sábado, agosto 20

Fome e solidão.

Para Allen Ginsberg

Eu já acordei com o calor na cara dos primeiros raios de sol de uma sexta-feira deitado num banco da integração da praia grande
Eu era apenas um garoto do subúrbio de São Luis quando ouvi Smell Like Teen the Spirit e Territorial Pissings umas duzentas vezes numa tarde do inicio dos anos noventa e resolvi naquela tarde não ser mais o mesmo garoto inseguro de um dos bairros mais tristes do mundo segundo meu velho amigo das antigas Paulo Rolim
Eu lembro de ter visto Mauricio Soares na pelada do Luis Rocha há uns dezessete anos atrás e nunca ter imaginado que junto com ele e outros sonharíamos com o ideal Raulseixista de achar que podíamos mudar alguma coisa nesse mundo
Foi no final dos anos noventa quando como de um impulso resolvi transar com minha namorada embaixo da ponte do São Francisco e achar que aquela gozada iria ser a mais diferente de todas
Acho que na segunda vez que fui a Papirus do Egito atrás de algum disco dos anos sessenta que vi Paulo Dias pela primeira vez na sessão de álbuns dos Beatles ainda lembro que ele deixava o cabelo crescer e depois nas tardes da cidade fantasma do paço iniciamos as inéditas canções simbolistas que um dia todos irão conhecer
Um dia eu troquei a tristeza do meu quarto por um banco na antiga praça defronte ao Bar Muralha do Projeto Reviver e ali naquele banco entre beijos e abraços resolvi ter um filho e mudar minha vida totalmente para melhor
Que diria meu Pai que era freqüentador do dominó apostado que rolava dentro da feirinha do Reviver sabendo que naquela época eu apenas a rodeava por achar aquele local muito pesado e hoje quando ando por lá chego a sentir sua presença
Quantas vezes fui da Deodoro ao Reviver descendo pela Rua do Sol e de olhos fechados pedia a inspiração dos mais importantes versos de minha geração


Foi durante uma das diversas crises de gastrite que senti vontade de cagar e tive que pegar a esquerda pela transversal que ia dá na São Pantaleão porque somente lá havia um banheiro com aquele aroma cortante de produto de limpeza e aproveitei pra escrever um poema que depois desceu junto a merda de uma crise gástrica
Quantas vezes tive que desistir do copo de refrigerante do cachorro quente de hum real da Praça da Alegria por culpa das maiores vespas do mundo que davam rasantes em meu copo e nem sequer um outro copo de brinde eu ganhava
Quantas vezes me apaixonei pelas universitárias da Uema quando eu devia ter uns 12 anos e achar ultra-poético os livros sobre diversos assuntos que elas apertavam sobre seus seios inertes
Foi numa tarde em meados dos anos 2000 que interei com Alerrandro Lanuci a compra de uma vodca maldita e por conta da bendita atravessamos a noite no lendário Bar de Leny na velha Cohab tocando MPB e Rock anos oitenta junto com um exímio violonista e lá pras tantas da madrugada apareceu um artista decadente freqüentador de bares decadentes cantando Lobão com apenas duas notas musicais
Caramba foi o que eu disse quando estive pela primeira vez em cima da escadaria ao lado do teatro João do Vale na segunda metade do ano de 1997 e fiquei imaginando no horizonte a chegada dos franceses com as belas embarcações
Foi numa das poucas vezes que senti vontade de chorar de emoção quando numa manhã de inverno embaixo de um orelhão da praça do reviver pude ver um sol tenro brilhando nas pequenas gotículas de chuva que caiam bem na minha frente de forma inclinada defronte ao Bar Antigamente
Eu assisti o último show da banda Sarcoma no bar mais Underground do mundo numa rua escura do São Chico chamado Bar do Bento e fui embora sem um tostão no bolso ao lado de Bruno Azevedo e outros metaleiros e punks discutindo música numa Van salvadora da madrugada
Eu vi as melhores cabeças da minha geração largando o ideal de mudar o mundo através de uma banda ou através de uma história genial publicada em um livro ou qualquer coisa parecida indo para as filas de banco de emprego porque nossos filhos e nossas mulheres chegaram a chorar de fome e solidão por conta do tempo que sempre nos exige algo mais.

10 de Novembro de 2009.

2 comentários:

Anônimo disse...

natan c, prostituido e drogado

Anônimo disse...

É meu caro amigo Natanael Castro, quantas vezes, sentados na calçada em frente aquele velho Master, almoçamos pão com guaraná Jesus, com apenas metade da garrafa de 2 litros, que era ansiosamente completada com caninha do engenho... e nessas tardes de quase fome e embriaguez, conseguíamos ser felizes depois de uma semana inteira torturados por carrascos como Martônio e Paulo Abreu!
E eu naqueles dias, encontrava um sentido para o que um outro parceiro nosso quis dizer com aquela história de que “nem só de pão vive o homem”...e quando tudo parecia perdido, e quando a alegria guardada naquela e outras garrafas parecia haver se esgotado, mas uma vez havia uma manifestação quase divida, o milagre da multiplicação...eis que aquele, que talvez fosse o nosso mentor, pelo menos foi o meu, falava, AINDA TENHO UM REAL! E desse real outros e centavos, mais duas ou três garrafas de sangue de boi....Há mestre é tu deixastes o melhor vinho para o final?

Alexandre da Silva