terça-feira, junho 12

Texto para Igor Caffé (Arte, forma e conteúdo)


       
Lendo uma crítica no blog do meu amigo Igor Caffé, na qual este faz
algumas reflexões consideráveis sobre a arte, ligadas a questão da
forma e do conteúdo – logo me predispus (cheio de coceiras) a
respondê-lo por meio deste pequeno texto, inclusive, já colocado em
uma das categorias do subtítulo: o conteúdo. Com a observação da
forma: um e-mail despretensioso, ou seja, sem grandes propósitos
poéticos ou teóricos, mas só a fim de dialogar sobre o assunto
abordado.
 
Responder o que é a arte trata-se de algo bastante complexo. Por outro
lado, creio que esta dificuldade não seja justificável no fato de
manter certas linguagens artísticas cativas em certos róis, pares ou
guetos ‘iluminados’. Penso que é preciso haver uma abertura tanto da
forma quanto do conteúdo, ainda que a proposta artística tenha
substituído a forma pelo conteúdo. Então que tal estratégia nos
contagie, ou até nos convença e nos introduza através do discurso na
ilusão sensorial de alguma coisa que nos tire do eixo, que não sucumba
ao torniquete da lógica.
 
Para mim o que há é uma superação do conteúdo, e uma transformação da
forma. Nem todo conteúdo se equivale às qualidades que a forma pode
oferecer através das ‘sensações’, daquilo que nos faz assistir, ler,
ver ou ouvir algo e não permanecer mais da mesma forma, por conta da
forma como aquilo foi representado ou apresentado. Então, como
expectador, receptor, não me adianta de nada grandes saltos
ornamentais de erudição se, em mim, não há uma modificação real.
 
A crescente cientifização do campo da arte tem alargado e ao mesmo
tempo engessado as condições criativas, a liberdade prática em prol da
questão conceitual da obra de arte. Daí o artista se quer
inteligentíssimo num cenário de uma sociedade bufônica, de uma cultura
do espetáculo, e não de uma cultura espetacular. Quero dizer, a obra
de arte apresentada é uma coisa, outra coisa é a teoria, o conceito ou
conteúdo que a originou, pertencente a outro gênero, o da lógica
verbal ou retórica. É como se eu lesse contentado uma peça editada no
formato do livro, e dispensasse assim o espaço do teatro e todas as
sensações que ele contém e podem modificar as minhas impressões a
respeito da mesma peça.
 
Nenhum autor produz só pra si. De fato existe na criação um gesto
individual, no entanto também social. Trata-se de um pacto, no qual se
manifesta as mais variadas formas de expressão, sejam elas
inconsciente ou conscientemente. Para tudo há um pacto: obra e autor,
obra e público, autor e público. Neste sentido penso nas artes
plásticas, que nas últimas décadas, buscando mais o conteúdo e muitas
vezes abstraindo a forma, promove um doloroso divorcio, escava um
fundo fosso, em relação ao público, a um dos pactos relacionados a
entrada do homem no círculo da cultura. Há um fenômeno perturbador nas
relações socioartísticas! Por isso, não é de se espantar o tédio e o
desinteresse ao que está sendo exposto. Ou de ouvir a declaração do
poeta Ferreira Gullar quanto ao espaço da Bienal de São Paulo
completamente vazio: “Enfim a sinceridade”, disse ele, imagino que com
certo misto de angustia e sarcasmo. É o enigma de um vazio vicioso,
que se justifica narcisisticamente em suas dúvidas, plantadas na
cabeça do século XX.
 
O que há hoje, num plano geral, é uma reprodução inócua das matérias,
que precisam ser transformadas, ainda que precisemos superar os
discursos aí prontos para derrubar um desenvolvimento mais profundo da
arte. É preciso estabelecer um debate honesto diante da linguagem, em
suas intersecções e possibilidades de hibridização, todavia, sabendo
das propriedades sígnicas envolvidas neste processo; pois senão
cairemos novamente no ciclo do discurso pelo discurso, logo na falta
de sentido da arte e na transformação que ela capaz de efetuar na vida
social.
Pausa. Uns parênteses de perguntas.
 
O que é arte? Como definir o seu contexto? Poderá a arte ser criada e
compreendida quando não está ligada a um objeto estético? Poderá ser a
arte política, retórica, ou um discurso de si mesma? Depois de
Duchamp, podemos entender que toda arte (em sua natureza) só existe
conceitualmente? Em termos práticos, quais as criticas que podemos
fazer a arte desde que na década de 60 os artistas mais jovens, com
excelente formação acadêmica e definições normativas da arte começaram
a reinterpretar a essência da arte em analises alargadas?
 
Obs: pense na simultaneidade da forma e do conteúdo. Ou na superação
do conteúdo por meio da transformação da forma.
 

2 comentários:

Igor Café disse...

Esse é um email que recebi do Diego Menezes Dourado para endossar a discussão do post que publiquei na terça passada

http://ponto-continuando.blogspot.com.br/2012/06/por-que-as-vezes-saio-do-teatro-com.html

Igor Café disse...

Diego é uma artista plástico ludovicence. Possui um trabalho extremamente original e pontos de vista que mundam horizontes. Debandeou para Santa Catarina, onde mora e trabalha como artista independente.

Para conferir:

http://diegodemenezesdourado.blogspot.com.br/

vale a pena!

Hoje meu post será o dele...