quinta-feira, junho 23

E se...

Imagine querida, se nós pudéssemos andar pelos tetos, de cabeça para baixo, tendo que tomar cuidado para não tropeçar nas ripas do telhado, tendo que pular o espaço que fica entre a porta e o finalzinho da parede para passar de cômodo em cômodo... Não, talvez fosse má idéia, sem contar que todos os móveis imediatamente cairiam sobre nossas cabeças, e você, ingênua, ao sair de casa, seria sugada junto com as telhas e os carros; daí seria aquele inferno, pessoas gritando, sendo praticamente abduzidas por não sei o quê, e lá teria eu que procurar uma corda para amarrar em torno da cintura e buscar você na atmosfera, e então, querida, como o ar ficaria rarefeito e a temperatura diminuiria drasticamente, eu não te alcançaria, por mais desesperado que estivesse. Ficaria no ar, ali, que nem pipa, imaginando que àquela hora você nem seria mais o que era, tendo se desintegrado de vez, restando comigo apenas a latência do que um dia foi... Não, imaginar é perigoso, é melhor que apenas fique exatamente onde está,  que as coisas permaneçam nos seus devidos lugares, ao raio dos olhos, e que a gravidade, calada no seu canto, não cuspa a gente como quem, de repente, ao comer o doce, achasse na língua o amargo.

Igor Nascimento

4 comentários:

Anônimo disse...

Ta ai simples e singelo.Gostei.Cris

Anônimo disse...

e ae igor esse texto é uma crítica ao realismo mágico?

diego

Anônimo disse...

não, não.. é só um pessimismo apenas, a vitória da estabilidade, o derrota, se preferir
igor

Cacau disse...

pessimismo delicioso de ler então :)