quarta-feira, julho 31

Vagabundos e Egocêntricos


Nos últimos meses o Brasil vem passando por constantes manifestações que começou por causa do aumento do preço de passagem da cidade de São Paulo e outras capitais do país em que os estudantes foram às ruas contra o aumento das tarifas.

Começou a surgir outras causas que foram reivindicadas por diferentes categorias e setores da sociedade, como a PEC (Projeto de Emenda Constitucional) – 37 que visava tirar poderes de investigação dos ministérios públicos estaduais e federal, deixando apenas para as policias civis dos estados e federal, por exemplo, conquistada a revogação da PEC, surgiram outras reivindicações que no momento é pauta de discussão na sociedade.

Entre elas é a dos médicos através dos Conselhos Regionais de Medicina nos estados (CRM´s), Conselho Federal de Medicina (CFM) e outras organizações que representam a categoria, isso começou quando o governo federal resolveu atender a reivindicação vinda das ruas que pediam mais médicos nos postos de saúde e em hospitais do SUS (Sistema Único de Saúde), principalmente nas periferias de grandes cidades, cidades interioranas e em zonas rurais.

Devido o desinteresse de muitos médicos que se recusa a trabalhar nessas localidades, o governo começou a cogitar possibilidade de trazer os médicos de outros países, principalmente os cubanos, começou daí a briga de médicos com o governo, por serem contrários a vinda destes ao país ao alegarem que os médicos brasileiros devem ser priorizados e os de fora devem se submeter a uma revalidação pelo Conselho Federal de Medicina, numa espécie de prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) para exercer de fato a advocacia.

Os médicos têm todo respaldo e legitimidade pra manifestar e reivindicar (algo que pouco se vê por sinal), mas eu não sou solidário com essa categoria, está certo que existem prefeituras que não pagam devidamente, dá calote (atraso dos salários) e sem contar as mínimas condições de trabalho em hospitais e postos de saúde.

A corrupção existe no SUS é a principal causa do descaso no sistema de saúde em todo o Brasil, principalmente em cidades interioranas, zonas rurais e periferias nas grandes cidades, justamente nas localidades onde há falta de profissionais da saúde, especialmente de médicos.

Contudo, reitero a minha não solidariedade a essa categoria. E porque? Historicamente e culturalmente os cursos de direito e medicina são voltados para as classes elitistas que serve apenas para o status quo ou simplesmente para ser chamado de doutor.

É comum bacharéis de direito e medicina quererem a todo e qualquer custo serem chamados de doutor, advogados e médicos ostentar a denominação sem sequer terem feito a especialização e ainda mais o doutorado, enquanto o papel social dessas profissões de fato é ignorado.

Os estudantes e bacharéis em direito quando se formam muitos só pensam apenas na ascensão social sem se importar com as injustiças, os estudantes e bacharéis em medicina, este em especial, quando se formam, muitos não querem trabalhar em postos de saúde ou hospitais do SUS.

Muitos destes pensam apenas na ascensão social ou política, é comum ouvirmos frases tipo: quero ser médico pra ser chamado de “doutor” (sem ter feito o doutorado), quero ser médico pra ganhar dinheiro, quero ser médico porque quero ingressar na carreira política, seja em mandato eletivo como vereador ou deputado ou ser diretor de posto de saúde ou de hospital, mas sem precisar trabalhar ou ir ao local de trabalho, trabalhar num grande hospital privado ou simplesmente montar o seu próprio consultório.

Resumindo, grande parte dos médicos não quer trabalhar de fato na rede pública, principalmente dos interiores, zonas rurais ou periferias das grandes cidades, que se encontram a maioria dos pobres e excluídos da sociedade, vivem na condição de pobreza extrema ou abaixo da linha de pobreza.

Preferem ficar nas cidades e em áreas nobres com seus consultórios cobrando 500 reais por consulta de 30 minutos estampando um lindo sorriso colgate com os dentes brancos, ouvindo os dizeres do cliente (não paciente porque está pagando para ser consultado num ambiente privado), pega o pulso do individuo (e olhe lá quando pega) para saber o que sente e em seguida passa a receita médica e indica um outro médico para o mesmo procedimento (quando o caso não é grave) ou pede o retorno pra saber do resultado (como forma de faturar mais dinheiro ($$$)pelo serviço das consultas médicas).

Agora pegar num bisturi, fazer de fato todo procedimento que deve ser feito pra ser saber o que passa o individuo que nesse caso é o paciente, são os vagabundos que adoram desfilar nas ruas todo de branco e colocar nos ombros o jaleco, como forma de mostrar a sociedade a sua posição social, são os mesmo que se recusam a colocar as suas lindas mãos de porcelanas ao corpo do paciente banhado de sangue, fratura exposta ou vísceras do lado de fora.

