quinta-feira, maio 26

Guie-me à vida

Procuro desesperadamente um guia. Não sei se pessoa ou mapa, algo que me apresente à vida. Que junto a mim faça projetos e que sejam executados e registrados na certeza que passei pela vida! Quero ver o calor do reagge e das pessoas que ali se misturam, as umbigadas entre tambores, o bater das matracas e o esquentar dos pandeirões, ver o dia amanhecer ouvindo poesias, acender uma fogueira na praia ao som de um violão – quem sabe até aprenda a tocar violão, pode ser uma só música, ou várias -, sentar debaixo de uma mangueira e ouvircausos ou comer juçara batendo papo furado. Quero botar o pé no chão, andar descalça nas calçadas das casas do interior, ou quem sabe tentar malabaristicamente andar no meio fio das calçadas, como fazia quando criança, mas sem ousar furtar manga da casa do vizinho pra comer com sal e pimenta do reino, pois as asas dissolveram-se com o tempo, nem pegar sorrateiramente aquelas laranjas enormes que abríamos com as mãos para comer aos gomos das barrigudeiras, essas, já não existem mais, ou até mesmo, descer escorregando morro abaixo engolindo terra e rasgando as roupas e a pele nas pedras - Não havia dor mais deliciosa do que aquela! Quero sentir o cheiro da chuva e da terra molhada, catar canapun na beira das estradas, visitar feirinhas com gente de verdade, comer milho cozido enrolado na palha, bolo de tapioca frito com café preto entre uma conversa e outra, sentir o calor humano das pessoas entre cores, cheiros. Quero levar comigo  uma rede para nas viagens embalar meus sonhos conhecendo também novos escritores e canções. Quero conhecer os interiores e seus moradores... conversar, infinitamente conversar, ver a vida sob os meus olhos e o olhar deles e então... respirar a vida, experimentá-la, brincar e chorar com ela...observar o humano e o desumano...questioná-los até alcançar o mundo: cidades que ainda não fui, países que ainda não conheci... cultura... arte... Sim, eu preciso de um guia! 

Talvez, sejam os meus próprios pés!


Alice Almeida Nascimento


4 comentários:

Anônimo disse...

Bem saudocista seu texto. Saudades da terra Maranhense? E um certo nacionalismo...Cris Lima

Anônimo disse...

eu posso te acompanhar?

Anônimo disse...

Cris Lima, mais que saudade, um apelo para reviver e viver o que precisa ser vivido!Por mim, e por todos nós, a qualquer tempo.

Alice Nascimento

Anônimo disse...

Parabenizo a todos pela iniciativa pulsante. A diversidade de gêneros impulsiona a leitura. Guie-me a vida é um convite, minha cara? Texto harmônico e limpo.