domingo, abril 22

Cardume.

Nada mais inquietante que uma página em branco. Nada mais inquietante que o jornal da manhã quando se é a notícia. A interpretação lúdica ou literal do mesmo texto, a versão dos fatos e o fator psíquiquico, tudo mundo inquietante.
Minha imagem é qualquer coisa abstrata, pintada com tinta fluorescente, que me dê o benefício da falta de insensibilidade alheia, que brilha no escuro de um poço fundo.
Eu sou um artista. Posso não ser compreendido ou ser aclamado gênio por meros traços infantis. Mas se ainda assim o quadro permanece branco, minha arte residirá apenas na moldura. Odeio a perfeição, e qualquer obrigação de dar certo. E porque me empenho tanto pra dar certo, é que odeio mais.
Ouvir música é bom, é como dissipar pensamentos desordenados, pensamentos são carregados, eles têm energia. O som da chuva é uma boa música.
Voltei todo molhado do céu e ainda não me curei da pneumonia. Por dias fiquei sentado em frente a uma cachoeira observando peixes voadores lutarem por águas tranqüilas.
Vi meus pensamentos revoltos, nadando no contrafluxo da razão. Correntes do sul, rosa-dos-ventos, pontos cardeais, qualquer norte sem direção... nadam livres, nadam em cardumes, invasivos.
Minha pele é úmida, isso me refresca o pensamento. Meus pensamentos nadam livres, e nem a malha mais fina consegue deter. Escarro sangue, pensamentos não fecundados. Tento não tremer o frio da chuva que cai aqui dentro.
Eu sou um rio temporário, que corre para a calha mais funda. Afundo, me afogo e nado. Nada parece conseguir me represar. Se chove, transbordo pelas ideias ciliares, e volto arrastando os com fúria os sonhos que não germinaram, os que morreram com sede.
Quando chega a estiagem, engrosso meu caldo. O cardume se espreme e começa a devorar aqueles mais mansos, aqueles mais fracos, que vivem no raso. Sou mar de peixe grande.

Um comentário:

Anônimo disse...

Voltei todo molhado do céu e ainda não me curei da pneumonia. muito bom!!!

Natan Castro.