terça-feira, maio 31

Há muito tempo atrás

quando os relâmpagos rasgaram o céu e cuspiram clarões por sobre Pedreiras a cidade já dormia. em poucas horas as águas salivaram os rebocos das casas e subiram pelas ruas e quintais, a lua refletida escorria  caminhos de desepero. o pai, vigilante saltou da rede e com a lamparina acordou toda a família. com os olhos silenciosos e sonolentos todos entraram na canoa. um saco com as roupas. quase três panelas e dois bancos de madeira. nada ficava para trás. apenas o fogão de barro, memórias do fogo, certeza de uma nova enchente. a canoa deslizou por sobre o mearim. as crianças se protegiam do vento presas à saia da mãe, enquanto o pai com o cigarro na mão insistia em criar nuvens  claras que não trouxessem mais chuvas. isso foi há muito tempo atrás ... no ano de 2015...


Elizeu Cardoso

A ordem agora é sublimar

Diante do que hoje estamos vivendo, a banalização de tudo, das relações pessoais, dos sentimentos, das atitudes e da falta dela. A ordem agora, meus amigos é sublimar. Vamos sublimar as greves que não deram certo, (ai estou falando dos meus companheiros, professores, dos rodoviários, dos policiais), o descaso com as ruas sem asfalto de São Luis. Vamos sublimar a selvageria, a barbárie dos passageiros que correm feitos loucos atrás dos ônibus entupidos de gente, que nem cabe meu pé doente. Vamos sublimar a falta de livros, computadores, e falta de interesse nas escolas. Vamos sublimar nossos alunos que coitados, não tem culpa da desordem do sistema e que ficam nas carteiras á ver navios. Vamos sublimar o Governo aristocrata sem Governo, a prefeitura que desmorona os “Castelos”. Vamos sublimar os impostos: IPTU, IPVA, IPI e tantos outros I, que o dinheiro não chega para pagar. Vamos sublimar o amor que não deu certo, o casamento infeliz, o beijo não dado, o sexo não feito. Vamos sublimar as filas nos bancos, no ponto de ônibus, no restaurante. Vamos sublimar os carros parados em engarrafamentos, os motoristas irresponsáveis que bebem e causam acidentes. Vamos sublimar o chefe que não entende o atraso às 7.00 por conta do transporte que está em greve, ou que simplesmente, não passa. Vamos sublimar!

Misantropia


Na verdade vou falar sobre a solidão e não sobre a aversão as pessoas (misantropia), mas é que ambos são bastante confundidos. Você está um dia a fim de ficar sozinho no seu quarto com música ou sem música ou sei lá. Resumindo: só. E lá vêm os parentes, ou os amigos ou o companheiro reclamando:
“ o que esta acontecendo com você?”
“ você está doente?”
“ ele tá doido.”
" sai dessa amigo!Reage."
E aí você muitas vezes, não sabe nem o que responder ou não está nem com vontade ou diz:
“to lendo um livro”
“to pensando na vida”
“sou poeta”
“to vendo o teto”
“não é nada não"
Como há uma estranheza bruta com esse ato como, por exemplo, na masturbação. Conheço gente que foi parar num psiquiatra e saiu com uma receita de antidepressivo nas mãos. Ou foi fazer terapia com psicólogo. Ou até bater um ecg, ressonância magnética, tomografia computorizada da cabeça. Ou, até pior, ir pra uma igreja.
Solidão não é bicho de sete cabeças ou doença, é  um sentimento necessário. Que digam os filósofos ou Vinicius de Moraes.
Oh cumpade! Deixe em paz nossa solidão.