domingo, março 3

descrição


Tem esses caras que estão de saco cheio de tudo. Eu era um desses. Existem muitos assim, por aí. Essa noite não me sentia bem. Quando lembro dos sonhos que tenho sempre me sinto mais maluco do que o normal. Acho que é impossível ser completamente diferente de todos. Assim como não da pra escrever um livro sem que haja outro parecido. Não da pra pensar demais sem ficar dando loops infinitos. Estes loops me estonteavam, me sentia caindo girando num poço úmido feito de pedras; naturalmente, estava o tempo todo com essa sensação de desconforto — mas foda-se, sentir-se confortável é um sintoma de morte. Se você é incapaz de ouvir lobos uivando toda semana, é um sintoma de morte. Se não sente sua cabeça pesada, como se houvesse um machado enorme de um lenhador descendente de Nazistas do Rio Grande do Sul cravado na parte de trás do seu crânio; Se não sente constante vontade de morrer, está morto; A vida como um amontoado de percepções. Conversas com aranhas que moram na parede do banheiro. Livros intermináveis. O sangue no espelho. Videogames. Amor. — Amor também é uma ilusão, a única que vale a pena (até mais que o álcool). Trabalhar num supermercado. Ver caras roubando cachaça no supermercado e quando seu chefe perguntar porque você não disse nada, dar uma resposta certa e firme. Estar cheio de dúvidas. Mulheres suicidas em mesas de bar. Autossabotagem. Tristeza. Angústia. Ânsia de vômito. Parecer feliz. Feliz! A dor nos olhos, por não dormir. Música eletrônica. Parecer perdido. Não parecer perdido. A rua. O sol piscando entre as grades do quintal da fábrica de pedras. Olhar pro céu e levar concreto nos olhos. É só a vida. Não que eu dê bola. Só quero escrever.

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