segunda-feira, dezembro 24

Eduardo Patricio


                                                
Entrevista concedida por email a Natan Castro.


Eduardo Patricio é um músico maranhense, de suma importância para a cena alternativa de São Luís, desde cedo mostrou interesse pela música, participou de algumas das melhores bandas surgidas no cenário alternativo da Ilha nos anos 90. Dentre as principais Sarcoma (Hard/Trash), Samsara (Blues/Rock) e a mítica Catarina Mina (Pop/Rock). Atualmente estudando música em Belfast (Irlanda do Norte), o artista hoje está com um trabalho voltado para a música eletroacústica. Na entrevista abaixo o artista fala de influências do inicio, cena alternativa maranhense, fim da Catarina Mina e Joacy James.


Todo mundo que participou ou acompanha o cenário musical de São Luis dos anos noventa pra cá, sabe da importância de bandas como Sarcoma, Samsara, Catarina Mina para o surgimento daquilo que ainda nem podemos chamar de cena alternativa na Ilha, pelo motivo dessa mesma cena ainda não se sustentar. Em sua opinião qual a importância dessas bandas na atualidade, sendo que em todas você participou como integrante seja tocando batera ou fazendo os vocais?

Pra ser sincero, nunca vi a coisa por esse ângulo, dessas bandas terem sido decisivas na criação de uma cena alternativa. Fico feliz que elas sejam lembradas dessa forma. Sendo assim, e também pelo fato de não estar morando na ilha desde 2005, tenho certa dificuldade em dizer qual seria a importância delas hoje. O fato é, nas 3 bandas estávamos sempre tentando fazer um som bacana e tocar bastante. Se isso causou um impacto mais duradouro e/ou serve de estímulo pra bandas ainda hoje, fico muito feliz.    

Muitas foram as bandas que você criou e participou, esse interesse por música veio desde cedo ou não? No inicio quais foram as principais influencias?

A partir dos 4 anos, junto com meu irmão mais velho, comecei a fuçar a coleção de LPs do meu pai. Passava horas ouvindo, tentando cantar junto, folheando encartes etc. Meu pai não tinha nada de rock e pouquíssimo de qualquer música internacional. Eu curtia discos do Agepê, Roberto Carlos, Chico Buarque e todos aqueles infantis da década de 70/80 (Pirlimpimpim, Balão mágico, Arca de noé etc.)
   
A ideia de ir estudar música em Curitiba e logo em seguida na Europa foi natural ou existiu em algum momento a informação que você poderia continuar uma carreira musical aqui?

Eu queria ir pra algum lugar. Estava terminando o curso de Psicologia na UFMA, mas não queria trabalhar na área. Fui pra Curitiba pra fazer uns cursos de áudio e tecnologia e, depois de uns meses, acabei me metendo no vestibular de música da UFPR. Daí em diante uma coisa foi levando à outra. Não tinha um plano (acho que ainda não tenho). Tentei aproveitar as oportunidades que foram me aparecendo. Tenho que voltar pro Brasil em 2014 e  espero continuar trabalhando com música.

Quem acompanha sua trajetória sabe que você já teve bandas de estilos variados, como punk, rock, blues, trash metal e o próprio pop/rock o interesse por musica eletrônica veio depois desses outros estilos ou já existia a principio?

Sempre gostei de algumas coisas e/ou sonoridades eletrônicas. Kraftwerk, por exemplo. Clássico! Mas comecei a ouvir mais e tentar conhecer a história da música eletrônica só por volta de 2002. Foi quando comecei a considerar o potencial dos recursos eletrônicos pra experimentação sonora. 

No seu ponto de vista por estar a certo tempo fora dos limites do Maranhão, como você vê o interesse pela musica produzida aqui pelas pessoas que consomem música no sul do Brasil e agora na Europa?
Pergunta difícil. Não sei bem. Em Curitiba as pessoas pareciam não saber bem o que havia no Maranhão, apesar do esparso e intenso interesse em Tambor de crioula que há na capital paranaense. No fim das contas, é isso, alguns grupos específicos de pessoas interessadas em música regional têm interesse e apreço por tambor, cacuriá etc. Aqui a coisa complica. O Brasil é muito grande e ainda é um bicho desconhecido pra maioria dos europeus. É difícil saber do Maranhão especificamente. No entanto, a música brasileira, em geral, soa sempre de maneira distinta por aqui e imagino que sons do Maranhão poderiam ser recebidos de forma calorosa por muita gente.

Hoje em São Luis existe uma informação meio mítica sobre a Catarina Mina, as novas bandas sempre falam da Catarina Mina como influência certa. É para muitos o primeiro esboço de inteligência na cena alternativa maranhense, sabemos que a banda terminou no meio das gravações do segundo registro, quais foram os motivos? E qual seu relacionamento hoje em dia com os outros integrantes?

De novo, fico feliz em saber que meu trabalho ainda ressoa de alguma forma. É verdade, estávamos gravando um segundo disco (12 faixas se não me engano). A banda terminou aos poucos, por uma série de motivos, sem a gente perceber. Simplificando a coisa: era cada vez mais difícil fazer shows na ilha, principalmente depois da explosão do "forró de fortaleza" etc. Tínhamos um investimento de trabalho, tempo e recursos muito grande, não dava pra se sustentar sem shows. Desse modo, cada um foi se voltando a outras atividades e começando a traçar outros planos que, de uma forma ou de outra, inviabilizavam a continuidade da banda (Djalma planejando se mudar pro Rio de Janeiro e eu pra Curitiba são os exemplos mais claros). Foi um fim de banda diferente pra mim. Sem brincadeira, um dia estávamos juntos, fazendo um lanche e falando sobre a banda, olhamos uns pros outros e dissemos: "acho que a banda acabou, né?". 
Falo com um certa frequência e encontro os caras sempre que posso. Sinto muita falta deles. 


Estamos nessa semana completando seis anos sem a presença de Joacy James na militância cultural de São Luis. Em sua opinião o que representa esse cara e outros como Gilberto Mineiro (Time Rock) e Fred Machado (Backbeat) para a cena alternativa do Maranhão?

Eu diria que Joacy, assim como outros, é/foi uma figura fundamental. Perdemos um grande cara! Sem me delongar muito, acho que precisamos de mais pessoas assim, inteligentes e curiosas, que topem questionar, fazer e chacoalhar um pouco a nossa querida ilha (que sofre de uma tendência crônica ao conformismo). 



Blog pessoal de Eduardo Patricio

                                                  Clipe Haicai Catarina Mina


Eduardo no festival FILE HIPERSÔNICA 2011
                                 

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