Esses tipos de trabalho muitos destes não querem exercer, são insensíveis a causa humana e até aos indivíduos que clamam por atendimento antes de morrer, é comum nos hospitais públicos pacientes morrerem clamando por um atendimento diante da vista destes médicos que nada fazem e nem sequer se comovem diante da situação enferma.

Esse é o motivo destes senhores e senhoras de jaleco iràs ruas protestarem contra o governo, porque não querem trabalhar, querem continuar no seu lugar social sem contato com os que realmente precisam.

O governo federal para resolver o problema que está sendo clamado nas ruas para resolver o problema da falta de médicos, cogitou a possibilidade de contratar médicos estrangeiros, principalmente os cubanos, os conselhos e organizações da categoria de forma corporativista foram contra, o governo ouvi a reivindicação dos médicos e estudantes de medicina.

Criou o “Programa Mais Médicos” que visa ampliar o número de vagas nos cursos de medicina, principalmente nos interiores que estão instalados as universidades federais, o próprio governo nesse programa vai pagar 10mil reais para que os profissionais atuem nos interiores, zonas rurais e periferias nas grandes cidades, sendo que as prefeituras se encarregarão de garantir a moradia e alimentação, não tendo mais a responsabilidade de pagar o salário destes profissionais que são altos por sinal, comparável com outras profissões, como a de professores.

Em contrapartida, o governo através do ministério da Educação pretende reformular o curso de medicina aumentando de 6 para 8anos, sendo que 2anos será dedicado a trabalhar no SUS, principalmente em localidades que carecem desses profissionais como foi citado anteriormente.

E novamente os conselhos e organizações da categoria estão nas ruas contra o governo para protestar contra o programa, aumento de duração do curso de medicina de 6 para 8 anos e a obrigatoriedade de trabalhar nos hospitais do SUS (a principal causa da revolta) e em localidades que carecem de médicos.

Nessas circunstâncias devemos ser solidários aos médicos? Devemos estar no lado deles contra o governo? Eu estou no lado do governo em relação a problemática da falta de médicos que deve ser resolvido em imediato devido o clamor vindo das ruas com as manifestações ocorridas recentemente.
Os senhores e senhoras dos jalecos não estão nem aí pra ruas e muito menos das necessidades da população, pouco importa que a função deles é salvar vidas, sendo que o importante é o status e ascensão social e politica sem dar a importância do seu papel social na sociedade.

Eu tiro o exemplo de mim mesmo, sou professor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) pelo Programa Darcy Ribeiro, trabalho nas cidades de Balsas, Barra do Corda, Grajaú e Loreto, essas cidades ficam entre a região central e sul do Maranhão, bem distante da capital que a viagem de ônibus dura em média 12 horas, sendo que em Balsas a distância é maior podendo chegar a 15 horas de viagem e menor é Barra do Corda podendo durar apenas 10 horas.

Eu sou um dos poucos que mora em São Luís que se dispõe a viajar toda semana pra trabalhar nessas localidades (ainda fui chamado de louco por alguns por achar que não valeria a pena ou por ser arriscado), a maioria preferem ficar em São Luís na via crucis ao acordar cinco da manhã para sair de casa as seis pra pegar ônibus extremamente lotado em que as pessoas te apertam, imprensam, esfregam, pisam no seu pé, empurra, esbarra e sai do ônibus e chega ao local de trabalho suado, roupa amassada, manchada e suja, exausto e estressado, sendo que sai de casa bem humorado e com a roupa bem passada e limpa.

Eu mesmo já passei por isso diversas vezes quando saia de casa para ir ao trabalho, dizia pra mim mesmo que isso não era vida pra mim, ficar preso num transito engarrafado atrasando o tempo da viagem e o horário de chegar ao trabalho, tendo que assinar o ponto e se passar do horário e limite de tolerância levava o carimbo no lugar da assinatura, e se levasse três carimbos levaria uma falta e um falta resultava no desconto do salário entorno de 50 a 60 reais, para um pobre trabalhador que recebe um salário mínimo é uma humilhação.
Eu no meu caso dei um basta a essa humilhação, mas há colegas que eu conheço que prefere ficar na via crucis ou nessa humilhação, trabalhar em duas ou três escolas diferentes para receber ao menos uns 2 mil reais por mês, que as vezes nem chega a esse valor por causa do imposto de renda e outros impostos como a previdência, por exemplo, chega em casa estressado e mal humorado, e passa a semana toda desse modo.

