quinta-feira, setembro 8

ABoRReCenTES



CASA DE STRIPER

[ALGUÉM BUZINA NA PORTA DA CASA DE JOÃO]

PAI DE JOÃO (nem aí) - Meu filho deve ser aquele cobrador do gás, diz que eu não to em casa e pra ele passar na próxima semana.
Abri a porta e vi cara de Pedro fazendo sinais pra mim com o braço esquerdo pra fora de um carro. (como mostra a ilustração acima)

PEDRO (gritando) - João chega aí.
JOÃO (?) - O que você esta fazendo com esse carro? Você ainda não tem nem carteira.
PEDRO (sincero) – Meu pai viajou. E deixou a chave do carro. Peguei emprestado sem ninguém saber.
JOÃO- Você é doido mesmo.
PEDRO - Entra ai careta que vou te levar pra um lugar massa. Inventa uma desculpa lá pro seu pai... Bota uma calça comprida, um tênis e uma camisa legal.
Entra em casa e vai falar com seu pai que assistia um filme.
JOAO (cara de cachorro carente) - Pai...
PAI DE JOAO - Falou com ele?
JOÃO - Não, é Pedro que ta aí.
PAI DE JOÃO - De carro?
JOAO - Sim. Ele já tirou a carteira...
PAI DE JOÃO - Mas ele não é menor de idade?
JOÃO - Ele é repetente na escola. Ele já tem fez 18 anos. Vou sair com ele.
PAI DE JOÃO - Pedro fuma maconha? Foi ele que te ofereceu?
JOÃO - Não e não. (Estou aprendendo a mentir ou meu pai é retardado)
PAI DE JOÃO (um pouco preocupado) - O trânsito anda muito perigoso. Cuidado. Pede pra ele andar devagar e não vão beber.
JOÃO - Ta certo, pai. – e sorri de orelha a orelha.
Vesti a calça jeans, calcei o tênis do futsal e botei minha camisa do Spider Man e perfume alfazema em menos de dez minutos. Estou o Flash Gordon.
JOÃO – Thau pai. Depois eu assisto esse filme do Stanley Kubrick com você.
Meu pai nem prestou atenção nas minhas palavras sentada na poltrona lambendo leite condensado com os dedos. E sai fora.


NA RUA – PORTA DE CASA.
PEDRO - Porra João tu tava passando batom? Entra aí.
JOÃO - Tava convencendo meu pai, seu idiota. De sair com um louco como você. Disse que você não ia atropelar ninguém.
PEDRO - Porra! Que perfume desgraçado é esse? Bom Ar?
JOÃO – Foi tua mãe que me deu.
PEDRO - Minha mãe não usa esse fedor. Parece um guri com essa camisa.
JOÃO - Além do perfume tua mãe me deu a camisa na última noite que tive com ela.
PEDRO - Não fale assim da mãe eu não te dei essa intimidade [Risos]. Abre a porta - chaves aí Spider Man.
JOÃO - Éguas Pedro! Têm quantas gramas de maconha aqui?
PEDRO - Sei lá. Sei que tem 10 contos. E essa é da boa. Saca o cheiro dela. A maciez. A qualidade...
JOÃO (SORRINDO)- Não sabia que tu era poeta.
PEDRO - Poeta de cú é rola. Bola um pra gente aí, nerd.
Ele arrancou o carro cantando os pneus e ligou o som de Bob no carro.

As ruas estavam luminosas. A batida do som ao ritmo do coração. O carro parecia um charuto ambulante.JOÃO - Ei cara, fiquei com raiva naquele dia. – Tinha que dizer isso pra ele. Tava engatado.
PEDRO - Que dia? ( O desgraçado nem se lembra )
JÕAO - Que você me chamou de boca virgem e que nunca transei. Falou isso na frente de uma garota, Porra.
PEDRO - Tu tava afim da garota, né? O nerd ta apaixonado.
JOÃO - Não... Estava só discutindo física com ela.
PEDRO - Aquela pequena parece um Tele-Tuber.
JOÃO - O nome dela é Jarlisse.
PEDRO - Até o nome dela é feio. Tu vai conhecer umas gatas...
Saiu da avenida. Dobrou numa esquina. Seguiu numa rua estreita. Dobrou a direita e parou em frente a uma casa com varias fotos de mulheres fazendo posses sensuais.
JOÃO - Que lugar é esse?
PEDRO - Uma banca de revistinhas em quadrinhos. É um puteiro. Uma casa striper. Tu vai deixar de ser boca virgem e vai transar uma MULHER de verdade. Vai deixar de ser um punheteiro e vai me agradecer pelo resto da vida.
Juro que comecei a suar pelas axilas excessivamente e senti uma dor de barriga. Quase caguei. Meu cú se prendeu.
JOÃO - Pedro não dá pra mim não.
PEDRO - Por que seu Nerd?
JOÃO (MENTINDO) - To namorando uma garota ai. E eu sou fiel.
PEDRO - Namorando?! Desde quando tu namora?
JOÃO - É sério.
PEDRO - Aquela Tele Tuber?
JOÃO - Não... É uma vizinha. Ela é nova na rua.
PEDRO - Qual o nome dela?
JOÃO - Doralice.
PEDRO - Tu é mesmo um cagão.
Arrancou o carro cantando os pneus e voltamos.
JOÃO - Tu já entrou alguma vez lá?
PEDRO - Meu pai me levou um dia. Bola outro aí.
JOÃO - Em falar de seu pai não é ele ali no altdoor desejando feliz dia do trabalhador?
PEDRO - Sim.
JOÃO - Aquele homem dando às mãos pra ele não é o cara que limpa a piscina em sua casa e corta a grama. O caseiro.
PEDRO - Sim. Ele tem demonstrar que esta com o povo trabalhador.
JOÃO - Pra onde seu pai viajou?
PEDRO - Pra Brasília. Tratar de negócios. Vai se candidatar a prefeito de nossa cidade. Um corrupto filho da puta que transa com putas.
JOÃO - E sua mãe?
PEDRO - Além de Einstein tu és Freud agora? Mamãe faz de conta que esta tudo bem. Fazendo posse e sorrindo nos jantares. Fazendo seu papel de madame. Vamos comer No Mcdonalds?
JOÃO - To liso.
PEDRO - O velho amigo do trabalhador me emprestou uma grana. Tu acha que tua ia transar com as gatas de graça só por que ele é cliente da antigas?

Eu e Pedro comemos oito hambúrgueres Macfeliz cinco fritas e seis copos de coca-cola e um arroto no final que fez as crianças nadando numa piscina de bolinhas sorriram e os pais nos olharem com cara feia. É que estávamos felizes e famintos depois de Mac baseados.

[DE VOLTA A MINHA CASA]

- João como foi o passeio?
- A gente foi tomar um sorvete com umas garotas.
[Meus olhos não estavam vermelhos, dessa vez não esqueci o colírio.]
- Garotas... meu filho ta crescendo.
- E o filme. Era bom? – Mudança de assunto. Não quero falar de garotas com meu pai.
- Tem uma parte que o Macon MacDowell estrupa uma mulher ao som da nona sonata de Beethoven. Com um ser um humano pode fazer um gesto tão agressivo ao som de musica tão magnífica, transcendental. Esse Kubrick é genial.
Acho que papai está precisando mais do que eu ir numa Casa de Striper.
- Vou dormir pai. Amanhã tenho prova de inglês. – que puta sono! Bye dad.

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