sábado, junho 30

Perto do Fogo

Para Sergio Bicca que me pediu pra escrever 
essa estoria real e era meu vizinho na época


Eu tinha 8 anos e era 29 de junho do anos noventa e poucos e por volta do sol na linha do equador desci pra casa de meu best friend infantil roger naquela imensa rua 13 mágica e o céu tenho certeza que tava azul e meus olhos brilhando e bati na porta da casa dele.


- o que foi?

- vamos brincar de Comandos em Ação?

- vamos!


E lá estavamos no jardim da minha casa de dois andares e um corredor infinito na lateral até o quintal e estavamos querendo fazer um fogueira e precisamos de alcool e eu fui até Francinete que fazia algo na cozinha e pedir pra ela:


- quero alcool!



Pegou numa estante alta que meus braços não chegavam, pois só tinha 1 metro e meio de altura e levei o liquido incendiário e os olhos brilhando e eu e roger fizemos uma pequena fogueira e o alcool do lado, sem tampa, caiu.


Vermelho e gritos.


Corremos e corremos pelo corredor infinito e passamos pelo quintal até o tanque e enfiei os braços na água em carne viva.

Meia hora depois 100 pessoas em volta de mim e roger. Meia hora depois eu e Roger dentro de um carro em alta velocidade a caminho do socorrão. Meia hora depois mililitros de morfina nas veias e 30 segundos depois totalmente relaxado.


1 semana depois e outras semanas depois óxido nitroso no nariz e dormia e curativos no centro cirurgico e abria os olhos aos poucos e tudo branco com a doce voz de uma enfermeira:
- Você está com enjôo?

- Um pouco.

- Vai passar.

- Obrigado.
3 meses depois uma cicatriz no braço.

Agora eu e roger eramos Faisca e Fumaça.

Quantas vezes não tive que responder:

- O que é isso no seu braço?

Cansado de contar a mesma estoria. Comecei a inventar outras.

Estava num set de filmagens do filme do rambo quando me queimei numa explosão de uma bomba. Estava num set de filmagem do corvo e ainda vi o lee morrendo com uma falsa bala de festim. Me transformaram num contador de estórias porque ja tava cansado da mesma estoria.

- Tive minha primeira overdose aos 8 anos. - Dessa eu contei pra um estudante de medicina italiano que me levou a serio, porque meio que é verdade. E repeti mais vezes essa estória pra outros.

Dae um dia uma mina do curso de História no B6 na UFMA me disse:

- Sua cicatriz é sexy!

Ja tinha até esquecido dela no meu braço, era como meu dedo mindinho, não lembro dele todo dia. E depois dessa até passei a usar mais camisetas... de Braço de Cobra na adolescência passei para um Cicatriz Sexy na universidade. Os tempos mudaram ou era só a diamba na cabeça da mina ou mesmo a desconstrução de um conceito ou tudo isso junto.


Sorri.


E hoje quando me mandam fazer uma tatoo eu digo que ja tenho super original e única no mundo.

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