segunda-feira, junho 20

aquiIo não era só futebol era outra coisa

foto do andres escobar

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Passeando pelo controle remoto na TV a cabo. Que o Zeca Baleiro diz em seus milhares de trocadilhos (já enjoados): “Comprei um TV a cabo/Acabo de entrar na solidão acabo”. Numa contra resposta vejo a TV a cabo uma revolução no sentido em que você não fica subordinado as programações dos canais abertos. Na TV a cabo você tem um menu interessante que vão desde cafés filosóficos até documentários sobre futebol. E num desses documentários o controle remoto parou. Era sobre os dois Escobar. O Andrés Escobar zagueiro da seleção da Colômbia e o Pablo Escobar que o denominaram de “O Bin Laden do narcotráfico”, pois aterrorizava com explosões nas cidades da Colômbia com uma milícia de paramilitares e além de alimentar a distribuição mundial quase total de cocaína. O Andreas era um exemplo de honestidade, de homem, de família e Deus e muito preocupado com a situação do seu país, envolvido em projetos sociais, além de ser um grande zagueiro conhecido como "el caballero de las canchas“ (o cavaleiro do futebol). Podemos ser maniqueístas e dizer: - era o bem e o mal.



A Colômbia se classifica para a copa do mundo nos Estados Unidos na clássica goleada de 5 a 0 contra a Argentina jogando fora de casa nas eliminatórias. O Pelé declara que a Colômbia era uma das seleções favoritas, apesar de seus palpites não darem muito certo. Mas de fato era uma seleção que tinha bons jogadores. Posso citar o Valderrama, o Rincón o louco do goleiro Higuita que acabou não indo para Atlanta, pois fez a cagada de visitar Pablo Escobar e receber a acusação de ligação com o narcotráfico e acabar sendo preso (ele era amigo pessoal do pablo). Mas, além disso, aquela seleção representava um país estereotipado pela mídia. É só pensar na Colômbia e ver o que vem primeiro na cabeça. Não era só um time de futebol. Eram humanos antes de tudo e colombianos. Que iniciaram uma série de mudanças no meio daquele caos químico e social. Nas ruas pessoas sorriam de alegria e gritavam nos jogos, pulavam, dançavam e esqueciam as barbaridades do Pablo Escobar e se uniam para ver aquele time jogar. Somos colombianos não somos traficantes. Gostamos de futebol, temos famílias, temos amigos, dançamos. Esse time representava o outro lado da Colômbia com a imagem do Andreas Escobar utilizada sabidamente pelo presidente, pelas propagandas estrangeiras e outras organizações a fim de mudar o olhar sobre a Colombia. A seleção foi desclassificada na primeira fase da copa do mundo e ainda com um gol contra do zagueiro contra os Estados Unidos. Posso amenizar o mau desempenho, pois chegaram durante os jogos aflitos de pressões dos cartéis que apostavam alto nos jogos para eles ganhar e na concentração receberam a notícia que o irmão de um dos jogadores havia sido morto e concluí que o psicológico dos jogadores não estivesse lá dos melhores. Fim da estória: os jogadores pegam cedo o avião de volta para casa. Atiradores de elite do The Seach Bloc (uma policia colombiana especializada em matar traficantes treinado por norte-americanos) executaram o grande traficante vilão Pablo Escobar em cima de um telhado de uma casa. E o mocinho Andrés Escobar ao sair de uma boate após uma provocação que se iniciou mais ou menos assim:
- Que gol laço você fez. Parabéns!
- Eu fiz por que eu quis. – respondeu com muita raiva e com umas na cabeça.
A replica foram seis balas a queima a roupa. Os responsáveis? Não é de se espantar: homens do cartel que apostaram alto nos jogos. A Colômbia perdeu um grande homem por um gol contra. Um simples gol contra alguém diria. Mas aquilo não era só futebol era outra coisa.
Diego Pires

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