terça-feira, maio 31

Há muito tempo atrás

quando os relâmpagos rasgaram o céu e cuspiram clarões por sobre Pedreiras a cidade já dormia. em poucas horas as águas salivaram os rebocos das casas e subiram pelas ruas e quintais, a lua refletida escorria  caminhos de desepero. o pai, vigilante saltou da rede e com a lamparina acordou toda a família. com os olhos silenciosos e sonolentos todos entraram na canoa. um saco com as roupas. quase três panelas e dois bancos de madeira. nada ficava para trás. apenas o fogão de barro, memórias do fogo, certeza de uma nova enchente. a canoa deslizou por sobre o mearim. as crianças se protegiam do vento presas à saia da mãe, enquanto o pai com o cigarro na mão insistia em criar nuvens  claras que não trouxessem mais chuvas. isso foi há muito tempo atrás ... no ano de 2015...


Elizeu Cardoso

4 comentários:

Anônimo disse...

rsrsr.Adorei Elizeu teu humor diante das cenas simples do cotidiano. Abraços! Cris.

Anônimo disse...

Nem precisa assinar, teu estilo Elizeu, é muito único. O todo único!

Anônimo disse...

é engraçado como essas enchentes no Maranhão inundam de lirismo a cabeça de poetas...e eu q jurava que o mundo acabava em 2011.

Anônimo disse...

"o todo unico" - babão.