segunda-feira, março 12

A necessidade de Novas Capitais


Dezembro do ano passado aconteceu no Estado do Pará o plebiscito para a população decidir sobre a divisão com criação de dois Estados: Carajás e Tapajós.
A maioria decidiu pela não divisão, mas essa decisão em grande parte foi tomada pelos eleitores de Belém e região metropolitana. Independente do resultando, permanecerá o sentimento separatista que não irá acabar tão cedo e muito menos por causa do resultado insatisfatório.
A maioria das pessoas que são favoráveis a divisão do estado são de outros estados, maranhenses são maioria, com alegação de que o PIB (Produto Interno Bruto) estadual é mal distribuído entre os municípios e regiões do estado, sendo que Belém a capital fica com boa parte da renda per capita.
Aqui no Maranhão não é diferente, no sul do estado querem criar o Maranhão do Sul, eu tenho amigos de Imperatriz, e digo que eles são chatos e radicais acerca deste assunto, uns chegam a chamar nós que moram em São Luís de “Maranhão do Norte”.
O sentimento de separação é fortíssimo nessa região, principalmente em Imperatriz, eles alegam que não há identificação em nada com a região que fica a capital do estado (São Luís) e buscam os fatos históricos como a chegadas dos bandeirantes ao estado pela região sul pelo qual o processo de ocupação é pouco diferente a dos colonizadores portugueses, e isso é temática em monografias, dissertações, teses e artigos acadêmicos.
Há procedência do que eles alegam, mas por trás desse discurso há o interesse de “neomaranhenses” ou “maranhenses novos”, ou seja, mineiros, goianos, paraenses, gaúchos e outras pessoas vindo de outros estados que vieram aqui desde a década de 1960, contexto que o Maranhão estava vivendo com a criação de estradas, construção da Barragem Boa Esperança, construção do Porto Itaqui e a criação da Lei de Terras implementada no Governo do José Sarney, pois o governo estadual neste período recebeu muito apoio e incentivo do governo federal que estava sendo governado pelos generais em troca do apoio e fidelidade política, essas grandes obras foram feitas em nosso estado com recursos da União.
Mediante a esse contexto, muitos maranhenses foram obrigados a abandonar o campo e virem para a capital pra morar em palafitas e bairros nas condições subhumanas, fugindo da violência no campo que estavam sendo expulsos para dar o lugar a grandes empreendimentos e forasteiros (os gaúchos em maioria) que queriam se apossar nas terras devolutas.
Hoje Balsas é um dos maiores produtores de soja do país, mas quem produz são os sulistas, no caso os gaúchos, Imperatriz cresceu aceleradamente com a construção da rodovia Belém – Brasília que recebeu a vinda de mineiros que são maioria, de paraenses, goianos e até de árabes e seus descendentes que se instalaram na cidade, hoje é considerado um dos maiores centros da economia do comércio de varejo e atacado no país e apelidada de portal da Amazônia devido a sua posição geográfica privilegiada.
Esses “neomaranhenses” ou “maranhenses novos” que chegaram nesse período que formam a elite política e econômica na região do estado, são os que mais querem a criação do novo estado, alegam a má distribuição do PIB estadual aos municípios e regiões, sendo que São Luís fica com grande parte da renda per capita e alegam também como forma de romper com o grupo oligárquico  que governa o estado, justificando que toda a pobreza causada por esse grupo fica concentrada no “Maranhão do Norte”.
De fato, não são os maranhenses que querem a criação do novo estado, são estes forasteiros que querem a divisão, e a realidade do estado vizinho (Pará) é praticamente a mesma com forasteiros que chegaram entre as décadas de 1960 e 1970 com a política desenvolvimentista do governo federal pelos militares.
Os maranhenses e também os paraenses estão sendo usados como massa de manobra para atender os interesses de uma elite que se instalou nas regiões onde querem a criação do novo estado, e as grandes empresas como a Vale também tem interesse.
Mesmo discordando e ser contrário a divisão dos estados por entender que não irá resolver os problemas sociais, políticos e econômicos, não podemos ignorar a situação vigente que não existe somente no Maranhão e Pará, mas também em outros estados como o Piauí, Minas Gerais, Bahia e outros.
O que ocorre em muitos estados brasileiros é que as capitais ficam nas áreas litorâneas, uma herança do colonialismo que perduram os dias atuais, porque essas cidades costeiras em que algumas são capitais em seus estados foram fundadas no período colonial, no intuito de atender os interesses da metrópole (Portugal) e não na própria colônia.
