortos e não te acho.