domingo, setembro 11

Ela tinha entre as pernas o mais curto caminho para o Paraiso.

Mais uma vez ele estava a pensar naquela noite, mais uma vez igual a todas as outras noites, dos últimos três anos. Podia lembrar-se do barulho da música que tocava ao fundo, do ar de fumaça e claro do perfume cálido que persistiu durante meses em suas entranhas. Era agosto e pra seu desgosto a lembrança ardia como brasa na fogueira dos dias atuais, feito um anjo caído ele percorria as esquinas daquela metrópole em busca de tudo ou nada que fizesse sentido. Algo que tivesse um início um meio e um fim, afinal a solidão é a ausência de tudo aquilo que podia ser, e para ele até então nada havia sido, por isso ele estava ali no inicio daquela noite, a procura dessa marca que preenchesse essa lacuna que era como sombra a acompanhar seus passos na escuridão.

Uma mão tocou-lhe a costa de forma leve, muito levemente, ao virar era ela, a filha querida, o motivo de orgulho de seus pais na infância e na adolescência presenteada com a alcunha de ovelha negra. De onde teria ela saído, de onde aqueles olhos teriam vindo? Quantos caminhos até chegar ali a poucos centímetros do dele. Como num flash não era mais a esquina o local onde se encontrava, e sim uma sala grande toda envolta de branco, uma profunda calmaria ele sentia em seu interior, não havia móveis, quadros, somente o vão enorme daquele espaço e uma mulher agachada de costas para ele, vestida de negro, tipo alguém que sai por ai vestida pra matar. Até o momento nenhuma palavra, mas seus lábios encharcados estavam por conta da imagem dela, sua à libido foi ao limite quando ela virou e disse coisas com um só olhar que nenhum livro que ele havia lido tinha feito.

O sinal estava dado, as margens queimavam feita a sarça, suas pálpebras pressionavam com dificuldade aqueles olhos sedentos de vida, de morte, de quase tudo, de tudo daquela mulher. Ai ela veio ao seu encontro e logo após o lapso, o vulto dela desapareceu na fluidez do tempo, e quando o psicanalista perguntou o último detalhe que lembrava, ele respondeu, ela tinha entre as pernas o mais curto caminho para o paraíso.

4 comentários:

Anônimo disse...

Natan,sempre penso nos caminhos que cada um percorre até iniciar um novo caminho: as curvas,os degraus... quantas histórias, quanta vida, quantos sentidos... isso é extraordinário!texto de tirar o fôlego!Alice

Anônimo disse...

Que bom Alice, acho que é exatamente isso, tantos caminhos, vários sentidos... teorias conspiratórias, encontros e desencontros.

Natan Castro.

Anônimo disse...

Isto na verdade é bem fatalista. O que me faz recordar o Decadentismo. Na forma da mulher o suposto mistério que ela traz muitas vezes "revelado" , por entre os olhos negros. Parabéns pela fatalidade do texto.Cris

Anônimo disse...

não era inferno...rs? de maldição pra rendição

diego