quinta-feira, fevereiro 23

Como é seu Nome?

Ela me olha fixamente entre meus amigos bêbados e olhos vermelhos. Usa calça jeans e camiseta de marca com uma frase lilás em inglês. Ela me parece de outra classe, de outros valores, de outro mundo seduzido com o submundo dos perdidos na noite e de outras coloridas possibilidades. Continua a me olhar, agora disfarçadamente. Finge prestar atenção pra banda que toca - que não entendo nada da letra da música. Estou num close nela. Estamos num filme de Bertolucci. Silêncio. O tempo estancou. As pessoas paralisaram e só existe ela. Os movimentos singulares dela. Possui um olhar diferente, mágico, sei que há uma leoa adormecida, um redemoinho dentro de ti. Louco pra ser esquartejado, devorado por seus animais ferozes e acidentes da natureza.


Me aproximo com quatro passos curtos meio inseguro de ser frustrado. Oi, como se chama? Nome bonito. Sua mãe lhe deu por que esse nome era exatamente de gente bonita. Menina prepotente.

Você gosta de vinho ou de cerveja?

Nenhum dos dois. Não bebe. Não fuma.  

Então quer dizer que você realmente pertence à geração saúde. Faz bem pra morrer tarde. Risos. Você maravilhosamente rir bem, queria fotografar esse sorriso, nada de Julie Roberts! O seu sorriso é o mais belo do mundo. Dentes, olhos, pele, cabelos, como são interessantes. Há certa timidez nesse teu jeito que me arrepia. Só te conheço há alguns segundos e já te amo.

Vou arriscar um pedido. (Tic tac Tic tac)

Vamos dar uma volta? Aqui tem muito barulho. Muita gente. Muitas pernas. Muita fumaça. Muita loucura. Não dar pra conversar direito. Ela aceitou. Diz aos amigos arrumadinhos que ia dar uma volta. Eles me olharam com uma cara estranha e seguro o olhar. Seus bobalhões mauricinhos!

Caminhamos a passos lentos sobre os paralelepípedos sob a luz amarela daqueles postes antigos que iluminaram tantos. Vacilo no compasso das pernas: Etanol, adrenalina e carbinóides circulando no sangue. Ela distrai-se olhando os casarões.

Pra que serve aquelas pequenas casas de janelas em cima dos casarões?

São os mirantes. Era pros senhores vê as embarcações repleta de mercadorias chegando e mandar seus escravos ir buscar. Vamos ver o mar? As caravelas chegando.

Seu engraçadinho medieval. Vamos. Seguimos em direção ao porto. Eu concentrado em minhas atitudes futuras e ela descontraída. Atravessamos a avenida de mãos dadas a passos longos em meio à luz alta de um solitário carro.

Chegamos e percebemos ainda que estávamos de mãos dadas e soltamos encabulados.

Como estão frias as suas mãos.
É o tempo que está frio. Minto. Estou nervoso.
Não vejo ninguém no porto. Onde estão as caravelas? Os piratas?
Eu sou o pirata caolho dos sete mares e você é o valioso tesouro que roubei das mãos de um horrível Rei arrogante e mal. Risos.
...
Sentamos em silêncio no concreto do porto olhando pro horizonte.

Meu rosto se aproxima do seu rostinho adolescente. Escurece o mundo externo. Agora o mundo é só nos dois. Gosto de saliva e língua. Ela me afasta num impulso. Desculpa. Percebo as batidas do seu coração. Quero esse órgão pra mim. Você pra mim. A pego com força e roubo um beijo. Ela corresponde. Sinto seu corpo esquentando, seu pulso, seus hormônios, seus 17 anos. Corro minha boca sobre seu pescoço. Suspiros. Escalo minha boca sobre os ombros. Suspiros. Ando acima de seus seios. Suspiros. Tiro devagar sua camiseta. Seu sutiã. Suspiros. Os mamilos apontam para os deuses na linha do Equador. Suspiros. Seu feixe clair está em minhas mãos. como os olhos dela estão tão sacanas! Abaixo devagar. Devagarzinho. Ela para meus dedos ansiosos.
Quero Te contar alguma coisa.

O que foi?

Eu nunca fiz isso. Revela. Mas não sei o porquê, a razão, eu confio em você. Estou demais surpreso. Mais surpreso fico com o seu beijo violento sem escapatória me agarrando pelos cabelos. Perda do controle do corpo, a leoa adormecida e o redemoinho acordaram. Agora eu e você somos somente instintos. Dois animais ferozes sem rédeas. Sexo. Sinto o cheiro dos seus cabelos, seios, axila. Respiração e expiração. Máquina a vapor a 300 graus Celsius. 100 batimentos por segundo. Bíceps, tríceps, quadríceps em contração. Glande e clitóris. Equação do segundo grau. Ação e reação. Nitroglicerina pura. Complexo ativado. Vamos explodir. Bomba atômica em Hiroxima. Gools, Gools de Megatons.

Depois da tempestade a bonança. Depois da guerra a paz. A brisa marítima refresca nossos suados e quentes corpos.

Você esta arrependida do que fez? Sabe a gravidade?
Você me olha de um jeito tão meigo, a boca entreaberta com as sobrancelhas levantadas.
Parece que vai chorar. Mas não. Você me abraça e me beija carinhosamente os olhos.   
De que você está rindo?
De nós aqui. É quase uma fantasia.  
Eu posso rir também? Claro. Gargalhadas. Somos como duas crianças inocentes sem maldade. E continuamos numa pele a pele única, inédita mais e mais e mais. Durante um bom tempo. Um tempo incalculável. Até ela dizer que está com frio e precisa se vestir e ir embora.

Você tem boa memória?

Sim. Pega um pedra e risga seu nome e abaixo o telefone no chão. Levanta-se.

Espera aí! Eu vou com você.

Não, fica aí.

Minha carruagem vai virar abóbora e você vai se transformar num sapo alagado e feio. Ela vai embora. Desaparece.

E a brisa marítima em pouco tempo carrega as letras de seu nome e os números.

Um comentário:

Anônimo disse...

me envolvi, na verdade conseguir me transportar para o texto.Deliciaaaaaa. Parabens, Didi. Talita