E ainda assim se recusam a ir trabalhar no interior, mesmo sabendo da vantagem de ganhar mais com o salário e ajuda de custo, e quando vai é pra perto ou menos longe, se falta médicos no interior do Brasil e particularmente no Maranhão, falta também professores.
O Programa Darcy Ribeiro (PDR) gerenciado pela UEMA é pra qualificar os docentes e formar professores que já atuam na área, mas que não tem diplomação de nível superior e são impedidos de atuar nos outros níveis de ensino, como fundamental e médio.

Porque muitos dos professores que atuam no ensino, são do ensino básico e abre espaço para os que não atuam na educação pra se qualificar com os curso de nível superior na área de licenciatura, essa é a finalidade do PDR em muitas cidades do Maranhão, como Loreto que tem 10 mil habitantes, que carece não só de médicos mas também de professores.

Há outros programas desse gênero como a PARFOR (Programa de Aperfeiçoamento e Qualificação de Professores) que é gerida por instituições de ensino superior em todo o Brasil nas unidades federativas, como a UFMA (Universidade Federal do Maranhão) e IFMA (Instituto Federal do Maranhão), por exemplo, a UFMA tem outro programa que é o PROEB (Programa de Qualificação de Professores do Ensino Básico), todos esses programas citados são pra qualificar os professores com cursos de nível superior na área de licenciatura, e em especial nas cidades interioranas que há maior carência de profissionais da educação.

Porque vocês acham que as prefeituras vivem promovendo concursos a torto e a direita para os cargos de professor? É só por causa da pressão dos ministérios públicos estaduais e federal? São Paulo que é o estado mais rico da federação, que detém mais da metade do PIB (Produto Interno Bruto) nacional e os paulistas faz questão de alimentar o slogan “A locomotiva do Brasil”, tem a carência de 60 mil professores na rede pública em todo o estado, o governo paulista vai abrir o seletivo pra contratar de imediato 50 mil professores.

A prefeitura de Imperatriz – MA deixou o edital aberto por dois anos (desde 2011) para a vaga de médico pediatra com o salário de 30 mil reais, devido o desinteresse de profissionais da área, o edital foi cancelado, e Imperatriz é a segunda maior cidade do estado com a estimativa de 250 mil habitantes.

Se no estado mais rico da federação há carência de profissionais na educação da rede pública, imagine no Maranhão, o estado mais pobre e representa os piores índices sociais do país? Eu percorro o Maranhão toda semana, já viajei de uma cidade a outra em pau de arara, e conheço bem a realidade que vive a população em localidades distante das sedes dos municípios.

É esta realidade que os profissionais da saúde não querem vivenciar e nem mesmo os professores, o último seletivo da UEMA pro PDR que esteve aberto o edital para as inscrições, era pra ser até o dia 10 de julho e foi prorrogado para o dia 19.

Porque eles prorrogaram? Eu mesmo fiz a divulgação intensa do seletivo na minha página pessoal do facebook pela internet e incentivando muitos colegas a se inscreverem, e mesmo assim serão poucos que eu conheço irão se inscrever (espero que eu esteja enganado nessa vez), preferindo ficar em São Luís na via crucis pegando todos os dias ônibus lotado, enfrentando o transito engarrafado, trabalhar em duas ou três escolas numa espécie de autoflagelo e auto exploração para ganhar pouco ou receber 5 ou 10 reais hora/aula em algumas escolas que nem sequer oferece condições de trabalho e de ensino.

Diante da realidade que está posto, eu não sou solidário a esses médicos e reconheço as intenções do governo de reverter esse problema, que é o resultado das manifestações que estava acontecendo nas ruas de todo o Brasil.

Porque chama os médicos de vagabundo? Não é comum confundir o trabalhador e pai de família com o vagabundo? O sujeito não pode ficar desempregado que logo a sociedade o condena e o chama de vagabundo. Porque não chamar os médicos também dessa forma ou confundi-los com os vagabundos? Esses senhores e senhoras de jaleco não são dignos de serem chamado de doutores, nem que uns tenham feito o doutorado.

Se para uns, lecionar é um gesto de amor, em que o professor não pode tanto reivindicar por salários, porque os médicos estão nas ruas então contra o governo, sendo que a iniciativa é contratar mais médicos para trabalhar nos interiores com os salários astronômicos (10 mil reais)?

Cadê a compaixão, o amor e a solidariedade com o próximo desses médicos? Eles também devem trabalhar por amor, tanto quanto os professores, porque a função deles é salvar vidas e garantir o bem estar do próximo, num gesto de humanidade, sensibilidade e respeito acima de tudo.

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