sexta-feira, novembro 23

A metáfora do malabarista



 




Num mundo de objetos e imagens velozes; de certezas com estruturas instáveis; de corpos sem pausas ou intervalos; de excessos de passos frenéticos sobre superfícies móveis; de manipulações diversas,
a ação do malabarista é a metáfora máxima da condição do homem presente nesta intitulada pós-modernidade.
Num gesto semelhante ao do malabarista, todos parecem estar equilibrando no ar as suas verdades éticas, morais, espirituais e afetivas.
Da mesma maneira que a clave não para na mão do malabarista por mais de um segundo, uma verdade definitiva também não se detêm na consciência do homem deste momento histórico. Tudo parece estar só de passagem.
Não há perspectivas para o olhar. Os olhos só focam a limitada área na qual a ação imediata se realiza. O olhar vigia o movimento do objeto.
O objeto nunca é conhecido no toque das mãos, no nível da apreensão sensível, mas sim na observação e controle do seu movimento.
A rapidez com que as claves passam pela mão do malabarista parece ser a mesma rapidez com que as coisas passam pela existência do homem atual.
O importante não é o contato, mas sim o controle de tudo que passa.
O controle do corpo, o controle dos objetos, o controle da ação, o controle da natureza, o controle das relações, o controle do tempo...
O controle, até, da inexorável força gravitacional que conduz os corpos ao seu definitivo final: a queda.
Em cada apresentação de um malabarista, estará exposta a metáfora da nossa condição atual: o equivocado desejo de controlar o movimento da vida por intermédio de habilidades inúteis.
Pois, hora ou outra, a força da gravidade vence, e clave vai ao chão.

Um comentário:

Alessio Di Pascucci disse...

Que massa ver o meu texto aqui... Valeu!