O que se vê é o distanciamento do Estado com toda a região territorial que o engloba, o grande exemplo é a nossa São Luís capital do Maranhão, além de ser uma cidade costeira é também uma ilha, o Estado do Maranhão historicamente sempre foi governado por grupos oligárquicos, é desde os tempos do colonialismo, governado por famílias, partidos ou grupos políticos que estiveram no poder e sempre à elite local beneficiada, com a tradição política marcado pelo clientelismo, voto de cabresto, patrimonialismo e coronelismo, enquanto a população pobre sempre foi desassistida e usada a interesses destes grupos, portanto, a oligarquia Sarney é a continuidade das tradições políticas arcaicas e retrogradas em nosso estado.
Como falei anteriormente, São Luís é uma ilha banhada pela Baía de São Marcos e Oceano Atlântico, as vias de acesso são: Aeroporto Cunha Machado e as duas pontes que passam sobre o Estreito dos Mosquitos.
Imaginem São Luís sem o aeroporto e as duas pontes? Uma capital isolada deixando o continente que engloba o território maranhense sem a presença do governo, e que na prática é o que acontece em muitos estados. Vejam Manaus, capital do Estado do Amazonas com quase 2 milhões de habitantes tem uma das maiores indústrias eletro eletrônicos da América Latina, a Zona Franca de Manaus, mas a pouco tempo era isolado (foi construída recentemente uma ponte que passa sobre o rio Amazonas que leva até a terra firme com rodovia) porque a via de acesso era de avião ou transporte fluvial até Belém – PA numa viagem que pode durar até 7 dias, porque praticamente não há estrada.
O restante do Estado do Amazonas é praticamente isolado com acesso a fluvial ou aéreo para Manaus, rodovias é quase inexistente no estado, está é a realidade nos estados da região Norte como Acre, Roraima, Rondônia, Amapá e no Pará. Maranhão também não é muito diferente.
Em virtude disso, é necessário que haja a criação de novas capitais principalmente as que ficam na região litorânea para serem transferidas na região central em seus estados como estratégia militar na questão de defesa e segurança, geográfico para garantir o acesso e deslocamento a todos, facilitando assim a maior presença do Estado em acompanhar de perto os problemas de ordem político, econômico, social, segurança e militar para garantir a territorialidade.
A construção de Brasília para ser a nova capital da República foi nesse intuito, Juscelino Kubitschek foi criticado tanto pela classe política, elites e também pela esquerda, o motivo comum é porque não queriam que o Rio de Janeiro deixasse de ser a capital do país, sendo que a cidade fica em região costeira.
Brasil é um país continental, a capital que ficava no litoral (Rio de Janeiro) estava distante dos problemas em demais regiões e principalmente no interior, a construção de Goiânia a capital do Estado de Goiás na década de 40 na era Vargas foi determinante na construção de Brasília, porque neste período a região Centro – Oeste era praticamente inacessível com a quase ausência de estradas e pouco povoamento.
É conhecimento de todos que a ocupação nessa região com a construção da nova capital federal trouxe conseqüências drásticas para as populações locais, especialmente os indígenas, mas era necessário o estado brasileiro ocupar para integrar todo o território nacional em regiões inóspitas.
Infelizmente o governo fez de uma forma distorcida que só beneficiou as grandes indústrias estrangeiras que estavam se instalando no país, no caso as automobilísticas, principalmente num período em que o governo JK ficou marcado pela dependência do capital externo.
Mesmo com essas conseqüências drásticas, não podemos deixar de reconhecer a necessidade da construção de uma nova capital federal, e isso deve ser levado para os estados e acabar com essa herança deixada pelos colonizadores portugueses.
É necessário no Maranhão a criação de um nova capital, de preferência na região central como forma de integrar todo o estado e seu território, acabando assim com o ideal de separatismo feito pelas elites “neomaranhenses” ou “maranhenses novos” que ficam no sul do estado e são os produtores da soja em Balsas, detém praticamente todo o comércio de atacado e varejo em Imperatriz, indústria do aço em Açailândia, agronegócio e a produção do eucalipto.
Nos Estados Unidos, as capitais dos estados americanos em grande parte são pequenas com abaixo de 50.000 mil habitantes, não são grandes cidades como Chicago, Los Angeles, Miami, Boston e muitas outras cidades em seus estados, são cidades administrativas com menor contingência populacional.
Palmas, capital do Estado do Tocantins foi construída com essa finalidade quando foi criado o novo estado e emancipando-se de Goiás. Mas infelizmente a intenção política – administrativa foi prevalecida pelos interesses políticos de grupos como Siqueira Campos, de libertador (um dos responsáveis pela criação do Estado do Tocantins) a neocoronel que hoje está no quarto mandato de governador do estado. 
Mas essa é umas das melhores formas de acabar o ideal separatista, construir novas capitais em regiões centrais como forma de garantir a maior presença do estado e a população de todas as regiões estarem mais próximos do governo.

foto: do site http://www.reidaverdade.com/